Ricardo e os sacanas

Sobre Ricardo Rodrigues, vamos aos factos, primeiro a quente: o deputado, confrontado com uma insinuação canalha de envolvimento num caso de pedofilia, teve uma reacção intempestiva que, para muitos, eu incluído, foi até bastante contida. A tentação de pegar nos gravadores, atirá-los às trombas dos dois trastes que tentavam, na própria cara do deputado, colar-lhe uma das piores difamações que hoje existe, e correr com eles à pancada do gabinete seria para muitos irresistível, e se calhar até lhe mereceria maior respeito por parte daquelas almas simples que hoje gritam “ladrão”. Quem não sente não é filho de boa gente, segundo dizem.

Dito isto, ou melhor, tirando isto do peito, vamos aos factos, agora a frio: o deputado, confrontado por dois jornalistas com perguntas que não lhe agradavam, resolveu usar os meios que entendeu usar de modo a tentar impedi-los de fazer o seu trabalho, ou seja, tomou acções cujo objectivo era impedi-los de publicar uma história.

E na minha opinião,  entre as duas interpretações dos factos, por muito compreensível que nos seja a primeira, a segunda é a que tem maior peso. É a que em último caso vale. E vale pelo mesmo princípio que vale a igual protecção da lei para todos  – o princípio que diz que uma lei que protege os facínoras é a maior garantia que protegerá também os que não o são. Neste caso em particular, o mesmo se aplica aos jornalistas. Por muito desagradáveis e insultuosas que tivessem sido as perguntas, eles têm o direito de as fazer sem que esteja em causa a realização do seu trabalho, até porque mesmo estando num caso extremo de perguntas ofensivas à honra, elas não são em princípio diferentes de outras perguntas que também podem ter essa interpretação. É por estar garantido que um jornalista sem escrúpulos possa fazer esse tipo de perguntas a Ricardo Rodrigues que está igualmente garantido que outro jornalista mais idóneo possa fazer perguntas sobre submarinos a Paulo Portas. Num caso, a pergunta pressupõe pedofilia, no outro pressupõe corrupção. Ambas podem ser consideradas ofensivas pelos visados. Vamos deixar então a um critério pessoal dos visados se os jornalistas podem ou não publicar uma história? Não me parece. Caso se sinta ofendido no seu bom nome e reputação por uma publicação, há tribunais para isso mesmo. Caso considere as perguntas ofensivas ao extremo, ou sinta que lhe estão a preparar uma armadilha, pode apenas recusar-se a responder, ou abandonar a entrevista. Não pode é confiscar as ferramentas de trabalho, tal como não poderia fechar os jornalistas na cave até prometerem não publicar, ou ameaçá-los de difamação como fez Relvas.

Logo, se agiu irreflectidamente, a quente, até pode ter toda a minha compreensão, já que estar naquela posição não é fácil. Mas um deputado tem de ser, até pelo exemplo, um dos garantes do funcionamento da democracia, incluindo o regular e livre funcionamento da imprensa, por muito desagradável que esta possa ser. Uma das funções de um deputado é a de comunicar com os eleitores através de uma imprensa livre de condicionamentos, tal como uma das funções de um jornalista é fazer perguntas incómodas. Que alguns abusem, e certamente abusam, não cabe ao deputado julgar sumariamente. Cabe aos tribunais se o visado entender. E sendo assim, o deputado falhou numa das suas funções essenciais. Foi provocado, certamente, mas caiu na provocação e falhou. E isso tem de ter consequências para além da simples demissão de algumas funções. Porque se um deputado impede um jornalista de fazer o seu trabalho, até pode ter toda a razão do mundo. Mas abre um precedente para todos os outros. sobretudo os menos honestos e os que têm realmente alguma coisa a esconder. Se o justo faz, porque não fará o pecador?

