Liberdade em coma

O estado de coma a que foi levada uma estudante numa praxe em Faro traz de novo esse fenómeno para a ribalta mediática. No caso, ela foi enterrada na areia de uma praia e forçada a ingerir álcool nessa situação. Porém, mesmo que não aconteçam desfechos com essa gravidade, o que se vê nas praxes é de ano para ano mais assustador. Nem que seja por se irem acumulando as manifestações de algo que apenas encontra num certo de tipo de violência política a sua justificação social e psicológica.

Ao final da tarde, quando não chove, percorro uma parte da cidade onde estão próximas várias universidades, faculdades e institutos superiores. Nesse trajecto, atravesso a pé diferentes zonas verdes. No período das praxes, o qual agora dura todo o ano só variando na intensidade, observo diariamente as macacadas e cenas tristes que os diferentes cursos organizam em espaços públicos, fora do perímetro das suas instituições de ensino. A percepção que registo é a de o ambiente ser cada vez mais militarizado, vendo-se os praxistas a passearem-se ufanos na sua farda medonha e ridícula como se estivessem num quartel e expressarem-se por gritos e ameaças copiados de cenas televisivas e cinematográficas onde se retrata o abuso de poder.

Nada disto tem a ver com o que foram as praxes outrora, na sua versão pedagógica levando a brincadeiras dentro da sala de aula (alunos finalistas a passarem-se por professores, por exemplo) e na sua versão carnavalesca não passando de uma festa antecedida de palhaçadas inócuas (pinturas, ovos, farinha). Agora, o que está em causa é verdadeiramente sinistro no seu plano simbólico. Num contexto de sexualização animal e humilhação moral dos alunos por outros alunos, o que se transmite é uma associação entre a vida académica e uma atitude de conformismo obnóxio e revanchista.

Creio que nunca foi feito, mas teria supino interesse conhecer as práticas e preferências políticas desta elite assim iniciada na vida adulta.

28 thoughts on “Liberdade em coma”

  1. Bom, Valupi, há coisas que ainda me intrigam nestas praxes. É parecer que os alunos são forçados a participar, não aceito isso. Eles participam porque querem. Não me venham dizer o contrário. Há muitas maneiras de sair dessas praxes da treta.

  2. que título tão triste e bom já que exprime na perfeição o que é a liberdade a negar a liberdade. tratando-se de gente sem pingo de empatia estamos perante psicopatas – uma psicopatia consentida e idolatrada pela sociedade, uma espécie de coligação de para a frente frustrados que geram frustração. metem-me nojo.

  3. este tipo de praxes devia ser proibída.chamar a essa merda,uma forma de reintegração,dá vontade de rir. a solução era: as universidades e institutos acabarem ao mesmo tempo com essa merda,caso não o fizessem o governo proibia atraves de legislação aprovada no parlamento

  4. Valupi, duas palavras.
    1. Os estudantes fazem parte do sindicato de votos que elege os Conselhos Gerais das universidades e, por isso, são votos apetecidos para a posterior re/eleição do Reitor respectivo. E, nesse processo, a praxe é fundamental para arregimentar carne fresca para ir votar em rebanho segundo as ordens dos sôtores e dos veteranos em quem conhecem desde o primeiro dia (sendo aqueles recompensados com status, mordomias, bolsas algumas e copos à borla etc.). É ou era assim na zona de Entrecampos, pelo menos.
    2. Contrariamente, algo parece mover-se muito lentamente depois das mortes no Meco (e os tipos da Lusófona também vêm berrar para o Campo Grande). Na FCSH, por exemplo, foi este ano mailada esta mensagem para toda a gente.

    Caros Membros da FCSH,

    No dia 17 de setembro, foram promovidas e autorizadas atividades de acolhimento e receção aos novos alunos. À margem das atividades promovidas pela Direção da Faculdade, no âmbito da iniciativa “Faz-te à NOVA”, constatámos que se multiplicaram, com o patrocínio de umas supostas “Comissões de Curso” (sem existência estatutária na FCSH), atitudes e atividades que ultrapassaram os limites do civismo e do bom gosto.

    Através desta mensagem, gostaria de deixar bem claro que a Direção da FCSH repudia veementemente todas as práticas de acolhimento aos novos estudantes que são lesivas da sua dignidade. Estimulo todos os estudantes do 1º ano a rejeitar ativamente a participação em rituais que põem em causa a sua dignidade e que os objetificam, ignorando aqueles que acham que a Faculdade é um espaço para humilhação e não para crescimento pessoal.

    Aos estudantes mais velhos, convido-os a refletir sobre a sua atitude, sobre a forma como se passeiam pelas ruas de Lisboa, achando que conduzir um grupo de caloiros em fila é símbolo de um qualquer poder. A FCSH oferece-vos um contexto para se tornarem cidadãos mais esclarecidos, mais criativos, cientificamente mais sólidos.

