Os três dias de Tsipras

O caos favorece os espertos e os audazes. E no meio do aparente caos que resultou das ultimas eleições gregas, Alex Tsipras tem demonstrado ser o mais esperto e mais audaz de todos os líderes políticos gregos. Todos os analistas se perguntam, face à fragmentação extrema que resultou das últimas eleições gregas, como seria possível a formação de um governo no meio do tumulto. A resposta está aí: não é possível. Tal como reconheceu o líder da Nova Democracia, Antonis Samaras, ao abandonar a tentativa ao fim de poucas horas apesar de beneficiar de um bónus de 50 deputados.  E tal como reconhece o líder do desgraçado PASOK, Venizelos, que já afirmou que nem sequer tentará quando chegar a vez dele. E como bem sabe Tsipras, o jovem líder do Syriza, a extrema-esquerda grega. Os números não estão lá, não existem. Os comunistas do KKE recusaram-se sequer a reunir com ele, e isso por si só devia bastar. A Grécia vai para novas eleições no período mais tumultuoso da sua história recente. Esta é a amarga realidade.

E o que fez Tsipras face aos amargos limões que os resultados entregaram aos gregos? Fez limonada.

O que estamos a assistir nestes três frenéticos dias em que este homem tenta formar governo é uma campanha eleitoral absolutamente brilhante. Apenas no primeiro dia, expôs a falta de vontade dos partidos do centro em buscar alternativas ao desastroso caminho seguido até aqui, demonstrou a determinação do seu partido em enfrentar a troika e a UE ao enviar cartas a Barroso e ao BCE denunciando o acordo, e fez tombar as bolsas mundiais apenas com a declaração de princípios que pretende implementar, uma demonstração de força que não passou certamente despercebida a todos os que acham que uma bancarrota da Grécia seria nesta altura “controlável”. E colocou-se firmemente no centro da política europeia ao solicitar uma reunião com Hollande, procurando para si a liderança da esquerda no seu país.

Ou seja, durante três dias, este homem governou efectivamente a Grécia do alto dos seus 16%, demonstrando a todos os seus compatriotas e vizinhos europeus como seria um governo seu, quais as linhas orientadoras e quais as consequências. Não o prometeu, demonstrou-o na prática, de uma maneira sublime e com considerável bravura.

Este homem arrisca-se por isso a ser o próximo primeiro-ministro grego nas eleições de Junho. Dizem que a sorte favorece os audazes. Mas os audazes fazem a sua própria sorte.

22 thoughts on “Os três dias de Tsipras”

  1. Anel de Soturno, humilhante? Não creio. Se ganhar, vai ser Louçã na TV 24/24.
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    joaopft, tem no máximo coragem até agora. A fibra demonstra-se na governação. Os alemães não são para brincadeiras.

  2. Pois, mas não sei… O rapaz tem muito bom ar, o que nestas coisas sempre ajuda, mas a minha aposta é que vão baixar na 2ª volta… É só mesmo uma aposta. Seja como for, passou a figura europeia, e por mérito próprio, lá isso é indiscutível

  3. marvl, não creio que baixem, pelo contrário. Fez uma grande figura nestes três dias, e é agora a mais recente estrela política europeia. Mas a campanha vai ser dominada pela questão, agora bem real, da anulação do memorando e possível saída do Euro. Ou seja, pelo medo. Veremos se os gregos estão tão desesperados como dizem.
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    Penélope, viste as bolsas? Abalaram, podes ter a certeza.
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    jcfrancisco, nem mais.

  4. numa estrada cheia de curvas, perigosíssima, eis que aparece alguém que coloca uma placa sem saída, foi só isso meus amigos, a estrada essa vai continuar a ser a mesma…

  5. Bom, eu hoje vi na tv um grego a dizer que tinha votado num partido diferente do habitual, mas que ia regressar ao partido em sempre tinha votado. Não é bem o medo, em abstracto – é que, realmente, há razões muito concretas para os gregos recearem aventuras neste momento, creio eu. Até porque não me parece que a generalidade dos gregos queira sair do euro e muito menos da Comunidade Europeia. Sendo que tudo isto não deixa de ser interessante (para eles e para a Europa). A ver vamos.

  6. Já consta por ai que o grande capital neoliberal se esta a preparar para através de ONG testas de ferro patrocinar em grande a mini campanha eleitoral que se advinha de modo a tentar implantar a celebre vacina de Kissinger em versão requentada mas não fora do prazo.

  7. coincidência ou não, os discurso de não alinhamento com os sacramentos austeritários, sucedem-se em catadupa – em portugal e fora dele…no fim, até o Louçã alinhou, vejam lá(ele que até é mais bolos)

  8. pois, parece que pegou moda solicitar reuniões urgentes com o hollande, o passos já aderiu e o louceiro vai a caminho.

  9. repara, ignatz, a rapidez de movimento, o jogo de cintura do nosso grande Primeiro Coelho: ao pequeno almoço anuncia que o governo está preparadíssimo para aguentar mais sacrifícios dos portugueses e ao lanche anuncia que vai bolar um agenda fora de série com o amigo socialista Hollande…
    Como dizia o Miguel (RIP): a coluna vertebral de um caracol. E eu acrescento: coluna e cabeça também. às vezes tenho de me beliscar para ter a certeza que é verdade: esta coisa representa o povo português e seu governo legítimo.

  10. xi, o que tu me lembraste, ainda temos mais essa para pagar.

    Gosto. Gosto dos pink desta altura…faz-me lembrar certas cenas que tu sabes que gosto.

    Se não quiseres ver agora, guarda para o pequeno-almoço, que até calha melhor. Agora tenho de ir recarregar a bateria. xau, good morning.

    http://www.youtube.com/watch?v=tqmid9MlFSw

    (lá trás, diz-ne se reconheces a piquena das bonecas de dresden)

  11. Pois pelos primeiros indícios detectados, qualquer comparação entre A. Tsipras e F. Louçã, seja sob que aspecto for, será sempre humilhante para este último. Seja no máximo formato televisivo 24/24, ou num qualquer outro formato mais básico, tipo à escala 1:1.

    Aguardemos (eventuais) desenvolvimentos – e o menino Seguro que abra bem os olhinhos; ou talvez nem sequer valha a pena dar-se a esse trabalho, tão atrasado que ele já está nesta “corrida”…

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