O arrastão da inteligência


Quero agradecer ao Al Gore por ter inventado a Internet, engenhoca sem a qual nunca teria recebido esta prova de afecto.

Daniel Oliveira é o melhor discípulo de Pacheco Pereira. Ambos mergulharam nas mesmas águas ideológicas na loucura da juventude, tendo provado o embriagante fruto do radicalismo. Tal como nas experiências com LSD, para o resto da vida passam a estar sujeitos a alucinações. E tal como com o Pacheco, temos visto o Daniel a caminhar para um centro difuso, aceitando compromissos vários em nome da sua carreira de publicista. E justifica-se, porque é uma vida muito boa essa dos que recebem dinheiro para botar opinião. São como os músicos, a quem se paga para fazerem o que lhes dá prazer e envaidece. Se eu pudesse, faria o mesmo, olá.

Mas o que eu nunca faria, e peço que não me deixem fazer, era perder uma oportunidade de ser inteligente. Porque quando se começa no desleixo, folgando a rigorosa disciplina, acaba-se rapidamente na imbecilidade. Ora, temos de ajudar o Daniel a não cair nessa armadilha, pois é duvidoso que alguém queira saber no que pensa um imbecil. É adentro deste projecto destinado ao fracasso que te convido a ler uma grotesca imbecilidade. Se acreditares no que leste, vais acreditar que o Papa está a influenciar positivamente o aumento dos casos de SIDA, de aborto e de miséria demográfica. Claro que aqui te poderás perguntar como é que se cola o aumento do número de abortos com o aumento demográfico, mas deixa lá isso. Por agora, o que importa é reconheceres que ao acreditar no autor isso produz um efeito em ti: dás-te conta que te tornaste num imbecil. E eu pergunto: gostas? Claro que não podes gostar, pois isso obrigaria a que fosses ainda mais imbecil do que já és após a leitura do texto, e tal não é quimicamente possível. Portanto, não gostas de ser imbecil; e esse é o lado bom da ideia que defende uma relação entre Papa, SIDA, aborto e aumento demográfico. Pronto. Descansa um bocadinho, bebe água e volta para o parágrafo seguinte.


Aposto que estas mesmíssimas ideias sobre o Papa e a Igreja Católica são subscritas pela enormíssima maioria dos militantes e simpatizantes do Bloco e do PCP. E se lhes perguntássemos se o Papa, para além de advogar o uso do preservativo, também deveria promover as relações sexuais sem vínculo conjugal junto dos católicos, só porque é natural apetecer foder com quem se namora – ou com quem calhar, pois somos livres, oh pá, e as conas e os caralhos não servem apenas para mijar – é certo que a resposta seria ruidosamente afirmativa. E se lhes perguntássemos ainda se, em vez de comungar com hóstias, os padres fariam bem em usar batatas fritas, por serem mais saborosas e estaladiças, é muito provável que eles aclamassem a opção, e até que sugerissem a troca do vinho pela cerveja, que sempre tem menos álcool e é mais refrescante no Verão.

Que um miúdo de 15 anos seja um bronco justiceiro, é bom. Anuncia o começo de um interesse pela vida pública, pelas grandes causas. Mas aos 18 anos já deveria ter desaparecido essa bronquite nascida da imaturidade e ignorância, e em caso algum se permitir a entrada numa universidade a quem ainda estivesse nessa condição peculiarmente estúpida. Ora, a barbaridade que nos reúne debaixo deste poste acaba de ser publicada em 2008 por um fulano que o Expresso, a SIC e o Record consideram de valor jornalístico, político e cultural. O que cria um berbicacho do tamanho do Cristo-Rei: que acham os dirigentes destes órgãos de comunicação social da ideia de se atribuir ao Papa uma qualquer responsabilidade no caso de alguém ficar contaminado pelo vírus da SIDA, ou decidir abortar, ou ser progenitor? Estou como tu, cheio de curiosidade. O que podemos fazer é imaginar as consequências de ser legítima essa relação, e vai assim: se o Papa estivesse a ser cúmplice do aumento dos casos de SIDA, ele seria um criminoso perante a lei de muitos países, se não forem todos os países. E se ele fosse um criminoso, o presciente Daniel Oliveira tinha o direito – e a obrigação – de o denunciar às autoridades. Será que o vai fazer? Veremos esse dia em que alguém do Bloco põe o Papa em tribunal ou no xilindró? É esperar.

