Todos os artigos de Aspirina B

“O que distingue a festa do avante dos demais festivais de verão que foram cancelados?”

Perguntava ontem no twitter, Ricardo Baptista Leite, vice-presidente da bancada do PSD na AR.

E só para responder ao democratazinho de trazer por casa do PSD, mais um, depois de todos os disparates que tem vindo a protagonizar nos últimos tempos, muitos partilhados com o próprio líder do PSD e outros nem tanto, porventura entre duas viagens pagas pelas farmacêuticas todas que o patrocinam como deputado, a festa do Avante é um evento de um partido político com conteúdos políticos. Ao contrário dos demais festivais comerciais de verão. Onde ainda assim vamos ver o que sucederá também daqui para a frente. As feiras dos livros adiadas acabam de abrir e os shoppings centers upa upa. De um partido político de sempre da nossa Democracia. Como aliás, o próprio PSD. E que já antes dela, foi o partido político que mais lutou pela Liberdade em Portugal! Eventos não só salvaguardados na Constituição da República Portuguesa como na Lei dos Partidos Políticos. E muito bem. Como aliás em qualquer Estado de Direito Democrático digno desse nome. Sobretudo hoje outra vez! Talvez porque em termos de comunidades democráticas são capazes de ser mais importantes que ir acampar para a porta da Fnac para comprar o último smarthphone da apple ou o último livro do Harry Porter. Mais fundamentais para as respectivas multinacionais.

P.S. Já eu pessoalmente prefiro não me pronunciar sobre a decisão do PCP. Sobretudo depois de tantos pronunciamentos e tantos disparates como este.

Repórter P

O pantomineiro de Belém

Ontem na Feira do Livro do Porto, o Presidente da República Portuguesa, ao mesmo tempo o Chefe de Estado e o mais alto magistrado da Nação - professor catedrático na FDUL, onde até ensinou maioritariamente Direito Constitucional e/ou a atual Constituição da República Portuguesa, onde as suas funções constitucionais e os seus limites como órgão de soberania não podiam ser mais claros - quando interpelado por uma cidadã completamente fora de si ou já muito perto do Chega - quiçá até uma repórter do you tube do Ventura - que basicamente questionava o PR porque não tinha que comer, ouviu este populismo, sempre muito apreciado em tempos de crise económica, da boca do PR: - “Porque os portugueses votaram neste Governo. Diga aos portugueses para votarem noutra…”.

Presumiu-se outra força política. Talvez a mesma mudança que ocorreu em 2011 para outra força política que prometia baixar os impostos e depois de eleita, até aos bolsos dos reformados foi. E quanto a impostos... Agravando ainda mais a crise económica. Rendimentos que o atual Governo ainda conseguiu repor antes da pandemia, invertendo também por essa via a trajetória calamitosa da economia do país. Talvez porque não convinha ao PR explicar à cidadã desesperada em causa, empresária segundo a própria, que não é o Governo que estabelece o seu rendimento. E que até vinha a aumentar muito significativamente o ordenado mínimo, contra todos aqueles que verdadeiramente o praticam - o patronato. Sem dúvida, ainda com muito trabalho pela frente no que às prestações sociais diz respeito. Que além de assegurarem a dignidade da pessoa humana dos seus beneficiários também são fundamentais para sairmos de qualquer crise económica. E que ao contrário do que afirmam outras forças políticas, ninguém em Portugal recebe € 1 000 de RSI. Nem metade. Nem os ciganos. Prestações sociais onde aliás Portugal ainda revela muito atraso no que à média da UE diz respeito. Portugal afecta menos de metade da média da UE com prestações sociais. Ficando-se o PR mais uma vez pelo populismo e pelo mais puro ilusionismo, como foi sempre uma das principais características do Marcelo. Além de mais uma violação clara da Constituição da República Portuguesa por parte de um Órgão de Soberania, no caso o PR, que também jurou solenemente cumprir e defender a Constituição.

Mas como nem a múmia foi tão longe em discurso directo, presumo que mais uma vez quem visitou a Feira do Livro do Porto não foi o PR mas o pantomineiro de Belém a fazer de PR. Era bom que os portugueses pensassem nisto nas próximas presidenciais.

P.S. Igual só outro pantomineiro. O bastonário da Ordem dos médicos. Quando ainda há poucos meses - aquando do bebé que nasceu sem rosto numa clínica em Setúbal, depois de dezenas de queixas que já pendiam sobre o médico que realizava as ecografias - garantiu aos portugueses que afinal a Ordem dos Médicos não pode realizar auditorias.

Repórter P

A REVOLUÇÃO LIBERAL ( DO PORTO ) EM PORTUGAL

Viva a primeira tentativa de implementar a Liberdade em Portugal! Viva a Revolução Liberal de 24 de Agosto de 1920 do Porto. Viva para sempre o bom liberalismo, o dos valores humanistas da Revolução Francesa! Viva a primeira Constituição Portuguesa de 1822 e a separação de poderes! Viva a primeira Assembleia Parlamentar de Representação Nacional. Infelizmente tudo sol de pouca dura em Portugal! Num país com quase 900 anos de história e em que todos os portugueses ainda tiveram que esperar pelo 25 de Abril de 1974 para nos libertarmos das últimas amarras e passarmos finalmente a viver em Liberdade.

E depois pelo 25 de Abril de 1975 para as primeiras eleições livres com sufrágio universal à Assembleia Constituinte para erigirmos todos um verdadeiro Estado de Direito Democrático. E finalmente pelo 25 de Abril de 1976 e a Constituição da República Portuguesa. Como lei suprema, que define o nosso sistema político democrático e um Estado Social com quatro órgãos de soberania, separação de poderes, direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. Assim como a verdadeira Casa da Democracia Portuguesa. Uma Assembleia da República com os representantes do povo, eleitos por cada um de nós, como a verdadeira sede da Soberania Nacional. Para nunca desprezarmos um valor tão precioso como a Liberdade, que muitos dão sempre como adquirido e afinal, tão raro e tão difícil de alcançar em Portugal.

