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ciência em tempos de bolsas

Em Espanha há um senhor que foi galardoado com um prestigioso prémio de investigação. A parte engraçada é que esse senhor, quando recebeu o prémio, ja tinha desistido da investigação e optado por dar aulas no secundário, ter uma vida pessoal e até mesmo fazer um filho.
Em Portugal, para fazer investigação, há que ter uma bolsa, e andar a saltar de Bê em Bê: começa-se com umas 3 BI, segue-se para uma BM, uma BD, um par de BPDs, e eventualmente, se correr bem, ser um cientista dois-mil-e-tais. Em Espanha, para além de bolsas (e diga-se em abono do país que há muitas mais entidades a dar bolsas), há mais algumas maneiras (contratos temporais e afins) que permitem mais alguma versatilidade na ciência, permitindo a pessoas que ainda não publicaram ou que tiveram piores notas fazer ainda assim ciência. Tanto estes contratos como as variadas bolsas são temporais. Tanto num país como noutro cada par de anos há que concorrer à próxima bolsa, nunca sabendo se esta vai ou não ser conseguida, até ao dia em que um cientista, acabadinho de fazer 40 anos, descobre que as BICs não são “bolsas para investigadores cotas”, e descobre que está desempregado.
Por isso é que o dito senhor que ganhou o prémio já não fazia investigação. Há quem prefira ter estabilidade laboral e financeira, até mesmo filhos, a trabalhar por amor à camisola. Os cérebros não fogem todos para o estrangeiro, muitos, mesmo que tenham capacidade de fazer ciência da mais galardoada qualidade, preferem ter uma vida.
Diz o senhor que ganhou o prémio que até gostava de voltar a investigar.
Se ganhasse a lotaria.

 

http://www.elpais.com/articulo/sociedad/cerebro/volvera/investigar/elpepisoc/20080720elpepisoc_3/Tes

valhacoito

Andava eu à procura de uma palavrinha que rimasse com oito (não encontrei, tive de inventar uma), quando me deparei com a seguinte palavra:
valhacoito
de valer + coito
s. m.,
abrigo;
protecção;
defesa;
asilo.
Eu na verdade quando tinha 15 anos, e até ter prái 18, fazia-me bastante falta um valhacoito. À falta de valhacoito mais conveniente, tive que me valer de matas e cemitérios. O carro é o valhacoito clássico mas o travão de mão faz-me nódoas negras. Um amigo meu usa a casa dos pais como valhacoito, mas às vezes chega gente e é um valhacoito interrompido. Agora de valhacoito estou bem servida, pena é não lhe dar uso.

Sanjoaninas

Foi um destes sao Joões
P’rái em noventa e oito
Que baixei os meus padrões
E comi esse alcagoito

Este ano, ó meu santinho
A ver se me fazes o jeito
E arranja-me lá um mocinho
Que não tenha tanto defeito

É verdade ó São João
Eu sozinha não consigo
Dá-me la um empurrão
P’ra acabar com este castigo

Se nao for no São João
Que é do ano a maior noite
Não viro as costas ao colchão
Nem que vá lá de açoite

Superstições

Devido a circunstâncias laborais, tenho conhecido muitos espanhóis. Os espanhóis são, dizem-me eles, muito supersticiosos. Já conheci uma boa dezena de casos que ficam histéricos com gatos pretos, espelhos e coisas afins. Há um hábito em particular a que eu acho piada, que é o de colocar alhos em locais estratégicos. O pai de um amigo punha-lhe alhos no porta luvas do carro para o livrar de acidentes e maus encontros. Também lhe adiou bastante a saída de casa, já que a moça de quem ele gostava na altura achava que ele andava sempre a cheirar a comida e que arrotava no carro, o guarro. Também conheci um cientista que usa as mesmas técnicas, e coloca alhos junto a locais estratégicos do seu laboratório, particularmente quando acha que as experiencias lhe correm mal e quer que lhe comecem a correr bem. Esta história deu-me uma particular vontade de rir, ao imaginar artigos na Nature descrevendo, entre os mais diversos aparelhos de cromatografias, espectrofotometrias, ressonâncias e infravermelhos, a presença de uma cabeça de alho de cerca de 100 g, colheita de 2007, Junho.

