A prosperidade em Viseu

A gente não se pode zangar por causa de tudo. Isso deixa-se aos profissionais da indignação. No terreno do idioma, por exemplo. E, assim, a gente deve fechar os olhos a «entrada proíbida», a «retire o titulo», a «SAIDA», a «POLICIA» nos carros dela. Deve, porque não valem uma úlcera em qualquer parte.

Mas abro uma excepção [em versão anterior estava excessão, eu não sou melhor que os outros, embora mo diga] ao que hoje se ouviu na SIC-Notícias. Era uma peça sobre a visita de Jorge Sampaio a uns concelhos de Viseu, aonde ele ainda não tinha ido no decurso dos dez anos. E mostrava-se a nova (o novo?) Viseu, longas avenidas, centro regurgitante. Em suma: Sampaio visitava um distrito de «aparente prosperidade».

Aparente? Parece prosperidade, mas não é? Nassenhora: é próspero, tá-se a ver. Então em que ficamos?

É assim. O autor do comentário sabe o seu inglês, língua onde «apparent» quer dizer «aparente», portanto «enganador», mas também «nítido», «visível». Mas que em inglês haja confusão não justifica que a importemos.

Eu sei que é bradar no deserto. Hoje, pergunta-se a alguém «O fulano é rico?», e respondem-nos «Aparentemente». E a gente fica sem saber se é ou não é. Se é, «como tudo indica», «pelos vistos» («apparently», «apparemment»), ou se não é, como sempre se quis dizer entre nós. Bradar no deserto, repito. Ninguém percebe, e não quer perceber. Não é com eles, claro.

Mude-se a língua, amigos. A nossa língua é viva da costa. Mas, por favor, não se instale a confusão.

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