O texto de José Pacheco Pereira sobre Francisco Louçã, saído no Público de hoje, é um escrito bem interessante, tanto no que revela, como no que esconde. Feito à imagem e semelhança de outro sobre como entrevistar Cunhal, que Pacheco Pereira escreveu, há mais de dez anos, no Semanário, baseia-se em alguns pontos habituais na escrita do político/ensaísta e escamoteia outros.
O primeiro e recorrente é que, para Pacheco Pereira, os jornalistas – mais do que os políticos, e muito mais do que o candidato Presidencial que ele apoia (Cavaco Silva conhecido, entre outras coisas, por ter dito estar a ler a “Utopia” de Thomas Mann) – são ignorantes. Os jornalistas não sabem que Louçã é trotskista da IV Internacional, nem são capazes de desmontar a “linguagem de pau” (tradução directa do francês de “langue de bois”, em português usam-se os substantivos “chavão” ou “gíria”) e perceber o que esconde para além do que diz. Exemplificando: quando Louçã afirma que há uma outra política económica: que é necessário combater a evasão fiscal, taxar o capital financeiro e reformar a segurança social, ele não quer verdadeiramente dizer isso. Estaríamos perante, apenas, demagogia eleitoral que escamoteia o facto de Louçã apenas acreditar que seja possível alterar a política económica depois de uma tomada de poder revolucionária, uma espécie de assalto ao “Palácio de Inverno”.
Esta interpretação “cínica” da política, é muito comum em Pacheco Pereira (como na maior parte dos ex-maoistas): ele não acredita no que dizem as pessoas e embora tenha mudado de fé (substituiu o “grande líder” pelo mercado), ele não entende que as pessoas e as correntes políticas possam ter evoluído. No fundo mudou as coordenadas políticas mas não mudou de estrutura mental: tudo nele são certezas. Em vez da profissão de fé na capacidade de mudar o universo do “grande timoneiro” temos a constante reafirmação ideológica da impossibilidade de oposição ao estado actual do mundo.
Uma vez numa entrevista, salvo erro à Grande Reportagem, Pacheco Pereira afirmou só ler livros de ficção com mais de 50 anos. Justificava que só tinha tempo a perder com “clássicos” burilados pelo tempo. E que a maior parte das coisas que se publicavam hoje não tinham valor. Talvez esta posição o tenha impedido de ler muitos autores, que opondo-se ao capitalismo, procuram caminhos que melhorem o planeta: é bastante difícil esgrimir com Zizek tendo lido com afinco Jdanov, e ignorando o primeiro.
Não são os jornalistas, por mais ignorantes que sejam, que desconhecem os termos da discussão, é pelo contrário Pacheco Pereira que, em vez de ouvir Louçã, está a combater moinhos de vento com nomes do passado. E, nessa fuga para trás, o arguto pensador aproveita para não discutir nenhuma das ideias do homem que critica. Ganha os tiques esfíngicos do seu candidato: não respondendo a nenhuma questão política, social e económica concreta, transforma a eleição presidencial numa espécie de escolha da Miss Universo, em que as candidatas são escolhidas pelo menear da anca e pela invocação mágica da crença na paz do mundo e, certamente, na sacrossanta “liberdade” do mercado.
Era importante que ele fizesse também o balanço das suas posições e que dissesse com clareza que se enganou quando afiançou – ao contrário de muitos – que abundavam armas de destruição maciça no Iraque e que persiste no erro quando nos quer convencer de que a invasão do Iraque e a política de guerra permanente trouxeram menos terrorismo e mais segurança.
Por estranho que pareça, Pacheco Pereira está a tornar-se num dos últimos Estalinistas, capaz de relativizar qualquer crime do seu lado (guerras, torturas, aviões da CIA, etc..) e de cultivar a grande herança de Estaline e Mao: a verdade instrumental.
Boa farpa.
clap clap clap
Há outro grande estalinista arrependido: Vital Moreira. O homem continua hoje, no PS, tão sectário como era no PC.
Na mouche, camarada!
O PSR não é ou era trotskista? Louçã não é trotskista? Li há pouco tempo em fontes bem informadas que sim, que é ou era. Qual é o credo do Bloco de Esquerda, afinal? Esclareçam-me!!