E enquanto esperamos, recapitulemos a questão. Existe uma religião que defende a virgindade e castidade para os seus membros ordenados e para os seus membros leigos que ainda não tenham casado. Essa religião, não contente com a aberração da virgindade e castidade pré-matrimonial, ainda vem com ideias de amor, respeito e fidelidade até que a morte separe o que Deus uniu. Depois, essa religião lembra-se de ir falar com os seus membros casados, dizendo-lhes que existem métodos anticoncepcionais legítimos e ilegítimos à luz da fé que esses casais livremente adoptaram e previamente compreenderam. Um desses métodos ilegítimos para a vida do casal católico é relativo ao preservativo. Isto, como dizem os franceses cultos, não é propriamente rocket science. Pois o Daniel acha que esta religião está a fazer com que os seus membros, ao ouvirem falar em proibição do preservativo, se telefonem uns aos outros em frenesim e marquem sessões de troca de casais, orgias com os vizinhos e sessões de quarto escuro em vez do ensino da catequese. O Daniel também considera que esta religião está a fazer com que indivíduos de outras religiões, ou sem religião, deixem igualmente de usar o preservativo sob influência das encíclicas papais, assim se explicando, por exemplo, o aumento demográfico na China e Índia. Obviamente, o Daniel é um imbecil.

Foi isso que lhe fui dizer. Eis o filme da ocorrência:

O resto desta última resposta do Daniel está a abrir o poste. E a minha última resposta saiu truncada e incompleta, substituindo-a pelo que segue.

Este episódio pode ser visto como mais uma banalíssima flame war, das tantas que nos divertem em tertúlias. Eu prefiro vê-lo como grave ofensa à inteligência. Um tipo que pensa que o Papa quer contágios e abortos não merece qualquer atenção, seja lá o que for que diga a seguir em matérias de intervenção pública. Mas acontece-me ter uma explicação para o fenómeno, e daí este mastodôntico lençol. Primeiro, o Daniel não compreende o que seja uma experiência de fé, vendo o fenómeno sociologicamente. Segundo, nunca ninguém conseguiu explicar ao Daniel que o exemplo de Jesus é o da rebeldia contra a obediência cega, o que faz do cristianismo (mas não só) uma escola de lucidez e coragem – portanto, o que faz do catolicismo uma escola de lucidez e coragem, pois é esse o exemplo que se ensina e louva na Igreja. Terceiro, o Daniel concebe a obediência religiosa, no caso católica, como concebe a obediência partidária dos ambientes que frequenta ou frequentou. Mas que todo o mal fosse este.

Como se viu no diálogo, o homem não reconheceu qualquer erro de avaliação ou raciocínio, manteve a sua inacreditável e vergonhosa posição. Chegou ao ponto de ser infantil, acrescentando ao seu poste uma distorção idiota nascida da nossa conversa. Então, isto é grave. Porque, como ele, deve haver muitos, até piores, à espera de mandar em alguém. E se esta gentalha da esquerda imbecil exibe défices cognitivos assustadores em problemáticas tão simples, como será com as complexas? Se alguém não admite um erro crasso, antes reincide e agrava-o, temos sarilhos a caminho de se tornarem desastres.

Anda no ar uma qualquer união entre o PCP e o Bloco, pela sublime razão de aparecerem sondagens a torná-la interessante. O oportunismo político destes dois partidos já saliva com a visão da terra prometida onde os amanhãs cantam e dançam, enquanto o maná é produzido em cooperativas. Se acontecer uma hecatombe que os leve para o poder, é inevitável que o Daniel Oliveira e o Bernardino Soares dêem voz de prisão ao Papa no caso deste ter a estultícia de vir a Fátima promover a SIDA e os abortos. E se o facínora resistir, vai de arrastão.

