Era um restaurante com alguma distinção, mas ele insistia em dizê-lo ‘de bairro’.
Limpou o garfo ao guardanapo, gesto muito seu, e disse:
– Não é, já vês, o tipo de relação que nos convém.
Eu esperava algo assim, após dias sem um telefonema.
Vínhamos naquilo há meses. Era o divórcio deles, era o reatamento deles, eram os sogros deles, tudo a atrapalhar.
– Lá por isso… – fiz eu, quase tão ténue como o som do guardanapo.
Olhou-me desconsolado. O garfo estava mais que limpo. Vi-o tomar balanço e cravá-lo com convicção no lado mais palpitante do peito.
A carteira, essa, é que não esteve para tragédias.
Ui! Felizmente sogros e tralha é coisa que não existe. Mas o abismo tem múltiplas penhascos. Fernando estou a gostar do Cidade Proibida, bastante mesmo, embora me apetecesse dizer umas maldades bichosas, aquilo é tudo tão chic, (e logo eu que sou para além do chic,…).
mas não devo dizer grande coisa por agora, era demasiado diletante, obriguei-me a travar na página 44 para não ser guloso, já estava a trocar nomes.
Mas estou contente.
Amanhã vou partir para fora uns diazitos, para o Porto carago!, não sei como vai ser, mas fica prometido que terás depois a minha contribuição.
náo tenho pretensões nenhumas a crítico literário, a minha relação com a escrita é hedonista, eu respiro ou bebo aquilo, e ponho de lado quando não gosto.
Eu uso a carteira no bolso de trás das calças, não sei que implicações terá :))
Py,
Ficarei aguardando o teu veredicto. Bom, as tuas impressões.
O chique escorre, de facto, do livro do Pitta. Mas a gente pode fazer o exercício de esquecê-lo. Ao chique. E ao Pitta.
Quanto à carteira: o bolso de trás das calças é o sítio mais convidativo. Estimula diversificados apetites. E não defende de nada, claro.
Belos dias no Porto.
Contribua e divulgue
Esta perspectiva, nunca explícita, duma voz feminina, é um bom achado, e é surpreendente.
Boa tensão.
A carteira, e as tragédias dela, é que me escaparam, assim à primeira.
Lá voltarei, com calma.
JC,
A sua hesitação era sintoma duma falha minha. Está ela, espero, corrigida pelo ajuntar de «Do [peito] dele, claro».
Sempre é melhor que nada….
Gostei, Fernando. Muito.
Abraço.
Pessoal, ganda filme: Shortbus!
Shortbus
Muito bem, Fernando. Mais um gin para esta mesa do conto.
Fernando, pois eu acho que o texto ficaria melhor sem o «Do dele, claro». E a hesitação não é sintoma de nenhuma falha tua, caramba. São os louros do teu texto.
(Estou aqui a fazer muita força para que retires mesmo essa frase, caramba.)
E digo mais: não há absolutamente nada que me diga que se trata de uma voz feminina.
O «tão tenue como o som do guardanapo», um verdadeiro achado.
Família, famíla, a quanto obrigas.
JP,
Work in progress, intervenção do leitor – eu rendo-me ao ar do tempo.
Além disso, tens absoluta razão. E tem-la a priori, pois eu comecei por entender que a frase era desnecessária.
E, claro, espertalhão: a voz não precisa de ser feminina. Confesso-te: também não o era.
Valupi,
Vou acabar por gostar. Do outro gin. Deste gosto.
também me parece que não precisava do tal acrescento. não sei se é ambíguo, mas li de imediato como «o dele, claro». ainda bem que a voz não é feminina, pois não me parecia…