O facto é que depressa nos cansámos. De fazer andar as fábricas de panos, de plantar vinhas novas, de aprender alguma coisa nas escolas, de blasfemar contra a fatalidade. E de ver a espirrar o sangue azul dos Távoras, que nos enterneceu o manso coração. De modo que, morto el-rei, voltámos aos marialvas, às procissões, à fadistagem e aos pátios das cantigas.
Ele havia umas estradas, no reino, por fazer. E logo se mandou que uns alvenéis lavrassem, numa serra, uns marcos monumentais, para assinalar cada légua aos viandantes. Dispunha cada marco dum relógio de sol. Porém algumas léguas terminavam à sombra, como é frequente acontecer, quando o sol se lembra de acordar. E ou bem que se ofendia o rigor das medições, ou se esbanjavam as custas do relógio.
Não chegou o desempate a ir a cortes, nem se lhe alcançou resolução. E as estradas ficaram por fazer.
Veio-me à lembrança um tal aperto, a propósito dum aeroporto que também anda aí nas mãos da viradeira.
Jorge Carvalheira
Para além dum excelente contador de histórias é um ainda melhor narrador de História.
E da «História de Portugal», «nobres antepassados» sempre lembrados e renovados, uns de um modo, outros de outro no festivo e decorativo dia da raça, há pouco quem se lembre. Mesmo aquela que se aprendeu na 4ª classe, sabe Deus…
Teve muito que se lhe dissesse a «nossa» D. Maria I e Piedosa a acrescentar…
Vivemos hoje, meu caro Jorge, uma situação em tudo análoga à que nos refere. Mas antes que vamos a cortes, já agora, porque não, vira telenovela.
O desfecho, esse, sejamos esperançosos e crentes, e suficientemente cínicos para acreditar que não será o mesmo do passado.
Até apeteceia mesmo transcrever para esta situação o post do JPC, mas… tenhamos tento na língua.