E como é que devemos continuar a preservar a Liberdade todos os dias em Portugal? Com a Verdade! Sempre com a Verdade e só com a Verdade se combate todos os dias todos aqueles que atentam contra essa mesma Liberdade e das mais variadas formas. Isto até a propósito do fenómeno Chega que não passa de um saco de gatos e banha da cobra, com o pateta do Pacheco de Amorim como ideólogo, que de ideólogo não tem nada mas que muita gente publicita - nomeadamente os media - e muito pouca gente se preocupa em rebater com argumentos ou até em desmentir as falácias mais descaradas do Ventura. Logo a começar pelos partidos políticos, se quisermos de espectro mais democrático ou de sempre da nossa ainda muito jovem Democracia. Porque a Democracia é a casa da Verdade e dos amantes da Liberdade, por excelência. Porque Verdade e Liberdade são dois conceitos absolutamente indissociáveis.

Repórter P

O caso Rui Pinto ou a última tentação do MP. Sempre no caminho da total alienação do Estado de Direito em Portugal.

1º Acto – Roubar um banco! Pessoalmente nada contra mas uma sociedade que não condene o roubo...

2º Acto – Roubo, chantagem e tentativa de extorsão a um fundo de investimento, no caso a Doyen Sports. Mais conhecido como Doyen a quem doer para outro trafulha como o BdC. Vale apreciação semelhante.
Mais uma série de roubos e acessos ilegítimos e violação da privacidade e sabotagem informática a uma série de sociedades comerciais e uma sociedade de advogados e até imagine-se uma das principais Instituições da República. Nomeadamente da área da Justiça, nomeadamente a PGR.

3º e espera-se derradeiro Acto – Rui Pinto vai finalmente começar a ser julgado em Tribunal por quase uma centena de crimes, a partir do dia 4 de Setembro.

Até lá e como de um dia para o outro alguma magistratura do MP e a própria PJ conseguiu lavar por completo a imagem de um ladrão informático e transformá-lo em mais um justiceiro da luta contra a corrupção. E desta feita ao serviço do Estado?! Quando o MP já o trata como uma testemunha do Estado protegida e arrependida, dos seus próprios actos criminosos aliás. E a PJ já o trata como colaborador – ainda a fazer lembrar o fantasioso FBI Tom Hanks no “Catch Me If You Can” do Spielberg com Di Caprio - deve estar para breve o anúncio da nova categoria aí como alto oficial da mais alta pantomina da Gomes Freire. A quem até a magistratura judicial, por pressão, já foi obrigada a vergar-se. E que diga ele ou os seus, entretanto contratados advogados, o que disserem hoje, é notório por onde começou todo seu empreendedorismo. Ou como era costume dizer, a sua motivação criminal – pelo belo do proveito próprio. Já que não consta que alguma vez o fruto do seu primeiro saque, que o próprio banco se viu obrigado a esconder, tenha beneficiado mais alguém além do próprio. E a sua namorada ao que parece. Também parece que a extorsão já contemplava um advogado do mesmo saco. Do interesse público que caracteriza os whistleblowers é que nem sinal. E quando numa sociedade os princípios começam a justificar quaisquer meios já deixamos de viver num verdadeiro Estado de Direito Democrático.

Aliás, ao pé disto a inversão do ónus da prova, ainda recentemente chumbada na AR, era uma brincadeira de crianças. E o que se seguirá? Recomeçar finalmente a tão ambicionada recompensa de todo o género de bufaria - que até a mãe vendiam - de forma oficial e à velha maneira da António Maria Cardoso? Ou talvez a demissão total da PJ de toda a investigação criminal, económica e financeira? Ou a demissão total do MP da obrigação de defender sempre a legalidade democrática e os interesses que a lei determina? Logo agora, que nunca têm meios para nada e ainda assim parece que finalmente conseguiram perceber o que ainda ninguém tinha percebido. Ou seja, que os capitalistas do velho regime afinal nunca meteram 1 tostão no business as usual além dos Milhões todos que o Cavaco generosamente lhes ofereceu. E alguém tinha que pagar as reprivatizações. Várias vezes. Ainda assim parece que têm algum pudor em chamar-lhe um esquema em pirâmide. Que foi o que o BES sempre foi. Uma pirâmide de dívida até ao dia… Neste caso, até ao crash, para sermos inteiramente francos. Não, espera lá! Parece que isso tudo já aconteceu.

Até a MJM já veio juntar-se à festa como sempre. Para depois algures mais à frente também ela se mostrar novamente uma verdadeira arrependida. Desta feita para dizer que lhe faz muitas impressão ouvir um hacker em 2019 a repetir o que ela já tinha dito em 2002, que: “O futebol é um mundo de branqueamento de dinheiros sujos com promiscuidades políticas indesejáveis”. Futebol com o qual o hacker colabora mas adiante. E nós perguntamos: - e o que é que o MP e a PJ fizeram entretanto? Ou também andaram muito ocupados, com os meios que nunca têm, a tentar mudar o regime?

Investiguem-se e criminalizem-se todos os crimes pff. Ou será que já é pedir muito?

P.S. Como sempre aberto a todas as concordâncias e a todas as discordâncias mas poupem-me a “ingenuidade” dos doutos e do estatuto whistleblower. Uma ideia que só surge na mente do meliante quando já acossado pela justiça. Enquanto foi caindo o dinheiro dos e-mails nunca se lembrou de denunciar quem efetivamente beneficiou da sua divulgação. Depois até tinha alguns documentos da PLMJ mesmo ali à mão. Deixa lá criar uma cortina de fumo e passar por bom samaritano. Enquanto também ia controlando o andamento da investigação através da violação da privacidade de vários magistrados e outros tantos elementos da Administração Interna. Através da violação informática da própria PGR!

Rui Pinto só se move por interesses pessoais como até a juíza de instrução fez questão de deixar bem explícito na acusação. De resto, há de tudo no mercado. Parece que o “grande” constitucionalista Bacelar Gouveia - mais um com ligações ao génio do BdC – também acabou de descobrir alguns conceitos novos na nossa Constituição como, por exemplo, “Estados Regionais”. Para satisfazer a ambição dos clientes das ilhas do costume. Desta feita em acabar com integralidade do nosso território marítimo. Já com os olhos em algum lucro dos minérios no fundo do “mar dos Açores”. E todos sabemos no que toca aos governos autónomos das ilhas as transferências de recursos só podem fazer sempre um caminho. O de casa. E juristas com pareceres consoante os clientes é o que há mais no mercado. É mesmo para isso que são pagos. Em mais um excelente texto do PTP, completamente perdido no Obs. A apelar ao último sentido de Estado do PR. Depois do falhanço clamoroso da AR!