Quanto a JPP, continua igual a si mesmo: génio nalgumas coisas, reaccionário noutras!
Nem eu disse que ele não era. Mas ser trotskista hoje, é bastante diferente de há trinta anos, tal como ser cristão hoje, é diferente de há 100 anos. Isso para já não falar que o mapa dos trotskismos é muito confuso: há de tudo como na farmácia.
Mas, afinal, qual o “credo” do Bloco de Esquerda? E de Louçã? São favoráveis à democracia?
Afinal, JPP tinha razão! Esclareçam-me!
Cara Fátima Cordeiro,
Antes de responder às questões religiosas, aproveito para lhe dizer que gosto do seu Blog.
Sobre o Bloco de Esquerda estou certo que não há um credo único: há mais uma necessidade de encontrar novos caminhos para responder a velhas e novíssimas questões. Eu por exemplo, sou do Bloco e não sou, nem nunca fui, trotskista.
Sobre a democracia, liberdade e justiça, acho que o “credo” que nos unifica é: “mais, sff”.
Mais democracia, liberdade e justiça e menos ditadores, sejam eles de esquerda ou de direita.
Belíssimo texto, Nuno. E o mais inacreditável no texto do JPP é o facto de ele jamais exemplificar textualmente os epítetos que ele cola ao discurso de Louçã.
É, sobretudo, um texto mal esgalhado e precipitado de alguém que escreve em pânico. Isto é muito bom sinal.
que grande texto :)
Excelente texto. Pena não chegar ao mesmo número de pessoas que leram a crónica de JPP. O contraditório não existe para certas luminárias do comentário político nacional.
Excelente texto nuno. Haverá pontos que te escaparam – e que são argumentos válidos, mesmo não dando razão ao homem -, mas no essencial acertaste em cheio.
Parabéns, a todos, pelo blog – já que creio ser a primeira vez que “comento”.
excelente texto a desmontar a demagogia e a arrogância intelectual de PP.
O JPP será um cínico (é um traço estrutural dos ex-maoístas mas não só; alguém me sabe explicar em que é que acredia hoje o Pina Moura, por exemplo?); dito isto, o Louçã é de facto um dissimulado: passar o debate de ontem a condenar o sectarismo e acabá-lo com a invocação de Lino de Carvalho e João Amaral pareceu-me um truque digno do António Costa. Ainda a propósito de “linguagem de pau”: que porra é essa do “grande combate do conhecimento”?
Muito bem, Nuno. Devias pertencer à brigada de minas e armadilhas ideológicas da blogosfera.
Quanto ao texto do JPP, em que transparece o que ele tem de pior (uma forma muito própria de sectarismo), concordo com o que disse o João Pedro da Costa: é muito bom sinal.
O Louçã esteve particularmente bem nos debates e isso assusta as hostes cavaquistas. Pacheco Pereira é inteligente e já deve ter percebido que não vai ser assim tão fácil impor o vazio absoluto, consensual e esfíngico, do candidato Cavaco Silva.
Veremos o que dizem as próximas sondagens.
Sublime… parabéns!
Excelente post … JPP não foge ao seu estilo habitual …
Muito bem.
Mas o Louçã não é o dirigente da IV Internacional que diz que não é trotskista? E há algo mais desonesto do que isto?
Cara Margarida,
Desonesto é por na boca dele coisas que ele nunca disse.
NRA: viu algum desmentido a esta entrevista do Louçã publicada no Público de 21 de Julho de 2005?
(…)
Público – Pelo que diz concluo que já não é trotskista.
FL – O Trotsky teve um papel fundamental na luta contra o estalinismo, contra a estalinização, contra o que veio a ser o modelo soviético. Não só ele mas muitos outros.
Público – Ainda se define como trotskista?
FL – Eu nunca me defini como trotskista. Defini-me sempre como marxista.
Público – Integrou uma organização trotskista…
FL – Mas foi uma organização que nunca se definiu como tal, embora, e eu assumo isso por inteiro, o contributo do Trotsky tenha sido fundamental para pensar o socialismo de hoje. Como foi o de outros, como Rosa Luxemburgo ou Gramsci e alguns outros marxistas. A nossa herança é exactamente essa e vivia sempre da mesma forma.
