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Estranha forma de ajudar o País

Nunca os governantes tiveram de tomar tantas medidas em tão pouco tempo e nas condições em que têm de o fazer. Não há tempo para discussões prévias nem para os habituais e demorados estudos, e se em alguns casos se baseiam na opinião dos especialistas, noutros, os relacionados com a vertente económica, por exemplo, nem os especialistas lhes podem valer por também desconhecerem o que aí vem. Tudo depende da duração da epidemia, aqui e no resto do Mundo. Mesmo em tempos ditos normais, há sempre o risco dos governantes errarem, imagine-se nestas circunstâncias. Creio que todos eles estão cientes do risco e da incerteza quanto ao sucesso das medidas que têm de tomar em catadupa, mas não têm alternativa.

Mas este estado de incerteza não é geral, há quem tenha muitas certezas e parece que Rui Rio é um deles. Se, por um lado, avisa que este não é o tempo para fazer oposição ao Governo e admite a possibilidade de o Governo falhar. Por outro, tem a certeza de que no fim da pandemia e perante a mais do que esperada crise económica e social será o próprio País que cairá em cima do Governo  e lhe cobrará todas as falhas. Que é como quem diz, sobretudo aos seus, que no futuro o PSD nada perdoará a António Costa e aos seus ministros. E é isto que Rui Rio tem para oferecer nesta altura: mais pressão em cima dos ombros dos governantes.

Mas há algo na crise económica que se avizinha, independentemente da sua gravidade, que difere das anteriores: desta vez todos saberão explicar o que lhe esteve na origem. Na última, perceber as causas implicava o conhecimento de factores que, por iliteracia económica, a esmagadora maioria não domina. Quantos portugueses sabem o que é isso do subprime, explicar como se formam as famosas bolhas imobiliárias ou como se chegou à crise das dívidas soberanas? Não foi, portanto, por acaso que simplesmente se apontou o dedo aos políticos. Ainda assim, apesar da crise já instalada, e de todas as campanhas de perseguição a Sócrates, muitas explorando a tal iliteracia económica da população, foi o PS e não o PSD a ganhar as Legislativas de 2009. Fica o lembrete para quem só faz contas ao futuro.

Disto não se pode culpar o vírus

Desde que tomou posse como presidente do PSD, do que Rui Rio mais se queixou foi da oposição interna, nomeadamente do grupo parlamentar que herdou. Ora, seria de esperar que as Legislativas de Outubro lhe tivessem resolvido o problema, mas tendo em conta o que se passou no último debate quinzenal, fica-se com a ideia de que talvez não haja no PSD militantes que sirvam para formar um grupo parlamentar que lhe agrade. Mas será que o que motivou o ralhete público, seguido do abandono do debate, é só culpa dos deputados? Rio, que é o líder da bancada parlamentar, estando o país a atravessar uma crise sem precedentes e em estado de emergência, achou que a prioridade para os seus eleitores, o que mais os está a inquietar, o que mais queriam ver debatido é se os debates parlamentares se devem ou não realizar, ou seja, se os deputados deviam ou não lá estar. Ainda assim, o líder da oposição precisou que fosse Ferro Rodrigues a adverti-lo para o excesso de deputados, será que não sabe contar?

Este episódio passou mais ou menos despercebido, mas Rui Rio ambiciona ser primeiro-ministro e se o tivesse conseguido nas últimas eleições, muito provavelmente, algumas daquelas pessoas que agora tratou como se tivessem 5 anos teriam sido por ele convidadas para exercerem cargos governativos. Dá que pensar.