Para responder à pertinente pergunta acima do Paulo Pedroso, não, não tenho a certeza que não faria o mesmo, ou até pior. Mas, porque teria falhado numa das minhas funções essenciais, haveria que sofrer as consequências. De preferência, de minha livre vontade.

23 thoughts on “Ricardo e os sacanas”

  1. Muito bem. Estou de acordo. Há que dar o bom exemplo, para se manter a credibilidade. E mais alto do que isto (sem chegar a Jesus Cristo), foi um Concelheiro de Estado acusado de desfalcar um Banco em MILHÕES ter-se mantido nos corredores no Poder, com a bênção de Sua Sonsidade Cavacal durante meses, até ao limite do insuportável! A isto os tablóides e as televisões mercantis simplesmente voltam as costas…

    Como diria aquela famosa estrela do mediatismo saloio nacional, “ISSO AGORA NÃO INTERESSA NADA”! Claro que não, porque cobre de lama a “gente séria”…

  2. terás toda a razão no dia em que o relvas for condenado a 3 anos de cadeia, indemnizar da maria josé, resignar ao cargo e taxa de justiça nunca inferior a 50.000 euros, até lá estes julgamentos são uma palhaçada orquestrada pelo regime com colaboração dos corporações judiciais que se querem vingar do ataque às mordomias.

  3. sem tomar partido, falta um dado:a tentativa de interpor uma providência cautelar seria impossível nos seus efeitos sem a apreensão dos gravadores e subsequente entrega dos mesmos ao MP, como aconteceu.

  4. Concordo com Vega e com os dois comentadores anteriores. Porém, convem lembrar que a atitude que o visado tomou, foi a decisão certa após , provávelmente, ter concluido o mesmo que o Vega: desfazer os gravadores nas ‘trombas’ dos ‘jornaleiros’ foi uma má reacção, apesar de compreensível.Agora , depois de conhecida a sentença , demitir-se de funções enquanto aguarda que o processo transite em julgado , é uma atitude exemplar. Pena que tal exemplo não tenha seguidores no PSD onde há gente suspeita/arguida/julgada etc. e vive feliz ,sem nunca abandonar a “zona de conforto”.

  5. Perfeitamente de acordo, mas também gostaria que a condenação fosse extensiva a todos os que fazem o mesmo… ou pior…
    Depois há coisas interessantíssimas, o home terá levado os gravadores porquê? Não saberia que estava a ser filmado e que o registo de som ali ficaria como prova indelével?
    Poderá o homem ser tão desconhecdedor dos factos que não se lembrou de tal?!

  6. o maior erro de ricardo rodrigues foi aceitar ser entrevistado por uma cambada de pulhas sem ser assessorado pelo grande teofilizador que certamente teria evitado todo este imbróglio.

  7. Têm toda a razão. O autor do texto e os comentadores.
    Ricardo Rodrigues é um heroi, e os sacanas do tribunal são uns miseráveis ao serviço da reação.

    Não tomem qualquer coisa, não…

  8. Pela parte que me toca, parece-me que quem precisa de tomar ou,se calhar deixar de tomar, qualquer coisa ,é o anónimo das 17:43h que leu o que não foi escrito nem explicita nem implicitamente. Que pena terem acabado com as NO !

  9. oh paulo! é que nem dúvides, o rodrigues é mesmo herói e os sacanas do tribunal agiram ao serviço do regime ou da reação. já quanto a tomar qualquer coisa, aproveito e tomo-te por parvo.

    ricardo rodrigues foi julgado e sentenciado pelos crimes de atentado à liberdade de imprensa e de informação ou seja por tentar impedir que o difamassem na comunicação social. façam o mesmo ao gerómino ou ao louceiro à ver se não temos a a1 cortada com pinheiros e calhaus, já o relvas foi absolvido pelo tribunal da erc porque o réu negou o crime, apesar do ter admitido.