52 thoughts on “O arrastão da inteligência”

  1. Ena, ena…
    Cada vez fazes-me lembrar mais o Monty de saudosa memória, pá. Assim entendo a minha valupite aguda, este fenómeno estranho que me leva a ficar (quase sempre) do teu lado nestas guerras sem quartel mas com muitas palavras a fortalecerem a trincheira do irredutível gaulês que aqui se firmou.
    O Papa é coerente com o raciocínio simplista da Igreja que lidera e que faz escola nos raciocínios simplistas de quem não o grama. Eu não o gramo, mas concordo contigo no que respeita à displicência do discurso em causa.
    E já agora, bang bang: onde reside a imbecilidade do post, na tua aparentemente sólida opinião a respeito da cena?
    É mesmo só para não ficar no ar a ideia de que és mais papista que o Papa, coisa que fica sempre mal quando o próprio está no cerne da questão…

  2. Mas o que é isto?
    Tanta palavra para quê? Quem é fundamentalista católico que faça o que o Papa diz, os outros que façam o que a sua consciência manda. Não vejo qualquer motivo para toda esta retórica e troca de galhardetes entre bloguistas.
    E já agora, o que têm o Bloco e o PCP a ver com isto?
    Será que a (improvável) convergência entre os dois partidos já está a fazer tremer o pessoal do PS? Porque razão?

  3. Infelizmente em matéria de religião, as opiniões variam.
    Na verdade o catolicismo apareceu no III século, em alturas conturbadas do domínio Romano. Sendo os romanos tão assérrimos nas suas crenças politeístas, adicionaram aos seus costumes cristãos, para assim surgir uma crença comum. Eis quando surge o catolícismo com a chamada trindade, que engloba crenças pagãos e crenças cristãs.
    Portanto, qual a credibilidade que pomos numa religião assim?
    É claro que os que se dizem católicos, nem sequer conhecem tais coisas e tão pouco se importam com proibições que só a eles diz respeito.

  4. val,
    gastar tempo com daniel oliveira (quem raio é o daniel oliveira?) é perdê-lo. Estou espantado contigo, ao ver-te reconhecer um estatuto de pensador a um tolo igual a vinte mil que aparecem (e desaparecem, graças a Deus) na crista das modas por ter uns amigos no Frágil. E aí encontas a tua resposta, a tal que procuravas. Se acontecer uma hecatombe que os leve ao poder ela será tão definitiva, tão hecatômbica, que não vai haver poder. Só uns patetas na rua a bater tachos e a sonhar com o Maio 68, onde poderiam ter tido a oportunidade com que sonharam as suas patéticas vidinhas inteiras: ser alguém, na medíocre política nacional que se faz nos espaços de protagonismo mediático.
    A arrogância fede, neste idiota, um verdadeiro Cláudio Ramos da opinião. Pacheco ao pé dele é um tímido, modesto até mais não. Basicamente: bardamerda.

  5. Ó Valupi, tu disseste mesmo que um católico não deve obediência à Igreja? E “está-se nas tintas para o que diz o Papa e para o que diz a Bíblia”? Tu estás a falar a sério? Mas então a Igreja Católica é assim uma espécie de Casa da Mão Joana, ou clube de debates na net? Tu és mesmo católico, ou estás a gozar com a tropa? Ó pá, tu arrepia caminho que nem os rebeldes da Teologia da Libertação se atreveram a tanto, pá!

  6. Pena que uma discussão que poderia ter sentido e interesse (o que é que significa “bem querer”, ou melhor ainda, o que significa o verso de Camões “não querer mais que bem querer” e como se pode aplicar à problematica na origem do post) descambe para o insulto, a pose e o confronto de egos.

    Quando sairem do recreio e derem conta que nenhum conseguiu partir a tromba ao outro, a não ser nas mentes dos respectivos fans, avisem.