 

Repórter P

O caso paradigmático em Portugal do excesso de informação

Ou será antes do excesso de desinformação? Causada pela escassez de notícias para tantos canais de televisão, públicos e privados meramente de notícias em Portugal. E agora até pode ser relacionado com a silly season mas a verdade é que não conhece melhoras algumas durante o resto do ano. Porque neste caso vamos só falar do que as televisões e as centenas de especialistas que se juntam sempre à festa conseguem fazer em meia-dúzia de dias a qualquer facto. E nos últimos quatro ou cinco dias foi paradigmática a forma como conseguiram tratar um ventilador hospitalar e um acidente ferroviário.

Como aliás acontece por norma com qualquer acidente mais bizarro em que as televisões também por norma passam os dias seguintes à procura da mesma bizarria por todo o globo até ficarmos todos com a sensação de que afinal não aconteceu bizarria nenhuma. Conseguindo por essa via distorcer completamente a própria realidade. O que chega a parecer o principal objectivo muitas vezes.

No pico da pandemia, mais precisamente no dia 9 de Maio, foi anunciado que o CEIA (Centro para a Excelência e Inovação para a Indústria Automóvel), um investimento público de excelência que visa sobretudo ligar mais a Investigação e a Universidade à Indústria, com sede em Matosinhos, estava pronto para entregar os primeiros 100 ventiladores hospitalares portugueses aos hospitais portugueses como é óbvio. Portanto o CEIA tinha conseguido criar e produzir em tempo record um equipamento tecnologicamente muito evoluído, no caso o ventilador Atena, que visava essencialmente salvar vidas no pico da pandemia. O que já tinha aliás acontecido em Portugal em relação a outros bens pelo qual as maiores potências ainda se digladiavam no mercado, como as máscaras e os kits para testes. Depois de vários experts também já terem afiançado que Portugal nem nunca conseguiria produzir uma simples zaragatoa, que envolvia matérias primas de várias nações e por aí em diante.

Logo na altura também foi noticiado que o licenciamento CE, independentemente da qualidade ou nacionalidade do ventilador, demoraria sempre vários meses e por essa mesma razão, o Infarmed tinha anuído em conceder uma licença extraordinária também em tempo record. Que abria portas a que doravante já ninguém morreria por falta de ventilação artificial em Portugal, com o Atena como equipamento de recurso nos hospitais. O que sabemos que infelizmente aconteceu em muitos países. E que o próprio CEIA já estava entretanto a produzir outro ventilador mais evoluído, o Atena II. Hoje, depois de não sei quantas horas de noticiários e não sei quantas centenas de especialistas depois, o ventilador Atena já só serve para negros e zucas. O que é rigorosamente falso! Devemos regozijarmo-nos sim pela controle da pandemia em Portugal, onde ao contrário dos nossos vizinhos Itália e Espanha, nunca se fez sentir a falta ventiladores nos hospitais. Como nos devemos regozijar pelo excelente trabalho do CEIA.

No último sábado também fomos todos despertados para um acidente ferroviário entre um comboio de passageiros e uma máquina de manutenção, no troço entre Soure e Leiria, que viria a causar duas vítimas mortais. Precisamente os dois profissionais da Dresina onde o Alfa viria a embater num dos troços da via-férrea mais modernos do país. Aberto o respectivo inquérito e ainda sem relatório final mas já com a certeza que a Dresina não terá respeitado um sinal vermelho, mais uma vez começamos a ser bombardeados por centenas de especialistas aí para a 10ª redundância do sistema de segurança ainda por implementar nalguns troços da ferrovia em Portugal. Não obstante toda a consternação do país e sobretudo toda a falta de investimento nas últimas décadas na ferrovia em Portugal devia haver limites para tudo. Às tantas pergunta a flausina da RTP 3, toda embalada, hoje a um expert: – Portanto mais um acidente pré-anunciado? E responde o expert: – Eu espero que não e até parece que as vítimas mortais são o potencial infractor que não respeitou um sinal vermelho. Desta vez saiu-lhe mal.

E podia continuar com as viseiras da PSP. Quando foi o próprio Magina da Silva a anunciar a sua compra, depois da respectiva consulta ao mercado, num Prós e Contras da RTP 1. Fica também sobretudo a ideia que a comunicação social hoje, com a pandemia mais controlada, já deixou de atribuir qualquer carácter excepcional à pandemia. Se é que algum dia chegou a atribuir. E como descobriu o escrutínio da corrupção há tão pouco tempo, agora primeiro dispara e depois faz as perguntas. E o último a sair que feche a porta.

Até Rui Rio, em quem ainda hoje aqui esgalhei no post do Valupi que estava coberto de razão, também aqui há algum tempo conseguiu pronunciar qualquer coisa como: – “A crise das instituições também passa pela forma como a comunicação social, muitas vezes, as trata publicamente.” No seu discurso à nação onde defendeu que a forma como a Comunicação Social exerce muitas vezes a sua função em Portugal é um dos maiores problemas do regime. O problema de Rio é que tirando umas farpas certeiras à Justiça e à Comunicação Social…

Outro facto que é de salientar é o pluralismo da informação em 6 ou 7 canais de televisão em Portugal. Mais perto de um regime ditatorial. Fica sempre a ideia que alguém lança o isco e… não deve ser nenhuma agência de comunicação pública.

Repórter P

O estranho caso de António Barreto

António Barreto que passou os últimos anos a verberar contra a corrupção e todos os seus discípulos como o tráfico de influência, o clientelismo, o nepotismo, o favorecimento indevido… até à cunha, foi nas últimas semanas uma das poucas vozes na imprensa escrita a tecer loas a Carlos Costa. Quando terminou o mandato como Governador do BdP. E depois na Grande Entrevista na televisão pública teve oportunidade de desenvolver mais o tema com o amigo Vitor Gonçalves. Um direitola travestido de jornalista. Que a par com Sandra Felgueiras, lideram ambos o ranking de mandar a ética e a deontologia da profissão às malvas semana após semana na televisão de todos nós. Mais parciais era impossível.