Público – Entre o Trotsky e a Rosa Luxemburgo há diferenças substanciais…
FL – Com certeza. Mas eu creio que o socialismo aprendeu com essas diferenças. (…)
.J.A./M.J.O.
(Público, 21 de Julho de 2005)
Margarida,
Define-se você como Estalinista, apesar de pertencer a um partido que já se defeniu, há muito tempo, como Estalinista?
Negou o Louçã, alguma vez ter pertencido a uma organização da IV Internacional?
Finalmente, você tem razão numa coisa, apesar daquilo que eu lhe digo, a declaração do Louçã sobre o Trotski parece-me um pouco “chutar a bola para canto”.
Eu se fosse da IV Internacional, teria dito que ser de uma organização que tem na sua herança o pensamento de trotski significa reconhecer um património ideológico, mas necessariamente tem também de incorporar que perante novas situações há novas respostas, algumas das quais críticas à própria herança.
NRA: Quando nasci já o Estaline tinha morrido e quando aderi ao meu partido e me lembrei de perguntar sobre o estalinismo, explicaram-me que já tinham desde os anos 60 feito a respectiva análise e rejeitado os crimes e as distorções desse período. E pude entretanto confirmá-lo em documentos e resoluções de congressos do PCP. E se bem que fosse muito nova, lembro-me logo a seguir ao 25 de Abril, dos insultos que atiravam aos comunistas, precisamente por ter renegado Estaline e o estalinismo. Acho que “revisionista” era o mínimo que então lhes lhes chamavam. E entre os mais encarniçados lembro-me do Fernando Rosas, mas também me lembro do Tomé, do Luís Fazenda, do Pedro Soares, do Louça, do Heitor de Sousa, do Durão Barroso (no liceu de Almada…), do Pacheco Pereira, do Saldanha Santos, da Morgado, etc.
E o que acho muito curioso é nunca me ter apercebido de qualquer auto-crítica ou demarcação pública deles e pelo contrário vê-los agora muitos deles no BE e a tentarem colar o “rótulo” de estalinistas aos comunistas.
Mas a conversa era sobre o Louça e o trotskismo. E o NRA pergunta: “Negou o Louçã, alguma vez ter pertencido a uma organização da IV Internacional?” Ora a pergunta está mal feita: Louça não só pertence como actualmente continua a ser dirigente da IV Internacional. E ele não só nega que é trotskista como não quer que se saiba (por cá) que é dirigente. Por isso mantenho a minha questão: há algo mais desonesto do que isto?
Margarida,
Duvido que o Fernando Rosas, o Fazenda, etc… sejam hoje estalinistas.
Ao contrário, o Avante, desde há pouco tempo, é useiro e vezeiro, pelas mãos do seu chefe de redacção e outros, em fazer elogios ditirâmbicos ao Estaline.
Sobre o Louçã não ter pertencido a uma organização da quarta internacional parece-me difícil que ele tenha dito isso: o símbolo do PSR (o primeiro) tinha um “quatro” na foice e o martelo. Mas sabe, isso interessa-me muito pouco: eu por exemplo considero-me leninista, mas não me vejo obrigado, como você, a ignorar os crimes da Coreia do Norte e da China. Como se recordará certamente, no marxismo, a prática é o critério da realidade.
Finalmente, ao contrário de você, não tenho que estar sempre de acordo com o Jerónimo.
Margarida,
Junto envio-lhe duas passagens do Avante sobre Estaline, nem por sombras as mais saborosas, mas todas pelas mão do chefe de redacção do órgão central do PCP e membro do seu comité central.
“As fontes que cita para se dar ares de verdade sobre os «crimes» de Stáline, são bastante pobres. Fala de «historiadores isentos»; de «fontes independentes»; afirma que «hoje, todos sabemos»!… E acaba fornecendo o «testemunho» de Krutchov, que tanto ajudou a escalada da guerra fria. Aí começaram as comparações entre Hitler e Stálin, perdoando a um a sua «loucura» e carregando sobre o outro a sua «monstruosidade».
Sem reabilitar ninguém – e muito menos os crimes que terá havido (digo terá com toda a desconfiança que suscitam os «isentos» e «independentes historiadores» que PC cita) – persistimos em travar a batalha da verdade, isto é, em limpar a história das aleivosias e recolocar os factos sob a luz de onde têm vindo a ser retirados, roubando ao povo soviético de então e aos seus dirigentes, o papel determinante na derrota do nazi-fascismo”.