    No meu modesto entender, esta troca de postes é do pior que a blogosfera proporciona…

  7. Pelos vistos os livros que o Valupi lê também se compram em papalarias e eu como observador independente não tenho outro remédio senão dar-lhe uma palmada nas costas e com a outra mão assinalar a Deus que perdõe ao Daniel que saiu à pressa do PC há muitos anos com umas luzes de ateísmo convencido que entrar em discussões profundas como esta é operação tão fácil como vestir o Silva com uma túnica plástica com sabor a morango mas não é.

  8. O Daniel Oliveira é uma tremenda seca, de facto, basta ouvi-lo alguns segundos no Eixo do Mal. Razão teve a Clara de o mandar calar, pois além de não sair dali nada de inteligente, está sempre a interromper os outros com irritantes remoques (não é caso único naquela feira). Se há alguém absolutamente sem graça nem profundidade na galáxia de Guttenberg e seus modernos sucedâneos, é ele. A que deve este funâmbulo o protagonismo mediático de que usufrui? Grande mistério, caros rvn e Val.

    Entretanto dá-se o caso de que esta nulidade «progressista» – subsidiada pelo Balsemão só para dizer bobagens (no Expresso, talvez como contrapeso às estupidezes do Conselheiro Espada) – tem tiques censórios. Quando o arreliam, corta comentários aos seus posts no blogue de que é dono. A mim só me cortou um, o bastante para lá não mais voltar. O Aspirina será soporífero, mas aqui ao menos não se corta a palavra a ninguém, que eu saiba. Se eu chamar nomes ao Valupi, ele manda-me largar o vinho, mas não me tira a palavra.

    Mas já falei demasiado desse tal Daniel. Passemos à frente. A cruzada da Igreja contra os anticoncepcionais não espalha SIDA, não senhor. Mas espalha irresponsabilidade perante o problema epidemiológico. Ao estigmatizar o preservativo, o papa está a contribuir para desprestigiar e deslegitimizar um dos principais instrumentos da campanha planetária de combate à epidemia. Há mil milhões de católicos no mundo: quantos irão na conversa do papa? Não sei, não posso saber, nem me interessa. Interessa-me, sim, que o líder espiritual de um sexto da humanidade estigmatiza o uso de preservativo, que acontece ser o principal meio de combate à epidemia, sobretudo nos países pobres. Se isso produz infectados, é muito arriscado afirmar. Pode ser que sim, mas seria preciso prová-lo, o que até agora não foi feito. Em todo o caso, se eu fosse papa e não me importasse de infectar pecadores, estigmatizava o teste do vírus HIV, não o preservativo.

    Boa tarde.

  9. Bang Bang, dizes bem: talvez.
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    shark, a questão não está no Papa, qualquer Papa para o efeito, mas no pensamento com que se avalia e analisa a matéria. É uma daquelas questões que despertam reacções emocionais que interferem com a inteligência, o que permite avaliar o avaliador e aferir da sua qualidade intelectual.
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    adalberto joão, é isso: cada um que siga a sua consciência. Nem mais, e, acima de tudo, nem menos.

    Trocas de galhardetes entre bloguistas é o que dá boa fama à blogosfera. Respira-se a liberdade, é tão bom, não achas?

    O PCP e o Bloco têm a ver com o Daniel e com as ideias que ele expressou. E têm a ver com o momento político. Isto anda tudo ligado, nunca ouviste dizer?

    O PS ter medo de um frentismo de esquerda? Acho que é ao contrário, fica agradecido, pois é a meneira mais segura de ir buscar os votos do centro, aqueles que dão a maioria absoluta. O PS teria era medo de uma oposição inteligente, mas ela teima em não aparecer.
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    Teresa Coutinho, sábias palavras.
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    Rui, sim, o Pacheco tem outro percurso, e já fez a catarse há muito mais tempo.
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    caramelo, disse, pois. E eu não sou católico, nem sequer cristão. A mim, bastou-me o talento da D. Conceição, a minha professora primária.
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    joão viegas, mas a discussão continua a poder ter o sentido e interesse com os quais te identificas. Essa perene possibilidade de qualquer interacção dialógica é do melhor que a blogosfera proporciona.

