Aviso aos pacientes: este blogue é antianalgésico, pirético e inflamatório. Em caso de agravamento dos sintomas, escreva aos enfermeiros de plantão. Apenas para administração interna; o fabricante não se responsabiliza por usos incorrectos deste fármaco.
A historiadora Luísa Amaral (bem-vinda ao clube!) diz quais.
6 thoughts on “A tempo da praia”
(deskulpa lá Fernando, mas tenho que sizer isto)
Ó fundamentalistas da porra, só vos garanto que se vcs fazem explodir uma coisa por cá, durante a presidência portuguesa, e matam compatriotas meus,
eu vos garanto
que vos enfio Allah no cú!
E todas as palavras
São apenas deitadas sobre a folha
UMA PALAVRA TE PROCURA
Uma palavra te procura
ao nível desta existência suave
dura
uma palavra não para ostentação mas para seguir na estrada
no seu ágil correr de fogo
para te abrir o dia
para te fazer mais pequeno do que o buraco
para te dar um breve crepitar
de um insecto
a fuga precipitada ou o vagaroso pêlo
o imperceptível movimento
da água na vereda
a existência ínfima
de qualquer animal
ou folha
uma partícula de poeira
ou sulco
um estalido
uma palavra como uma chama um pouco mais clara do que o dia
só levemente mais clara do que a tua mão
e escura ou parda como a estrada
António Ramos Rosa
Bonitos poemas.Bons Pensamentos e rimas para esta semana…
Gosto deste Mao (não confundir com o outro) que escreve sempre em verso. Sempre a considerá-lo
Mao, deixo-te aí uma coisa bonita, pela voz do Nick:
“Não, não podia desenrolar a linha da beleza para Catherine, porque a linha da beleza explicava quase tudo, e Catherine vê-la-ia como um logro, uma ilusão trivial, parecer-lhe-ia uma loucura, como ela dizia.”
Pag. 393, A Linha da Beleza, Alan Hollinghurst, trad. José Vieira de Lima, Asa (2004), 2005
“A emoção era chocante, assustadora. Era uma espécie de terror, feito de emoções de todas as fases da sua breve vida, o quebrar de elos, saudades de casa, inveja, autocomiseração; mas sentia que a autocomiseração pertencia a uma comiseração mais vasta. Era um amor pelo mundo chocantemente incondicional. Parou de novo a olhar para a casa e, depois, deu meia-volta e prosseguiu a sua lenta deambulação. Contemplou perplexo o número 24, a última casa, com as suas insígnias de festões e arcos de estuque. Não era apenas aquela esquina da rua, mas o facto – por si só – de se tratar de uma esquina de rua, que parecia, à luz do momento, tão belo.
(deskulpa lá Fernando, mas tenho que sizer isto)
Ó fundamentalistas da porra, só vos garanto que se vcs fazem explodir uma coisa por cá, durante a presidência portuguesa, e matam compatriotas meus,
eu vos garanto
que vos enfio Allah no cú!
E todas as palavras
São apenas deitadas sobre a folha
UMA PALAVRA TE PROCURA
Uma palavra te procura
ao nível desta existência suave
dura
uma palavra não para ostentação mas para seguir na estrada
no seu ágil correr de fogo
para te abrir o dia
para te fazer mais pequeno do que o buraco
para te dar um breve crepitar
de um insecto
a fuga precipitada ou o vagaroso pêlo
o imperceptível movimento
da água na vereda
a existência ínfima
de qualquer animal
ou folha
uma partícula de poeira
ou sulco
um estalido
uma palavra como uma chama um pouco mais clara do que o dia
só levemente mais clara do que a tua mão
e escura ou parda como a estrada
António Ramos Rosa
Bonitos poemas.Bons Pensamentos e rimas para esta semana…
Gosto deste Mao (não confundir com o outro) que escreve sempre em verso. Sempre a considerá-lo
Mao, deixo-te aí uma coisa bonita, pela voz do Nick:
“Não, não podia desenrolar a linha da beleza para Catherine, porque a linha da beleza explicava quase tudo, e Catherine vê-la-ia como um logro, uma ilusão trivial, parecer-lhe-ia uma loucura, como ela dizia.”
Pag. 393, A Linha da Beleza, Alan Hollinghurst, trad. José Vieira de Lima, Asa (2004), 2005
“A emoção era chocante, assustadora. Era uma espécie de terror, feito de emoções de todas as fases da sua breve vida, o quebrar de elos, saudades de casa, inveja, autocomiseração; mas sentia que a autocomiseração pertencia a uma comiseração mais vasta. Era um amor pelo mundo chocantemente incondicional. Parou de novo a olhar para a casa e, depois, deu meia-volta e prosseguiu a sua lenta deambulação. Contemplou perplexo o número 24, a última casa, com as suas insígnias de festões e arcos de estuque. Não era apenas aquela esquina da rua, mas o facto – por si só – de se tratar de uma esquina de rua, que parecia, à luz do momento, tão belo.
Idem, pag. 555