Nasceu um novo blogue que necessita do contributo e da interacção de todos para se manter vivo e segregar luz sobre a história recente do nosso país, “Memórias Portuguesas do Século XX”.
Não permitamos que as memórias do antigo regime se apaguem. Temos a possibilidade de narrar, de expor e de nos interrogarmos acerca desse passado cujos contornos e conteúdo se encontram ainda por estudar. Há épocas em que nada se pode expressar, sob pena de sermos perseguidos e até aniquilados. Hoje, podemos debruçarmo-nos sobre um vasto período de história do século XX e tentar colher frutos esclarecedores, os quais possibilitarão desbravar caminhos às gerações pós-revolucionárias. Sem passado, podemos caminhar, mas desorientados, encharcados num etilismo falacioso, consequência de uma erosão mnésica do passado vintesco e do atordoamento feérico da sociedade de consumo, a nova máquina devoradora de consciências.
Quais são as razões que me levaram a criar o blogue das Memórias Portuguesas do Século XX?
Em primeiro lugar, porque, desde que tomei consciência de mim própria, apercebi-me de uma lacuna que me impedia um auto-conhecimento real. Sempre senti um desencontro, um grande malentendido entre mim, da geração pós-25 de Abril, nascida em França, e os meus pais, nascidos nos anos 40-50, em Portugal, aquando do Estado Novo. As ideias, as linguagens eram diferentes e, na enxurrada de malentendidos, incompreensões, equívocos e mágoas, eu não encontrava o vaso comunicante entre uma geração e outra. Quando comecei a ouvir histórias do antigo regime, através de vizinhos ou pessoas que simplesmente queriam desabafar, eu ficava fascinada. Queria saber mais e entendia que a chave-mestra da compreensão, a ponte entre mim e os meus pais, seria o desvendamento desse passado que não vivi. No entanto, não era uma procura activa. Estava apenas atenta aos assuntos relacionados com esse segmento da nossa memória colectiva.
Em segundo lugar, o elemento desencadeador desta curiosidade e pesquisa mais activas relaciona-se com este último fim-de-semana, em que decidi organizar uma escapadela até à aldeia da minha mãe, pertencente ao concelho de Cinfães. Eu ia com o intuito de vasculhar o velho sótão à procura de livros. Após muita procura e poeirada pelo meio, desci satisfeita com os livros que tinha encontrado. Foi nesse momento que me surgiu a ideia de ir até à biblioteca de um tio-avô meu, falecido em 1977. Era da Pide e a biblioteca, apesar de lapidações várias de rapinas gananciosas ao longo dos anos, ainda se encontra guarnecida de bastantes livros, uns seculares e outros surpreendentes. Porquê surpreendentes? Porque me deparei essencialmente com livros que tratavam da vida e obra de Lenine e Estaline ou estudos sobre os regimes comunistas. Eu não esperava encontrar esse tipo de livros na biblioteca. Fui acometida por diversas dúvidas: Teria ele sido um Pide com ideias subversivas? Teriam sido apenas livros apreendidos? No entanto, pela mão dele, estava escrito, num dos livros proibidos, Feira do livro, 1960. Não tenho agora ninguém que me possa esclarecer sobre esse assunto. A minha avó faleceu em 2006 e era a pessoa mais ligada a esse meu familiar. Segundo a minha mãe, ele tinha entrado na Pide quando era jovem e, quando se apercebeu do que se tratava e quis sair, já era tarde. Quem entrava, não saía. Só possuo este ínfimo indício.
Quando voltei deste último fim-de-semana, comecei a pesquisar através de documentários e obras, estudos e testemunhos para ter uma noção mais definida desse período da História. Paralelamente, surgiu do desejo e da vontade, um blogue que pretende vir a ser um local de debates e ideias, um espaço de contributos de memórias díspares, dispersas, ocultas e ocultadas, com o intuito de lutar contra a amnésia, a ignorância e com o objectivo de formar através da informação.
Cláudia
Belo desafio !
Força ! Vamos nessa.
Jnascimento
os sotãos fazem maravilhas.:-)
(mas eu e a história não nos damos bem: ela entedia-me e eu não a faço) :-)
Obrigada, Jnascimento. Não te esqueças que preciso que todos colaborem. Se vires algo pertinente, algo que te faça recordar algo, comenta.
Sinhã, de Confúcio tens pouco. Não te deves conhecer muito bem…
olha, venho eu de lavar a pevide e vem esta querer me dar banhada. conheço-me mesmo bem, sabes. :-)
(deixa lá. ficas tu com o confúcio e eu com o costa).:-D
Eu desconheço-me, Sinhã. Ando sempre à minha procura.
:-) tens de fazer amizade com a sombra.:-D
Conheci uma que tinha a mania da sombra. Olha, enlouqueceu.
mas, então, devia ser amiga dos padres que conheciam o mário.:-D
Totalmente, beata, tola, com a cabeça nas nuvens. Não é de espantar que o marido tenha fugido a sete pés.
não me digas que fugiu para as memórias. :-)
Já não me lembro :-D
é pôr mais queijo nas tostas, mujer.:-D