Se há competição onde perder não envergonha, é nos Jogos Olímpicos. Perder é também uma festa, lá onde o melhor está em participar. Já desistir, mesmo a feijões ou a jogar à carica na minha rua, afecta o tecido e destino do Universo.
“Não quero conquistar a medalha de prata, prata já tenho, o que quero é a medalha de Ouro”, disse o atleta em conferência de imprensa na capital chinesa.
“Nunca estive em tão grande forma na minha vida”, afirmou Obikwelu em relação à prova dos 100 metros em Pequim, afirmando mesmo: “surpreenderei alguns adversários.”
Minutos depois de ter falhado o acesso à final, anunciava o abandono da carreira e a desistência da prova dos 200 metros. Quanto ao abandono, é lá com ele. Quanto à desistência, está a ir-me ao bolso. Este nigeriano com passaporte de Portugal que tem vivido e treinado em Espanha é, infelizmente, demasiado parecido com muitos de nós.
Não gosto de pessoas que desistem.
Valupi, em verdade lhe digo que é brilhante este seu post (mais um, enfim, isto de escrever é relativamente fácil, para quem sabe, lá está…). É uma justíssima homenagem ao homem que, com 16 (dezasseis, com dezasseis anos já muitos Portugueses tinham que se fazer à vida, que a vida aos dezasseis anos não sorri a todos, alguns nem sabem escrever dezasseis), com dezasseis anos, dizia eu, já é enorme ao ponto de deixar para trás o seu país, a Nigéria, você não calcula o que era a Nigéria quando o Obikwelu tinha dezasseis anos Valupi, nem eu, mas diz que aquilo era tremendo, apesar do petróleo e do gás, que é isso quando se tinha um regime militar, umas eleições acabadinhas de cancelar e cento e cinquenta milhões de almas, tudo ao mesmo.
E depois, Valupi, aos dezasseis anos, é largar tudo (e como custa deixar tudo aos dezasseis anos, Valupi, isto é, deve custar, eu não sei nada dessas coisas de deixar tudo, mas sei escrever posts e comentários, também não é mau e é capaz de ser mais fácil que ter dezasseis anos e largar tudo). E é ir bater à porta dos clubes da segunda circular e eles dizerem que não, e o Obikwelu nem sabia que existia o Belém, soube depois, já depois de ter alombado com sacos de cimento nas obras, mas aí já era capaz de ter dezassete anos, sempre é mais fácil alombar nas obras com dezassete do que com dezasseis anos.
E depois, Valupi, é vir das obras e treinar no Belém. É melhor treinar no Belém que dormir nas obras, calculo eu, que nunca fiz uma coisa nem outra, e nunca tive que dormir por baixo das bancadas do Belém, isto depois de treinar, já dormi no Champ de Mars e na maioria das estações de comboio dessa Europa toda, mas foi porque me apeteceu e a vista do Champ de Mars, Torre Eiffel ali à frente é melhor que dormir no Ritz.
E depois, Valupi é ganhar. Ganhar a todos, correr mais que todos, corre mais dos que não estavam limpos e porque não estavam limpos ganhavam medalhas. Mas já não era do País dele, já era outro, que o País dele não gostou daquela ideia de ele ter ficado nas obras. E mudar de País também deve ser lixado, Valupi, e, sim, há Portugueses que sabem isso. Eu também sei um bocadinho, mas aquilo foi só um Erasmus e estava cheio de boazonas, sempre atenuava.
Por tudo isto, Valupi, e ainda por mais coisas que sou capaz de dizer mais tarde, isto ainda é cedo, é justo este seu post de homenagem ao homem que, mesmo com operações aos joelhos ainda foi capaz de ir lá (aqui sei eu que operações aos joelhos é do pior, um gajo nunca mais fica igual), ainda acreditou que era capaz de correr bem. Não correu, mas o rapaz agora está empenhado em vir para cá descobrir talentos, pra que nunca mais os miúdos que são bons não tenham que alombar com sacos de cimento. Eu acho uma ideia bonita. E é. Não é?
É português há pouco tempo mas já sssimilou aquilo que nos define – ou oito ou oitenta! Safa!
Trata-se de um brilhante caso de aculturação: o homem veio para cá, ainda novo, fugiu da delegação que o trouxe, ficou. Por cá treinou, com a ajuda de um casal (lembro-me das palavras da senhora: olhei para ele, uma criança (17 anos, 1,95m) e enterneci-me), fez-se campeão… e, em breve, se fez português! Com efeito, fez-se português ainda antes de saber falar a língua! Viva a nossa idiossincrasia!
Antunes de Brunay disse tudo o que eu podia dzer. Apenas uma pequena anotação: essa de ir ao bolso é maravilhosa. É uma coisa bem portuguesa: quando alguém recebe dinheiro do Estado, mesmo que seja pouco comparado com o que já devolveu, todos falam como se fossem patrões. E patrões arrogantes, altivos e mesquinhos.
É tão português que até passa de bestial a besta enquanto o diabo esfrega o olho, um malandro que só conquistou uma reles medalha de prata para um país tão medalhado como se vê nestes Jogos de Pequim.
Concordo com o Comendador (está a tornar-se um hábito), esta homenagem é bem merecida.
Ah, um Cláudio aqui :-)
Nem eu, claudia.
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Comendador, tenho de concordar com a tua lucidez e rigor de expressão: o post é, de facto, brilhante.
No resto, estás fascinado com a miséria, pobreza e desgraças várias da Nigéria, e isso fica-te muito bem, mesmo muito. Também te encantas com o período da adolescência, e sua apetência para os trabalhos manuais e sono ao relento, o que se entende. Finalmente, achas que tem supino valor conseguir passar à frente dos outros, especialmente se isso envolver a entrega de medalhas. Pois.
Só detecto um problemazinho no teu ditirambo. É que o tal rapaz desistiu de uma prova olímpica para que estava inscrito. Talvez com outros rapazinhos nigerianos que tivessem vindo para Portugal, aos quais fossem dadas as magníficas oportunidades que este teve, tal não tivesse acontecido. Porque, independentemente da biografia, quem chega aos Jogos Olímpicos não andou a passar fome ou a estragar o verniz das unhas nos anos anteriores. E quem representa um país, supõe-se, assume uma responsabilidade que pede profissionalismo (no mínimo).