Leandro Martins, Avante 1642
“Esse Partido teria de ter a orientá-lo uma direcção coesa e profundamente empenhada em salvar a pátria e o socialismo a construir-se. Surge assim, naturalmente, a figura de Stáline, que não pode ser isolada dos outros dirigentes, tal como o PCUS não podia encontrar-se isolado da vontade dos milhões de soviéticos, comunistas ou não.
Mas a história, já se sabe, reescreve-se facilmente. E se, na Rússia de hoje, apesar dos tempos negros que se vivem e da obscuridade lançada desde há muito sobre os factos e os seus significados, voltam a aparecer cidades em que se dá o nome de Stáline a ruas, há logo quem, lá mesmo, venha advertir sobre os «crimes» cometidos ou não pelo revolucionário soviético. Foi o que pressurosamente fez Gorbatchov, que afirma não perdoar e alerta para este sobressalto russo que torna a elogiar Stáline. Diz ele que se não deve a vitória a Stáline. Estaríamos de acordo, se Gorbatchov pretendesse revelar que, para além do dirigente, há o povo. Certamente. O que ele não pode negar é que, se Stáline teve o seu papel na vitória ao lado do povo, Gorbatchov teve o papel principal na derrota do socialismo, acompanhado apenas por arrivistas e traidores de que se rodeou para torpedear a mais brilhante conquista da história da humanidade”.
Leandro Martins, Avante 1641
Uma das grandes vantagens do trotskismo é a de não ser responsável por crimes nenhuns do socialismo, visto que nunca se comprometeu com o poder socialista – tirando uns tiritos que deram lá em Kronstadt… Quanto à menção dos crimes da China e da Coreia do Norte – que NRA parece ter acabado de descobrir – fico comovido quando as oiço de uma organização de ex-maoístas…
“A prática é o critério da realidade” é uma frase que não quer dizer porra nenhuma; ò malta do Bloco, quando é que vocês aprendem a falar português?
Querida Margarida: Eu não a conheço, nem sou do seu partido (nem de nenhum outro, porque não tenho pachorra), mas reconheço que, se alguém faz aqui uma consideração táctica ínteressante, é você, com o seu marxismo ingénuo, um tudo nada intuitivo, reconheço, mas bastante mais arguto que o português chavonístico do NRA: então não é óbvio que o esquerdismo atacava o PC por “revisionista” em 74 e por “estalinista” hoje pecisamente pelas mesmas razões? Mudou a correlação de forças e mudou o contexto internacional, mas a natureza de classe do PC e do esquerdismo permanecem as mesmas, e daí essa “actualização” do discurso esquerdista, que mantém, no essencial, o seu anticomunismo de sempre – ou deveria eu dizer o seu “anti-social-fascismo”?
Caro Zé Carlos,
Já vi que o seu critério histórico está ao nível do “se a minha avó tivesse asas, voava”.
É genial a passagem: “(Trotski)nunca se comprometeu com o poder socialista”.O homem foi comandante do exército vermelho e comissário do povo… É verdade que a picareta do Ramon Mercader descomprometeu-o bastante…
No meu tempo do PCP, o partido tinha muitos defeitos, mas não tinha esta deriva asiática.
E comigo está um pouco mal, porque eu sempre fui muito crítico desses, e outros, alinhamentos.Se tiver tempo, pode consultar sobre isto a revista “Politika” do Superior da JCP de que eu era director.
Sobre a frase, não percebi a sua dificuldade: neurónio empobrecido?
Ò NRA, você pode sempre citar-me, que não paga nada, mas ao menos cite-me bem: eu disse o trostskismo, não disse o Trotski – que ainda teve tempo, nos curtos anos em que mandou alguma coisa, para escrever umas páginas interessantes sobre a ilustre prática do terrorismo de Estado e mandar tratar a tiros uma revolta da marinha vermelha – apesar do Dr.Louçã dizer, com aquela convicção comovedora que o caracteriza, que a democracia e a liberdade são “inseparáveis” do socialismo, o que é uma patranha em que nem em sonhos o velho Trotski acreditava.