E precisamente na semana em que a UE aprovou um fundo histórico para a retoma das economias no pós-pandemia e em que Portugal ficou a conhecer o seu envelope financeiro ou a bazuca como lhe chama o PM, resultante de um plano em que pela primeira vez na história a UE emitirá títulos conjuntos de dívida, maior frete era impossível. E foi nestas circunstâncias, para lá de aziado, que Vitor Gonçalves optou por chamar alguém do Governo para sei lá, discutir uma tradicional muito fraca percentagem de aproveitamento de fundos europeus em Portugal como se diz por aí. Quando na verdade até somos o país que executa mais fundos. Perdão. E foi nestas circunstâncias, para lá de aziado, que Vitor Gonçalves optou por fazer um frete a um amigo na luta contra o favorecimento de amigos (??). Precisamente um dos grandes assuntos da vida de António Barreto nos últimos largos anos. Para entre muitas outros temas neoliberais, como a pedinchice, falar sobretudo do ex-Governador do BdP. Que afinal também é um amigo pessoal de António Barreto. Portanto uma mesa de café mais entre amigos era impossível na televisão pública. Que também é para o que serve a Grande Entrevista. E ainda deu para promover o novo livro de António Barreto. Agora mais na área da investigação cor-de-rosa. Onde muito provavelmente aproveita para tratar os pobrezinhos e temas como a caridadezinha com o mesmo tom paternalista da esposa, Maria Filomena Mónica.

Mas como já adiantei, António Barreto começou logo por abordar o tema do ex-Governador com uma declaração de interesses, afinal António Barreto é amigo pessoal do ex-Governador. “Que foi muito mal tratado nos últimos anos em Portugal e não merecia porque afinal é um homem muito honrado e de certeza um dos melhores gestores da coisa pública que Portugal já conheceu. E que foi Governador numa época muito difícil para o BdP e por aí em diante.” Em primeiro lugar e se esquecermos por alguns momentos o frete do amigo Vitor Gonçalves e da RTP, fica sempre bem defender um amigo. Sobretudo quando esse amigo está no chão. E ainda mais depois da auditoria do TdC ao departamento de resoluções bancárias do BdP. Mas eu também nunca vi ninguém chamar ladrão a Carlos Costa. Quanto muito um lambe botas incompetente, alguém demasiado reverente, sem tomates. E que se tivesse um pingo de vergonha na cara nunca aceitaria partir para um 2º mandato depois do desastre do primeiro como manga-de-alpaca. Nomeadamente nos custos para o país das resoluções do Banif e do BES. Porque na verdade muito da época muito difícil para o BdP de que fala o Barreto tem responsabilidades do próprio ex-Governador. Sobretudo pelo que nunca fez. Também é verdade que Carlos Costa refugiou-se sempre na falta de legislação que António Barreto também abordou e que precisou aliás de ser aprovada, para remover Ricardo Salgado da presidência do BES. Como se um simples telefonema entre Homens, com tudo o que o ex-Governador já sabia, não produzisse os mesmos resultados. Sobretudo se levarmos em conta outra informação adicional que António Barreto também confirmou ao amigo Vitor Gonçalves. Que afinal o Governador sempre esteve a par de muitas das ilegalidades. Ainda ninguém tinha percebido.

Sejamos claros, Carlos Costa podia e devia ter afastado a família Espírito Santo do BES, inclusive muito a tempo de ainda salvar um banco tão importante para a economia portuguesa. Não o fez porque nunca teve tomates para isso. Que já teve de sobra para cometer outro crime, como a passagem de informação confidencial, que o próprio Cavaco fez questão de confirmar ao vivo. Mas o verdadeiro assunto do post não é Carlos Costa mas António Barreto. Do qual só se pode extrair que afinal Sócrates – o principal tema que tem ocupado a cabeça do Barreto nos últimos anos – que à primeira vista até soube escolher muito bem os amigos a nível financeiro, nunca teve a mesma habilidade para escolher os amigos certos na principal área da vida política. E como tal ainda se paga muito caro em Portugal… Como acabou de o comprovar agora António Barreto na RTP. Ou a vida diária da casta dos Antónios Barretos que não admite cá misturas com chicos espertos. Isto claro depois dos laivos mais à esquerda da mocidade onde começou logo por boicotar a Reforma Agrária e já como Ministro ainda tentou reformar a nossa agricultura com os bons resultados que também se conhecem. Quem diria que um grande investigador da vida portuguesa – não confundir com a Catarina Portas – inclusive com uma passagem pela prestigiadíssima Fundação do Pingo Doce e mais um ícone português contra qualquer tipo de cunha afinal foi à RTP para tentar lavar a imagem de um amigo do peito?! No lugar do livro do próprio recomendava-lhe para as férias a recente auditoria do TdC à Autoridade de Resolução de Bancos do BdP.

Repórter P

Liberdade democrática

Há poucas coisas que ainda me chocam, nesta altura da minha vida. Mas, aquilo que tenho ouvido e lido, nestes últimos dias, sobre conceitos tão básicos (ou deveriam ser!) como "democracia", "república parlamentar", "Constituição", e "idoneidade", não pode deixar de me chocar.

É certo que Portugal é uma democracia jovem, com pouco mais de 40 anos. Mas, ainda assim, acalentava a esperança de que um povo que viveu 50 anos em ditadura tivesse mais afecto por ela. Mais conhecimento sobre ela, e, acima de tudo, mais fome dela.

O que vejo é um povo animado pelos Midia direitolas, que, perante o exercício legítimo da democracia, a condena e achincalha usando, para isso, ou argumentos absurdos ou (pior!) argumentos primitivos e bacocos invocados por Marcelo Caetano e toda a trupe que, em nome de "cofres cheios" (frase também apadrinhada já pelo governo Passos) deixou o país com 75% de analfabetismo, milhares de estropiados de guerra e o terror semeado em cada esquina.

A verdade, é que, esse tempo, não difere muito para o que o anterior governo fez. Em nome dos tais "cofres cheios" (que não existem nem nunca existiram), substituiu os analfabetos por desempregados, os estropiados de guerra pela emigração e o terror pela austeridade.

