No Expresso de hoje, na sua rubrica «O Mundo dos Outros», José Cutileiro relata um diálogo
ouvido «através do tabique duma repartição»:
Voz de mulher:
Então? Tudo bem?
Voz de homem:
Que remédio!
Escutava-se ali – sugere o diplomata – a atitude de vida de um povo inteiro.
O diplomata reformado e ex-sociólogo José Cutileiro está senil, mas ele toda a vida se sentiu mais inglês do que português. Quando estudou Vila Velha já era a pensar nos leitores de língua inglesa, sempre curiosos das idiosincrasias do indígena luso. Não me compete a mim defender os tugas, mas o que ele ouviu na tal repartição poderia ter ouvido, com mil variações, em qualquer sítio do mundo onde o trabalho rotineiro é sentido como uma tortura mansa.
Nikita: apesar de nunca vires a saber nada sobre o meu coração e de eu jamais vir a saber o quão bom é ter-te em meus braços – apesar de tudo isso, devo dizer que me tiraste as palavras da boquinha. Esse Cutileiro é um bronco.
Primitos:
Eu nem li o artigo completo que o Fernando Venâncio cita, mas onde é que o Cutileiro (que vocês apelidam de bronco) na citação que aqui está faz um juízo de valor sobre as pessoas para quem o “trabalho rotineiro é sentido como uma tortura mansa”?
Os sentimentos que o “microdiálogo” não podem também ser partilhados por quem tem um trabalho que a priori não seria rotineiro?
Numa coisa eu concordo com a Nikita, isto não é coisa exclusiva do indigena luso.
Luisito: a tua pergunta não faz sentido – tu é que falas em juízo de valor. Depois sou eu que o apelido de bronco, não o primito. Depois, a tua última frase prova que, de facto, o Cutileiro é um bronco.
Isto é o que se chama resposta rápida.
Tu estás só a ver se me baralhas!
A quem convém o linchamento político de Paulo Portas?…
http://asvicentinasdebraganza.blogspot.com/2007/07/o-crepsculo-do-crepsculo-da-moderna.html#links
não sei que portugueses optimistas vocês conhecem. mas reconheço essa visão de josé cutileiro, sobretudo se comparada a resposta a esse cumprimento de cortesia, o «tudo bem?», com a inglesa. agora não é bem assim, mas em gerações anteriores era preferível lembrar um qualquer problema, pois assentir era de mau agoiro. o ditado popular que mais gosto ilustra isso mesmo: «enquanto mal, nunca pior».
de resto, o facto de a conversa ter sido encontrada numa repartição não obsta a que possa ser retirada desse contexto particular, em que vocês podem ter razão, e ilustrar a atitude de um povo, dando razão a cutileiro.
Lido num site japonês (não sei se terá tabique):
“I am sitting at work sooooooo damn bored!…”
O “que remédio” é uma expressão tuga que não tem correspondente directo em inglês, julgo eu, pelo que o Cutileiro – o A. B. Kotter dos pedantérrimos Bilhetes de Sintra do velho Semanário – esquecendo-se que os ingleses também dizem “never better, never worse” e outros desabafos pusilânimes do género, decidiu descobrir ali a “atitude de vida de um povo inteiro” (o povo tuga, adivinharam).
Caganda xoxiólogo reformado!