    Só depende de ti. Diz lá.
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    Daniel, qual foi o meu insulto? Mas acertas: revelador. Aliás, se há coisa que resulte do episódio é uma sucessão de revelações. Só que continuas com o mesmo problema: já te deste conta que erraste, que as tuas ideias sobre o Papa são absolutamente imbecis, mas não o queres assumir, não te queres arrepender publicamente. É essa a tua cruz.
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    Ibn, razão em relação a quê?
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    sem-se-ver, queres ver a susana a discutir estes assuntos?
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    Miguel Mata, exactamente. Estás cada vez melhor, ó pá.
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    Nik, concordo contigo nisso da Igreja ter trabalho de casa para fazer em relação à sua doutrina, apenas há a realçar o óbvio: o problema do catolicismo é um problema dos católicos. Portanto, atribuir responsabilidades a quem não as tem deve ser inadmissível. Para todos os efeitos, é impossível que um crente obedeça a dois preceitos contraditórios: sê casto, amoroso e fiel, e sê demente ao ponto de não assumires qualquer controlo sobre ti próprio e ainda acreditares que a Igreja te pediu esse comportamento criminoso.

    Esta relação entre a doutrina católica, o Papa, a SIDA e quejandos é, antes de mais, um atestado de incapacidade cognitiva. Mesmo que seja temporária e localizada, fruto de preconceitos asininos, é real. Deixa-la passar em branco é permitir que se propague essa forma de violência de lesa-inteligência.
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    MPS, é isso.

  10. Há 42 anos quando comecei a trabalhar tínhamos duas hoars de almoço dava tempo para conversar nos cafés da baixa lisboeta. OUvi uma frase espantosa: «Quem tem muitos filhos não sabe ler, logo não lê as encíclicas papais.» E era verdade; só por serem escritas já estavam condenadas á partida a serem lidas por quem sabe ler.

  11. “E eu não sou católico, nem sequer cristão”

    Ah, está bem, Valupi. Percebe-se assim que não saibas que a Igreja Católica não é um grupo de reflexão com sede em Roma.

    E ao Adalberto, que imagino que seja budista e viva em Katmandu, informo também o seguinte: nem só os fundamentalistas seguem o que o Papa diz. É suposto que o Papa conduza o seu rebanho. É a função do Vigário de Cristo, que é ele. De resto, ninguém é obrigado a entrar para o rebanho. O Papa agradece penhorado que não o despromovam a conselheiro espiritual ou a psicólogo de massas.

  12. jcfrancisco, e saber ler não é para todos os que conseguem ler, claro.
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    caramelo, ainda não estás nos mínimos. Mas tens aí uma coisinha boa: “De resto, ninguém é obrigado a entrar para o rebanho.”

    Agora, tens de continuar a partir daí. Vais lá chegar, acredita.

  13. “…o problema do catolicismo é um problema dos católicos”

    Não só. O papa, além de líder espiritual de mil milhões de católicos, é grande figura da política mundial, recebido e respeitado por chefes de Estado em (quase) todo o mundo, inclusive em países de dominante protestante, muçulmana, etc. Os papas têm sempre intervindo, não como líderes religiosos, mas como figuras morais respeitadas, em diversas questões internacionais do foro económico, social e político que não têm directamente a ver o seu magistério eclesiástico.

    Não se pede ao papa, pelas óbvias razões que referes, que defenda o amor livre e promova, ou sequer desculpe o deboche. Espera-se do papa, como autoridade moral com enorme audiência mundial, que não descredibilize nem sabote a campanha planetária pelo uso do preservativo como meio de combater a epidemia de SIDA. O papa não trairia a sua religião se não condenasse o uso do preservativo, como «mal» menor, sempre que haja perigo de contaminação. Mas não. Quando fala de anticoncepcionais, é só para condenar o seu uso. As organizações que, sob égide católica, actuam p. ex. em África, como é que lidam com o problema da condenação do uso do preservativo pelo papa? Minam as campanhas que os governos e a OMS ali fazem pelo uso do preservativo? Desacreditam-nas? Parece-me que sim, mas sou todo ouvidos.