Temos o melhor SNS do Mundo

Creio não estar enganada se disser que o civismo que os portugueses têm demonstrado se deve em parte à confiança que têm no nosso Serviço Nacional de Saúde. Parece surpreendente, mas ao contrário dos diagnósticos catastrofistas feitos pelos partidos da oposição e pela comunicação social, ao longo dos últimos anos, o que se tem visto é um SNS que, perante o maior desafio que já enfrentou, se reorganizou e que consegue dar resposta aos problemas que vão surgindo. E consegue fazê-lo de um dia para o outro, literalmente. Não se parece nada com o tal SNS caótico descrito por tantos “especialistas” na matéria. Claro que não é nem nunca foi um serviço em que tudo funciona na perfeição, mas isso é válido para todos os outros serviços públicos e também para os privados, já agora. E uma coisa é criticar e chamar a atenção para o que funciona mal, outra, bem diferente, é fazer um tipo de exercício que se tornou banal: pega-se num caso que corre mal, ignoram-se os milhares que no mesmíssimo dia correram bem, e arrasa-se todo o SNS, o Governo e tudo o mais que se lhes atravesse no caminho. Há inúmeros exemplos, mas destaco este, em que um jornalista pega num episódio ridículo, a falta de uma bisnaga de pomada num Centro de Saúde, que ele não teve a menor curiosidade em saber por que razão aconteceu, mas que lhe serviu para concluir que temos um SNS do Terceiro Mundo. Calculo que, por esta altura, este jornalista já esteja em segurança, protegidíssimo do vírus, num qualquer país do Primeiro Mundo.

Dir-me-ão que a pandemia está no início e que o sistema ainda pode colapsar. Infelizmente, é verdade. Mas pelas contas de muitíssima gente, o SNS, de tão caótico, já devia ter colapsado há muito tempo, bem antes do pico da epidemia. Além disso, por estes dias, em que país os governantes podem garantir aos seus cidadãos que o sistema de saúde não corre o risco de colapsar?

Juntar o útil ao agradável

O PS, no seu programa eleitoral, propôs a dinamização da agricultura urbana utilizando as coberturas dos edifícios para a produção de produtos hortícolas. A ideia é tornar as cidades mais sustentáveis e reduzir a nossa pegada ecológica, o que segundo alguns estudos é uma ideia muito acertada.

Ora, tendo em conta a actual situação de recolhimento que está a levar muitos ao desespero, e que as varandas e terraços são os únicos sítios ao ar livre que não nos estão vedados, melhor altura para implementar esta proposta eleitoral, enchendo estes espaços de vida, não há. Para além de todas as vantagens ecológicas, é uma excelente forma de passar o tempo. E se juntarmos às hortícolas algumas plantas ornamentais também tornamos a vista uns dos outros, e a dos turistas quando regressarem, muito mais agradável. Nada contra a bandeira nacional, mas em vermelho e verde a ondular ao vento nas varandas prefiro de longe plantas floridas.

Atenção aos pormenores

Não sei ao certo quantos fumadores há em Portugal, mas somos muitos. É verdade que a recomendação das autoridades de Saúde para que se desinfectem as mãos com frequência e evitar levá-las à cara também se nos aplica.

Contudo, o acto de tirar um cigarro do maço e levá-lo à boca é tão automático e distraído que se calhar convinha chamar a atenção para este pormenor.

O estudo que falta

A Protecção Civil veio alertar, entre outros, para o risco do choque de aves com aeronaves no aeroporto do Montijo. O fenómeno, conhecido como Bird Strike (expressão com potencial para se tornar muito famosa entre nós), é relativamente frequente e embora as principais vítimas sejam quase sempre as aves, por vezes obriga a aterragens de emergência ou atrasos nos voos, incidentes que não passam despercebidos, o que me leva a pensar que a coisa pode ter consequências ainda por estudar. É um facto que o fenómeno pode acontecer, e acontece, seja lá qual for a localização do aeroporto, mas também é um facto a abundância de aves nas imediações do novo aeroporto no Montijo.

Ora, se juntarmos a estes factos um outro, o modo de actuação dos partidos de direita nos últimos anos, o qual consiste em cavalgar “casos” que independentemente da importância, e com a ajuda inestimável de jornalistas e comentadores espalhados por toda a comunicação social, se transformam em verdadeiros dramas nacionais (lembro o que aconteceu com as famosíssimas golas antifumo distribuídas pela Protecção Civil em que só faltou o Governo ser acusado de ter condenado à morte as pessoas que as receberam), fico com uma dúvida:

Quantos incidentes com aves, ainda que sem grande importância, serão necessários para que a Direita e a comunicação social acusem o Governo de total irresponsabilidade por ter optado pelo Montijo pondo assim em risco a segurança de todos os utilizadores do novo aeroporto? Aceitam-se apostas!