    Convido-vos, pois, a dignificarem a Faculdade que escolheram e a dignificarem-se a vós próprios, integrando os vossos colegas de uma forma mais culta e mais civilizada.

    Saudações Académicas,
    João Costa
    Diretor da FCSH-UN

  5. É uma lástima.
    Recordo que no Porto, Pacheco Pereira, então na FEC, acabou coma queima das fitas por muitos e bons anos.
    Depois a AD de Sá Carneiro ganhou as eleições com maioria absoluta e o saudosismo revanchista ditou o regresso da fantochada.
    Numa primeira fase, apenas a Academia tradicional, portanto a Universidade Pública, numa segunda e recente fase, coma participação de tudo o que é supermercado de canudos, sejam universidades privadas, institutos superiores, etc.
    Fazendo um áparte, também me lembro que quando a AD e mais tarde o PPD de Cavaco se transformaram no ” partido dos vencedores constantes “, Pacheco Pereira mudou-se para o PPD, não sabendo eu porquê, o mesmo tendo sucedido com Durão Barroso, – este alegou que tinha ficado muito impressionado com a morte de Sá Carneiro, hehehe .
    Outro figurão que virou a casa de socialista para ” popular democrata ” foi Gilberto Madail.
    É verdade que noutro tempo, as patuscadas tinham piada e havia respeito.
    Agora, como diz, é só humilhação sexual e ” militarismo “. E, sobretudo, alcoolismo.
    Se gostam de militarismo, é simples, enfia-se-lhe uma farda e espeta-se com esses energúmenos na tropa . Assim já ficam a saber o que é bom .
    Ainda no tempo de Marcelo Caetano, um ou menos anos antes do 25 de Abril, deu na televisão, enquadrado na festa da queima das fitas, um espectáculo de teatro amador estudantil .
    Que delícia.
    Que talento.
    Que respeito .
    Que saudades.
    Agora é só Broncos .
    Enfim …

  6. Ó fifi, há interesses envolvidos e não é fácil acabar com essa merda .
    No Colégio Militar, ocorreu um episódio de agressão a um aluno, que penso, ficou com o tímpano perfurado e portanto, surdo dum ouvido. Os pais levaram o caso a tribunal e o Director do Colégio Militar, no depoimento perante o juiz, disse que não mandava nada, quem mandava no CM era uma máfia, a máfia dos antigos alunos, tendo o dito Director – um General – referido perante o juiz, que a máfia dos antigos alunos até já lhe tinha tirados a medida aos sapatos .
    Não entendo porque raio é necessário um general para chefiar um colégio militar .
    Aliás, nem percebo porque razão devemos ter mais almirantes que navios e mais coronéis que quartéis .
    Por mim, essa coisa dos colégios militares e das meninas de Odivelas, era tudo para liquidação total. Mas porque é que não privatizam essas coisas ?
    Bem, também não adiantava muito, a tauromaquia é actividade privada e não fossem os subsídios do Estado, já tinha ido à falência . Uma das formas de financiar é através da RTP que mete lá massa através da corrida da Casa do Pessoal. Outra forma, são benefícios fiscais do punho do ministério da tutela, que a generalidade das pessoas desconhece .
    De onde vem a massa da RTP ?
    Só pode ser das taxas de televisão, a chamada Contribuição Áudio Visual.
    Eu, que nem gosto de touradas, – já gostei – e que até tenho televisão privada, Vodafone e NOS, também pago televisão pública e financio a contra-gosto a tauromaquia.
    E quem diz a tauromaquia diz o futebol, a igreja católica e por aí adiante .
    Ninguém tem cojones para fazer uma radical reforma de Estado e acabar com estas tristes cenas .

  7. “Ainda no tempo de Marcelo Caetano, um ou menos anos antes do 25 de Abril, deu na televisão, enquadrado na festa da queima das fitas, um espectáculo de teatro amador estudantil .”

    assim de momento só me lembro do citac, do garcia e do salvat na festa da queima do regime, mas só passou na rtp anos depois.

  8. Eu ví isso no tempo do Marcelo, ainda era TV a preto e branco, tenha uma vaga ideia que seriam estudantes de Coimbra, mas não tenho a certeza. Uma boa peça de teatro e com muita piada. O pessoal tinha talento.

  9. Essa moléstia ganhou carácter patológico em meados dos anos 90 entre as universidades privadas. A seguir alastrou às restantes. Estou convencido que a grande incubadora da bandalheira cívica que tomou conta da actual direita, tanto em quadros como em bases operacionais, tem sido a academia privada. Distinguem-se pela indumentária à légua.

