Faria agora 80 anos. Passou por cá escrevendo teatro («Felizmente há luar!»), romance («Angústia para o jantar»), crónica («A Guidinha»). Nunca pertenceu ao inner circle da cultura, menos ainda da literária. Nunca relia nada, nem provas. Não ia a estreias das peças. «Sou isolado dos escritores. Isolado dos críticos. Isolado dos literatos», disse a Mário Ventura, para o DN, em 1981. Vivia do trabalho, tendo a mãe uma fortuna. Mas disse-se que vivia à custa dela. «Convinha à direita, e à esquerda resolvia complexos. Como é que o gajo, que goza, que bebe e que brinca, tem dinheiro? E então a explicação era a minha mãe. Esquecendo-se que eu às oito da manhã estava a trabalhar em agências de publicidade, vinha para casa escrever, marrava que nem um cão».
Diz-se, também, que a peça «Felizmente há luar!», de 1961, só foi representada depois da Revolução. Há um grupo de pessoas que sabem que não foi. Elas representaram-na em 1964, algures no País, para uma pequena multidão. Um dos actores, dos principais, era este vosso servo. Mas é a pequeníssima história. Uma página da Guidinha vale mais.
para os meus amigos publicitários
Muito obrigado, Fernando. E estava eu longe, longe e muito longe de saber que tinhas pisado palco com palavras dele. Ou pisado palco, tão-só.
O teatro já não tem hoje, essa preocupação “fundamental” de levar os espectadores a pensar, a reflectir, ou a tomar posição sobre os acontecimentos.
“Felizmente há luar” é um texto do jurássico,impregnado de conceitos arcaicos como sejam:
o “épico” a “distanciação” e outras tretas, que se afastam do teatro que hoje se faz em Portugal, este sim, possuidor de um discurso minimalista que leva a palavra aos limites da linguagem, eliminando as noções de tempo e de espaço.
É que, também há mais vida para além de Brecht
Obrigado, Fernando, mas Stau só leva um tê (não serás tu antes de Alcaria dos Abundantes, ò Venâncio?)
PS Ò Rita Barros, se o Felizmente Há Luar é do jurássico, tu és anterior ao big bang, querida…
Unresconstructed, querido !
Trata-se de uma questão estética e não ideológica. Mas tu estás em rendimento minimo cerebral. Não fales do que não sabes. Mantém-te sossegado.
Chiu!
gostei.
de tudo.
da rita, do reconstruído,da conversa deles.
mas , sobretudo, de se ter falado do stau monteiro.
E viva a Guidinha!
Entretanto, a Zazie e a Sabine desapareceram. Estranho. É capaz de ter sido qualquer coisa que leram no Público…
Unreconsttructted,
A mim tanto se me dá, «Sttau» ou «Stau». Mas repara. O Google dá-me 12.800 «Sttau Monteiro» contra 287 «Stau Monteiro» (e há no mundo só uma família com esse nome). Além disso, todos os recortes de imprensa (e tenho aqui bastantes) sobre o autor escrevem «tt». Convencido, ó de Alcaria dos Forretas?
Desde que este arraial abriu, o Unreconstructed já lavou dois penicos sem ter mijado em nenhum. How is that for sheer dedication to a job that apparently does not force him to write a lot?
O resmungo do senhor Venâncio face à minha óbvia superioridade mora, não deriva de um sentimento de injustiça, mas de inveja. Apesar dos queixumes, o senhor não quer que os comentaristas sejam sérios, rigorosos e diligentes. A boa notícia é que, aos poucos, o Aspirina vai-se extinguindo, como uma vela. Poderá a “boa notícia” ser evitada ? Neste caso, talvez seja conveniente que a palavra vá fluindo em termos de conversa, que exista capacidade de improvisação, mas, ao mesmo tempo, que as grandes linhas do diálogo sejam definidas, fazendo com que o bom senso impere. Para isso é necessário que o Aspirina esteja perfeitamente à vontade dentro da matéria que se trata. O recuo da ameaça de expulsão que caiu sobre a minha cabeça é um bom princípio!
Zumba: Tens um nome giro; assina só – e evita escrever;
Fernando Venâncio: Stau é um nome inventado (por Armindo, pai de Luís): ele era tanto Stau com o João Baptista da Silva Leitão era Garret, topas?
Rita Barros: Vai mandar calar o caralho.
Unrecon,
Esse «Sttau» incomoda-te. Primeiro, era «Stau». Já se viu que não. Agora é nome inventado. E aqui tens razão, e mais do que pensas. Porque há duas versões da história.
Uma diz que Armindo Rodrigues Monteiro, o embaixador que Salazar detestava (aproveita para ler, sobre a correspondência entre ambos, abencerragem.blogspot.com/2006/04/correspondncias-40-armindo-monteiro.html), que o embaixador, pois, alindou o já razoável nome com «de Sttau».