Vejamos: não fez comichão política aos que agora rezam por um Salazar que apareça numa manhã de nevoeiro o facto de o PSD e o CDS, coligando-se ao PCP e ao Bloco de Esquerda, chumbarem e derrubaram o último governo do PS. E menos comichão fez esse chumbo ser feito a meio de uma legislatura (com todas as consequências mais graves que acarreta), ser feito em nome de "não ao PEC, não à austeridade" e logo a seguir orgulharem-se de ser "mais troikista que a troika" e afundarem o país em mais austeridade. Não fez comichão a ninguém, os midia direitolas manipularem a opinião pública querendo fazer parecer que a Troika chegou porque o PS queria muito que isso acontecesse, ao invés de explicarem a nua e crua realidade: a Troika chegou porque o PSD e o CDS ao chumbarem o PEC que era a única forma de não pedir ajuda externa naquela altura, obrigaram o governo do PS já condenado a assinar o acordo externo.

Muito menos comichão fez quando um importante militante do PSD insinuou que a política manipula a justiça, numa confissão inequívoca da conduta muito pouco idónea das forças políticas colocadas à direita.

Nada disto fez comichão a ninguém. Tudo isto era e foi, para todos, respeitoso exercício democrático.

Mas, mal se vislumbra a possibilidade de os deputados com assento no Parlamento exercerem uma prerrogativa constante na Lei Fundamental, toda a gente se sente incomodada. Ouvem-se os maiores diaparates e insultos a uma coisa que nos levou anos a conquistar, que nos custou muito caro a conquistar: a liberdade democrática.

Eu não sei se o acordo à esquerda é bom ou mau, politicamente, o que eu sei é que é legítimo e que a direita pode espernear, pode estalar todo o verniz e mostrar a sua falta de chá democrático, que nada disso retira a legitimidade do panorama político actual.

Os meus cumprimentos,

Sofia Sobreira Calado

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(e ainda anda por aí)

Também aconselho a leitura da coluna de opinião “A Lagartixa e o Jacaré” na revista SÁBADO (2ª metade, discretamente intitulada).

É interessante notar os mitos que José Pacheco Pereira alimenta em torno de si próprio e do que pretende que seja visto como a sua integridade como comentador político sem mácula, porque raiam o ridículo.

Será possível, por exemplo, que alguém ignore as ininterruptas e violentas campanhas de difamação de Sócrates ao longo de muitos anos? É, e é até possível inverter a coisa. Passo a citar:

«Poucas pessoas em Portugal criticaram com mais dureza José Sócrates, muitas vezes sózinho, sujeito aos violentos ataques de uma claque de fãs de José Sócrates que não poupava nos insultos (e ainda anda por aí)…»

A «claque que ainda anda por aí» devia lembrar-lhe as cobras e lagartos que ele, o caluniador José Pacheco Pereira, rei e senhor das intervenções mediáticas em tudo o que é media e mexe, dizia do direito à vida das pobres lagartixas no seu tempo de jacaré dos «blogues socráticos», que ele assegurava saber que eram pagos pelo pilantra Sócrates com o dinheiro do povo e desapareceriam assim que lhes fosse cortada a árvore das patacas…

Mas diz mais:

«… desde que Sócrates foi preso — e eu tenho uma convicção interior de culpabilidade, o que não tem qualquer valor em si — tenho evitado entrar no gozo e na humilhação que muitos mostram com o destino do homem e penso continuar a fazê-lo — claro que Sócrates não ajuda, porque ao colocar a ênfase numa defesa política, justifica que a sua condição seja discutida politicamentre no espaço público. Isso inquina o debate …»

Não é engraçada esta suspeita quase subliminar, difícil de confessar com todas as letras, senão mesmo de arrancar aos lapsos inconscientes, de que as suas «convicções interiores» (alicerçadas nas campanhas de difamação da imprensa Cofina?) afinal correm o risco de se revelar uma boa trampa que não vale nada? Note-se que não está a emitir um truísmo óbvio acerca do valor jurídico de uma opinião individual enquanto tal, i.e. perante a lei, e sim a falar da coisa interior, i.e. do que uma secreta sensibilidade instintiva lhe sussurra ao ouvido, senão não lhe teria fugido a pena para a palavra «interior», teria escrito «e eu tenho uma convicção de culpabilidade».

Eu costumo dizer que faço o meu melhor para que as minhas convicções valham o que valer o conhecimento e a lógica que as informam. Mas parece que para Pacheco Pereira a culpabilidade de Sócrates, independentemente dos factos, não passa de uma fézada. Bem me parecia…

[…]
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Oferta do nosso amigo Gungunhana Meirelles

Aspirina marada

aspirina2

Temos estado em mudanças de servidor, e o processo gerou alguma confusão editorial. Tentaremos repor os 2 textos e respectivos comentários neste momento em falta. Esperamos que, a partir daí, o blogue seja um oásis de estabilidade no meio do caos que assola o reino.

Seguro confia na matemática, na falta dela

Sobre António Costa e o vídeo da Quadratura do Círculo, vamos deixar o problema da interpretação de lado, pois esse é mais difícil de resolver. Que algumas pessoas tenham problemas com a matemática, eu até compreendo. Admito e aceito a ignorância nesse campo. Mas quando essa ignorância é motivada pela preguiça (seja preguiça no uso da matemática mais básica – subtracção ou adição – ou preguiça na busca da informação, aquela que tolda o raciocínio) então ai a coisa fia mais fino.

Parece que agora se quer condenar um candidato a candidato a Primeiro-Ministro por este, no dia 13 de Outubro de 2011, repito, 13 de Outubro de 2011, defender a ideia a aplicar em situações gerais e consideradas normais, isto é, um compromisso de abstenção em Orçamentos do Estado constitucionais que não firam qualquer dos princípios básicos ou ideológicos do PS.

António Costa, como facilmente se perceberá (preguiça?), se se vir o video todo e não só o pedaço que circula por blogs e redes sociais, não se estava a referir ao OE2012. É que se o estivesse, mesmo não sendo deputado na AR e já não sendo o “n.º 2″ do partido, significaria que estava muito melhor informado que o grupo parlamentar do PS na AR ou que o próprio Secretário-Geral do PS que, como sabemos tem uma boa relação com Pedro Passos Coelho.

É que, pela boca do líder parlamentar na altura, no dia 12 de Outubro de 2011 (matemática básica: 13-12=1), isto é, no dia anterior à emissão do programa Quadratura do Círculo, os portugueses eram brindados com as seguintes palavras:”Nós tivemos agora conhecimento de algumas ideias muito genéricas e, por isso, consideramos que devemos aguardar a entrega do documento globalmente para depois nos pronunciarmos sobre ele” – estas sim, referências directas ao OE2012!

