Macacos que falam

“A jornada 13 da Série A italiana ficou marcada por um episódio racista ocorrido no jogo Messina / Inter de Milão. Aos 66 minutos, o costa-marfinense Marc Zoro, do Messina, fartou-se de insultos racistas vindo dos adeptos do Inter, agarrou na bola e, com as lágrimas no rosto, preparou-se para sair do relvado. Valeram Adriano e Martins, jogadores do Inter, que convenceram Zoro a ficar em campo. No final do jogo, a direcção do Inter pediu desculpas ao atleta pelo comportamento dos seus adeptos.” (do Blog Terceiro Anel).
O que se passou no jogo entre o Messina e o Inter fez-me buscar um pequeno texto sobre o racismo no jogo da bola escrito pelo argentino e homem do futebol Jorge Valdano:
“Aos fanáticos pode-se tirar a suástica. Mas não a voz.
Como o fascismo é pobre em palavras, no último fim de semana os adeptos limitaram-se a gritar “uuuuuuuuuu” a cada vez que um jogador negro pegava na bola. A claque da Roma vaiava em “uuuuuuu” os atletas negros do Perugia, enquanto a do Perugia respondia com um “uuuuuuuu” destinado aos jogadores negros da Roma. E o mesmo era feita pelos adeptos (sempre em “uuuuuu”) da Lazio em relação aos negros do Parma…
Esse “uuuuuuuu” é grito tribal utilizado para agredir e insultar. É um monólogo incivilizado. E, como sabemos, a palavra “monólogo” significa um macaco (“mono”) que fala”.

Texto extraído do livro “Apuntes del Balón”, Esfera de los Libros, Madrid/2001

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