Ah, vai ser impecável ter o rapaz em Portugal a esvaziar de recursos humanos as obras públicas e privadas. Mas esperemos que nunca desista dessa missão.
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jcfrancisco, bem visto.
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Cláudio, é isso. Nem sabe falar a língua, mas conseguia segurar na bandeira.
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Daniel, mas afinal qual é o teu problema? Que todos falem como patrões ou que os patrões sejam antipáticos?
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shark, e eu concordo contigo. É tão fácil esquecermos o poder das medalhas de prata em competições passadas, que dá nisto. Um gajo até julga que pode ter opinião sobre as desistências presentes.
Não me entendas mal: nada tenho contra portugueses que não saibam falar português! Sempre gostei da Rosa Mota, aprecio bastante o nosso Presidente Cavaco Silva e o ex-presidente Sousa Cintra!
Não entendo, eu também não tenho nada contra nenhum português, até porque nascem todos sem conseguir falar a língua. Mas tenho contra esta exploração da biografia de um indivíduo que tanto poderia ter calhado ser atleta na Nigéria ou noutro país qualquer. Fazer dele um emblema de Portugal, quando Portugal se limitou a ser patrocinador, é uma velhíssima história. E feia.
Bem lembrado, o homem do “maravilhento”.
Valupi, eu, não parecendo, sou um tipo sensível. Pobrezas e tipos a dormir ao relento sempre me tocaram fundo. Um sentimentalão, é o que é.
Mas, focando-me (é aproveitar, nem é meu costume focar-me), o post não é sobre tipos que se inscrevem nas provas e depois não põem lá os pés. Isso era um post fácil e até um bocadinho esvaziado, porque até o rapaz assumiu isso e pediu logo desculpa aos patrões, o rapaz sabe que somos nós quem está a pagar aquilo tudo, pois se ele está lá e não pagou nada, o rapaz, esperto, percebe logo que somos nós quem está a entrar com o guito.
O post não era sobe tipos que não aparecem nas provas, Valupi. Sei-o eu, que até nem sou nada de especial a perceber o que querem dizer os posts.
Valupi,
Não repreendas o veloz atleta. A farronca – especialmente a que se manifesta durante refeições ao ar livre ou meia hora antes de importantes desafios de futebol – foi sempre uma das nossas especialidades. Ainda hoje, quando alguém de fora comete a temeridade de ignorar a nossa presença como raça importante no conjunto das nações mafaldas que contribuíram para a História aldrabada, pegamos logo no aerosol e impregnamos o ar com um cheirinho a alfazema e maresia descobrimental, gamal e cabral.
E já que estás a falar das corridas olímpicas de Beijing, onde o Bolt da Jamaica era capaz, como tu muito bem insinuas, de ter batido o nosso representante nos 100 metros com a pixota na mão e a olhar para a namorada sentada nas bancadas, aproveito para te dizer que há várias surpresas doutros tempos muito máximos e extraordinários nos Jogos Olímpicos da Desfraternidade, Desentendimento e Intriga. Estou a rerferir-me, como calculas, aos acontecimentos na Geórgia.
Porque tenho acompanhado esses jogos osséticos com mais interesse, não me admirarei nada se um dia destes me disserem que os russos têm provas fotográficas de centenas ou milhares de mercenários-atletas israelitas, americanos e ucranianos terem batido, contra todas as previsões dos organizadores, o recorde dos 5000 e 10000 metros corta-mato de roldão pela ribanceira abaixo, galgando arbustos e evitando uma ou outra árvore com mais dum palmo de grossura, em direcção a Tbilisi. Se isso de facto vier as ser provado, devem os foragidos ter tido vários barris de Evian à espera deles, e, evidentemente, algumas mudas de cuecas militares frescas que fazem sempre falta em emergências destas, mesmo entre jovens cabeludos acostumados a desfazerem-se dos camuflados e das M-16.
Enfim, mais uma prova que o desporto não tem nada a ver com a política e apenas confirma que “when the going gets tough the tough get going”. O que é preciso é manter o espírito desportivo mesmo em retirada desorganizada.. Disso já sabia o saudoso John Wayne que conquistou Iwojima aos Japoneses com uma mão atrás das costas e a outra não se sabe onde.
Comendador, tens toda a razão. O poste não era sobre tipos que não aparecem nas provas. Era sobre tipos a quem se pagou para aparecerem, que até apareceram e que resolveram desistir a meio. Isto, nos Jogos Olímpicos, ditos o palco da fraternidade entre os povos e celebração do espírito desportivo. Vou repetir: do espírito desportivo.
Mas isto sabias tu, que até nem és nada de especial a perceber o que querem dizer os postes. Apenas te aconteceu teres desistido de o explicitar.
Ah sacana que cada vez que me meto contigo é um dia inteiro a descravar bandarilhas do lombo…
SUBSTANTIA, estás em grande forma. Não há chinesice que te meta medo.
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shark, são bandarilhas de esferovite. Coitadinhas delas que mal aguentam a brisa.
Concordo. Desistir é maricas. E não estou a ser homofóbico. Tuga nunca foi maricas, porra, conquistámos Oceanos. Pouco mais deste aí, mas mesmo em Alcácer Quibir tentámos.
E os 200 metros até é a prova onde o Francisco (Obikwelu) é mais forte.
Ó Valupi, essa do “ditirambo” do Sr. Comendador, só lembra ao Diabo. Logo quando o dito cujo se afirma sabedor e viajado.
Há seguramente um considerável desnível de idades e como gosta de dizer, de capacidade cognitiva entre os dois. Chamar ao seu escrito uma homenagem, só em delírio, como é óbvio.
Quanto a nós: na primeira pendência referente à SEDES, nada foi dito por mim, logo a ironia da sua resposta é duplamente mal colocada. Não tenho os seus dons que competem com o LUKY-LUKY, mais rápido que a sombra nem pensar.
A segunda é sobre o tema “Candeia que vai à frente alumia duas vezes”. Com a lentidão necessária, creio ter uma afirmação válida. É o Valupi. Ele observa, qualifica, conclui: bom, mau, enfim, fica um homem avisado. E, como homem avisado vale por dois, o provérbio fica assim mais claro.
