Certamente sem querer, o nosso ex-primeiro-ministro (ainda agora parece impossível que uma tal osga lá tenha chegado, não é?) desmentiu o João Pedro Henriques. Este acusou há dias Sócrates de mentir: “Eu, por acaso, acompanhei a campanha eleitoral que lhe deu maioria absoluta e não me lembro nada de o ouvir dizer que sim, que em determinadas circunstâncias até poderia acabar com umas quantas SCUTs”.
Hoje, Santana veio testemunhar que não foi bem assim: “(Sócrates) disse em várias ocasiões que com ele não haveria portagens nessas mesmas SCUTs a não ser daqui a uns anos, quando o nível de desenvolvimento dessas terras já o permitisse”. (Eu, por acaso, já não me lembrava disto; mas também não “acompanhei a campanha eleitoral” com o empenho do JPH…)
Moral da história: nem a chatear os adversários o Santana é competente.
Depois, na continuação da mesma crónica, ele esforça-se por nos explicar que continua sem entender nada do que lhe aconteceu nas eleições fatais. Afinal, ele perdeu não porque os portugueses estivessem fartos de ver um asno narciso e autista no poder, mas sim porque Sócrates fez “batota política”! A sério. E finaliza em tom poético-ressabiado: “A política não pode continuar a ser feita assim. Como em tudo na vida, só vale a pena se for com decência, com verdade e se for bonito.”
A lata da criatura não tem limites. “Com verdade”? O fulano que conquistou a Câmara de Lisboa montado numa resma infindável de promessas mirabolantes quem nunca ninguém cumpriu tem o descaro de vir agora queixar-se? São irritações destas que ainda me vão rebentar um aneurisma.
Amigo leitor: se quiser um curso instantâneo de demagogia barata, consulte a lista (por certo parcial) de promessas de Santana Lopes, ao candidatar-se contra João Soares. Julgo que só as duas primeiras, em 22, foram parcialmente cumpridas:
1- Abertura do túnel entre o Marquês de Pombal e as Amoreiras.
2- Aumento das zonas pedonais.
3- Melhoria na oferta de transportes públicos, desencorajando o uso de viatura própria.
4- Um silo de estacionamento por cada quarteirão de bairro.
5- Repovoamento do centro de Lisboa, através de incentivos à habitação de jovens no centro e da colocação no mercado de andares devolutos; expropriando-os se necessário fosse.
6- Criação de um Fundo Imobiliário para recuperação de zonas históricas, em especial a Baixa pombalina.
7- Saída dos ministérios do Terreiro do Paço.
8- Revisão do regime de cargas e descargas, acabando com a actual confusão diurna.
9- Autocarros de saúde servirão como postos de prestação de cuidados médicos básicos aos toxicodependentes.
10- Equipas de ruas estarão em todos os bairros problemáticos da cidade, fazendo a troca de seringas nos locais de consumo, aconselhamento da prevenção da sida, combate à tuberculose e prestando cuidados de enfermagem.
11- O número de efectivos de Polícia Municipal nas ruas irá triplicar.
12- Transferência da Feira Popular para os arredores de Lisboa e construção no local de residências universitárias.
13- Galeria Municipal de Arquitectura.
14- Bienal Internacional de Arquitectura.
15- Um Festival Internacional de Cinema.
16- Concursos de Bandas e Coros de Lisboa.
17- Uma “Lisbon Film Commission” para produção de filmes e séries de televisão.
18- Um Plano de Recuperação e Requalificação das Casas de Fado.
19- O “Mega Espaço da Juventude”.
20- “Espaços Multimédia” para acesso à Internet.
21- O “Passe Cultural Lisboa Jovem” gratuito.
22- Para fechar em grande, a famosa “requalificação do Parque Mayer”, que nunca passou de umas fotos ao lado de um arquitecto famoso e de alguns milhões a mudar de bolso.