Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.
É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das caras e dos dias.
Tu és melhor – muito melhor!
Do que tu. Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.
Mário Cesariny
1923-2006
Aqui fica a homenagem sentida, feita por Jorge de Sena, seu grande amigo e admirador.
Ó Maria Cesarina,
ó Botta surrealista,
quantas piças esquentadas
te tem rendido essa alpista?
Quanta água de cu lavado
foi que tu deste a beber
a tantos que nem teu cu
pensaram nunca em foder?
Os vasconcelos encantos
que a todos fazem calar
são versos mal traduzidos
e fáceis de copiar.
A mais da tua maldade
com que os tens por tua prol
– que a tua língua maligna
onde toca… cancro mol’.
Que a sífilis surrealista
de que és supra-sumo esgoto
só não se pega à distância,
ó Breton de merda e escroto.
30 de Setembro de 1970
(Dedicácias, edição da Três Sinais, 1999)
Homem livre foste
O mais duro dos tormentos
Nem exemplos
Ou complementos da arte maior
Mas foste
Sem livro como os agrestes
Único como os grandes mestres
E ficaste
Como um pequeno fio de água disponível
Correndo as ideias e o amor
O Cesariny não valia nada como pintor. Os quadros são umas autênticas bostas. Só num país do terceiro mundo como o nosso é que um maluco consegue ser considerado um génio. A única utilidade que o velho talvez tivesse é terem-lhe deixado o cu de fora para podermos estacionar a bicicleta.
Voz numa pedra
Não adoro o passado
não sou três vezes mestre
não combinei nada com as furnas
não é para isso que eu cá ando
decerto vi Osíris porém chamava-se ele nessa altura Luiz
decerto fui com Isis mas disse-lhe eu que me chamava João
nenhuma nenhuma palavra está completa
nem mesmo em alemão que as tem tão grandes
assim também eu nunca te direi o que sei
a não ser pelo arco em flecha negro e azul do vento
Não digo como o outro: sei que não sei nada
sei muito bem que soube sempre umas coisas
que isso pesa
que lanço os turbilhões e vejo o arco íris
acreditando ser ele o agente supremo
do coração do mundo
vaso de liberdade expurgada do menstruo
rosa viva diante dos nossos olhos
Ainda longe longe essa cidade futura
onde «a poesia não mais ritmará a acção
porque caminhará adiante dela»
Os pregadores de morte vão acabar?
Os segadores do amor vão acabar?
A tortura dos olhos vai acabar?
Passa-me então aquele canivete
porque há imenso que começar a podar
passa não me olhas como se olha um bruxo
detentor do milagre da verdade
a machadada e o propósito de não sacrificar-se não construirão ao sol coisa nenhuma
nada está escrito afinal
Mário Cesariny
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