Enfim, eu acho que o Trostski estava para a Revolução de Outubro e para a URSS um pouco como o Alegre está para o PS (tão mau quanto, mas um bocadinho mais ressaibiado que os outros), mas como eu tenho uma certa ternura por poetas, passo à frente.
Quanto à deriva asiática do PC, você parece-me um caso difícil e singular de cegueira: desde há muitos, muitos anos que TODA a gente sabia das purgas e dos gulags – todos menos você, que só se incomoda agora com a China e a Coreia porque isso é suposto ser um facto novo, que sucedeu quando você abriu os olhos e os outros os fecharam, e você teve de saír do seu partido porque cheirava mal lá dentro… Ora, ora: Você criou uma ficção que lhe dá jeito, de uma coerência pessoal que só existe na sua cabeça, mas em que você, à custa de tanto acreditar, ainda um dia vai julgar que é real… Tenha cuidado, que casos desses costumam acabar mal – quando tiver mais de 35 anos você ainda é capaz de se candidatar a PR…
Consigo eu estou de facto mal, porque você é daqueles que escrevem política com k – e eu não percebo o valor acrescentado dessa operação – e esceve frases difíceis que, insisto, não querem dizer rigorosamente nda (mas se quiser fazer o favor de tentar provar o contrário, p.f. não se acanhe).
Caro Zé Carlos,
Foi o Trotski ou o trotskismo que deu uns tirinhos em Kronstadt? Já havia trotskismo na época?
A sua citação é ligeiramente imbecil.
Infelizmente, tenho mais de 35 anos, você parece que não.
Conheci muita gente no PCP que não se sentia cumplice do Gulag e que achava desejável ser comunista e anti-estalinista.
Sobre a frase da sua ignorância, você parece-me a loira da Omni, que diz: repete-me devagar como se eu fosse muito burra.
Vou-lhe fazer a vontade, no marxismo, que você conhece dos resumos das selecções do Readers Digest, uma ideia tem uma força real, quando tem a capacidade de alterar a realidade.
Cá vai a transcrição da segunda das “Teses Sobre Feuerbach”: “A questão de saber se ao pensamento humano pertence a verdade objectiva não é uma questão da teoria, mas uma questão prática. É na praxis que o ser humano tem de comprovar a verdade, isto é, a realidade e o poder, o caráter terreno do seu pensamento. A disputa sobre a realidade ou não realidade de um pensamento que se isola da praxis é uma questão puramente escolástica”.
Devagarinho: Primeiro Trotski deu uns tiros, depois perdeu o poder, a seguir vieram os trotskistas que, apesar de Trotski ser tão sanguinário (por assim dizer) como o Stalin, dão umas de virginais, falam de liberdade e democracia como se fossem fabianos, e como nunca se comprometem com nada, nunca são responsáveis por nada – embora, repito, sejam tão maus quanto.
Quanto à sua frase e à citação do Marx (escolhem sempre as Teses sobre Feuerbach porque são mais pequeninas e fáceis de ler), qualquer semelhança entre ambas é pura confusão sua: “a prática é o critério da realidade” é mau português e não quer dizer rigorosamente nada (sugiro-lhe a leitura do original alemão para comparar).
Parabéns, sabe alemão.
Não preciso de citar, mais do que lhe citei. Se você não percebeu, em pequeno,porque é que perceberia qualquer outra obra mais extensa. Já entendi, que o seu problema é que não estava em alemão. Faça-se luz, nessa cabecinha: “Die Frage, ob dem menschlichen Denken gegenständliche Wahrheit zukomme – ist keine Frage der Theorie, sondern eine praktische Frage. in der Praxis muß der Mensch die Wahrheit, i.e. Wirklichkeit und Macht, Diesseitigkeit seines Denkens beweisen. Der Streit über die Wirklichkeit oder Nichtwirklichkeit des. Denkens – das von der Praxis isoliert ist – ist eine rein scholastische Frage”.
NRA: eu não disse nem deixei de dizer que os seus amigos do BE sejam hoje estalinistas, eu o que disse é que há trinta anos eram e assanhadíssimos, desdenhavam de nós por não sermos, nunca renegaram as ideias que tiveram e hoje com todo o descaramento tratam-nos como se o fôssemos, apesar de nós termos resolvido essa questão há uns quarenta anos. Eles é que nunca a resolveram.