Valupi alumia onde todos não enxergam e brilha. É o seu brilho que o alumia para dentro, e aos outros, o caminho da luz, para fora.
Por razão ainda oculta, considero o Valupi o Daniel Oliveira dos ricos. Tento acompanhar os dois. A exposição pública de um favorece o âmbito da coisa. No seu caso vai havendo umas pontas soltas que começam a fazer sentido.
Saúde da boa para todos.
Por alguma coisa é Português.
ehehe
Valui, se o post é sobre o espírito desportivo (e acredito que o seja, basta-me que você o diga), estamos entendidos.
(mas, caro Valupi, o título do post não me remeteu para aí. nem a citação das declarações do Obikwelu. nem o último parágrafo)
(maneiras que, em sendo sobre o espírito olímpico, e é, você diz que é, isso basta-me, estou de acordo, o rapaz devia ter estado a correr os duzentos metros)
a ignorância é de facto muito atrevida…
o passado e o presente de Francis, deveria merecer mais respeito de quem está cada vez mais “pacheco pereira”, ou seja, especialista em tudo o que seja notícia… não é Valupi?
claro que isto não é apenas html… se percebesses apenas um “cagagéssimo” de atletismo, saberias que nunca houve na história dos jogos olímpicos velocistas com tão boas marcas e que dificilmente o Francis atingiria a final…
não foi por acaso que se bateu o recorde do mundo.
o Francis é tão humilde que até pediu desculpa aos portugueses, pelo dinheiro gasto na preparação, mas antes brindou-nos com várias medalhas em campeonatos da europa, do mundo e nos jogos olímpicos (prata em Atenas…), coisa que nunca tinha acontecido, nem mesmo com muitos turistas de ocasião que nos honram com a mediocridade do costume…
blogamemucho, desistir é maricas. Ora aí estão umas sábias palavras, mesmo que não tenham sempre aplicação (pois há ocasiões onde desistir é inteligente).
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ramalho santos, misturaste vários assuntos. Quanto ao ditirambo, não te entendo. Mas entendo que o 1º texto do Comendador é uma homenagem ao atleta, apenas recorrendo ao registo irónico para efeitos de diálogo com o poste (e para coerência estilística com a “persona” Comendador, claro). Sobre a SEDES, afirmaste que virias mais tarde para discutir a governação. Foi a esse comentário que respondi directamente. Da candeia, tens aí uma válida proposta, a qual vou subscrever sem pensar duas vezes. Finalmente, a relação com o Daniel Oliveira é um coelho que tiras da cartola para surpresa da plateia. Duvido é que ele aprecie a parelha.
Também eu te desejo excelente saúde.
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João Silas, é um português de gema.
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Comendador, para onde te remete o título do poste, então? E as citações? E o último parágrafo? Aguardo, ansioso, as tuas revelações.
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luis eme, concordo: a ignorância pode ser muito atrevida. Mas que tem essa máxima a ver com o que está aqui em causa? O que é que têm os resultados da final de 100 metros a ver com a sua desistência da prova dos 200 metros? Como é que ter opinião negativa sobre a sua desistência nos Jogos Olímpicos de 2008 configura falta de respeito pelo seu passado?
Acho as tuas considerações, que até vão buscar o Pacheco Pereira, assim a modos que atrevidotas.
provavelmente foram, Valupi.
mas irritaste-me com este “post”, porque conheço o percurso de vida do Francis, que chegou a trabalhar nas obras, quando optou por ficar no nosso país, e que não tem nada de “português tipico”.
não podes falar de desistência nos 200m, quando ele falou em dar por terminada a sua carreira internacional, após os 100m.
desistir é outra coisa, é começar uma prova e ficar a meio…
luis eme, se há aspecto da pessoa Francis Obikwelu sobre o qual ninguém discute o mérito, é esse de ter vindo da miséria para a pobreza, e de ter alcançado o estatuto de atleta de alta competição após algumas peripécias. Porém, isso é irrelevante para a situação.
Repara: ele chega a Pequim com um discurso irrealista, falha o acesso à final e anuncia acto contínuo o fim da carreira e a existência de uns problemas nos joelhos de que ninguém tinha ainda tomado conhecimento publicamente. Portanto, para mim ele não só falha o compromisso assumido de representar Portugal o melhor possível (nem que fosse tentar uma melhor marca pessoal nos 200 metros, mesmo que voltasse a falhar as medalhas ou até a final), como envia uma péssima mensagem de dramalhão associado a um resultado desportivo afinal normal. Isto, quer ele tivesse nascido num palácio em Cascais e fosse loirinho de olhos azuis, seria à mesma uma falta grave de profissionalismo e respeito para com a comunidade que lhe pagou a preparação e estadia nos Jogos.
Estar a invocar o seu passado e currículo para contra-argumentar uma opinião que aponta um erro na sua actuação em Pequim, é má-fé.
upi, lamento,
não gostei do post. Mas não gostei mesmo nada, achei até particularmente infeliz a alusão à desistência como marca registada do ‘português típico’, quando usada a propósito do atletismo nacional nos Jogos Olimpícos. Terá sido uma coisinha má que te deu, ao bicares assim a tenacidade do atleta olímpico cá da terra, fazendo-te esquecer um exemplo extremo da não-desistência que marcou para sempre (pelos vistos não o suficiente) a história da participação portuguesa nos jogos olímpicos.
Falo do ano de 1912 e de Francisco Lázaro, um carpinteiro de uma fábrica de carroçarias de automóveis na travessa dos Fiéis de Deus, ao Bairro Alto, um recordista de respeito, mas ignorante e teimoso. Todo ele era brio e amor ao seu Benfica, mais a vontade de não deixar mal a sua terra e a sua gente, tudo isto e mais uma força bruta e pouca lucidez desportiva. Ou outra, veio a prová-lo com a vida.
