O desaparecimento da menina inglesa no Algarve lembra-me a ténue linha entre a negligência e a infelicidade. Sei-o por experiência própria, até.
Em 1984, o meu filho estava com a mãe e com uma tia à porta de uma pastelaria na rua principal de Algés. Ao ver-me a sair do automóvel do outro lado da rua, começou a correr na minha direcção. Aí surgiu um senhor que o puxou pelo kispo azul, evitando que fosse esmagado por um imponente Mercedes. Este poema de Dezembro de 1984 recorda-o.
F I L I P E
«Habitamos um corpo em perigo»
diria o João Miguel Fernandes Jorge
que tu não sabes sequer quem é
preso ainda à tua vida de criança
os bolsos cheios de miniaturas
as cantigas do colégio na tua voz
E contudo poderias ter ficado ali
como já em São Bernardino no Verão
quando vias o mar para ti sem fim
Esse mesmo mar que com os castelos
forma um dos campo ricos do teu vocabulário
que te enche a voz quando vês água
e chamas mar pequeno às minúsculas lagoas
breves como a chuva neste mês de Maio
breves como o grito de quem te viu
quase a ficar debaixo de um automóvel
em Algés – a fugir da pastelaria
E esse automóvel não era como tu
uma miniatura – era real e estava ali
como o mar e os castelos que quase perdeste.
José do Carmo Francisco
FRancisco,
Ainda bem que falou nisso. Na estranja têm reparado muito no profissionalismo duma gaja dos laboratórios da polícia, de de bunda para o ar, de jeans, de pincel na mão, a procurar impressões digitais. Que país de polícias medievais! Pelo menos podiam aprender alguma coisa com as toneladas televisão americana, verem como essas coisas se fazem!
O seu poema está lindo, mas foi só um susto, por um triz, em Algiz pequeno-burguiz.
O caso da menina inglesa é muito diferente e pode ir custar umas coroas à nossa indústria do turismo.
Fez-me lembrar algo semelhante que aconteceu com o meu filho mais velho quando pequeno, so que ali nao foi um senhor que o salvou, mas sim uma travadela de um carro que tinha uns travoes bem afinados, felizmente.
Um abrco d’Algodres.