Cuidado com as correntes de ar!

O tema em debate no último Expresso da Meia-Noite foi o inevitável coronavírus. Mais precisamente o título catastrófico do Expresso desta semana. Não sei o que é mais absurdo, se termos uma Directora-geral da Saúde, que mais parece uma profeta da doença, que acha boa ideia lançar para o ar cenários apocalípticos, que depois vem afastar. Se o Expresso fazer desse cenário capa e depois fazer um programa para debater os malefícios de tal escolha. Se calhar, deviam ter organizado o debate antes.

Os convidados, dois médicos, a ministra da Saúde e uma economista, concluíram que se o título se referisse, por exemplo, à diabetes ou a doenças cardíacas não causaria tanto alarme na população, e isto porque as pessoas sentem que podem fazer algo para evitar estas doenças, ao contrário dos vírus em relação aos quais se sentem muito impotentes. E mais ainda face a este, uma vez que pouco ou nada se sabe sobre ele.

Ora, não é bem assim. Sabe-se que causa mais danos a quem está mais debilitado, é aliás uma característica comum a muitos vírus e outros agentes patogénicos. E é triste que estando presentes três especialistas em saúde nenhum tenha dito que, para além das famosas medidas de contenção, há algo que podemos fazer: reforçar o nosso sistema imunitário. Que nenhum tenha lembrado que as recomendações para que se faça uma alimentação saudável acompanhada de exercício físico não são teorias abstractas, mas que servem exactamente para nos proteger desta e de outras ameaças. E já que se falou nisso, podiam ter dito que as pessoas em vez de irem a correr para as prateleiras das máscaras e dos desinfectantes, talvez não fosse pior pararem nas secções de frutas e legumes. É que com o sistema imunitário em baixo podemos nem precisar de um vírus para nada, até uma corrente de ar nos pode mandar para o estaleiro.

À política o que é da justiça!

Não há nada como acusar socialistas para animar as hostes social-democratas. O Rui Rio, que estava a levar os apoiantes ao desespero, tão mortiça andava a sua campanha, parece outro desde que se agarrou ao caso Tancos para atacar o Governo. Se calhar, para alguns, foi um bocadinho longe de mais, mas nada que tenha atrapalhado outros que acham que o caso tem mesmo de ser discutido na campanha. E não vale a pena virem cá com o “à política o que é da política e à justiça o que é da justiça” que isso não passa de “conversa estafada”, como nos avisa o Pedro Marques Lopes.

Mas estou aqui com uma dúvida. Como é que se discute este caso na campanha? Decide-se primeiro quem são os culpados com voto de braço no ar nos comícios? E discute-se a coisa com base nos resultados obtidos? Ninguém poderia acusar o Rui Rio de incoerência, afinal os comícios não são tabacarias. Mas infelizmente isto só é válido para os outros partidos. O líder do PSD não perdeu tempo, anunciou logo de caras quem são os culpados neste caso. Mas pode aproveitar o resto da campanha para informar os eleitores acerca do que fará a estes clones do Sócrates caso ganhe as eleições. Aposto que vai anunciar a construção de prisões em número suficiente para os encarcerar todos, estimulando dessa forma a economia, criando um número espectacular de empregos directos e indirectos, ao mesmo tempo que cuida do ambiente.

O Rui Rio e a Cristas têm a certeza de que querem governar este povo?

Para a direita, nós devemos ser o pior povo do Mundo. Se não, vejamos: em 2008, não precisámos da maior crise mundial das últimas décadas para nada para arrasar a economia do País. É perguntar-lhes que a resposta sai pronta: foi Sócrates, com a nossa prestimosa ajuda, claro. Todos a estroinarmos as riquezas que os Centenos do Durão Barroso e do Santana Lopes tinham amealhado e deixado nos cofres do Estado. Como se não bastasse, a maioria voltou a eleger aquele monstro em 2009. E lá teve de vir a direita salvar-nos de nós próprios e da queda que temos para levar o País à ruína. De seguida, ingratos, em vez de mantermos a direita no poder para todo o sempre, apoiámos um dos piores governos que se pode imaginar. Um que até mete comunistas e bloquistas. Esquerdas unidas, ou lá o que é. Um nojo. E um perigo para as riquezas deixadas pelos Centenos do Passos e do Portas, lá está.