E sobre os artigos do Leandro Martins no Avante, vejo que você não admite que ele tenha liberdade de expressão: como você sabe os artigos assinados do Avante só responsabilizam quem os assina. E esses artigos que menciona são assinados pelo Leandro Martins.
Sobre o Louçã você persiste em não reconhecer que ele é dirigente da IV Internacional. Mas é. Basta uma busca no google para encontrar interessantes documentos que o comprovam, mas cá, em Julho, na tal entrevista ao Público ele até negou que fosse trotskista. Terá que reconhecer que no mínimo, o Louça é um dissimulado, já que renega as suas convicções com a maior das facilidades e ligeirezas.
E francamente não percebo porque é que o NRA, para se safar duma questão incómoda me atira com o Jerónimo, assim sem mais nem menos. Não é lá muito elegante, pois não?
Cara Margarida,
Andamos a compreendermo-nos mal. Eu nunca disse que o Louçã não pertence à IV internacional: disse o contrário: “Sobre o Louçã não ter pertencido a uma organização da quarta internacional parece-me difícil que ele tenha dito isso: o símbolo do PSR (o primeiro) tinha um “quatro” na foice e o martelo”.
Eu já trabalhei na editorial Avante, e reuni com a redacção do Avante! (para discutir um suplemento) e posso garantir-lhe que no órgão central do PCP, não saiem notícias contra a orientação do partido. E que Diabo, não estamos a falar do correspondente em Londres, mas do chefe de redacção! E com um pouco mais paciência, arranjo-lhe outras peças (não assinadas) do mesmo estilo.
Uma coisa lhe posso garantir: a estalinização do PCP é muito recente. Nos anos 80/90 nenhum dos dirigentes do partido autorizaria a saida no órgão do partido (onde são publicadas as posições oficiais do PCP) de um tal artigo. Dá vontade de dizer que o PCP “MRPPcizou-se”. De resto se reparar, não antipatizo consigo, nem com as suas posições (parecem-me, tirando a Coreia, melhores que muita gente), o que me irritam são “fachos” tipo Zé Tó.
Com toda a amizade,
Nuno
Ò NRA, se é a mim que você está a chamar facho, o meu nome é Zé Carlos e não Zé Tó; aproveito para o informar que detectei pelo menos quatro erros na sua citação de Marx; poderá gastar com utilidade o resto a manhã a tentar encontrá-los, a benefício da sua cultura filosófica e linguística.
PS A segunda frase pede um dativo, e você escreve o substantivo no genitivo, meu Deus!
Zé Carlos,
Já estava com saudades suas.
Um bom Natal também para si. Tanta gramática e tão pouco discernimento.Você é uma espécie de “Zé Tim, com um prontuário acoplado.
Quanto às citações,que você não consegue perceber o conteúdo:não as inventei, nem escrevi. são citações, como a palavra indica.
Mas escreva sempre.
NRA,
Agradeço e retribuo os seus votos de bom Natal, embora lamente as deficiências do seu alemão e a pobreza do seu marxismo. Já agora, peço-lhe um esclarecimento: o que é um “Zé Tim?
PS Os meus afazeres docentes concedem-me algum tempo livre e permitem-me seguir a campanha eleitoral por blogs interpostos, e julgo nunca ter visto nada de mais caótico do que o que se passa nos Comentários aos últimos Posts do blog alegrista “O Quadrado”; vale a visita.
Caro Zé Carlos,
O meu alemão (citado e o outro) é muito mau, mas os seus conhecimentos de marxismo são inexistentes, provavelmente retirados da família PC de P (ML).
O “José Tim” é um esforçado comentador que nos imunda com excertos do “Livro Negro do Comunismo” e elogios a Salazar.
Confesso que me sinto em desvantagem em relação também a si NRA, como já antes me sentira em relação ao LR, pois eu nunca reuni com a redacção do Avante.
Mas sei que no Avante, um artigo assinado responsabiliza quem o assina. E acho espantosa essa sua desresponsabilização do autor bem como a crítica por ele exprimir a sua opinião. Ou acha o NRA que ao jornalista e escritor Leandro Martins não devem ser atribuídos os mesmos direitos e obrigações dos outros profissionais?
