A cidade sem monumentos

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Sempre dormi descansado sabendo não estar o meu sono rodeado de monumentos. Sim, porque os monumentos são um peso. Não estou a referir-me a esse peso, leitor, mas também não o subestimo, descanse.

Sempre tinha ouvido dizer que Amsterdão era ‘uma cidade sem monumentos’. Acreditei e assenti. Com efeito, chega-se a Bruxelas e sente-se um gajo pequeno. Chega-se a Paris e sente-se esmagado. A Londres e olha-se à volta onde-é-que-eu-fiquei. E mesmo Lisboa… Bom.

Pois acabou-se a tranquilidade. Li ontem no friso publicitário dum eléctrico que a minha cidade conta 7650 monumentos. Levou algum tempo a perceber o que lia, depois procurei algures uma vírgula (as décimas ou centésimas seriam o mais criativo), mas não. Eu tinha visto bem.

Amanhã volto ao centro, onde trabalho (alguém falou em férias?), e vou procurar. Sou capaz de dar por lá com algum monumento, escondido nesse espaço urbano que, até hoje, eu sempre pensara construído «à escala humana». Vou-me sentir pequeno, isso é de prever. Se de mim sobrar alguma coisa pensante, direi o que se conseguir. Se não, já sabem.

3 thoughts on “A cidade sem monumentos”

  1. Então o Museu omde está o quadro «A ronda da noite» e uma peqeuna sala com o meu Vermeer não é um monumento? EStou enganado desde 1977?

  2. portanto são monumentos à escala humana, não? Na terra de Spinoza, se quiseres, Fernando, ponho aqui um dia o decreto com que ele foi expulso da sinagoga, tinha sido escrito em Veneza umas dezenas de anos antes e ainda não tinha sido usado contra ninguém. Gosto muito dele, recusou a cátedra de Heidelberg ao eleitor da Saxónia, para manter a liberdade de pensar, e lá continuou a polir as suas lentes e a escrever aos amigos. Claro que isto não é crítica nenhuma a quem detém cátedras, cada um sabe de si e inovar é sempre possível.

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