Em 14 deJulho de 1912, na prova olímpica, alinhou para a partida da maratona todo besuntado em sebo, poros tapados, isto com um calor de 32º. Mas cheio de moral, vamos a isto rapazes, antes quebrar que torcer, daqui sai medalha, olaré! Correu até cair, caiu e levantou-se, três vezes, quatro, cinco, até se acabar esgotado de desidratação no pó da estrada que não só não conseguiu vencer, como ainda permitiu que o matasse. Foi assistido no local mas já estava escrita a história (ainda lhe foi diagonosticada uma meningite, erradamente). Morreu no hospital, horas depois, na madrugada seguinte. Mas não desistiu, isso é um facto e um facto que ele terá querido que ficasse escrito, mesmo com a caligrafia da sua própria burrice. Não que um Obikwelu qualquer provou ser como um português típico, desistindo. Por isso e por favor, faz a ressalva que se impõe neste teu post de discutível acerto, medalha de ouro da injustiça olímpica. Estamos de acordo?
Saudações desportivas e um abraxe (abraço da praxe).
Rui, estamos de acordo que teria sido melhor, para ele e para todos, que o Francisco Lázaro tivesse desistido. Onde o Chico é igual ao português típico, é na irresponsabilidade e síndrome Mamede. Para Portugal, o interesse estava em vê-lo a participar nos 200 metros. E, para Portugal, ter declarações bombásticas só porque uma semi-final não correu de feição não convém, não é exemplar, não dá para ser contado aos miúdos como uma história bonita – porque não a é.
Eu sei que tu entendes isto, havendo abraços suficientes.
Registados os teus votos, vamos à matéria.
Tentando fazer luz sobre o “ditirambo”: ver 1º resposta ao Comendador 1º paragrafo do terceiro grupo “Só detecto um….” como bem sabemos o adjectivo significa delírio poético. Como diria alguém, uma verdadeira farpa. Ou não?
“Chamar ao teu (Valupi) escrito uma homenagem….” brrrrrr.
Sobre a SEDES, ficou claro o desejo (do Valupi) de ser um tema indiscutível? Ou não?
Com a devida ironia sobre coelhos. COELHONE só há um, o da T.D.(ex-P.S.) e mais nenhum.
“Sem pensar duas vezes” é mais uma figura de estilo longe do “brilho” da nossa FAC.
Valupi,
Aqui há uns bons anos tive um problema de saúde. Junto com uma quantidade de outras coisas, o problema de saúde que poderia ter sido curado quase sem recorrer ao teu dinheiro…deu em depressão. Gravota.
Primeiro ainda meti férias e mais uns dias trabalhados e para recuperar. Talvez não fosse por uma razão tão nobre como a que o Francis ontem evocou – lamentar que tivesse que usar algum do teu dinheiro para ficar em casa, mas porque não conseguiria sobreviver enquanto esperava pelo dinehiro da baixa.
Um dia, as férias e os dias acabaram e eu decidi que era capaz. Estava bem. Curada. A desgraçada da minha colega que tinha alterado a sua vida toda para que a empresa não tivesse contratado ninguém para me subsituir, respirou de alívio. Meteu férias para o dia a seguir a eu chegar, a pobrezinha, porque confiou que eu estava em boa forma. Como o Francis disse há uns dias. Melhor que nunca, dizia eu. E eu falava verdade e tudo. Até me esquecera do peito…
No dia do regresso…no dia do regresso…a tensão voltou a subir aos vintes…o peito voltou a querer rebentar e eu voltei a não conseguir olhar, ver, falar com ninguém.
Recorri, então, à baixa. Nada a fazer. A médica dizia que me tinha avisado…mas eu achava que surpreenderia todos. Até ela.
Nunca até hoje tinha tido oportunidade de te pedir desculpas por não ter teimado, por não ter tido força para vencer a dor espetada no peito, sei lá tirando o gajo mesmo, que a gente pode viver bem sem isso,por querer falar e a dor aumentar, por querer trabalhar e nem as mãos, nem a cabeça, nem nada obedecer.
Aqui ficam, Valupi. Peço desculpa por ter usado o teu dinheiro por meter baixa e não ter sido capaz de trabalhar (ele falou em trabalho,ontem, lembras-te?). Não sei, talvez te deixe a morada e tu mandas-me o cheque…tu e os outros todos, a quem eu fiquei a dever não sei quanto dinheiro por ter chegado à conclusão que, na altura, não era capaz de trabalhar. Junta ainda o montante de vos ter mentido a dizer que estava tudo bem, melhor que nunca…e não te esqueças de me meter no role dos verdadeiros portugueses. Afinal nem sou nigeriana com passaporte portugês. Ribatejana, mesmo. Torna tudo mais fácil, espero.
Ah, depois voltei a trabalhar. Não desisti…mas tive que me render á evidência que teria que fazer outra coisa. Ou a porra do peito…não sei se por causa de ter mudado de função também tenho que pedir desculpa a alguém. Mas se achares que sim, não hesites.
Valupi, obviamente não é eu mando a morada e tu mandas-me o cheque…é tu mandas-me a morada e eu mando o cheque. Quem deve o dinheiro sou eu…Desculpa o engano.
pois em havendo dúvidas para onde ir o cheque, dou-me às ordens de vexas.
ramalho santos, continuo a não perceber o teu embirranço com o “ditirambo”. O que o Comendador fez foi, precisamente, um exercício de delírio poético.
Quanto à SEDES, o assunto é mui discutível. A governação é que não, para nosso azar. Explico: não se vê ninguém a discutir a governação, pois isso implicaria apresentar propostas alternativas. Quanto a estas, nicles. O que temos é muitos a discutir os governantes, mas isso é outra conversa.
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isabel faria, lamento que tenhas estado doente, e regozijo-me com a tua recuperação. Mas vais ter de fazer um favor a ti mesma, e reconhecer que estás a disparatar. Quando o fizeres, sentirás um grande alívio. E até passarás a gostar mais do Chico, finalmente reconduzido ao estatuto humano e cívico onde também se pode falar sobre ele de forma crítica, não apenas apologética.
eu não vi,
concordo com isto, em geral:«Desistir é maricas. E não estou a ser homofóbico», com a ressalva do Valupi.
mas para mim, seja como fôr, já chega de bater no burro caído
a seguir vem jegue
Valupi, não costumo sentir alivio quando os outros acham que eu estou a disparatar Nem sequer com os disparates dos outros.Quanto muito, acho piada.
E não lamentes, já nem me lembrava, só o facto de me recordares que eu te devia dinheiro é que me lembrou…
E tu fizeste um post critico?
