PRAZERES RÁPIDOS
– Sabias que não precisas de ser gay para escrever uma bela história do género?
– Que género?
– Género gay. Arre, és lento de percepção.
– Tu é que complicas. Mas então estavas a dizer…?
– Que não é preciso seres…
– Yá. E é porreiro. Assim, ainda guardo as minhas chances.
– Exacto. Agora, já só te falta escreveres bem.
– Filho da…
– Mas há mais.
– Mais?
– É que, para escreveres uma linda história lésbica, também não precisas de ser mulher.
– Essa… essa é do catano. E como é que sabes?
– Li.
– E quem é que disse?
– Ninguém. Eu li. Li a história. Chama-se Sedução. É dum português.
– Título basto comercial.
– Tás a gozar. Mas hás-de ler. Já ouviste falar do José Marmelo e Silva?
– Marmelo… conheço.
– Esse ainda é um gajo novo. O Marmelo e Silva morreu há anos largos. E o livro, esse é
dos anos 30. Uma pequena pérola, vai por mim. Há edições recentes.
– Hei-de ler. E a outra coisa… Essa do straight. Também é português?
– Era. O Alexandre Pinheiro Torres. O nome diz-te alguma coisa?
– Vagamente.
– Não diz nada, portanto. E é um fabuloso romancista. É, não duvides.
– E escreveu um romance gay.
– Uma novela… O título, aviso-te, é foleiro à brava.Segura-te. Amor, Tudo Amor, Só Amor.
– Ui!
– E disse-me um gajo, amigo dele, que o convenceu a encurtar. Mas o que interessa: a história
é de partir o coco.
– Vou ler também.
– Lê. Mas devagarinho. São prazeres muito rápidos.
– … Espera. E… e malta gay com grandes livros straight?
– Essa é aos montes.
LOOOOOOOOOOOOOOL
As tuas noites rendem largo, Fernando.
boa malha!
estes críticos conhecem-na toda.
Depois… sabem-na toda!
http://dn.sapo.pt/2007/06/07/sociedade/casamento_gay_tribunal_constituciona.html
LOL. Convém não esquecer que a literatura portuguesa começou com os cantares de amigo. Voz feminina emulada por homens.
a troca de vozes tem o seu quê, na verosimilhança. nos blogues há aos montes, também. sei de um homem, heterossexual, que fez de mulher, por uns tempos. curioso é que não me convenceu, continha imagens de erotismo que não podiam ser femininas. mas tinha a caixa de e-mail cheia de outros homens, muito interessados “nela”. e também um blog feito por mulheres, na voz de um homem, que convenceu toda a gente. essa do romance lésbico escrito por um homem deixa-me de pé atrás; será que, para uma mulher, ele é convincente, verosímil…?
cá está ele, com autorização das autoras. durou pouco. avisa-se: há muito vernáculo…
Susana,
Interessantíssimo. Só não mandaste o link.
Ardo em curiosidade – intelectual, claro, puramente intelectual.
ah, que tosca, esqueci-me. hehehe. é este:
http://premenopausa.weblog.com.pt/
Muito engraçado. Ou deverei dizer “muito gay”?…
Tem graça o destino de certas palavras, como se “travestem”.
Valupi,
Não sei porque «gai», que deu «gay», chegou ao significado gay. Mas há-de andar por aí explicado.
Cheira-me, todavia, à presunção de serem os gays gente superficial. O que me parece, não discriminatório, mas singela mostra de superficialidade.
Fernando,
Sim, tudo explicado por aí. E vale bem a pena conhecer a história.
Não creio que ‘gay’ se constitua na semântica da superficialidade, antes na da licenciosidade e extroversão (correlatos).
Susana
Só mandaste um. Falta o outro blog, do que fez de mulher.
sininho, ele divertiu-se e a seguir apagou-o todinho.
O Fernando Venâncio é um espécie de bobo da corte literária. Bem haja!
Em 1937, Sedução, «título basto comercial»?
…«uma linda história lésbica»…Ah,Ah…