De Cardoso Pires a Fernando Mendes – Um Peso certo, uma palavra errada

Para quem possa parecer insólita esta associação entre o escritor José Cardoso Pires e o actor Fernando Mendes esclareço já que se trata de ligação legítima. O autor de Balada da Praia dos Cães nasceu no Peso (Vila de Rei) e o apresentador do «Preço certo» esteve no Peso (Santa Catarina) numa festa com a finalidade de angariar fundos para o piso sintético do campo de futebol local. Tenho aqui o livro A república dos corvos de José Cardoso Pires com uma dedicatória amável datada de Maio de 1991 que conclui deste modo: «José do Carmo Francisco oxalá encontre o mesmo prazer que eu encontrei nos seus Jogos Olímpicos. Um abraço de parabéns José Cardoso Pires». Na contracapa lá está o erro crasso: «José Cardoso Pires nasceu no Peso, Covilhã, a 2 de Outubro de 1925.» Na página 5535 da Nova Enciclopédia Larousse vem de novo o mesmo erro: «Pires (José Cardoso) escritor português (n. Peso, Covilhã, 1925)» Nós sabemos que Vila de Rei é cá para baixo e Covilhã é lá para cima. O Fernando Mendes aparece no Diário de Notícias de 3-6-2007 a dar um pontapé de saída para um jogo no Peso (Santa Catarina), mas a notícia assinada por João Fonseca de Coimbra refere outra coisa: «As centenas de pessoas que assistiram ao jogo, ontem à tarde no Peso, Caldas da Rainha, não tiram os olhos do pelado mas no final não se entendem quanto ao resultado.» O Peso onde Fernando Mendes esteve fica na freguesia de Santa Catarina e não na freguesia de Caldas da Rainha. Isso era se o Peso ficasse no Avenal ou na Lagoa Parceira. Mas não. Fica em Santa Catarina, a mais de 18 quilómetros das Caldas. O Peso do Cardoso Pires é ainda mais longe: de Vila de Rei à Covilhã é um esticão. Mas ambos estão errados.

José do Carmo Francisco

14 thoughts on “De Cardoso Pires a Fernando Mendes – Um Peso certo, uma palavra errada”

  1. Caro Amigo,

    Mais uma oportuna observação, fustigando a ligeireza que topamos um pouco por todo o lado, nas letras, nas artes, como, talvez ainda mais, nas ciências.

    Por vezes, parece que pregamos no deserto, quando assinalamos o erro e preconizamos a sua correcção.

    Mas, ainda assim, persistir é preciso. Por isso o felicito.

    Deixo-lhe também uma sugestão : porque não transcrever para aqui as suas pitorescas crónicas da Estrada de Macadame, que continuo a ler, semanalmente, com muito agrado, na Gazeta das Caldas ?

    Um abraço e votos de continuada inspiração.

  2. Isso é incrível.
    Arnaldo Saraiva incluiu o JCP na antologia “Escritores Modernos da Beira Baixa”, de 1988, no pressuposto de que ele teria nascido na Covilhã.

  3. De qualquer modo Vila de Rei fica na Beira Baixa, ali perto de Proença a Nova e da Sertã. No livro de Liberto Cruz sobre JCP (EDITORA ARCÁDIA) lá está: 1925 2 de Outubro: Na aldeia do Peso, distrito de Castelo Branco nasce Jose Cardoso Pires. Omitir Vila de Rei é menos grave do que trocar Vila de Rei por Covilhã.

  4. Em defesa do jornalista

    José do Carmo Francisco pressupõe que, ao mencionar as Caldas da Rainha, João Fonseca estaria a referir-se à freguesia, mas podia muito bem ser ao concelho (o excerto citado, “jogo, ontem à tarde no Peso, Caldas da Rainha”, não diz que é na freguesia das Caldas). De qualquer modo, parece-me que ele nem se estaria a referir a uma coisa nem à outra, enquanto jornalista fez o que devia: deu um ponto de referência ao leitor, mencionando uma localidade conhecida. Se se tivesse limitado a escrever “Peso, na freguesia de Santa Catarina”, sem fazer qualquer referência às Caldas, pelos vistos deixaria JCF satisfeito (ainda que sem pretexto para o escrito), mas prestaria um mau serviço aos leitores, pois a maioria ficaria sem saber onde raio é que tinha sido o jogo. Ao não ter dado a localização completa, foi preferível ter omitido a freguesia do que ter omitido a referência às Caldas.

    Quanto à naturalidade do José Cardoso Pires, parece-me que o próprio poderá ter contribuído para o disseminar do erro no caso de ter tido conhecimento dele e, não obstante, ter permitido que a editora distribuísse o livro, A república dos corvos, sem o corrigir.

  5. Parece-me exagerado o termo «defesa» pois não ataquei ninguém. Apenas registei um facto, uma simples foto-legenda. Claro que joguei com a questão «Peso-Preço Certo»… Quanto ao José Cardoso Pires, tanto quanto sei, não são os autores que cuidam dos textos da contracapa interior dos seus livros.

  6. Zé do Carmo,

    Não «atacaste» ninguém? Estás a jogar com as palavras. Se fosse a ti, assumia.

    De resto, a intervenção de Victor Ferreira é espectacular. Eu começava por sublinhá-lo. E por dirigir-me a ele.

    Há espaço para isso, amigo.