” Quanto à desistência, está a ir-me ao bolso. Este nigeriano com passaporte de Portugal que tem vivido e treinado em Espanha…”, desculpa lá Valupi, já não somos putos nem jogamos caricas.
ora finalmente um social-darwinista assumido:
“A crise tem a vantagem de seleccionar os mais capazes e sólidos. Há sempre gente que se safa nestas situações.”
Horácio Roque, banqueiro, “Diário de Notícias”, 17 de Agosto de 2008
encomendo-lhe o espelho, senhor
a sua barriga
e sr. roque, cá também:
http://diariodigital.sapo.pt/dinheiro_digital/news.asp?id_news=103160
isabel, não desistas da conclusão dos raciocínios e respectiva expressão verbal. É precisamente por já não sermos putos que devemos assumir o nosso pensamento. Ora, na frase “Este nigeriano com passaporte de Portugal que tem vivido e treinado em Espanha é, infelizmente, demasiado parecido com muitos de nós.” onde está a tua razão de queixa?
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Z, li a entrevista do senhor Roque. Mais um português típico.
Valupi,pedindo-te para fazeres o mesmo, sabes que a frase que te “roubei” não começava aí. Aliás, até presumo que sabes que o meu comentário era sobre a parte da frase que te roubei e que não está aí, ou não?
Venho regularmente ao Aspirina, mas confesso que te conheço demasiado mal, para saber se usarias ou não o lugar de origem, o pormenor do passaporte ou o sítio onde treina, se tivesses feito um post sobre a menina do judo que culpou o árbitro, ou o outro atleta que culpou a hora…não sei. Logo não falaria disso. Logo não me roubes o bocado da tua frase de onde saiu o meu comentário. Porque senão além de delirante fica coxo…
Estás agora a referir-te a outra frase, isabel, saindo da tua própria citação de uma frase minha, a qual ficou incompleta e apenas deixou uma sugestão completamente evasiva. Mas tudo bem, vejamos o que trazes no bornal: que eu não falaria do passaporte da menina do judo. Certíssimo. Mas caso ela tivesse desistido de uma prova olímpica, mereceria igual censura. Se escreveria sobre ela, não faço ideia, pois a sua notoriedade é mínima quando comparada com a do Obikwelu. Na referência à Nigéria, passaporte e Espanha está, e precisamente, a relação connosco: apesar de factores culturais e contextuais diversos, este atleta fracassa eticamente ao abandonar a competição a meio do seu compromisso.
Daí o dinheiro, que é uma imagem das responsabilidades inerentes à representação nacional sob patrocínio do Estado. Como estamos a falar de desporto, ainda pior. Porque é desporto, apenas desporto, um luxo.
Valupi, vamos lá clarificar isto antes de ir jantar.
A tua frase que eu citei no comentário das 19, 26h, era esta: ” Quanto à desistência, está a ir-me ao bolso. Este nigeriano com passaporte de Portugal que tem vivido e treinado em Espanha…”. Basta lá ires ver.
O meu comentário era sob essa noção do “teu dinheiro”. Referi, é verdade, a questão da nacionalidade que tu evocavas, mas não era sobre isso o comentário. Baste relê-lo, se tiveres paciência.
E não concordo que o desporto seja um luxo…desculpa lá, mas isso é uma noção algo…esquerdista da coisa…pelo que te conheço, olha com essa é que me surpreendeste!
A minha discordãncia é pois esta e foi isso que tentei dizer no comentário disparatado: se a questão que te incomoda é ética, então não lhe metas dinheiro. Se lhe metes dinheiro tens que fazer um balanço. O que lhe demos e o que ele nos deu…não é possível, pois não? Então talvez o erro seja mesmo misturar as duas coisas…e, desculpa, mas penso que foi o que fizeste. Pelo menos, o que eu entendi que fizeste.
Provavelmente o valupi o único desporto que alguma vez praticou foi mappleing, no entanto, poe-se a criticar o Obikwelu, provavelmente não lhe passa pela cabeça o que um atleta sofre. Quer a nível físico que emocional. Não esquecendo que muitos deles nem podem fazer o tipo de vida que as pessoas de mesma idade!
Enfim Valupi ao jeito Rogeiro a comentar em todos os sentidos, com a soberba, essa sim, característica de um certo tipo de português!
Gostava de ter o teu jeito para fazer amigos, Val.
isabel, isso são duas frases. Mas adiante. A convocação do dinheiro é metonímica. Estou a fazer referência aos impostos, os quais servem para preparar e levar atletas aos Jogos Olímpicos. E depois acontece isto: um atleta que ganhe fama nos JO, vindo a concorrer noutras provas ou a ganhar dinheiro com patrocínios e publicidade não o entrega ao Estado. O atleta é voluntário, mas a outra face é a de ser profissional, pois aceitou dinheiro e condições especiais que o Estado lhe entregou e facultou. Portanto, sim, posso fazer referência ao dinheiro quando estou a criticar aquilo que julgo ser quebra de compromisso.
Não consideras o desporto de alta competição um luxo? Então é o quê? Aguardo, com ansiedade, a tua resposta.
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Antão, larga o vinho.
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Gostavas, mas não tens, ganda tubarão.
De facto a sua educação é um assombro! Isto já para não falar nos argumentos! Até o Rogeiro tem argumentação mais inteligente!
Valupi, meu caro, vamos a isto:
a) O título. “Obikwelu prova que é um Português típico”. Dos que desistem. Dos que arranjam desculpas. Dos que inventam maleitas para justificar porque não são melhores do que os outros.
b) As citações. Tanta ambição, e afinal o tipo desiste.
c) O último parágrafo. “Quanto à desistência, está a ir-me ao bolso. Este nigeriano com passaporte de Portugal que tem vivido e treinado em Espanha é, infelizmente, demasiado parecido com muitos de nós.”. Mais uma vez, a última frase a colar com o título (ver a)). E o supremo argumento, nós pagámos e o tipo vai-se abaixo.
Foi isto que me fez salientar o percurso do rapaz. Que não desistiu, que foi ambicioso, que (aqui é a minha opinião) deu mais a Portugal do que Portugal lhe deu a ele.
Mas, você disse e eu acredito, o post é sobre o espirito olímpico. E por isso, estamos entendidos.
Antão, essa do Rogeiro foi violenta.