Ora se até então, isto é, a 12 de Outubro de 2011, as ideias eram muito genéricas sobre um OE entregue globalmente na AR a 17 de Outubro de 2011, debatido com o Vítor Gaspar a 26 de Outubro de 2011, aprovado na generalidade a 11 de Novembro de 2011, aprovado na especialidade a 14 de Novembro de 2011 e, finalmente, aprovado globalmente a 30 de Novembro de 2011 com a abstenção “violenta” do PS (que mesmo com o voto contra seria na mesma aprovado), sinto-me no dever de perguntar: afinal, será que Costa se referia a 13 de Outubro ao Orçamento do Estado de 2012 que só viria a ser conhecido na integra (pois até ai era “genérico”) 4 dias depois?

Afinal, estamos perante um problema com a matemática, logo ignorância, ou politiquice?

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Oferta do nosso amigo PMatos

Foi você que votou nos vândalos?

Para além de concordar com o texto… Eu já aqui escrevi, há uns anos atrás, que apesar de não concordar com algumas opções políticas de Sócrates, em matéria de crescimento da dívida pública Sócrates não tem a culpa que o PSD lhe põe nos ombros. De facto, olhando para a trajectória de crescimento da dívida, a tendência de crescimento (exponencial) da mesma vem do tempo do último governo de Cavaco Silva. Basta fazer um gráfico logaritmico da dívida, que logo esse facto se torna evidente.

Por outro lado… será que a actual consolidação orçamental é mesmo real? Isto apesar de toda a fanfarra laranja, que assim vai tentando dar sentido ao enorme custo social da mesma. Será que as finanças públicas se tornaram sustentáveis? Os números, na verdade, não favorecem o governo de Passos Coelho. Eis uma reflexão que deveria ser feita com seriedade, evitando-se a propaganda baseada em bodes expiatórios ou em europeismos ingénuos.

O europeismo ingénuo lusitano tem sido aquele sentimento de que queremos ter para nós todos os confortos da Europa do Norte, mas sem entender como configurar a nossa economia (que é, ou era, a de um país emergente) para os poder alcançar. Aliás, nisso de não entender como lá chegar a direita é muito, muito pior, que o PS. O PS, como sabemos, sucumbiu ao erro da moeda única. Mas não sem Vitor Constâncio, então Secretário-Geral do PS, de facto ter dado luta. Por outro lado, o PS tem a noção da importância do desenvolvimento social e humano de uma sociedade. Como hoje se observa, tal noção é algo que sempre iludiu o PSD e o CDS profundos que são, aparentemente, herdeiros dos temas políticos anti-revolucionários liberais: miguelistas, sidonistas, salazaristas, etc.

Assim, o pensamento europeista da direita nacional é como o pensamento pró-romano dos germânicos do século V que, também eles, desejavam tomar posse dos confortos romanos. Mas, apenas com saques a Roma e à sua economia, nunca puderam alcançar o que tanto almejavam. O europeismo ingénuo poderá levar a nossa nação à ruína. O nosso mal tem sido o de que muitos dos programas políticos do chamado “arco do poder” assentam na exploração ad nauseam dessa pulsão simplista dos portugueses.


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Oferta do nosso amigo joaopft

Irra!

Síntese lapidar! Estava ao lado da Isabel e senti/pensei o mesmo. Obviamente os que condenam a uma velhice miserável milhares de reformados não vacilam face a propostas como a ontem derrotada. Com uma diferença: no OE o voto é vinculado; e aqui tb, mas com uma capa cínica de liberdade de consciência.

Lobo de Ávila reencarnou o deputado Morgado, o do truca-truca sinalizado pela verve da Natália, no seu tratado do pensamento totalitário em 2m (bem apanhado, IM). Mas Montenegro ofereceu no mesmo formato um tratadito do cinismo, meticulosamente manuscrito em 3 cartõezinhos que declamou com ênfase meli-melo, jurando que não sabia, repito não sabia o desfecho da votação. Careca de saber, já que tinha apertado os parafusos da consciência dos soldados laranja, proibindo-os de sair (a via da abstenção tímida), pressionando um a um, uma a uma, as almas que tinham tido a má ideia de, há meses, votar sim na generalidade (” ao menos, recuem para abstenção”) ou de se absterem (“vá lá, com um esforcito, recuem para o voto contra!”). Posto o que, com uma serenidade espectral, proclamou não haver bancada onde reine maior liberdade de consciência.

Irra! É preciso topete para fazer este número diante das futuras vítimas!

Há uma dimensão ética no combate político, muito avivada quando se tem de ouvir isto com certeza de que é prelúdio de uma sacanice.

A luta continua!

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Oferta do nosso amigo José Magalhães

O Virgílio é boa gente

A minha licenciatura católica demorou bastantes anos a tirar, baptismo, primeira comunhão, profissão de fé e, finalmente, crisma mas, tal como outras tantas licenciaturas por aí, não me serve para nada, não exerço, pronto e ponto. Pior ainda, não exerço e há muito que esqueci tudo o que me ensinaram tendo até desenvolvido alguma alergia às pessoinhas da igreja e à igreja das pessoinhas. Dito isto, assim em espécie de disclaimer, quero aqui defender, publicamente e cheia de convicção, o Virgílio.

Encontrei o Virgílio há uns dois meses numa espécie de almoço popular na mais pequena das aldeias do concelho. Tinha ouvido falar dele aqui em casa, que andava por cá naquilo a que chamavam de visita pastoral, mas que ele era gente estranha, não se dava com as beatas do costume, tinha passado a primeira noite com os homens do lixo, almoçado na cantina municipal, as visitas que fazia eram de surpresa para fugir à pompa e circunstância da pequena província, jantava em casa de gente humilde e desconhecida dos ilustres da terra e iria encerrar a visita ao concelho na tal aldeia pequenina, e tantas vezes por aqui esquecida, com uma almoçarada popular no Largo da Igreja. A pedido do Virgilio a ementa devia ser simples e igual para todos, nada de cabazes de gente rica armados em mete nojo ao lado do farnel de broa e couratos dos pobres. Hummm, gajo porreiro, cheira-me…. Fiquei curiosa, juntei-me com a empregada aqui de casa, sim, sou herege mas gente fina, peguei na minha mãe e nas minhas filhas e fui ao almoço do Virgílio levando a única coisa que me tinham pedido, um bolo para sobremesa e mais o que não tinham pedido, uma enorme vontade de ir às falas com o homem.