Entretanto, a conjuntura externa melhorou. Sem surpresa, a interna piorou. E muito. É o que a direita repete incansável. Mas em vão, pois já se sabe como são os portugueses. É os empresários a investirem e a contratarem gente como se não houvesse amanhã. É os que saíram danadinhos para voltarem para a sua zona de conforto. Enfim, o costume, todos a gastarem acima das possibilidades. Mas com que dinheiro, senhores, se vai todo para os impostos?! E lá fora também parece estar tudo doido. Não ouvem a direita? Não deviam estar já a cobrar-nos juros mais altos? E as agências de rating, estão à espera de quê para nos aplicarem o devido castigo?

A verdade é que não merecemos que a direita nos governe. É um desperdício de Centenos. E basta olhar para as sondagens actuais para ver que estes verdadeiros magos das contas só se enganaram numa. Não é preciso vir nenhum Diabo de fora. Sempre cá esteve, somos nós.

Se calhar, a roupa cresce nas prateleiras das lojas

A decisão da Universidade de Coimbra de proibir a carne de vaca nas suas cantinas entusiasmou e de que maneira o líder do PAN. Política com coragem foi como classificou a medida. Vi todos os debates televisivos em que participou o André Silva e, de facto, deu para perceber que “proibir” é um verbo com muita saída no seu partido, mais ainda se o assunto for o da produção de comida, tanto de origem vegetal como animal. Deve ser por isso que se esquece que entre proibir e produzir de forma sustentável há, por exemplo, o investimento em ciência e tecnologia. Algo que não o vi sugerir de forma enfática nos debates. Não deve querer ser confundido com o Sócrates, esse é que tinha a mania de investir nessa área. Mas faz mal, é graças à parceria entre agricultores e universidades que, por exemplo, a Holanda, apesar da área disponível e do clima, se tornou um dos maiores produtores mundiais de hortícolas. E já que está preocupado, e bem, com a alimentação nas escolas porque não propõe a plantação de árvores de fruto nos seus recintos? É verdade que não é uma proibição, mas seria uma excelente alternativa às guloseimas oferecidas nos bares. Teria um lado pedagógico, muitas crianças e jovens não distinguem uma nespereira de um pessegueiro. Contribuiria para a descarbonização da atmosfera, diz que essa é uma das especialidades das árvores, apesar de também não ouvir o PAN apelar à sua multiplicação. E ainda seria benéfico para as abelhas, outra preocupação deste partido, que lamentavelmente ainda não reparou na dificuldade que elas têm em encontrar alimento nas cidades já que não se alimentam de relva.

Mas o que estranho mesmo é que alguém tão preocupado com a pegada ecológica do sector alimentar, aparentemente, nada tenha a dizer acerca de um outro, o da indústria têxtil, que envolve igualmente produção agrícola e ainda uma indústria altamente poluente ligada às tintas usadas, para não falar das fibras de plástico e, em muitos casos, da mão-de-obra escrava para a produzir.

Não tem nada a dizer acerca do consumo excessivo de roupa de usar e deitar fora importada de países longínquos? Vive bem com esta pegada? Deve viver. Falta de “Política com coragem” é que não é com toda a certeza.

O que é mais perigoso, a crise ou o Pardal Henriques?

Depois de rios de tinta gastos por pessoas a defenderem os motoristas das artimanhas dos patrões que passam por pagarem em subsídios em vez de lhes aumentarem o vencimento base, eis que os motoristas marcam nova greve porque os patrões não aceitam o aumento de mais 50 euros no… novo subsídio de operações. Pasme-se, para o sindicato, o problema não é haver subsídios a mais, é exactamente o contrário.

