Em Espanha há um senhor que foi galardoado com um prestigioso prémio de investigação. A parte engraçada é que esse senhor, quando recebeu o prémio, ja tinha desistido da investigação e optado por dar aulas no secundário, ter uma vida pessoal e até mesmo fazer um filho.
Em Portugal, para fazer investigação, há que ter uma bolsa, e andar a saltar de Bê em Bê: começa-se com umas 3 BI, segue-se para uma BM, uma BD, um par de BPDs, e eventualmente, se correr bem, ser um cientista dois-mil-e-tais. Em Espanha, para além de bolsas (e diga-se em abono do país que há muitas mais entidades a dar bolsas), há mais algumas maneiras (contratos temporais e afins) que permitem mais alguma versatilidade na ciência, permitindo a pessoas que ainda não publicaram ou que tiveram piores notas fazer ainda assim ciência. Tanto estes contratos como as variadas bolsas são temporais. Tanto num país como noutro cada par de anos há que concorrer à próxima bolsa, nunca sabendo se esta vai ou não ser conseguida, até ao dia em que um cientista, acabadinho de fazer 40 anos, descobre que as BICs não são “bolsas para investigadores cotas”, e descobre que está desempregado.
Por isso é que o dito senhor que ganhou o prémio já não fazia investigação. Há quem prefira ter estabilidade laboral e financeira, até mesmo filhos, a trabalhar por amor à camisola. Os cérebros não fogem todos para o estrangeiro, muitos, mesmo que tenham capacidade de fazer ciência da mais galardoada qualidade, preferem ter uma vida.
Diz o senhor que ganhou o prémio que até gostava de voltar a investigar. Se ganhasse a lotaria.
http://www.elpais.com/articulo/sociedad/cerebro/volvera/investigar/elpepisoc/20080720elpepisoc_3/Tes