Domingo de sol, adro da Igreja, mesas corridas, um porco a assar no espeto, alguidares de salada servida com a mão, pão a sair do forno, muito vinho e, lá pelo meio da populaça, sem um único ilustre ou doutor mais apessoado a acompanhar, de bucha na mão, um tipo extremamente alto, olhos azuis fulminantes e chapelinho vermelho ridículo equilibrado na cabeça. Peguei numa garrafa de carrascão, dois copos de plástico e fui medir tensas com o Virgílio. Um copo para ele, outro para mim, beiças vermelhas do tintol e a primeira pergunta a sair disparada – por alma da santa, como consegue segurar essa coisa na cabeça? O Virgílio atirou a cabeça para trás numa gargalhada, a coisada vermelha não mexeu um milímetro, e tentou explicar-me que talvez fosse a careca a segurar a mitra, mitra, era isso, mitra! e por baixo da mitra, escondida dos olhares dos crentes, estava a careca salvadora que prontamente destapou. Sem lhe dar espaço para respirar e aproveitando a boleia achega-se a minha filha adolescente e bruta que nem casas quer saber se Virgílio quando foi para padre já era com o fito de chegar a bispo, nova gargalhada e a resposta pronta, é bispo porque nem para padre serve, não sabe fazer mais nada. Temos gajo, habemus conversa. Continuámos por ali fora, conversa mais ou menos séria, vinho à mistura, gordura da febra a escorrer pelo queixo. Gostei do tipo, era fácil de conversar. E o porco estava bom, e o pão estalava e o vinho escorregava.

Val, estás enganado. O Virgílio é boa gente, está longe, muito longe, da igreja ortodoxa, tradicionalista, fechada que conhecemos e acredito que, por aqui, tenha encontrado boa gente também, mesmo que enxertada em corno de cabra como eu. O Virgilio foi optimista, quis deixar uma palavra de esperança na entrevista que deu? Sim, foi, mas ele é bispo e, pelo que diz, tem de ser sempre bispo porque mais nada sabe fazer e a fé das gentes para quem fala tem de ser feita, sobretudo, de esperança.

(Virgílio, bacano, gostei de ti, não ligues ao Val, ele nunca bebeu uns copos contigo)

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Oferta da nossa amiga Teresa

Contra badocos

Sempre te leio com grande prazer, por desfrute pessoal, e posso dizer que é justo valorizar a quem sabe dar tão bem amanho, qual alfareiro o barro, as palavras da lingua portuguesa. Ora bem, não é só quem sabe repartir palavras como semente de centeo numa leira, o que escreve bem. Escreve bem quem saber dizer muito em pouco e quem sabe colocar as palavras para fluirem sob o texto resbalando sossegadas à olhada do leitor.

Leio-te por isso e sob de tudo por post como este. Cheio de força social, pungente, que nos deixa ficar contentes con nós e agir para irmos contra badocos. Pôr ajudarnos á andar de olhos abertos, e por saber fazer da tua palestra virtual um altofalante contra à imbecilidade e à insensibilidade.

Acredito em quanto dizes, aliás sinto-o tal qual o dizes. Ouví o personagem na TSF, reli à escrita e o teu comentario e gostei mais uma vez que alguem dixera como a min me gostaría dar uma resposta a tão grande palhaçada.

O homem acha que teve um bom pensamento, que nos engana a todos, que teve uma ideia feliz, que ele pode converter o dor em alegrías. Com segurança, ele não está a sofrir no seu ámbito familiar tal diáspora. Como se isso fosse bom para o país, para os jovens, para as familias. Só lhe faltou dizer também que é bom porque se conhece mundo e isso abre à mente das pessoas. Sim que é bom conhecer mundo pero a ser possivel, não servendo cafés em Londres um engenheiro, ou lavando carros em Berlim um psícologo, ou trabalhando no Carrefour portando caixas um economista. Tudos eles gastaram muitos cartos o país e os paes, e à sociedade deu-lhe umas expectativas convertedas num falhanço.

E isso bom?. Numca poderá ser bom, será inevitavel, e haverá que lutar para sairmos adiante e que esta diáspora educativa poda dar-se a se mesmo e a sociedade o que sería desejo de todos.

A diáspora educativa é muito grande para que chegue algum día á terra prometida da prosperidade, como o nosso Duque gosta de dizer. Iste cavalheiro será mais um dos que cheiram o lucro em tudo o que bule perto deles, e principalmente o aparecer a desgraça colectiva. Concordo que mamou na oligarquía e despreço porque não pertece a sua caste, principalmente pelos pobres que o rodearam na sua vidinha. O que tal vez não sabe, ou sim que sabe, que ele está bem assentado numa sociedade na que o seu engorde vai sempre depender da fome de outros, embora parceiros de caminhada. Como se não explicar-nos-emos que em Espanha, por ponher como exemplo, o número de grandes fortunas aumentou um treze por cento dende o principiar da crise?.

A diáspora educativa e uma tragedia que vivimos no nosso arredor. E uma tragedia que não sabemos ainda valorizar. São custos que serão vistos lá num longo tempo e se escreva nos livros de Historia. Os países que sempre tivemos diáspora,os galegos sabemos disso, sempre achamos que numca sería como agora e que leva esse nome tan eufemístico de educativa. Na nossa sociedade houve, há, um falhanço.

Andivemos a educar, a formar os jovens e os melhores, os que podem fazer evoluir na investigação, na tecnología no desenrolo, tenhem que ir fora procurar sustento, nem fortuna. E não todos vão a fazer aquilo para o foram formados,¡o desgraça!.
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Oferta do nosso amigo reis

Diziam que ele só queria era o malvado do TGV e os terríveis aeroportos, e a gente acreditou-se, prontos….

Não querendo meter a colher em discussão alheia, sabendo-se que muitos lêem estes comentários sem nunca se pronunciarem, gostaria apenas, não estereotipando conceitos, de perguntar a José Soares Pinto por que razão fala ele de «Auto-estradas que se pagavam [a] elas próprias, a festa da parque escolar, as energias renováveis, o investimento público mandado por Bruxelas, etc.…», a propósito de Sócrates, quando haveria tantas outras coisas de que poderia também falar?