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Comendador, muito obrigado pela explicação. No entanto, discordo da afirmação que vê no dinheiro o supremo argumento. O argumento supremo está naquilo que o dinheiro representa: o compromisso. E o compromisso implicava a participação nas duas provas. O atleta, porém, e por razões pessoais, abdica de metade da sua prestação. O poste é sobre esta desistência, a qual ofende o país que representa e o espírito da competição.
É indiferente, irrelevante, errado, ir buscar a biografia. Seria igual o juízo sobre a sua atitude caso ele nunca tivesse trabalhado nas obras (ui, que horror, coitado, a trabalhar nas obras!), ou tivesse nascido em Portugal (ui, incrível, coitado, veio da Nigéria com 16 anos!). Não importa para nada que ele tenha sido ambicioso, que nunca tenha desistido, que tenha sido um herói. Porque, lá está, não é isso que está a ser avaliado. O seu mérito relativo a um percurso e a outras prestações é indiscutível, e por isso já colheu prémios e louros, estima e benefícios. Mas tal não lhe dá imunidade.
Ele errou em Pequim. E até o modo como errou teve algo de nosso, de sentimentalão. Só que esse lado era dispensável, pois teria sido muito melhor, para todos, ter ouvido após a meia-final falhada que ele iria tentar o melhor resultado nos 200 metros. Isto teria sido de atleta olímpico, não necessariamente de português.
(cá entre nós: fartamo-nos de ganhar ouro dissimulado no Phelps porque o fato é made in Portugal, choque tecnológico; trata-se de passar do sensível ao inteligível, semiose; eu sei, eu sei, é esta mania de sermos discretos quando era suposto dar nas vistas)
Foi giro vê-lo cascar na Sedes e a seguir cascar no português típico. Típico de português , sem rumo.
comendador,
um beijo. na boca.
pelo seu primeiro comentário.
(todos os outros tinham sido escusados, acredite em mim)
“Daniel, mas afinal qual é o teu problema? Que todos falem como patrões ou que os patrões sejam antipáticos?”
Os dois (eu disse arrogantes, altivos e mesquinhos, tudo pior do que antipático) associado a um terceiro: que todos falem como patrões arrogantes, altivos e mesquinhos quando nem patrões são. Geralmente são apenas arrogantes, altivos e mesquinhos porque gostavam de ser patrões e não são. Com a medalha que teve há nos últimos jogos e mais algumas vitórias importantes o Francis já justificou todo o dinheiro que se investiu nele. Não lhe parece? Isto para um país que, como temos notado, não nada em vitórias.
Valupi, tens razão…há um ponto final. São duas frases. Apenas escolheste aquela de que o meu comentário não falava. Mas não é importante, mesmo.
Quanto ao desporto de alta competição ser de luxo…deixa-me apenas deixar duas reflexões (e olha que a ansiedade dá-nos cabo do coração…e também não é caso para tanto…): há uma contradiçãozeca entre lembrares isso e aludires ao espírito olimpico, justificando o teu post com ele, não há?
Quando te falei no tal esquerdismo, lembrei-me de alguns dos que costumavam (costumam) navegar nas mesmas águas que eu e para quem tudo o que não fosse uma bigorna, um estaleiro e uma enxada…era pequeno burgês. alienante e só servia para atrasar a Revolução que se não fosse isso, seria nesse dia ao anoitecer…o desporto, a cultura…luxos pequeno-burgueses e mai nada!!!
Porque só a eles alguns têm acesso? Sim é um luxo. Porque é caro (parece que aqueles fatos dos nadadores custam umas boas centenas de Euros), sim é um luxo? Porque para se lhe ter acesso é necessário muito mais trabalho do que investimento monetário? Não, não é um luxo. Porque quem a ale chega, tem que abdicar duma porrada de coisas que nós, “comuns mortais” nos damos ao luxo de fazer? Não, não é um luxo. Porque perdeu o espirito inicial e se transformou num negócio económico e político? Sinal dos tempos.Mas não me parece que luxo seja a palavra. Porque acaba por servir de motivador e de consciencilizador de jovens e menos jovens para a importância do desporto para o bem-estar físico e psicológico? É um luxo que vale a pena.
Mas, resumindo, se é um luxo, no caso do Francis, da Vanessa e de outros tantos é um luxo para o qual me dá gozo ter, insignificantemente, contribuído…Com a consciência que, no deve e haver, lhes fico a dever muito mais a eles que eles a mim…ninguém é perfeito, e já me convenci que a Revolução é bem capaz de ter que ficar para o amanhecer…logo, dá-me um gozo do caraças ver um gajo a ganhar oito medalhas..ou a não ganhar nenhuma mas a sentir que valeu a pena o trabalho para lá ter chegado.
Z, bem observado.
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pois é, explica lá isso melhor. Que tem a SEDES a ver com esta questão da desistência?
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Daniel, parece-me que invocar vitórias passadas para legitimar desistências presentes é pura má-fé. E eu preferia mil vezes ter um patrão arrogante, altivo e mesquinho a ter um patrão, ou colega, que usasse de má-fé para argumentar ou avaliar. Mas pior. Relacionar investimento com medalhas é tecnicamente estúpido, pois levaria a reduzir o investimento a 3 ou 4 pessoas. Seguindo essa (falta de) lógica até à sua conclusão natural, alguém errou ao levar Obikwelu a Pequim (para já não falar nos outros todos que de lá sairão sem medalhas), posto que ele já tinha sacado a medalhita em Atenas e nada nem ninguém poderia garantir que repetisse a façanha. O teu raciocínio é confrangedoramente provinciano, quem diria.
E, claro, não discutes o que está em discussão: ao desistir dos 200 metros, deixou pela metade o seu compromisso.