  14. eis algo que nunca entendo: quando vêm com essa conversa do papa e dos preservativos e se replica, como fizeste, relevando a falta de sentido de clamar a fé como causa de recusa do preservativo sem se respeitar a premissa primeira (castidade/fidelidade), deixam de responder.
    há uma certa confusão entre o «fia-te na virgem» e o cumprimento dos ditames que são coerentes com os axiomas de uma instituição de entrada e saída livres.
    enfim, é tão básico que se fica banzado com esta confusão.

    olá, sem-se-ver. :)

  15. De acordo com o ultimo post do Nick. Deixando de parte as susceptibilidades, acho que a indignação do Daniel Oliveira nasce apenas da seguinte constatação : até prova do contrario, o preservativo fez muito mais pelo respeito da “Vida” do que os dogmas da igreja catolica. Isso devia ser um motivo para o Papa (ou qualquer catolico, ou qualquer cristão) pensar um bocado. E não duvido que muitos o façam…

    Infelizmente não tenho tempo para desenvolver e também não me parece que o lugar seja propicio. Talvez outro dia, se dedicares outro post ao assunto (e prometo que lerei, mesmo se não tiver insultos à mistura).

    Um abraço

  16. Nik, também tu confundes a religião com a sociologia. Mas há algo ainda pior: não estás a ler. Primeiro que tudo, o ditame sobre os preservativos apenas diz respeito aos católicos. Isso implica que, para ter qualquer tipo de influência, esta consideração doutrinária tem de aparecer como um elemento de um corpo muito maior de sentido. Sob pena, então, de considerares que ser católico, ordenado ou leigo, implica estar destituído de saúde mental. É a única situação em que a referência ao preservativo teria como consequência a anulação de todos os outros elementos significantes e contextualizadores.

    Não existe, em lugar algum do Mundo, qualquer comunidade de católicos que interprete a referência ao preservativo como equivalendo à licença para a promiscuidade e adultério sem protecção contra doenças sexualmente transmissíveis. Por favor, pensa na aberração que está a ser sugerida.

    Ao Papa não compete o combate contra a SIDA nos moldes das políticas públicas. Esperar da Igreja que contradiga a razão de ser da sua existência para se colocar ao lado dos que a consideram maligna, é de loucos. De resto, se todas as pessoas fossem católicas, e seguissem fielmente o Papa e demais regras de ordenação da vida pessoal e social, nem sequer haveria SIDA. (mas também não haveria liberdade, tal como a concebemos nas nossas sociedades seculares, pois)
    __

    susana, é isso mesmo.
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    joão viegas, também tu cais na mesma esparrela: a religião não se rege pelas lógicas e objectivos seculares. Temos uma longa tradição de luta contra a Igreja, na Europa e Ocidente, e a batalha foi ganha. A Igreja não tem poder de influência, é ao contrário. Ela é agora uma ilha no meio da cultura do consumismo imediatista. Obviamente, há mais à sua volta, e muito bom – como seja a liberdade com que se faz ciência, humanidades, artes e opções de realização pessoal.

    O modo como os católicos promovem a Vida está à vista de quem o quiser ver, no excelente trabalho de sacrifício em nome dos pobres e doentes. É na Igreja que se encontram alguns dos intelectos e vontades mais profundos e livres. Por favor, não ofendas tu também a realidade de tantos milhões de seres humanos que dão o melhor de si pelos outros.

    Toma lá um grande abraço

  17. Mas isto é um blogue pro-life? Mas ainda temos que gramar estas conversas.
    Valupi, vai passar uns tempos à Casa Gaiato a ver o que fazem a Igreja Católica pelos outros. vai buscar Haut de la Garenne e vai ver o Daily Telegraph de ontem onde um padre (não católico) dizia que os homosexuais deviam ser tatuados por serem um perigo de morte.
    Conheço bem o trabalho dos católicos, só quem não quer saber é quem olha para o lado com o assédio moral e sexual, para não dizer terror psicológico que se passa em determinadas “obras” da catulaica!!!