Parece que o subsídio em causa é relativo ao manuseamento das matérias perigosas. Mas quão perigosas são as tais matérias, afinal? É que, bem vistas as coisas, todos as manuseamos sempre que vamos abastecer, e sem nunca termos tido qualquer formação para tal. Muitos, para se precaverem dos efeitos da greve, não só manusearam como transportaram grandes quantidades dessas matérias, e não o fizeram em camiões sofisticadíssimos que respeitam todas as regras de segurança, transportaram-nas em recipientes de plástico na bagageira das viaturas. Falou-se muito no açambarcamento, mas ninguém alertou para a perigosidade deste comportamento. Será que as matérias só são perigosas se transportadas pelos motoristas ou pelos militares?

Por fim, na comunicação social, ao mesmo tempo que se critica o Governo por estar do lado dos patrões, são cada vez mais os artigos a anunciarem a próxima crise económica. Veja-se, por exemplo, este título – Quem tem medo da crise? – e a forma como o texto começa. O Expresso não tem dúvidas, é como se a crise já estivesse instalada. Isto não parece mesmo um alerta para os patrões? Lendo estes títulos, que empresário é que fica com vontade de negociar aumentos?

Por que razão apoiaram Rui Rio?

Tem sido muito interessante acompanhar o que se diz e escreve acerca da falta de liderança de Rui Rio, dentro do PSD e por essa comunicação social fora. Uns estão desiludidos, outros arrependidos do apoio que lhe deram e todos pasmam com a sua falta de ideias, quer para fazer oposição ao Governo, quer para liderar o País. Mas afinal o que aconteceu às ideias de Rui Rio? Ele tinha ideias, foi por isso que decidiram apoiá-lo, certo? Será que ficou amnésico e se esqueceu delas? Ou apoiaram-no porque bastava ser alguém que parecesse o exacto oposto de Sócrates? Lembro-me de, na altura da sua candidatura à liderança do partido, a honestidade ser o grande argumento a seu favor. Um argumento extraordinário e revelador do que pensam uns dos outros naquele partido. Imaginaram-no nos cartazes de campanha e ficava bem, nem era preciso legenda. Só se fosse uma a lembrar o seu jeito para as contas.

E foram basicamente estas as razões para ter sido eleito por uns e elogiado por outros. Nem uns nem outros lhe exigiram quaisquer ideias para desenvolver um projecto credível e alternativo ao do Governo. Portanto, agora, queixam-se de quê? Só se for de si próprios.

Quanto ao Rui Rio, até pode saber fazer algumas contas, mas tendo em conta o imbróglio em que está metido, claramente não sabe fazer as necessárias para liderar com sucesso um partido e muito menos um País. Resta-lhe a honestidade. Mas perante alguém que se propõe liderar o que quer que seja sem qualquer ideia, confesso que “honesto” não é a primeira palavra que me ocorre.

Só encontraram poliéster nas golas?!

Estou impressionada com esta nova polémica. Houve um génio que olhou para uma etiqueta e viu ali material do melhor para atingir o Governo. E resultou. Agora estou à espera que os seguidores deste génio, jornalistas, comentadores e membros da oposição, olhem com a mesma atenção para as etiquetas da roupa que têm vestida enquanto bradam aos céus por tanta incompetência dos governantes. Se calhar vão ficar espantados com a quantidade de poliéster que vão encontrar. O problema é que as roupas das pessoas a quem foram distribuídas as tais golas não são diferentes. Ou seja, para o tal génio, e seus seguidores, o perigo está unicamente nas golas e é um escândalo se não forem imediatamente substituídas. Já se forem as blusas, as calças ou qualquer outra peça de vestuário a pegar fogo… é azar.

Uma vez que o que os move é com toda a certeza a segurança,  e só a segurança, das populações que habitam em zonas de risco, não será melhor exigirem ao Governo que lhes substitua também o guarda-roupa altamente inflamável?