Por que motivo só se invoca Sócrates a propósito destas e doutras coisas, como as PPP’s, o TGV, o Novo Aeroporto de Lisboa, ou o Aeroporto de Beja, sabendo-se que tudo isso já vinha de MUITO ANTES DE SÓCRATES, quando haveria coisas muito mais relevantes a falar sobre os seus Governos?

Estamos aqui a falar, creio eu, sem interesses não declarados, como Cidadãos interessados em falar verdade e com genuína preocupação com o Futuro do seu País.

José Soares Pinto, a minha pergunta concreta para si é: não considera mais relevante para caracterizar o tempo de José Sócrates à frente do Governo português a redução do défice do Estado para menos de 3% – quem o conseguiu antes dele, nas mesmas condições de normalidade? Ou a taxa de desemprego de Portugal nesse tempo? Ou os indicadores de esperança média de vida? De qualidade da Educação? Da (inexpressiva) Emigração? Do nível de Impostos? Ou dos próprios valores do PIB/capita?

Pense assim: se vir dois homens à sua espera para, por exemplo, uma qualquer reunião executiva, um de fato cinzento e gravata, com os documentos metidos numa pasta de pele, e outro de bermudas e sandálias, com a papelada à solta dentro de um saco do “Continente”. O primeiro tem uma ferida na testa com um penso, o segundo não.

Qual a descrição que irá fazer deles? “Tive hoje uma reunião com dois gajos, mas um era um energúmeno que parecia ter andado à porrada e o outro era uma pessoa normal”, é isto?

Já tentou fazer uma análise isenta, desapaixonada e séria aos dois períodos históricos que Portugal viveu mais recentemente, os Governos de José Sócrates e a era Passos Coelho? Faça-a. E depois tire as suas próprias conclusões.

Não tenha medo, pode sempre continuar a odiar o Sócrates à sua vontade. Emoções e raciocínos não têm que se contaminar, como bem sabe…


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Oferta do nosso amigo Odisseu

Da quinta-coluna

Na rentrée, Passos deu o mote no comício aos Jotas com os conselhos de bom senso ao Tribunal Constitucional, Nessa altura, tivemos também a rábula pulha sobre os desempregados e a Constituição. Depois, a capa do Expresso com a chantagem do cheque da troika sobre o Tribunal Constitucional. Seguiu-se o spin internacional – via associated press e outros, veiculando a ideia de radicalismo do Tribunal Constitucional.

Na campanha das autárquicas, Passos veio associar o eventual chumbo de normas do Orçamento de Estado pelo Tribunal Constitucional a um segundo resgate. Entretanto, Portas e sus señoritos reforçam a ideia e dizem que tal implicará igualmente um pacto constitucional para retirar qualquer obstáculo às medidas da troika. De seguida, o “nosso” Durão subiu a parada com a ameaça do “caldo entornado” (como se vê dá imenso jeito ter um português na Presidência da Comissão Europeia, não é?). Agora, a crítica ao “ativismo político” do Tribunal Constitucional por parte de mais um obscuro funcionariozeco português de Bruxelas, daqueles que – tal com os estarolas radicais do Banco de Portugal – têm os seus ordenados protegidos do tsunami austeritário que está a destruir Portugal.

Tudo para condicionar a ação do Tribunal Constitucional, neste momento, o último garante da efetiva independência política de Portugal, a última sede de soberania de Portugal. Com um Presidente da República comandado por controlo remoto pelo Governo e instituições europeias, uma comunicação social em larga medida submissa e/ou condicionada pelos grupos económicos dominantes, com uma oposição liderada por uma nulidade genérica de marca branca, a população portuguesa, já de si com uma intervenção política passiva ou muito pouco informada, encontra-se num estado quase catatónico, conformada com o retrocesso civilizacional que os “senhores da televisão” lhes dizem ser o único caminho possível para finalmente podermos voltar a ser um “País de bem”, empobrecendo cada vez mais para conseguirmos pagar uma dívida cada vez maior.

Mais tarde ou mais cedo, Passos ou Marco António Costa, no seu estilo destrambelhado, ou Maduro, no seu estilo mais viscoso, atravessarão o que ainda falta (ainda falta?) do Rubicão Constitucional, com novas intervenções que colocarão definitivamente em causa o Tribunal Constitucional, coagindo de forma objetiva o livre exercício da sua ação e incorrendo mesmo num crime punível por lei. (Artigo 10.º da Lei n.º 34/87, de 16 de Julho “Crimes de Responsabilidade dos Titulares de Cargos Políticos”, Coacção contra órgãos constitucionais – 1 – O titular de cargo político que por meio não violento nem de ameaça de violência impedir ou constranger o livre exercício das funções de órgão de soberania ou de órgão de governo próprio de região autónoma será punido com prisão de dois a oito anos, se ao facto não corresponder pena mais grave por força de outra disposição legal).

O Tribunal Constitucional é, pois, neste momento, o último grande adversário antes de se conquistar Roma… Compete a todos os democratas que acreditam que Portugal deve continuar a ser um Estado de Direito independente denunciar estas pressões e ingerências brutais e inadmissíveis do Governo e das instituições europeias sobre o Tribunal Constitucional. Até porque, se o Tribunal Constitucional acabar por capitular, esta história, tal como em Roma, vai acabar mal, muito mal para todos nós…

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Oferta do nosso amigo PG

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A organização pede-nos para divulgar a seguinte informação:

Um colectivo de realizadores anónimos sírios, os confrontos do verão passado no Egipto, os movimentos sociais na Turquia e no Brasil e a lei contra a propaganda gay na Rússia são algumas das realidades abordadas na secção que o Doclisboa estreou no ano passado – “Cinema de Urgência”.

Aspirina marada

Ao longo da noite de ontem, problemas técnicos que nos ultrapassam levaram a que alguns comentários desaparecessem, voltassem a aparecer e voltassem a desaparecer, pelo meio também apagando uma publicação. Os comentários desaparecidos são irrecuperáveis, salvo melhor informação.

Não sabemos porquê nem se o problema voltará. Mas desconfiamos que há coisas piores na vida.