    E eu a pensar que este blogue era muito à frente e afinal ainda se discute aqui se o preservativo promove ou não a vida??

    Caramba!

    Não se incomodem mais em enviar-me seja o que for.

  18. Ibn, estás muito à frente (estou a citar a Claudia) no entendimento do Pacheco Pereira, para mim.
    __

    Claudia, este é um blogue com vários autores, sendo que pelo menos um deles (eu) não pode ser mais “pro-life”. E tu, que és?

    Quanto às disfunções, ou podres, da Igreja no que diz respeito aos seus recursos humanos, vens tarde. Esse problema começou logo com os discípulos, e nem eram assim tantos. Depois, foi sempre a crescer.

    Quanto ao que dizes do preservativo, não te entendo. Mas gostava de entender.

  19. Val, deves estar a passar-te, porque já não dizes coisa com coisa. Não tem nexo o que dizes, é só exaltação desarrazoada. Além disso, pareces um born again christian, repetes as velhas patacoadas da Igreja como se acabasses de descobrir a Verdade revelada. Alguém te disse aqui uma coisa gira: a camisa de Vénus já fez mais pela vida que todos os teus compinchas pro-life. Dorme bem.

  20. Nik, pode ser. Mas tal não te livra de teres de argumentar. Senão, ficas tu a “falar línguas”; e isso será engraçado, mas pouco adiantará à causa.

  21. Parabéns, Valupi.

    Esta agora foi muito bem dada e é mais um texto teu que vou guardar.

    Foi autêntico serviço cultural e tens aí passagens dignas de primeira página.

    Aquela dos católicos zombies a não usarem preservativo mas a irem a correr abortar já a tinha mandado à Côncia.

    É cretino mas é verdade- o fanatismo tira o discernimento e o fanatismo ideológico dos mata-frades tira-o a duplicar

  22. Foi até por ler coisas idênticas- an altura dirigidas ao Jorge, que andei à porrada com a palhaçada da “virtus laica e racista do paraíso das caricaturas e dos wilders.

    Mas enfim- é sempre perda de tempo entender-se tudo, quando basta um ser-se um pouco mais intrumental e ler-se apenas o html.

    Neste caso em cheio- certeiro, sem falha. Noutros tal como o DO- completamente drunfado.

  23. «Temos uma longa tradição de luta contra a Igreja, na Europa e Ocidente, e a batalha foi ganha. A Igreja não tem poder de influência, é ao contrário. Ela é agora uma ilha no meio da cultura do consumismo imediatista.»

    Tu tens um duplo secreto para estas ocasiões. Só pode.

    Há o Valupateta situacionista e deslumbrado com o “pogresso do homem da meia-maratona” e há um Valupi no armário, para filosofias e defesas culturais das espiritualidades.

  24. Outra coisa- qualquer simples ateu que viva em África confirma a verdade da questão- a Igreja fez mais pelo combate à sida que todos os governos laicos. Os governos que não andam às ordens de nenhuma igreja.

    Perguntem ao Ma-Shamba, por exemplo.

    É que isto é pura demagogia de quem apenas tem aquele problema quando houve falar em Papa ou Igreja Católica- entram em auto-exorcismo e vá de sair cada peido enxofrado, que faz favor.

  25. Agora a crença que os católicos são uns alienados a cumprir ordens sem pensar- essa aprenderam-na desde o biberão- é assim que funciona a disciplina partidária.

  26. zazie, realmente é assombroso o poder da mente para a distorção. E não estou só a falar do Daniel Oliveira, if you catch my drift.

  27. Ai não? então olha, azar. O que li e gostei até citei e bem o podia dizer a quem te apetecesse.

    Está correcto, foi inteligente e bastava-me aquela passagem que desmonta a demagogia da paranóia dos casais que fornicam a pensar no Papa e abortam seguindo ordens do demo.

  28. 9
    12
    13
    17
    19

    Foi o que li e chegou. Se alteraste isso no testamento a seguir, azar. Não o li porque, de facto, és um bocado maçudo.