Outra versão (que leio na entrevista que o próprio dramaturgo deu ao JL dois meses antes de morrer) quer que o sobrenome tenha sido, expressamente para ele, Luís, inventado pela família da mãe, que achava que, a Infante de la Cerda [ou de Lacerda], não poderia seguir-se um plebeu Monteiro…
Em tempo: até o «Garrett» apanha com a tua sanha.
Grande novidade essa tua faceta. Obrigado pelo relato e pela dedicatória ;-)
Luís,
Em cada blogger há um actor frustrado. Ou (sejamos clementes) reciclado. Tu bem queres fugir ao destino.
Ou terei de aventar que em cada publicitário há um dramaturgo?
eheheh “é uma questão estética e não ideológica”
Rita Barros | abril 20, 2006 10:09 PM
como se a estética não se tivesse de referir a nada de material,,,
O choque tecnológico já vai adiantadito para certo tipo de fauna, que já consegue pensar em termos de superar a sua condição de residuo sólido pela técnica da evaporação,,
pffff
Muito interessante. Uma sugestão: vão ao canal de genealogia do sapo e procurem sttau.
Eu, por mim, limitei-me a uma fugaz, histriónica e involuntária aparição no “As Obras Completas de Shakespeare em 97 Minutos”….
Javaz Fernando: Eu tenho um preconceito contra as consoantes dobradas (ou não fosse eu do género por reconstruir); eu conheço a correspondência entre o Salazar e o Armindo (de onde o Botas sai bem melhor que o seu Embaixador); eu acho o Stau um escritor competente e um carácter colorido – mas não tenho pachorra para cagonices: Stau é com um tê (o Google só lá na tua Alcaria é que faz fé) e o piroso das folhas caídas (a não confundir com o autor das excelentes Viagens, ou do imortal Frei Luís) também não leva mais do que um – e fica a perceber-se na mesma. Estamos conversados? Vá lá, que eu faço ponte no 25 de Abril… e a esta hora já começa a estar engarrafada…
ó unrecstrutitipfff, um nome leva tantos tês quantos um homem quiser.
sttau, stttau, sttttau, stttttau, sttttttau, sttttttttttttau, e mai nada!
Eu vi as “As Obras Completas de Shakespeare em 97 Minutos” e foi bem engraçado. Por acaso, Luís, não estiveste pelo Norte?
C.,
Não; só subi ao palco no Mirita Casimiro.
Para mim, que sou um humilde mortal, produto de Maio de 68 e sem laivos de intelectual, o LSM era o autor dos mais actualizados livros referente aos anos 60 lisboetas: o “angústia para o jantar”, e as novelas “um homem não chora” e “pôr do sol no Areeiro”.
Qualquer um destes três textos são, simplesmente, formidáveis – atenda-se à época em que foram escritos, e à extrema contradição entre a vida na capital e a vida da província dessa altura.
Em justa memória do autor, vou reler esta noite algo dele.
Agradeço muito a lembrança do Stau Monteiro.
Xatoo,
Então estética e ideologia são a mesma coisa ! Grande cromo me saíste… Logo tu de quem eu tinha tão boa conta.
Fauna? Choque tecnológico?
residuos sólidos? Evaporação?
Não me digas que és uma luminária ecológica ?
Descansa um bocadinho vá.
Pois é, Rita! O teatro que leva os espectadores a pensar é do jurássico. Arte que contribua para desalienar a canalha é um conceito arcaico. Só mesmo aos dinossauros é que tais ideias cabiam na cabeça!
Por isso é que tu vens agora, toda contemporânea e muito esteta, deitar fora as noções de espaço e tempo (isso da vida concreta só mesmo para bestas!)e empurrar a palavra até aos limites da linguagem. Não explicaste muito bem é o que queres tu dizer com isso! Decoraste o tropo, soa-te bem… É como ir ao teatro que hoje se faz em Portugal, dizes tu. Subsidiodependente e falido, à espera dos impostos do pagode concreto, que não entende e despreza o teu minimalismo, digo eu.
Sabes a história dum rei que ia nu?
UFO,
O teatro-para-dois-ou-três-amigos-perceberem (o teatro, e o romance, e o poema, e o ensaio) têm ainda um grande futuro no País. Gozam de alta protecção, imensamente venerada – selamuelikom! selamuelikom! – pela senhora que interpelas, e outras e outros. Não muitos, mas fazem grande algazarra. Para já, nada a fazer. Ou não ir, não comprar, negar-se a jogar o jogo.
FV:
Eu vou lá quando posso, a coxia sempre à mão, e permaneço o tempo todo que a minha paciência ature, normalmente pouco.