No entanto, e como me fez notar uma amiga, qual será a diferença entre um cientista que coloca alhos ao pé dos aparelhos, e um cientista que reza e pede a deus que o ajude?

sinto-me assim um bocado mal em mandar postais destes que não têm muito a ver, mas ao menos os títulos podem ser a condizer

Dantes, fosse no trabalho, em discotecas, em bares, na rua, ou em paragens de autocarros, havia sempre um ou outro a insinuar-se. Alguns mais subtilmente, com palavras, olhares ou pedidos de amor eterno, outros chegaram mesmo a dedicar-me pívias (sei-o porque foi assim em jeito de serenata) e um inclusive chegou a arrombar-me a porta do quarto.

E eu indagava-me se estaria a mandar por engano algum sinal, alguma feromona, algum abanar de ancas que dissesse “pretendo sexo, por favor ofereça-mo”.

Ultimamente, devo confessar, por motivos de falta de peso, até que o tenho procurado: uns decotes, umas maquilhages (as tais), mais sorrisos oferecidos ao desbarato a membros do sexo masculino… pouco me falta para colar um post-it na testa a dizer “busco sexo casual”.

Nada….

Népia

Nicles…

Essa gente que diz que as gajas têm a vida facilitada, que é trinta cães a um osso, que basta abrir a pernoca, que me telefone, se faz favor, que é para eu lhes dizer umas boas.

A minha historinha de merda.

Era uma vez eu, e uma relação de 10 anos. Um dia acordei e tinha uma DST. Eu pensava que as DSTs eram fáceis de se saber que se tinha, pensava que se ficava roxo, ou com borbulhas, ou que caiam bocados. Pensava eu, que tendo uma relação monogâmica, e não tendo nunca tido, nem visto, nada roxo, com borbulhas ou a cair, estaria segura, e nunca teria DSTs. Fiquei pois, bastante surpreendida quando a médica me disse que tinha uma DST. Ao que parece há DSTs silenciosas. Então, pensei eu, e dado que era eu na tal relação de 10 anos que era assim mais a atirar ao promíscuo, devia ter apanhado a dita DST com o exnamoradeco anterior. Claro que antes falei com a outra metade desta minha relação de 10 anos. Contei-lhe que tinha uma DST e disse que se me queria contar alguma coisinha agora seria uma boa altura. Ele disse que não, e eu acreditei.
E toca de telefonar ao exnamoradeco, que até me dou bem com ele, nem tanto para averiguações, mais para o avisar para se tratar, coitadinho, que a tal da doença diz que pode causar entupimentos das partes que fazem filhos. E o exnamoradeco, graças a deus que me dou bem com ele, lá disse que eu devia estar enganada, que ele por acaso até tinha as análises em dia e estava limpinho.
Então voltei a falar com a outra metade da presente relação, e ele lá confessou, com uma historinha feita de encomenda para eu não me importar. E eu, que até sou uma pessoa coerente, não me importei. E continuei a relação de 10 anos por mais uns meses. Outro dias estava ele a mostrar-me umas coisas no computador, e apareceu na busca automática do Google o nome da corrente gaja que andava a comer (mesmo depois de saber que quando um gajo come gajas pode estar a transmitir DSTs). E eu pu-lo na rua, recuperei todas as chaves, alterei todas as passwords, e deitei fora toda a merda que durante 10 anos achei que durante todo o meu futuro seriam boas recordações do nosso passado.

Antes de mais nada, um desabafo:

Sou agora o mais Perfeito e Acabado Corno. Traída não uma, não duas, não dez, não vinte, mas uma carrada de vezes. Sinto raiva, confesso.

Não delas…
Quero lá saber de que cor tinham a pele, de que comprimento os cabelos ou de que massas feitas as tetas. Quero lá saber o que gritavam e onde punham a boca. Quero lá saber o que pensavam, os problemas que têm e as doenças que vão ter.
Mas dele… desse pedaço de bronco… Tenho raiva, tenho. Dedico-lhe um insulto a cada parágrafo de pensamento, e desejo-lhe mortes, dores e que sinta por si mesmo o nojo que eu sinto por ele.

Suponho que o homem que agora sei que ele é, me roubou o homem que eu pensava que tinha. E o homem que agora sei que ele é, é a minha Outra.