E quanto ao PCP, também o NRA sabe que o obriga os militantes são as resoluções saídas dos seus Congressos. Queira portanto assinalar s.f.f. (se o entender claro) onde se fundamenta para as suas acusações de “estalinização” ou de “mrppcização”. Eu compreendo a nostalgia do “no meu tempo é que era bom” e a necessidade tão humana de arranjarmos sempre fundamentação para as rupturas e como estas são muitas vezes dolorosas. Como compreendo a sua resistência em admitir que o Louçã é de facto dirigente da IV Internacional.
Á atenção do Nuno: vem hoje nas “breves” da página 21 do JN o seguinte: “Rússia – Forte Nostalgia: Sessente e seis por cento dos russos sentem nostalgia da União Soviética, segundo os resultados de uma sondagem divulgada por ocasião do 126º aniversário do nascimento de Estaline. Entre os russos com mais de 45 anos, a percentagem de nostálgicos ascende a 80%”.
Fico a aguardar ver a carta de censura que certamente escreverá à redacção do JN por andar assim a incentivar o estalinismo.
Cara Margarida,
Eu nos meus bons dias também tenho nostalgia da União Soviética, mas isso não altera nada daquilo que foi profundamente mal feito. Na minha opinião, essa nostalgia deve-se fundamentalmente a uma revolta contra o capitalismo selvagem que substituiu o socialismo real.
Essa sua teoria de que escrever no Avante é o mesmo que enviar pregões no Blitz é encantadora, mas nem você acredita nisso.
Caro Zé Carlos,
Detesto dar-lhe razão: os comentários do blog alegrista “O Quadrado” são geniais.
Cara Margarida,
Não li com atenção todos os seus comentários e por isso tropecei só agora num, e vou responder-lhe sucintamente:
Eu nunca disse que o Louçã não era dirigente da IV Internacional, para lhe dizer com franqueza é-me perfeitamente indiferente, chateava-me era que ele fosse dirigente da Opus Dei.
É verdade que não foi de ánimo leve que sai do PCP. Sai, porque divergia com o partido em muita coisa.
No entanto, não me arrependo de ter sido militante do PCP e não sou contra o partido (veja lá, até continuo a usar esta expressão). Tenho é pena que o PCP seja cumplice das situações existentes na China e na Coreia. Acho que dá mau nome ao esforço abnegado de várias gerações de comunistas portugueses chamar “socialismo” a regimes ditatorais, despóticos e exploradores.
Sobre a deriva do PCP, pode colocar a questão ao contrário: o PCP já teve quase 200 mil militantes, agora tem menos de 80 mil, os que sairam, por variadas razões, estavam todos enganados e não passavam de um bando de traidores?
Fora isso, acho que as pessoas que se opõem ao capitalismo estão, com todas as suas diferenças, condenados a entenderem-se.
Vamo-nos vendo por ai.
Afinal o Francisco Louçã é dirigente da IV Internacional e diz que não é trotskista. Mantenho que não há ninguém políticamente mais desonesto do que ele na política portuguese pois não se assume. Além de que é coordenador dum partido que tem a “esquerda” no nome e no seu manifesto nem uma única vez usou essa palavra “esquerda”. E incoerência suprema também não usou o termo “Constituição da República Portuguesa” nem no Manifesto nem na sua declaração de candidatura. A nada isto o NRA respondeu, prefere mastigar os ressentimentos contra o PCP descobrindo agora que todos os que foram “abatidos” do ficheiro do PCP são no mínimo dissidentes. Como se aos comunistas não se aplicasse a lei da morte…
Cara Margarida,
Desisto. Depois de assobiar para cima, com os textos do “escritor e jornalista Leandro Martins”, agora pretende que morreram 120 mil comunistas, durante do final dos anos 80 até agora: foi uma epidemia?
Você chama ao BE e Louçã: desonesto, incoerente, entre outros mímos , e eu é que mastigo ressentimentos.Mas ressentimentos de quê? Mistério.
Fique bem.
Excelente artigo.
O Bloco de Esquerda é(na minha opinião) algo bem novo e diferente, que ainda não se percebeu bem o que é como movimento politico.A junção dos movimentos que lhe deram origem, penso serem coisa do passado.
Hoje o Bloco é Louçã, Ana Draco,Fernando Rosas… e uma ideia forte e inovadora, que a sociedade civil – a outra deve ser militar – ainda não absorveu.
