Volta Santana: estás perdoado, recuperado e desejado

A informação publicada a respeito do que se passou entre Relvas e o Público não deixa uma única dúvida: o Ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares do XIX Governo Constitucional de Portugal ameaçou boicotar um órgão de comunicação social e devassar a privacidade de uma jornalista. É isto que tem sido repetido pelo Conselho de Redacção e pela Direcção do jornal, tendo até um parecer jurídico interno, pelo que já não há recuo para nenhuma das partes. Do lado de Relvas, houve assunção de responsabilidade na forma de um pedido de desculpas de que se desconhece o teor, culpa reforçada por até agora não se ter oposto judicialmente contra a versão do Público sobre o acontecido.

A tomada de posição do Primeiro-Ministro, negando com a leveza dos celerados as evidências, dá bem conta do que está aqui em jogo: o futuro político de ambos, porque Relvas não vai cair sozinho. Alguém que se permite ter feito aquilo de que é acusado não tem mais lugar no mundo partidário, muito menos no governativo, e todos os que com ele fizeram caminho, juntamente com esse caminho, passam a ficar contaminados. Mas o episódio reabre o caso imediatamente anterior, porque se Relvas, por frieza ou desvario, se permitiu expor-se a esta reacção do jornal, então a única razão para tamanho risco tem de estar enterrada na sua relação com Silva Carvalho e a investigação respectiva que pretendeu evitar.

Estamos face a algo completamente novo na história das relações entre o poder político e a imprensa em democracia – seja lá qual for o ponto de vista e o desfecho da situação. Perante a gravidade, e o fedor moralmente putrefacto, do episódio, as tropelias do menino guerreiro passam automaticamente a ser recordadas com nostalgia. A recordação de um tempo feliz em que os governantes social-democratas, mesmo se dados a lendárias peripécias pícaras, ainda mantinham módica sanidade mental.

8 thoughts on “Volta Santana: estás perdoado, recuperado e desejado”

  1. Desculpe, Valupi, mas não concordo nem um pouco com a sua análise ao comportamento dos direitolas para com a imprensa. Está a esquecer o poder absoluto de que foi investido o “senhor televisão”, Eduardo Moniz, pelos governos absolutos de Cavaco Silva. Está a esquecer-se da triste e célebre cena de vermos em directo, Fialho Gouveia de voz trémula a desculpar-se perante o senhor “ministro da propaganda” da AD, o nosso conhecido Proença de Carvalho, por causa de uma paródia, em programa televisivo e de recreio, sobre uns negócios do PM Sá Carneiro.
    E muito, muito mais. O que Relvas fez é o normal daquilo que sempre fez a direita nos anos que leva de poder na democracia. E vai ficar tudo numa boa, porque o que aconteceu não é defeito de um ministro, mas feitio de uma governação da direita portuguesa, a direita que nos calhou na rifa. A propósito, viu a “normalidade” com que um dos ícones desse “feitio” comentou o caso Relvas! Não ouviu o Marcelo? O caso acabou aqui. Hoje, como ontem, as esquerdas têm de baixar a bolinha. E, hoje por hoje, nem estão preocupados, os da esquerda, com essas minudências. Ainda se fossem o Sócrates e os socráticos… Valupi, depois de uns gritinhos para eleitor ver, amahã já ninguém fala disso. Mas pode contar com algumas notícias de primeira página a reportar mais um qualquer cesto de robalos para um qualquer amigo de Sócrates.

  2. A única forma de dourar o Relvas é mesmo a comparação com o Rui Gomes da Silva. O Passos nem na comparação com Santana consegue sair a ganhar.

  3. com maior ou menor discrição a direita só sabe governar e manter-se no poder ignorando a ética que exige aos outros, a moral que apregoa e as leis promulga, aprenderam na igreja e estáo protegidos pelo poderoso.

  4. Caros amigos, não há nenhuma comparação possível com a ameaça – vinda de um governante – de divulgar dados pessoais de um jornalista. Só em tiranias, ou contextos mafiosos, é que se chega a tal violência.

  5. Concordo com Val:”…não há nenhuma comparação possível com a ameaça… de divulgar dados pessoais de um(a)jornalista”. Porém, penso que tal só acontece porque no passado e no presente recente ,as perseguições infames a Sócrates, sem consequências para os perseguidores, deram-lhes cada vez maior ânimo para que a o céu fosse o limite para a infâmia, a perversidade, enfim…a CANALHICE descarada.

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