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isabel, muito obrigado pela tua rica resposta. Não vejo qualquer contradição entre o ideal olímpico e a alta competição, por um lado, ou entre a alta competição e o luxo, por outro lado. O ideal olímpico é apenas um horizonte de realização, indicando uma meta. A noção de que a nobreza está em dar o melhor, independentemente do resultado, mantém-se válida para quem a assumir. Assim, pouco importa se o atleta é amador ou profissional, pois em ambos os estatutos estará em causa algo que transcende essas circunstâncias, e que se liga directamente ao seu carácter e vontade como ser humano. É nisto que reside a grandeza da participação: dar o melhor, para melhor valorizar o vencedor, o qual estará a valorizar todos os seus competidores. Um por todos, todos por um, afinal. A relação com o luxo é evidente: a alta competição é um luxo porque não satisfaz qualquer necessidade básica ou secundária, como é óbvio. Não serás tu a negar esta relação: havendo pessoas que não têm dinheiro para salvar a sua vida, para dar um exemplo caricatural, estar a pagar para um grupo de indivíduos correr atrás de outros numa pista é completamente absurdo e maligno. A questão, porém, não se pode pensar neste simplismo, e tu própria explicas como este luxo entra na economia através do espectáculo: “dá-me um gozo do caraças ver um gajo a ganhar oito medalhas”. Pois sim, claro que dá, é inspirador, pode fazer despertar vocações, não deixa é de ser um luxo. Porque, por essa mesma razão, dá um gozo do caraças ter um Ferrari ou um veleiro, poder usar ou oferecer diamantes e possuir um palacete com piscina e criados solícitos.
Repara: ter opinião sobre a desistência do Chico não impede essa outra opinião sobre a sua carreira e biografia. Só que o poste não faz um balanço da sua vida, apenas da sua ida ao Jogos Olímpicos de 2008.
Asno pomposo.
“Só que o poste não faz um balanço da sua vida, apenas da sua ida ao Jogos Olímpicos de 2008″
Poste? Ele não é basquetebolista é velocista, ou pelo menos era!
Antão, dizes bem: era.
cada número é número de alguma coisa,
Aristóteles, Metafísica
Valupi, hoje acordei existencial, tenho um dia de trabalho pela frente. Deixo-te para aí uns pensamentos e questões, mas não, não estou aa encomendar trabalho, estou a conversar com um amigo.
Ontem à noite estava a pensar: a vida é semiose – comunicação bioquímica, genética, verbal, icónica, táctil e sei lá que mais. Lembro-me quando há muitos anos vi o Greimas na Faculdade de Letras, o homem do quadrado semiótico, interrogando-se sobre o sentido da vida. Mas tanta semiose à conta de quê? Concordas que a evolução visa a libertação da matéria, e da gravidade, e a elevação para a luz?Ainda hoje não consigo ver outro sentido. Parece que no plano esotérico há 7 planos de elevação, o último dos quais é o sopro primordial.
Tive de lidar com o tetragrama grego da fatalidade, da tragédia. Ao koros, jovem guerreiro, arrogante, sucede a hybris, o excesso, que propulsiona alguma impiedade dos homens que suscita o castigo dos deuses, a athé, a que se sucede a destruição, a nemesis. Depois sobre as ruínas renasce outro koros…
enjoativo, não? Não tens nenhum antídoto contra isto? Uma benção de Deus ou assim? Não entendo os deuses sovinas. Seneca dizia que os deuses eram aspectos distintos da unidade.
Agora deixa cá ver se atino com a minha nova máquina.
O Pedro bazou?
Francis ganhou muito para Portugal. Justificou largamente o que se investiu nele. Foi o único que perdendo não procurou justificações. Foi honesto e assumiu as suas responsabilidades (muito, muito pouco português), disse que este era o seu trabalho e que tinha falhado para com o seu patrão (o Valupi).
Chegou com outras expectativas elevadas porque se sentia bem. Fez aquelas declarações porque não tem um discurso derrotista (muito, muito pouco português). Confrontado com a realidade do momento viu que não era mais do que o melhor europeu (típico no atletismo português). Foi também confrontado com a realidade que constatou que não tinha mais nada a acrescentar para Portugal. Foi profissional (muito, muito pouco português), encarou os Jogos Olímpicos como algo sério com que não brinca.
Era inevitável que o viessem criticar com argumentos pífios e desmemorizados (típicos do português).
Z, às tuas interrogações deixo-te com a minha: tanto espaço, tanta matéria e tanta energia no Universo para quê? Se pensarmos que o Mundo já foi imenso e hoje é pequeno demais, talvez haja aí, na contemplação da quantidade cósmica, uma pista para o que a evolução anda a fazer.
Falas de que Pedro? E de que bazanço?
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Radagast, também tu és um português típico, bem-vindo ao clube. À pergunta pelos falhanços do presente, vais a correr buscar as glórias passadas.
“Confrontado com a realidade do momento viu que não era mais do que o melhor europeu (típico no atletismo português).” -> E por isso, por ser apenas o melhor europeu, desistiu de uma prova para que se preparou durante meses ou anos. Enfim, não só és um patrício castiço como também és um cómico de mão-cheia.
contemplação da quantidade cósmica é bonito Valupi, dá para andar muito entretido
depois digo alguma coisa
a minha nova máquina é uma maravilha
não vos ocultando informação,
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1339550&idCanal=57
->passear
O Francisco Obicoelho já justificou mais o dinheiro nele investido do que muitos celtiberos e lusitanos que andam a arrastar os pés e o cu nestas e noutras Olimpíadas. Lamento concordar nesse ponto com o Daniel Oliveira, que diz várias parvoíces alhures. Uma pessoa que defende que o dinheiro de todos seja bem gasto só na cabeça dum parvo é que se confunde com um patrão arrogante e mesquinho ou com um frustrado que gostaria de ser patrão mas não consegue. Continuação de boas férias.
O desporto é o sector que se paga a si próprio, é por isso que a Europa investe nele há mais de um século…excepto Portugal, que é do Terceiro Mundo!O desporto profissional europeu,incluindo o futebol, gera milhões de euros porque recolhe os benefícios do investimento para criar populações exigentes desportivamente. Na última década, nos Jogos Olímpicos os pequenos países europeus ganharam uma medalha por menos de 1 milhão de habitantes, as quais custaram menos de 40 milhões de dólares de paridade de poder de compra de PNB. Portugal ganhou 1 medalha por 5 milhões de habitantes, custando cada medalha 100 milhões de US$ppp. Isto demonstra que somos uma nulidade no aproveitamento dos nossos recursos humanos e ineficientes quanto aos económicos. Se tivéssemos ganho 5 medalhas estaríamos a conquistar o dobro do que tínhamos feito até agora. Caso fossem 10 era sinal de que estávamos perto da alta competição mundial e do seu óptimo de produção. Os nossos políticos só se preocupam com duas coisas: leis de bases e mega-eventos, decisões exclusivas para produto interno. A verdadeira Europa investe na sua população e na alta competição, ao mesmo tempo que regula o mercado privado minimizando o risco que são os agentes privados associativos e empresariais.O Livro Branco do Desporto da União Europeia diz que o sector desportivo representa 407 mil milhões de euros (3,56% do PIB). O PNB desportivo de Portugal é de 0,5% (2 mil milhões de euros). Isto mostra que o nosso potencial está longe de ser alcançado por dois motivos: o desequilibro da estrutura de produção e a inferior literacia desportiva nacional. A inferior literacia começa nas escolas.