Porque nem no deserto, que é muito grande, convém deixar sozinhas as cáfilas dos camelos. Há que manter-lhes olho em cima, e fazer-lhes marcação ao espavento novo-rico, ao ritual de seita, ao ruminar milionário e à imensa auto-satisfação. Porque a “cuturinha não tem preço”! Dizem eles, que são, entre todas, as figuras mais patéticas da tragicomédia.
A imprensa publicou há dias os valores relativos ao Teatro Nacional Dª Maria II, no ano passado (encenações, espectáculos, espectadores, bilhetes vendidos, valores, tal,tal…). Eu já tenho excesso de peso para andar a fazer ginástica nas entranhas do Google, à procura desses valores. Mas há um que me ficou. Cada espectador do TN custou ao contribuinte português, em 2005, cerca de 125 Euros. Para mim é “cutura” demais!
Há uma cidadezinha no interior, que vem no mapa porque está à beira da A25, e onde o Schubert é muito conhecido por jogar no Paços de Ferreira.
Nela se inaugurou, há-de fazer um ano, um faraónico teatro municipal, onde a dominante estética também é minimalista, “para acabar de vez com os medíocres da terra”.
Passados cinco meses o défice da estrutura era de 115 mil Euros. O qual não era défice, claro, porque tudo estava previsto no orçamento camarário!
A câmara em si (que mudou de presidente, embora não de partido, nas últimas eleições), não dispunha, coitada, na hora da mudança, de dez Euros em cofre para mandar cantar o ceguinho. Mas isso são coisas concretas, com que não perdem tempo as luminárias de serviço!
Pois Sttau é mesmo Sttau, com dois t, e não Stau… Tenho a «Angústia para o jantar» à frente, edição da Ática, a 9.ª, de 1987. De onde… Isto independentemente de poder ser nome «fabricado» (literário ou não) ou «de família», o certo é que o homem assinava a sua obra com dois t. E aqui, tal como para os pseudónimos, vale «o princípio da notoriedade»…
Além disso, o catálogo da BN, a PORBASE, tb o grafa assim.
Quanto aos 125 euros por espectador do TNDM … E daí, UFO? A Cultura representa menos de 0,5% do PIB… Ja experimentou usar essa lógica noutros sectores do Estado e porque não no privado?! Vai ver que as conclusões a que se chega são bastante mais devastadoras.
Além disso, a «culturinha» perdura, educa os espíritos e evita as tiranias… Entre outras coisas…
RitINHA Barros | abril 21, 2006 07:12 PM
ia responder-te mas o UFO já se antecipou,,,
mas conta lá; o que é que te ensinaram na escolinha?
– pode ser, que à semelhança da economia dos dólares ficticios os valores etéreos prevaleçam sobre as materialidades que não dão jeito nenhum,,,
Politikos:
Longe de mim, muitíssimo longe, a ideia de que a cultura não educa, não evita, entre outras coisas, como diz… Mais do que isso, sustento que só a cultura educa, só ela evita, etc.
Por isso o meu protesto vai apenas contra a “cuturinha” de capela que por aí se exalta, com a sua vacuidade oca, a sua inanidade frívola, a sua estulta necedade. Mas que tem, claro, os seus papas, os seus oficiantes, os seus acólitos e os seus levitas.
O meu protesto vai apenas contra uma certa fauna que por aí anda a dar ao rabo, e vai toureando a maralha com a muleta de trapo a que chama a modernidade. Longe de se tratar de agentes da cultura, esses iluminados são apenas profissionais da “cuturinha” deles, a governar a vidita. São uma espécie de feiticeiros dum ofício mágico, cuja chave o divino lhes tivesse colocado na mão. Montam a banca em frente da plateia, e logo ela “sente medo – um medo cultural – de passar por pobre de espírito”.
Que com isso se fazem bons negócios na feira dos pacóvios, lá veio o comendador Berardo a mostrá-lo.
UFO,
Do Berardo ainda pouco percebi, mas parece que tenho tempo para informar-me. Agora do resto, acertas em cheio. O problema é que nós, que somos um pouco menos ‘eleitos’, não descobrimos ainda a maneira de enfrentar a corja. Quer dizer, se calhar até descobríamos com alguma facilidade, mas as nossas prioridades são tão outras que acabamos por – objectivamente – lhes permitir todo esse espaço em que (dizes bem) governam a vidita. Um dia vamos arrepender-nos. Mas entretanto eles andaram por aí bem tratados.
pois é UFO!
Acabas de chegar da galáxia soixante-Huitard, e não perdeste tempo; começaste logo a debitar a verborreia cliché.
Mas Por muito que te custe, o tempo das narrativas Brechtianas já foi.