Estalinista é Vitral Moreira, sim senhor,e Ana Gomes (basta ler o causa nossa)
Desculpa insistir Nuno. Mas agora que referiu o Avante, o que pensa do artigo de opinião do Casanova sobre o plágio do Professor Doutor Francisco Louça?
Desculpa a bicada… é mais uma pequena provocação…
Gosto da tua forma de reagir, e fizeste uma belissima análiso do artigo do Pacheco Pereira…
Mas gosto mais da tua forma de estar do que da do Louçã…
Depois do comportamento dele no debate com o Jerónimo, a propósito do João Amaral e Lino de Carvalho, repete a dose na Sábado.
Não fica bem e revela premeditação…
Acho que não foi muito feliz…
João,
Não conheço o texto que supostamente teria plagiado Louçã, mas atendendo à seriedade intelectual,política e gramatical dos últimos textos do Casanova sou compelido a afirmar que o autor tinha dito que o Bush era mau, e o Louçã também. Mas é apenas preconceito meu.
Em todo o caso, o meu preconceito é bastante menor que o do Casanova, que acha que o Louçã não passa de um plagiador. E parece que não é o único: não há iniciativa do PCP que não seja violentamente roubada, parece até que o Spartacus plagiou a actual direcção do PCP sobre a luta contra a exploração; e o Marx (outro tipo que copia algumas – muito poucas – passagens do programa do PCP) por afirmar num testo seu que “não é marxista” arrisca-se a ir à Comissão de Controlo e Quadros.
Sobre a citação englobando o João Amaral e o Lino de Carvalho, eu também não gostei.
Bom, isto há malta que passa o tempo agarrada ao monitor à espera que caia mais uma farpa para poder atirar com outra, mesmo que repetida, ou trepetida…
Trotskismo, Estalinismo, Bloquismo, Comunismo, Socialismo… Porque raio é que não se focam no essencial?
Tinha eu uns 16 aninhos e vi no PSR a luz! Não porque tivesse projectos que eu considerasse essenciais para o País (ou, pelo menos, que o fossem mais do que os de outras forças políticas), mas porque, numa qualquer campanha eleitoral, mostraram na televisão um trabalho sobre o posição do partido quanto a factos de História Internacional. E eu identificava-me mesmo com aquilo! Era a esquerda que renunciava aos crimes da face negra do Sovietismo.
Vai daí, nasci PSR como eleitor.
E o Bloco continuou o meu fascínio. Acrescido ainda, por juntar mais forças de esquerda numa altura em que já percebia que a fraqueza (ou menos força) da Esquerda está na sua divisão.
Na prática, digam-me – para além das heranças históricas e da estrutura interna, para além dos nomes e do marketing – o que é que separa o Bloco do PCP quando pensamos no essencial para Portugal?
Hoje já não sou bloquista. Voto na Esquerda, de acordo com a eleição, as pessoas, o momento.
Hoje sei que há mais diferença entre as várias “alas” do PS ou do PSD do que as há (no essencial) entre os várias partidos que dividem a Esquerda.
Com uma lei eleitoral que prejudica de uma forma atroz as divisões partidárias, custa-me ver que uma tendência que vale 14,88% dos votos expressos pelos portugueses não vai para além de 9,56% dos lugares na Assembleia da República.
Mas isto já vai longo… Não me estico mais.
O SENHOR PACHECO TENTA ESCONDER ESCONDER O SEU PENSAMENTO, ATRÁS DUMA CAPCIOSA LINGUAGEM “DEMOCRÁTICA”. SÓ ELE PARECE TER MUDADO,I.E., NESTE CASO REGREDIDO PARA AS MAIS CALUNIOSAS E DIFAMATÓRIAS APRECIAÇÕES SOBRE O FRANCISCO LOUÇÃ !
O vosso problema é falta de sexo?
Ou o parceiro diz que vocês não prestam, e estão à procura de ser melhor que outro qualquer que apareça na net?
Porque troca de ideias, ou uso de inteligência, aqui não está muito à vista. E na relidade, para a esquerda e os seus valores, isto não abona nada! É pena.
Mas olhem que pelo nível demonstrado, alguns de vocês ainda vão ter ao PS e serão prósperos políticos… Assim o Louçã os abençoe! Eu cá desde que descobri os números de valor acrescentado, não quero outra coisa.