Em 1908, Raul Brandão escreveu um capítulo muito curioso das suas Memórias (publicadas em 1919) que terá algum interesse recordar aqui. Quando nos queixamos de que a malta nova hoje não se preocupa em falar ou escrever utilizando o português escorreito e limpo, faz sorrir esta nota sobre aquilo que alguém definiu ao tempo como gente «smart». Vejamos.
«Distingue-se das outras por várias coisas; por exemplo: desprezo absoluto pela prudente instituição do chaperon (esses entretêm-se com o bluff) – desprezo absoluto pelas boas maneiras, pela cortesia corrente (só se cumprimentam as pessoas que passam de perto e essas mesmas com marcada indiferença) – ignorância completas das regras da gramática (isso seria falar difícil) e da ortografia. Cultivam só o corpo diplomático e a religião; vestem bem, jogam muito, dançam muito e bem e flirtam na perfeição. Votaram ao ostracismo algumas palavras que nós dizemos e que são possidónias como: chávena, trem, farmácia, Carnaval, etc. Tratam-se todos por você, alguns têm muita piada e usam todos um ar muito chateado. É da praxe, o calão.»
E para completar, aquilo a que hoje chamamos comunicação social:
«Esta sociedade que anda todos os dias nos jornais, vem do alto até baixo, da aristocracia ao povo, forma uma lista infindável, tem um cronista célebre, o senhor Luiz Trigueiros e pode ser vista às tardes no Dia e de manhã no Diário Nacional…»
José do Carmo Francisco
José do Carmo Francisco, meu caro e velho conhecido, você sabia que afinal, sempre há quem mande na “Wikipédia”…
http://asvicentinasdebraganza.blogspot.com/2007/08/j-se-sabia-que-havia-quem-mandasse-na.html#links
Meu Caro, nem de propósito! Acabo de fazer um comentário ao FV em que usei umas palavras à maneira do povo da minha terra. E ainda não tinha lido esta citação do Raul Brandão.
Um abraço.
Daniel