Nunca os governantes tiveram de tomar tantas medidas em tão pouco tempo e nas condições em que têm de o fazer. Não há tempo para discussões prévias nem para os habituais e demorados estudos, e se em alguns casos se baseiam na opinião dos especialistas, noutros, os relacionados com a vertente económica, por exemplo, nem os especialistas lhes podem valer por também desconhecerem o que aí vem. Tudo depende da duração da epidemia, aqui e no resto do Mundo. Mesmo em tempos ditos normais, há sempre o risco dos governantes errarem, imagine-se nestas circunstâncias. Creio que todos eles estão cientes do risco e da incerteza quanto ao sucesso das medidas que têm de tomar em catadupa, mas não têm alternativa.
Mas este estado de incerteza não é geral, há quem tenha muitas certezas e parece que Rui Rio é um deles. Se, por um lado, avisa que este não é o tempo para fazer oposição ao Governo e admite a possibilidade de o Governo falhar. Por outro, tem a certeza de que no fim da pandemia e perante a mais do que esperada crise económica e social será o próprio País que cairá em cima do Governo e lhe cobrará todas as falhas. Que é como quem diz, sobretudo aos seus, que no futuro o PSD nada perdoará a António Costa e aos seus ministros. E é isto que Rui Rio tem para oferecer nesta altura: mais pressão em cima dos ombros dos governantes.
Mas há algo na crise económica que se avizinha, independentemente da sua gravidade, que difere das anteriores: desta vez todos saberão explicar o que lhe esteve na origem. Na última, perceber as causas implicava o conhecimento de factores que, por iliteracia económica, a esmagadora maioria não domina. Quantos portugueses sabem o que é isso do subprime, explicar como se formam as famosas bolhas imobiliárias ou como se chegou à crise das dívidas soberanas? Não foi, portanto, por acaso que simplesmente se apontou o dedo aos políticos. Ainda assim, apesar da crise já instalada, e de todas as campanhas de perseguição a Sócrates, muitas explorando a tal iliteracia económica da população, foi o PS e não o PSD a ganhar as Legislativas de 2009. Fica o lembrete para quem só faz contas ao futuro.