Um programa que não faz nada bem à saúde

O que estava anunciado para ir a debate, no último Expresso da Meia Noite, era o estado dos serviços públicos, um anúncio enganador. Sem surpresa, o que se pretendia era falar das filas para tratar de assuntos relacionados com o Cartão do Cidadão e, sobretudo, dos “casos” que vão surgindo semanalmente no SNS, especialmente do “caso” das urgências obstétricas, em Lisboa. Tendo em conta que o programa é moderado por profissionais competentíssimos, cujo único objectivo é esclarecer-nos com a máxima isenção, e que o Grupo Impresa não é um organismo público tutelado por um qualquer socialista incompetente, seria de esperar que viessem munidos, eles e os convidados, com novos dados que sustentem o alarmismo que têm alimentado nas últimas semanas. Por exemplo, dados que sugiram que os portugueses já não têm ou vão deixar de ter acesso a cuidados médicos ao nível do melhor que se pratica no Mundo. Que, graças à incompetência do Governo, a nossa  longevidade está a diminuir. Ou ainda que se prevê que comecem a morrer pessoas por falta de assistência.

Mas não aconteceu, pelo que temos de ficar pelos tais casos que anunciam horrorizados. Como é óbvio, o ideal seria que não acontecessem, mas fazendo as contas e tendo em consideração a dimensão do SNS e os milhares de utentes atendidos diariamente, conclui-se que a percentagem dos tais casos, face ao total, é muito baixa. Também se conclui que para estes profissionais competentíssimos, que sabem imensos números de cor, mas só quando lhes convém, a matemática não é uma ciência lá muito exacta. E não é só a matemática, afinal, são os mesmos que não conseguem evitar, pelo menos, na versão digital do jornal onde trabalham, a publicação de textos com erros e gralhas, por vezes até nos títulos. Se calhar, é mais difícil rever um texto do que gerir o SNS, um hospital ou fazer determinados diagnósticos médicos.

Quanto à rotatividade das urgências obstétricas, em Lisboa, fiquei sem saber qual é exactamente o problema de uma grávida ter de se dirigir a um hospital e não a outro. No resto do país, é comum as grávidas deslocarem-se vários quilómetros para chegarem à urgência obstétrica mais próxima e, lá está, não é por isso que deixam de receber os melhores cuidados que a Medicina actual permite. O mesmo para os filhos após o nascimento. Assim os pais pudessem confiar num outro serviço público, o da Educação. Terem a garantia de que, no mínimo, os filhos saem da escola a saber pensar. Curiosamente, este serviço público não foi debatido no programa. Não devem ter sido detectados quaisquer problemas. E percebe-se, afinal, quem é que está interessado em que os miúdos aprendam a pensar? Estes profissionais é que não, com toda a certeza. Lá teriam de ir exibir o seu competentíssimo profissionalismo, mas ao volante dos respectivos táxis. Pelo menos, no discurso não teriam de mudar nada.

Antes fossem todos primos

No meu tempo de escola primária, havia umas brincadeiras que tinham época. Embora não houvesse datas oficiais de abertura, de repente todos brincavam à brincadeira do momento. A coisa durava umas semanas e passava-se à brincadeira seguinte. Porém, nenhuma dessas brincadeiras cíclicas impedia que simultaneamente se continuasse a brincar a outras coisas.

Já os nossos comentadores de política profissionais, salvo raras excepções, só conseguem brincar a uma coisa de cada vez. Apesar de estarmos em pleno ano eleitoral, a maioria só opina acerca do caso do momento e de mais nadinha até que surja o caso seguinte. E ainda por cima para não acrescentarem nada de novo. Limitam-se a repetir o que todos os outros já disseram. Papagaios, portanto.

Não creio que sejam familiares dos donos, ou directores, dos órgãos de comunicação social onde ganham a vida, mas antes fossem.  Percebia-se melhor o facto de aparentemente serem insubstituíveis, de serem os mesmos, há anos e anos, a poluírem o espaço mediático. Os políticos passam, mas eles ficam. Vá lá saber-se porquê.

O António Costa é parente de algum dos seus ministros?

Um extraterrestre que aterrasse em Portugal, por estes dias, ficaria muito surpreso com o facto de não constarem, na lista dos actuais ministros, os nomes da mulher e dos filhos de António Costa. O escândalo é tal que é o que parece. E parece mais. Parece que, desta vez, não foi o primeiro-ministro a convidar todos os membros do Governo, como sempre sucede, mas sim que foram os ministros que se convidaram uns aos outros, tendo aproveitado a oportunidade para convidarem membros da família.

