Escrevo sobre livros desde 1978 (iniciei-me no Diário Popular) e continuo a considerar que ler um livro por semana faz bem à saúde. Se for para manter uma coluna num jornal, então ainda melhor. Ganha-se pouco, mas é muito divertido.
Esta semana calhou-me A misteriosa chama da Rainha Loana de Umberto Eco. Na página 362, o autor conta que um dia o pai o levou a ver um jogo de futebol e tudo aquilo lhe pareceu sem sentido. Logo, se o mundo não tem sentido, é porque Deus não existe. Foi falar com o Padre que lhe respondeu: «Meu filho, acreditaram em Deus grandes escritores como Dante, Manzoni e Salvaneschi e tu queres ficar atrás deles?»
Lembrei-me desta história quando li, no Record do dia 10, a atribuição de uma medalha de lata a Laurentino Dias porque o secretário de estado do Desporto insinuou que são os árbitros quem decide os campeonatos de futebol em Portugal. Por sua vez, o presidente de Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol terá desvalorizado a frase do membro do Governo, mas não deixou de dizer que este seu dito não ajudou em nada a imagem da arbitragem.
Ora, nas primeiras nove jornadas, a equipa do Porto beneficiou de cinco golos irregulares. Na segunda jornada (Sporting), na terceira (Leiria) na quinta (Paços de Ferreira), na oitava (Leixões) e na nona (Belenenses) os azuis e brancos tiveram cinco golos ilegais. Não é de estranhar que o secretário de estado tenha dito o que disse.
Eu deixei de comprar jornais e vou lê-los ao barbeiro. A vida está difícil e há cada vez mais gente a fazer o mesmo. A alma do futebol já se foi; o que fica é o clubismo. O emblema na lapela, o cartão no bolso e o cachecol na mão são as últimas memórias da alma do futebol. Memórias apenas. Porque a alma já não existe.
O facto de o Carmo Francisco só ter olhos para as “irregularidades” em benefício do FC Porto é a prova plena que tal “alma” continua bem viva. Vade retro!
Algum desses golos ditos irregulares teve tanta influência no resultado como por exemplo a falta hilariante assinalada ao Paços de Ferreira que deu origem a golo do Benfica. Ou como a situação caricata vivida em pleno estádio da luz com o marca não marca grande penalidade a facor do Sporting?
Dedique-se à leitura do Eco e outros que tais…
“Irregularidades” entre comas – não! São mesmo irregularidades. SEmpre influentes e às vezes decisivas. Por isso o secretário de estado disse aquilo.
Isto é mesmo um post à Binya. Valha-lhe Deus…
Aqui faço esta associação mental, Fernando: alma e calma.
Sininho,
Nada, mas nada, me une ao FCP. Mas, sabendo-se das traficâncias (essas, de escrita da História) em que o JCF vem apanhando também o Benfica, pergunto-me quando se telefona a Bento 16 para, imediatamente, e sem mais milagres, canonizar em bloco o Sporting, o presente, o passado e o futuro.
É que, até hoje, o Sporting segundo FCF é só virtudes. Arre, que perfeições!
“Irregularidades” sim. O golo marcado ao Sporting no Estádio do Dragão foi leal, legal, legítimo, justo, lídimo, válido, correcto, honesto, etc. Se o seu fraco conhecimento das regras do futebol, ou a dita “alma”, lhe toldam o verdadeiro entendimento do lance que antecedeu tão límpido golo, sugiro uma vista de olhos ao “douto” Parecer da agora tão bondosa Comissão de Análise, casualmente presidida pelo outrora mui célebre árbitro Inácio de Almeida.
“Há na vida de Quitéria Barbuda tão elevado número de grandes rasgos que sentimos a tentação de contar a sua história como se fora uma lenda. E é como uma lenda que essa vida é contada. Tudo ali é alto, predestinado e exemplar. Trata-se de um livro moral, em que tudo é heróico”.