    Em resposta rápida ao DO está o que importa.

  29. Sim, o resto que escreveste também está correcto. Acentuaste a ignorância cultural dos ateus militantes e ainda referiste como a aliança entre BE e PCP nessas questões só poderia dar ordem de prisão ao Papa-

    Assino tudo por baixo, por cima, pelos cantos, e estou-me nas tintas que tenha sido escrito pelo Valupi (o que quer que isso seja, para além das ideias expressas)

  30. Mas realmente o DO também acertou noutras tretas acerca de ti

    eehe

    E acertou tão bem que tu agora até eras capaz de te combater a ti próprio só para fazer mais um brilharete de retórica de salão

    ahahahahaha

    Na volta ainda acabavas a negar tudo o que escreveste e a dizer o mesmo que o DO só para não calares essa bocarra tão apinocada

    ehehe

  31. É a nossa rainha santa, Rui. A milagreira.
    __

    zazie, a verdade é a de que o homem não deu luta. Também, não tinha como a dar, já entrou derrotado. Mas eu referia-me era a ti, que te assanhas por causa do Sócrates mas não consegues explicar porquê. Por aí, estás como os ateus militantes, ignorantes de que o Senhor já chegou e a salvação está perto.

  32. Eh , eh , digo eu. Ora o/a Valupi lá leu o Público e as cenitas das tricas na blogosfera ( e as cenas do CAA e do Pa , com milhares de coments) e pim , toca de imitar. Quando mija um português , mijam dois ou três , e é essa a vossa sina : deixem lá de olhar pro mijo do vizinho.

  33. Confesso que não me sinto muito à vontade para perorar sobre tão transcendentes questões.

    Ele é o Criador, ele é a Fé, ele é católicos sem eira nem beira (i.e. sem Escrituras nem Papa), ele é a Vida, ele é a Camisinha, ele é a Hipocrisia, ele é sei lá o quê. Uma pessoa fica esmagada com tão eruditas análises, sobretudo quando apenas pode contribuir (?) para a conversa com a recordação de uma quadra popular (mas a voz do povo não é a Voz de Deus?) :

    Pára-raios nas igrejas
    São para recordar aos ateus
    Que os cristãos, quando troveja,
    Têm muita fé em Deus.

  34. PS. Ao reler o comentário acho que me pus a jeito para ser tomado como imbecil
    pelo Valupi. Foi de propósito. Como foi a primeira vez que vim a este blog não quiz destoar.

  35. O DO é bastas vezes um imbecil. Mas este tal de Valupi não lhe fica nada atrás.
    Na verdade, a arrogância é a filha dilecta da mais profunda ignorância.
    Querer reduzir uma posição diferente da nossa a um simples devaneio juvenil, com o imbecil e evidente propósito de a menosprezar, é um exercício pueril de estupidez.
    Defenda a sua posição, critique a dos outros, mas faça-o numplano mais elevado. Este é sempre a descer.

  36. Saudemos, no entanto, a extrema, surpreendente, arrasadora, muitíssimo cristã paciência do “Arrastão”. É raríssimo encontrar, reconheçamo-lo, à Esquerda e à Direita, alguém com tão espantosa pachorra para responder calmamente a quem o trata de “imbecil” e de “alucinado” para cima. Qualquer gajo normal teria imediatamente, sem se dar à maçada se pôr com paleios, mandado o autor dos insultos para o caralho mais velho. Mas nada; o homem fica na sua, urbana e placidamente. Extraordinário. Nem o próprio Papa, em pessoa, seria capaz de tão espectacular demonstração de caridade e modéstia.

  37. zazie, queres abater ou bater? Olha lá…
    __

    claudia, bem sabemos.
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    y, está tudo cada vez melhor. E em todo o lado.
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    mf, ok.
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    joao, qualquer cristão, se o for, fia-se na virgem e corre a bom correr.
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    Ricardo Silva, não. Mas ele é meu vizinho.
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    Nuno Albuquerque, quem quer ser mineiro, tem de descer.
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    JPG, saudemos, então.

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