Os textos abrem-se hoje, a novas formas,tanto no discurso como na cenografia, que não contemplam a estética marxista. É assim em portugal, como é assim em toda a Europa. Não é melhor nem pior. É diferente.
“Para já, nada a fazer. ou não ir, não comprar, negar-se a jogar o jogo” Dixit.
“isso da vida concreta, só mesmo para bestas”
És tu que dizes.
Vá lá saber-se porquê!
Xatoo,
Volta para a jaula.
Antes de mais permitam-me agradecer esta homenagem ao meu querido Avô.
Foi uma pessoa que me marcou para sempre, e jamais esquecerei os poucos anos que tive oportunidade de privar da sua companhia.
Um abraço para todos
Emocionante o último post do Pedro Sttau Monteiro. Sim, acabem lá com as palhaçadas, que eu também conheci o Luis Sttau Monteiro
Caro Maremoto,
Muito obrigado pelas suas palavras.
O Meu Avô suscitava tantas amizades como o oposto! ;)
Era uma pessoa que tinha “algo a dizer” tal como muitos da sua geração.
Confesso que hoje em dia, e tendo lido todo o seu trabalho creio que mais relevante do que a obra que deixou, foi o legado que me deixou como homem. Era uma pessoa com uma alegria contagiante, uma vontade de viver que quase nos cegava a vista.
Um abraço neste dia tão especial
Eu… vinha a passar e não pude deixar de franzir o sobrolho ao que alguns de vós escreveram. Parecem crianças… a brincar com o nome de uma pessoa que merece respeito. Se tem um T ?, se tem dois T ?? Mas.. o que é que isso interessa?!!! Bora lá exercitar esses neurónios malta! Mostrem o que valem, escrevam coisas bonitas, poetizem, falem sobre as obras do sr. Sttau, o sorriso, a forma de estar… e tantos outros pormenores maravilhosos e sublimes que marcam a existencia de um ser bonito e que eu adoraria ver retratados aqui. ;o) Vamos pintar esse quadro bonito de palavras… com a palete de cores de arco-íris do arquivo existencial gravado na mente. ____________________________________________ *** EU FICO Á ESPERA *** ;)
Sttau Monteiro leva dois 2 2 “t”, Vos garanto. Os melhores cumprimentos e um grande obrigado por não deixarem morrer este homem.
Pedro Sttau Monteiro? Neto de Armindo Rodrigues de Sttau Monteiro? Deve andar um pouco confundido com os seus ascendentes,Pedro. Armindo Sttau mOnteiro teve apenas 8 netos e nenhum deles se chama Pedro. Poupe-me.
Pedro, peço desculpa, pensei que falavas do teu bisavô que não conheceste… E não sabias que assinavas com o nome da tuã não :) Sorry
errata…não sabia que assinavas com o nome da tua mãe!
Realmente é interessante todo este interesse à volta do grande dramaturgo Luís de Sttau Monteiro. Contudo, não pode deixar de me chocar a falta de interesse(pela obra em si) bem como as pseudo-discussões de pessoas que não se deram ao trabalho, neste caso prazer, de ler um livro que fosse do autor ou simplesmente consultar uma história da literatura portuguesa…Já para não falar do grande escandalo que causou a determinado individuo os gastos com a cultura deste país que são nulos.
A futilidade irrita-me profundamente.
Para concluir um abraço ao meu amigo Pedro, sem dúvida neto do dramaturgo, pois conheço-o bem tal como conheci a sua mãe, filha de Luís de Sttau Monteiro.
Faço minhas as palavras do meu primo (em 2o grau, para não suscitar polémicas) Pedro Sttau Monteiro. O meu tio era de facto uma pessoa com uma alegria excepcional e uma escrita muito interessante. Parece-me completamente estéril esta
discussão sobre “Ts”. Bastaria o meu tio utilizar o nome Sttau Monteiro na sua obra para que esta ridícula polémica não tivesse razão de ser – mas sim, o nome é Sttau com dois “T” e não, não foi inventado por Armindo Monteiro. A que seria elegante não tratarem por “o Armindo” uma vez que não eram seus amigos nem familiares. Obrigada no entanto a quem aqui falou essencialmente da sua obra. Um beijinho Pedro!
Tive a sorte de o conhecer era eu ainda muito jovem, um mero principiante, quando trabalhei numa agência onde ele colaborava. Só que ele era muito mais jovem do que eu. Simples como os grandes, fazia questão que o tratassemos por Luís. Lembro-me que por vezes ao fim da tarde, hora de ponta, partilhava com outros colegas o metro de volta a casa. Na estação da Avenida, onde saia, o Luís virava-se para nós e a sorrir dizia, ” isto é óptimo, chego a casa todo engomadinho” ehehe. Um príncipe.