  7. Não, não me parece que tenha atacado o jornalista autor da foto-legenda desde logo porque isso seria um absurdo: tenho a carteira profissinal 4149. Notei apenas o que julgo ser uma discrepância, fruto da distância entre o Peso e a cidade dos doutires. Teria mais lógica a nota ser da autoria de alguém de Leiria que é muito mais perto… Quanto ao facto de ser ou não «espectacular» o comentátio aceito mas continuo na minha: as contracapas interiores dos livros são feitas pelos «copy desk» dos editores. Eu pelo menos nos meus livros nunca fiz nenhuma. Desde 1981 até hoje. Espero que tenha ficado claro que nada tenho contra o jornalista nem contra o autor do comentário. Não escrevo contra pessoas.

  8. Caríssimo Zé,

    Não escreves contra pessoas? Temos agora anjos no Aspirina!? Claro que escreves, e com uma veemência que, acredita, por vezes assusta.

    Depois: o espectacular da intervenção de Victor Ferreira (que eu não sei quem é, mas tu – entra pelos olhos – persistes em não nomear), o espectacular, e prossigo, está na imensa calma e clareza com que diz o óbvio – corrijo: com que diz o que, depois de ele falar, se prova óbvio. Poucos o conseguem. Independentemente da sua razão, é assinalável.

    Por fim: percebi bem que um jornalista nunca «ataca» outro jornalista, mormente se for (ele, o não presumível atacante) possuidor da carteira 4149?

  9. Julgo que escrevo contra ideias que julgo erradas; não contra as pessoas em si. Nunca me armei em anjo e não era agora com 56 anos que ia por aí. Referi a carteira profissional tal como podia referir outra coisa: trabalhei na REvista Ler tantos anos mas ao assinalar o erro no livro do JCP não estou a atacar pessoas do Círculo de Leitores mas o erro em si. Quanto ao jornalista tenho a certeza que se a foto-legenda fosse da Delegação de Leiria do «DN» teria saído melhor. Coimbra é longe. Quanto ao senhor Vitor Ferreira penso que exagerou ao pretender atribuir a JCP um erro na contra-capa interior dum livro que dele é só o miolo. Mas foi espectacular sem dúvida. Concordo.

  10. «Tenho aqui o livro ‘A república dos corvos’ de José Cardoso Pires com uma dedicatória amável datada de Maio de 1991 que conclui deste modo: ‘José do Carmo Francisco oxalá encontre o mesmo prazer que eu encontrei nos seus Jogos Olímpicos. Um abraço de parabéns José Cardoso Pires’».

    «Trabalhei na Revista Ler tantos anos mas ao assinalar o erro no livro do JCP não estou a atacar pessoas do Círculo de Leitores mas o erro em si.»

    Nada a fazer. Manténs, se novo, e sempre, uma visão autobiográfica do mundo.

    E não respondeste à minha pergunta, que repito:

    Percebi bem que um jornalista nunca «ataca» outro jornalista, mormente se for (ele, o não presumível atacante) possuidor da carteira 4149?

  11. A resposta é sim. Não considero um ataque pessoal a chamada de atenção para uma falha ou imprecisão ou erro ou lapso numa foto-legenda. Andei por todo o País, Ilhas, fui a Itália como enviado especial e sempre senti uma simpatia especial por parte dos outros jornalistas com quem me cruzei nas reportagens. Houve sempre colaboração e espírito de entre-ajuda. Falei na carteira para dar mais ênfase ao facto de eu ser um oficial do mesmo ofício, não um colaborador de ocasião. Dito de outra maneira «ataquei» um erro, não ataquei a pessoa que está por detrás desse erro.

  12. Desculpa, Zé. Essa história de «atacar o erro» sem «atacar a pessoa» é das coisas mais hipócritas que se conhecem.

    É pura abordagem católica no pior dos sentidos (e há muitos): melíflua, peganhenta, sem frontalidade, sem verticalidade. Tridentina, evidentemente. Tomás de Aquino sentir-se-ia imensamente decepcionado.

    Esse cobarde «distinguo» é um torcegão moral que tira todo o sal à existência. Mas garante o céu, não é?

    Claro que atacamos pessoas. Eu ataco. E atacam-me. Porreiro. O que me interessa em certas pessoas é o seu erro. O que interessa a certas pessoas em mim é o meu erro. Mais não temos a dizer-nos. Mas é a vida.

    E quanto ao comentário do Victor, acima, ainda isto: tu foste, por um momento, objecto do discernimento de alguém, que tirou o melhor de si para resolver sublimemente um problema que tu tinhas exposto. Passaste por cima (mesmo depois de vários avisos) dessa aproximação inteligente, não viste que era um presente raro.

    Depois disto, uma queixa tua dificilmente vai impressionar.

  13. Não fiquei chateado,mas também não retiro uma virgula do que escrevi.

    A aldeia do Peso pertence ao concelho de Caldas da Rainha, o resto são preciosismos de quem deve ser muito picuinhas.

    A vaidade às vezes faz com que as pessoas se espalhem ao comprido, quando querem mostrar que têm uma dedicatória muito linda do Zé ou do Manel.

  14. Demagogias é que não… Não se trata de retirar vírgulas mas sim de juntar palavras: Peso-Santa Catarina-Caldas da Rainha. Assim é que é. Quem se espalhou ao comprido não fui eu; foi o autor da foto-legenda. Falei no livro de JCP por causa do erro (Covilhã em vez de Vila de Rei) não por causa da dedicatória. Mesmo sem dedicatóira falaria da mesma maneira. Se for o mesmo Joâo Fonseca que escreveu «Dicionário do nome das terras» ainda tinha mais obrigação de saber a diferença entre lugar e freguesia, concelho e distrito. Fiz uma notícia na «Gazeta das Caldas» em 13-42007 sobre esse livro. Curioso no mínimo.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *