Aviso aos pacientes: este blogue é antianalgésico, pirético e inflamatório. Em caso de agravamento dos sintomas, escreva aos enfermeiros de plantão. Apenas para administração interna; o fabricante não se responsabiliza por usos incorrectos deste fármaco.
…em 2006, ser sportinguista e gostar muito de ver os lampiões a ganhar na Europa (e só na Europa, claro).
7 thoughts on “Ser bota de elástico é…”
Não nos incomodar, ainda vá que não vá… Agora, “gostar muito” é que não. Esse elástico está quase a romper, compadre.
Falso, Valupi: não tenho puto de pachorra para o Benfica (nem para o Fêquêpê, de resto) mas gosto sempre, e muito, de os ver ganhar “lá fora”: a minha infância desportiva é anterior ao acórdão Bosman, e nessa altura os clubes representavam países muito mais do que agora; coisas absurdas do género “Obrigado, Rangers!” (por teres eliminado o Porto, por hipótese) não tinham lugar nos estádios portugueses. Tenho saudades desses tempos simples, do futebol pré-industrial, em que a UEFA baptizava taças com as “Cidades com Feira”…
Cara Sabine: Obrigado pela sugestão de leitura; tem pouco que ver com futebol, mas o futebol também não é tudo na vida (é quase). O artigo do Luciano Amaral põe, em forma jornalística, uma tese que terá sido “fracturante” há trinta e tal anos (na altura em que foi publicado “O poder e o povo”, de Vasco Pulido Valente) mas que hoje é relativamente pacífica, a saber, que o radicalismo republicano do princípio do século governou contra a maioria do país e que a impopularidade da I República explica parte dos apoios que o salazarismo teve. É óbvio que a necessidade de dizer isto há trinta anos era superior à que existe hoje: tratava-se então de “educar” politicamente a nossa oposição e acabar com o mito absurdo da I República, que ainda era uma “idade de ouro” na cabeça de alguns dos seus “notáveis”. A violência que constituíu a nossa entrada na Grande Guerra também parece hoje uma evidência – mas atenção às leituras anacrónicas do episódio: estava nos usos do tempo mandar “labregos” para o matadouro, e o total de baixas do CEP não ultrapassa provavelmente o das baixas francesas, inglesas ou alemãs num único dia da batalha do Marne ou do Somme. Enfim, Luciano Amaral, leu o seu VPV (e provavelmente também a Dr.ª Fátima Bonifácio, que tem uma tese ligeiramente mais extravagante, segundo a qual os males da pátria nos dois últimos séculos provêm todos dos “radicais”, que não deixariam a direita “reformista” trabalhar em paz para o progresso do país) mas esquece-se de um pormenor que não é dispiciendo: é que a Guerra terá acrescentado mais uma queixa às muitas que a maioria da população já teria em relação ao regime, mas ancorou definitivamente os seus símbolos no nosso imaginário colectivo.
Compreendo, António. Realmente, perdeu-se esse provincianismo, o júbilo infantil e aparvalhado de encontrar um carro português em Espanha e começar a apitar como se fossem parentes próximos reencontrados após 20 anos de separação, os olhos marejados se um estrangeiro qualquer conseguia identificar Portugal no mapa, a patologia masoquista do Festival Eurovisão da Canção…
Estou só a caricaturar, com ternura. Aliás, lamento que não se pegue nesse material antropológico para com ele inventar cultura.
Pareces-me um fino antropólogo, ò Valupi.
Espanha! Devia fazer-se dela um museu para as novas gerações, com garrafas de La Casera, caramelos Solano e borrachas Milan, pesetas a quatro tostões e meio e matrículas brancas e pretas, ao contrário das nossas, com letras pequeninas como os Seat 600 em que andavam penduradas!
Não nos incomodar, ainda vá que não vá… Agora, “gostar muito” é que não. Esse elástico está quase a romper, compadre.
Falso, Valupi: não tenho puto de pachorra para o Benfica (nem para o Fêquêpê, de resto) mas gosto sempre, e muito, de os ver ganhar “lá fora”: a minha infância desportiva é anterior ao acórdão Bosman, e nessa altura os clubes representavam países muito mais do que agora; coisas absurdas do género “Obrigado, Rangers!” (por teres eliminado o Porto, por hipótese) não tinham lugar nos estádios portugueses. Tenho saudades desses tempos simples, do futebol pré-industrial, em que a UEFA baptizava taças com as “Cidades com Feira”…
Uma leitura recomendada:
http://dn.sapo.pt/2006/03/09/opiniao/cinquenta_labregos.html
E Portugal fica onde?
Cara Sabine: Obrigado pela sugestão de leitura; tem pouco que ver com futebol, mas o futebol também não é tudo na vida (é quase). O artigo do Luciano Amaral põe, em forma jornalística, uma tese que terá sido “fracturante” há trinta e tal anos (na altura em que foi publicado “O poder e o povo”, de Vasco Pulido Valente) mas que hoje é relativamente pacífica, a saber, que o radicalismo republicano do princípio do século governou contra a maioria do país e que a impopularidade da I República explica parte dos apoios que o salazarismo teve. É óbvio que a necessidade de dizer isto há trinta anos era superior à que existe hoje: tratava-se então de “educar” politicamente a nossa oposição e acabar com o mito absurdo da I República, que ainda era uma “idade de ouro” na cabeça de alguns dos seus “notáveis”. A violência que constituíu a nossa entrada na Grande Guerra também parece hoje uma evidência – mas atenção às leituras anacrónicas do episódio: estava nos usos do tempo mandar “labregos” para o matadouro, e o total de baixas do CEP não ultrapassa provavelmente o das baixas francesas, inglesas ou alemãs num único dia da batalha do Marne ou do Somme. Enfim, Luciano Amaral, leu o seu VPV (e provavelmente também a Dr.ª Fátima Bonifácio, que tem uma tese ligeiramente mais extravagante, segundo a qual os males da pátria nos dois últimos séculos provêm todos dos “radicais”, que não deixariam a direita “reformista” trabalhar em paz para o progresso do país) mas esquece-se de um pormenor que não é dispiciendo: é que a Guerra terá acrescentado mais uma queixa às muitas que a maioria da população já teria em relação ao regime, mas ancorou definitivamente os seus símbolos no nosso imaginário colectivo.
Compreendo, António. Realmente, perdeu-se esse provincianismo, o júbilo infantil e aparvalhado de encontrar um carro português em Espanha e começar a apitar como se fossem parentes próximos reencontrados após 20 anos de separação, os olhos marejados se um estrangeiro qualquer conseguia identificar Portugal no mapa, a patologia masoquista do Festival Eurovisão da Canção…
Estou só a caricaturar, com ternura. Aliás, lamento que não se pegue nesse material antropológico para com ele inventar cultura.
Pareces-me um fino antropólogo, ò Valupi.
Espanha! Devia fazer-se dela um museu para as novas gerações, com garrafas de La Casera, caramelos Solano e borrachas Milan, pesetas a quatro tostões e meio e matrículas brancas e pretas, ao contrário das nossas, com letras pequeninas como os Seat 600 em que andavam penduradas!