  10. o ricardo rodrigues foi condenado por roubar dois gravadores tá mal pá tivesse roubado um banco como fizeram os do bpn e ninguém lhe ligava nenhuma tanto quanto sei estão todos cá fora a gastar o que nos roubaram

  11. Desculpa marta, mas os telemoveis valiam mais do que 6mil milhoes de euros. Um conselho de borla! quem for a tribunal, não diga nem ao porteiro, que é xuxa,pois está lixado.

  12. Ricardo Rodrigues foi um anjinho!Um deputado tem tanto direito a defender a sua honra como outro portugues qualquer.ele em vez de ficar com o telemovel tinha-lhes dado no lombo ,depois punha os telemoveis no chão e pisava-os até se certificar que nada havia para dizer.

  13. Ola,

    Vega :

    “uma reacção intempestiva que, para muitos, eu incluído, foi até bastante contida”

    Esta frase, que demonstras em seguida ser uma parvoice, esta a mais, ou esta mal formulada. Talvez quisesses dizer “uma reacção intempestiva que, num primeiro momento, até pode parecer compreensiva” ou uma coisa do género…

    Isabel Moreira :

    Se as pessoas podem ir a vias de facto de cada vez que não é possivel recorrer a uma providência cautelar (judicial), então estamos mal. Antes de ver se é possivel interpor uma providência cautelar, cabe talvez perguntar se a pessoa podia, e se devia, ter-se socorrido da simples e ancestral cautela… Ou não ?

    Boas

  14. oh viegas! onde é que queres chegar com tanta estupidez? se ignoras como funciona a justiça e não sabes para que serva uma providência cautelar não faças exibições de ignorância.

  15. Isabel, percebo a intenção do deputado, mesmo se expressa à posteriori. Nada o impedia, então, de anunciar essa intenção aos jornalistas, em vez de simplesmente pegar neles e sair sem mais. Resta saber se esse método, mesmo com justificação, é válido e se sobrepõe aos direitos dos jornalistas. O tribunal, creio, entendeu que não, e eu tendo a concordar.
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    Teófilo, o não se aperceber de todas as consequências dos seus actos é quase a própria definição de “intempestíva”. Provavelmente nem se lembrou.
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    a-marta, estás em equívoco. RR foi condenado por atentado à liberdade de imprensa, não por roubo.
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    João Viegas, quando digo contida estou a falar na reacção emocional. Face a insinuações daquele calibre, haveria muita gente que não se ficaria apenas pelo que RR fez.

  16. Um Deputado que não sabe ou ignora que há “pulhas” no jornalismo, justiça e na classe de politicos, também deputados, não tem condições para exercer o cargo!!!!!
    EMIDIO RANGEL, foi condenado, por afirmar publicamente algumas verdades s/ o poder judicial, este, também devia saber que, «« quem se mete com a “justiça” leva….até Sócrates levou, e de que maneira…… Só estranho as afirmações de Antº Barreto, bem mais GRAVES que Rangel e nenhum elemento do poder judicial piou, incluindo o “PODER SINDICAL”…..Será que Barreto é considerado perigoso ou inofensivo ??

  17. É, os fins justificam os meios. Pois!

    Ó Vega, manda o molde que havemos de mandar fazer estátua de corpo inteiro para o figurão!

    Queria ver se o RR fosse de outro partido o que dizias, ganha juizo, pá!

  18. (acho que ele leu (só) o primeiro parágrafo e a) ficou cansado do neurónio ou b) deu-lhe logo a irritação e histerizou.)

  19. Ó vega, guarda a tua tua superioridade para ti! Não percebeste, queres um desenho?

    Percebi muito bem onde queres chegar, mas vens de carrinho, mas não vou perder tempo contigo.

    Edizinho, compra um cu e fala com ele pá!

  20. Ibn Erriq, eu digo no post: “RR fez um disparate, não tem condições para ser deputado e deve demitir-se”. Ao que respondes: “Vega, queres fazer-lhe uma estátua”.
    Aceito o tal desenho.

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