Embora seja mais conhecido como crítico literário, Júlio Conrado (Olhão, 1936) tem neste Querido traficante já o seu oitavo romance. Foi vencedor do Prémio Vergílio Ferreira em 2006 com o seu próximo livro de ficção Estação ardente.
As personagens do romance agora saído movimentam-se num cenário recente: a passagem do milénio. A ponte de Entre-os-Rios que «tombou como uma peça de dominó no rio Douro», os peelings e os liftings das damas do jet set, o crime de Fortaleza, o assalto às torres gémeas de New York: «De um instante ao outro se esfanica a aura de uma América impune e arrogante.» Este é o tempo, mas o lugar é Portugal, onde também chegou (mas tarde) uma certa ideia de Europa: «o povo, mergulhado em duradoura melancolia e sem vislumbrar saída para os seus agravos, vivia resignadamente aquilo a que um escritor além-Pirenéus chamara um dia «ao tempos cobardes da democracia».
Os encontros e desencontros deste enredo são múltiplos: começam num jantar no Guincho com diplomatas de dois países a propósito das palavras de um deputado português sobre um país da América Latina e acabam num crime com um velho retornado a matar a sua mulher. Pelo meio um jogo de acasos faz com que um assalto a uma exposição de desenhos de Picasso se intrometa na vida dum traficante aflito e sem dinheiro, cuja irmã é uma modelo bem cotada no mundo da moda. E também uma escritora light que deixa morrer uma professora universitária que gostava de meninas e falava muito de Roland Barthes. Este livro lê-se com prazer no ritmo dum policial até à página 222. Nela se descobre que o acaso é o grande mestre.
Editora: Campo da Comunicação
Capa: Duarte Camacho
José do Carmo Francisco
Zé do Carmo,
Na capa deste romance está «Vencedor do Prémio Vergílio Ferreira». Sugere isto que é este romance o premiado.
Mas o prémio não era para o próximo? Não são isto métodos um tanto… light?
Esclareçam lá o imbroglio!
Sugere-se, é verdade, que o premiado é o Traficante, o oitavo.
Mas afirma-se que “foi vencedor… em 2006, com o próximo… Estação Ardente”, que há-de ser o nono.
É muita areia para mim!
é como nos traillers dos filmes, os actores e realizadores são identificados como vencedores (ou nomeados) de óscares, mas de outros filmes. (pode até o actor ter sido nomeado para o melhor papel ultra-secundário de há 30 anos atrás que continuam a apresentá-lo como “nomeado para um óscar”)
É mesmo assim. O «vencedor» aqui é o autor. O livro vencedor é o outro livro «Estação ardente» que entretanto já foi publicado no momento em que dialogamos. Foi a editora que quis assim.
Ah, a invencível vontade das editoras!