E-mail de uma professora de 10ºano da Escola Secundária Luis de Freitas Branco em Paço de Arcos para um dos seus alunos
“Constato que têm perdido muitas aulas de FQA devido a provas desportivas coincidentes com estas aulas e pelo que se vê, todas justificadas! Certamente que esta situação se vai reflectir no aproveitamento.” “
cheira-me que ainda vou ficar com sentimentos de culpa de não ter visto nada disto,
http://olimpicos2008.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1339576
mas ó Socras, é porque no teu mandato fui despedido inconstitucionalmente, como sabes, catástrofes fiduciárias têm consequências…
oh diabos,
http://www.agenciafinanceira.iol.pt/noticia.php?id=982762&div_id=1730
hum, ainda falta Setembro, vamos ver, lembras do meu relatório ao governo, Sócras?
parece que ainda vamos ficar bem,
http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=105989
agora vai a minha última torta de Azeitão, nham!, :))
Em Roma, sê Romano!
Eu explico. Tem a ver , eu li bem , que a propagação de um clima de desconfiança não era propício à criação da confiança. Ora , associar a desistência a um suposto carácter português , é o qùê? Eu cá acho que é meter mais uma hacha ( tá bem escrito?) para a a profecia que auto se realiza : quando um homem pensa que alguma coisa é verdadeira , ela se torna verdadeira nas suas consequências. Ou seja , andando aqui aos quatro ventos publicitando a tendência para a desistência , está a avalizá-la e a perpetuá-la. Acho eu , que me estou borrifando para a Sedes e pro Obi.( o gajo de quem se fala). Ou seja , entre o bota abaixo da Sedes e o seu , venha o diabo e escolha.
“Português pediu desculpa por ter falhado a final dos 100 metros. “Agradeço a todos, porque estiveram a ver-me na televisão, e peço desculpa. Estou a ganhar dinheiro, porque o povo português está a pagar para eu estar aqui e não consegui chegar à final.”
Por favor, “importem” mais portugueses destes!
Era bom que todos os portugueses a atitude de humildade de Obikwelu. Será que algum dia vou ver e ouvir políticos e gestores do dinheiro público, a (pelo menos) a dizerem “desculpem, geri mal e delapidei o dinheiro que era povo português”.
Isto foi o que não fez, (por exemplo) o presidente do grupo Águas de Portugal ao contestar o relatório do Tribunal de Contas que, detectou dívidas de 1,7 mil milhões de euros à banca, gastos de 2,5 milhões de euros em viaturas atribuídas a administradores entre 2004 e 2006 e várias irregularidades como a acumulação de funções dos administradores do grupo.
já agora, medalha de ouro,
o Alan Badiou, Le Nombre et les nombres, Ed. du Seuil, 1990
traduzido pelo Robin Mackay
Number and Numbers, Polity Press, 2008
termina com:
‘like a god, I put in order neither one nor the other…’,
tradução de:
como um deus, não arrumei nem uma coisa nem outra
do Reticências, 1929 de Álvaro de Campos aka Fernando Pessoa
(Tel un dieu, je n’ai mis de l’ordre ni dans l’un ni dans l’autre -> trad. de A. Guibert, citado pelo Badiou)
estancada?
não haverá por aqui um equívoco? Também pode ser hemorragia estancada, vulgo deficit
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1339675&idCanal=12
não gostei deste post, é demasiado vazio e sem conteúdo, é uma pena gosto bastante de ler o que normalmente anda por
Também não gosto de anónimos: não existem.
http://clix.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/391286
z, :-) Eu fui desses… zzzzzzzzzzzz…
pois, mas imagina que agora ando com sentimentos de culpa – ao menos esta deu o máximo, mas só soube depois
hoje até fui comprar o Público para ver o que acontece, não ligo a tv há milénios, lá terá de ser
trufa
Z, és um verdadeiro comentador olímpico.
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Nik, muito bem observado. E dá ideia que vais estar um ano de férias.
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Aldina, sabes copiar.
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Um visitante que não se vai identificar, fizeste o melhor comentário.
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Maria, não está em causa a sua declaração, e a simpatia que gerou. Está em causa a sua desistência, e a apatia que a legitimou.
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anónimo, não gostar é tão valioso como gostar. O que importa é ter critérios e vontade de os partilhar. Muito obrigado.
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claudia, somos todos não-existentes, anónimos, mesmo os que se imaginam identificados.
Esse ganda sacana que promete, promete e depois falha, precisamente agora que dava tanto jeito esfregar umas medalhas nas fuças destes bárbaros dados à melancolia e ao desastre.
É preciso ter nervos de aço, este nosso primeiro.
Assim como é que um gajo governa esta cambada de bêbados?
Ainda por cima o Benfica com uma equipa daquelas.
Treze meses, carago, treze mezes.
“Também não gosto de anónimos: não existem.” hemm !!!!! confirma-se que este blog já teve melhores alturas
anónimo, este blogue não só já teve melhores alturas como também já teve muito melhores larguras. Vê-se que estás atento.
ora portanto: altura vezes largura dá uma área, mas ainda temos que acrescentar a profundidade e dá um volume, e se ainda multiplicarmos pela complexidade dá um hipervolume, um conteúdo quatro-dimensional,
Ai Valupi, tu tás-me cá um filósofo, mas no silêncio do meu quarto, penso tantas vezes nisso: que somos todos uns anónimos :-) You’re so right!
poça, custou mas foi,
amigu
http://diario.iol.pt/desporto/nelson-evora-portugal-jogos-olimpicos/983456-4062.html
pauzudo
um
dois
http://clix.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/392725