A mim espanta-me que os escandalizados, e são tantos, não busquem argumentos que justifiquem a dimensão do escândalo. Por exemplo, por que raio não investigam os Orçamentos de Estado? Será que o Centeno beneficiou algum destes ministérios por pressão dos familiares? Ou, valha-me Deus, será que foram alvo de menos cativações?!

E, já agora, se a coisa é tão grave, porque é que não há ninguém na oposição que se chegue à frente e peça a demissão destes ministros? Aqui a resposta parece-me óbvia. O Verão pode não ser muito quente, nem muito seco.

Uma espécie de Quim Barreiros da política

Talvez por falta de outro assunto, por estes dias, aconteceu ouvirem-se algumas críticas ao Presidente a propósito das suas férias. Não se percebe muito bem porquê, afinal não fez nada que não seja comum fazer durante o ano inteiro: andar com jornalistas e câmaras atrás para todo o lado, falar acerca de tudo e de nada, ser filmado em calções a mergulhar ali e acolá, nomeadamente, em visitas de Estado. Tudo normal. Só se a estranheza foi vê-lo ao volante, mas mesmo isso não foi inédito.

Seja como for, levou a que alguns comentadores se pronunciassem. Destaco o Pedro Adão e Silva que chama a atenção para os riscos que o sucessor de Marcelo poderá correr, graças a este novo estilo presidencial, mas não sem antes elogiar “a sua capacidade de aproximar as pessoas da coisa pública”. Parece que é este o grande legado de Marcelo. E são com certeza muitos os que concordam.

Mas, na prática, no que se traduz essa alegada aproximação? Será que as pessoas passaram a interessar-se mais por política? Num tempo em que tudo deve ser sustentado por números e factos, há dados que revelem, por exemplo, que o número de leitores de jornais aumentou? Subiram as audiências das entrevistas e debates políticos? Será que, graças a Marcelo, a abstenção vai diminuir nos próximos actos eleitorais?

Se calhar, para que tal acontecesse seria preciso mais do que a febre das selfies e os de milhões beijos e abraços. Assim, o que se vê é uma espécie de artista (de gosto duvidoso, diga-se) que nem nas férias deixa de tudo fazer para aumentar o seu número de fãs.

Alguém sabe?

O ano lectivo já vai adiantado, estou aqui com umas dúvidas, quando é que o Professor Passos vai começar a abrilhantar a vida dos seus pupilos?

E o pin, é desta que se livra daquela lapela ou, pelo contrário, vai também ele iniciar novas funções, desta vez como útil distracção na sala de aula?

 

 

Marcelo, um católico 2.0

Espanta-me a falta de curiosidade dos nossos jornalistas. De todos os que costumam seguir o nosso Presidente para todo o lado, aparentemente, nem um se lembrou de lhe perguntar o que pensa acerca do conselho do cardeal patriarca aos católicos recasados. Mas espanta-me ainda mais que o próprio não se tenha pronunciado de livre vontade. É que para além de ser católico, tudo indica que não só concorda como pratica os ensinamentos de D. Manuel Clemente.

Depois de uma semana a ser brindado com mimos de toda a espécie, aposto que o cardeal não se teria importado de receber um pouco do afecto que o seu amigo tem para dar e vender a toda a gente.

Coisas que me intrigam

O Ministério Público decidiu arquivar o processo que resolveu instaurar ao Ministro das Finanças. Muito bem. Mas estou aqui com uma dúvida: o que está previsto na Lei relativamente ao material entretanto recolhido pelos Magistrados da 9.ª secção do Departamento de Investigação e Ação Penal nos computadores, mesas, gavetas e, muito provavelmente, atrás dos vasos espalhados por todo o Ministério das Finanças? Lembrar que o referido Ministério se relaciona com todos os outros e com toda a certeza com inúmeras entidades públicas e privadas, nacionais e internacionais.

A Lei prevê que se destruam os documentos ou que se arquivem? Na segunda hipótese (e também na primeira), pode a Procuradora-Geral da República garantir que não acabam por ir parar à redacção do Correio da Manhã? Que o mais certo é encarregar-se de os esmiuçar e decidir que certidões vale a pena extrair e escarrapachar nas suas primeiras páginas para gáudio dos restantes pasquins.