Há um filme com Peter Sellers , passou pelo burgo como “Bem-vindo Mister Chance”, em que um jardineiro levemente atrasado, que vive a ver televisão e a dizer frases pueris do tipo: “a seguir ao Inverno vem sempre a Primavera”, chega a Presidente dos Estados Unidos da América. Todas as pessoas que o ouvem atribuem-lhe uma inteligência e profundidade que ele não tem. Falam-lhe da crise económica e ele, distraído com o Outono, responde algo do tipo: “as folhas caídas, serão sementes e dessas sementes vão nascer frutos”. E tudo reage como se uma profunda sabedoria económica estivesse subjacente. Com as devidas distâncias (Sellers treme pouco e não costuma fazer aqueles esgares húmidos ao canto da boca) o Professor Aníbal Cavaco Silva faz lembrar a personagem: as suas receitas optimistas, a sua ideia de que o consenso utilitário entre quaisquer duas pessoas com a mesma informação, desde que bem intencionadas, chegam às mesmas conclusões é enternecedora. É genial como há alguém que depois ler as formulações do utilitarismo, aplicado à Microeconomia, acredita nelas. Como é possível resumir a sociedade a formulações do tipo: “um consumidor, com toda a informação, tenderá a maximizar a sua satisfação gastando as suas unidades de compra até que a utilidade marginal, conseguida com o dispêndio de mais uma unidade equivalha ao seu gasto…”.
O ar basbaque dos comentadores ouvindo as generalidades do professor é notável. Graças a Deus, o professor, ao contrário do jardineiro do filme, não é tão inocente. E todos sabemos que por detrás das formulações consensuais está um programa político e económico, que é uma escolha determinada que favorece determinados critérios, em prejuízo de outros.
Ao contrário do que a vulgata, e o professor, nos pretendem fazer acreditar, não há uma “Economia”, mas várias políticas económicas.
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Não sabia que o pessoal do Blogue dos Marretas também tinha um cartaz destes! :)
Caro Rui,
Ainda não percebi se a esquerda acredita nessa do Cavaco Papão ou é uma estratégia de campanha. Podes explicar?
É esse ponto, de que existem políticas económicas diferentes conforme o que se pretende atingir, que não interessa aos apoiantes de Cavaco esclarecer.
A cartilha económica é uma, como Deus-Pai, e ainda por cima coisinha complicada que o pobre Zé Povinho nunca poderá entender. É bom que deixe essas coisas, para quem sabe, para O professor, o único, o da Bayer! ( aqui no Aspirina não se devia dizer isso; a vossa é qual?)
A cartilha ou bula económica do “aspirina b” não é unívoca. A minha oscila entre o realismo socialista e a libertinagem libertária. Podia ser pior: podia-me dar para ser do PP e isso nem o absinto cura.