  10. Valupi: «Creio que nunca foi feito, mas teria supino interesse conhecer as práticas e preferências políticas desta elite assim iniciada na vida adulta.»

    Políticas e não só. Religiosas, culturais, tauromáquico-futebolísticas, tudo isso teria interesse.

    Mas estou em crer que o mais esclarecedor seriam as correlações do «amor à tradição» com o QI das ditas crianças. Pelo menos é o que me sugere a ideia de provocar bebedeiras em pessoas imobilizadas em posição vertical ou decúbito dorsal, facilitando o afogamento no próprio vómito que muitas vezes ocorre no coma alcoolico. Às tantas, quem sabe se esta praxes não acabam por constituir um mecanismo darwiniano de melhoramento da sociedade…

  11. A propósito de animais, tradições e culturas, achei interessante a forma como o nosso preclaro vice-primeiro Portas se referiu recentemente às (segundo ele) chorudas divisas que a nossa exportação de gado vacum vivo para Israel nos vai render.

    Dizia ele, rindo com gosto e enfatizando o facto de os futuros bifes kosher serem transportados vivos até aos longínquos altares sacrificiais, nas condições deploráveis que se adivinham (em vez de humanamente abatidos e congelados), que não sabia se chegariam ao seu destino em vida, mas pelo menos lá sair do nosso país vivos, isso sairiam com certeza. Só a chegada em vida é que, pelos vistos, já não se garantia.

    Entrementes, e enquanto em alguns países nórdicos se ilegaliza o abate ritual judeu e islâmico de animais por degolamento e sangria, em Portugal o partido dos ditos, vulgo PAN, anda muito mais preocupado em impedir a contrucção de barragens…

    E assim vai o mundo animal das praxes metafísicas.

  12. Alarme …alarme…
    Os papás educados com mais restrições e compostura social parece que se esqueceram de passar a tradição aos filhos.

    Escolas e faculdades não tem nada a ver com isto.
    Só os péssimos dirigentes se aproveitam e fazem pactos com quem não recebe boa formação e educação.

    Educação vem do único local que tem responsabilidade para tal :
    – a casa de família.

  13. FCSH, agradeço a revelação desse email. Não é caso isolado, há uma crescente resposta da comunidade à violência das praxes, pelo que poderemos assistir a alterações sociológicas de censura que as modifiquem. Entretanto, continua a violência.

  14. Abstraindo-me da idiotice ( e não só) que carateriza a maioria das praxes portuguesas, é certo uma coisa: Se o aluno NÃO quer ir NÃO VAI. NÃO APARECE e se APARECER e alguém o tentar forçar tem bom remédio. Na verdade, dois.

    A aluna comatosa foi obrigada a participar? Como apareceu em bikini? Como foi para a praia? Sabia que era uma praxe? Estava ciente que algo podia correr mal? E os pais sabiam? Disse não? Quando é que disse não? Ao primeiro copo, ao segundo? E quando disse não, continuaram ( bem aqui é diferente e é só neste concreto aspeto, que quem a forçou será punido. No resto meu caro…a menina que tome juízo e não volte a meter-se no que pode correr mal.

  15. LOL.

    «constatámos que se multiplicaram, com o patrocínio de umas supostas “Comissões de Curso” (sem existência estatutária na FCSH), atitudes e atividades que ultrapassaram os limites do civismo e do bom gosto.» FCSH/ 27 DE SETEMBRO DE 2015 ÀS 22:23

    Será que o ilustre autor me pode esclarecer sobre o que é o «bom gosto» numa praxe académica…
    E já agora «civismo»…
    Se não se importar, pode aqui publicar o teor dos «berros cantados» na praxe da sua escola?

    Tudo isto, claro, em vista de se aquilatar do civismo e bom gosto…

  16. IGNARALHO, a ti já te «aquilatei»…e antes de mim, deste tu a tua medida….COMUNA. Quanto ao epíteto, se gostas de te projetar….LOL.

  17. IGNARALHO, ouve, enquanto me inspiro pá, sim que estou em fase de me inspirar, gostaria de te dizer que apreciaria PRAXAR-TE. Mas não te punha em areia…e não te dava vinho, mas sim o Licor de «M» de PIMPAUMPUM…depois disso, punha-te a ameixa no traseiro, e filmava-te a rebentar com a tua essência.

    Enquanto isso, uns berros com aqueles dizeres expressivos em rima…idem para a BURRA; ibidem para a MARIA HILÁRIO. hum, talvez convidasse o Carlos Alexandre para assistir …LOL.

  18. Ora bem, cegueta!
    Repete lá isso, mas dirigido a mim.
    Basófias da merda!
    Repete lá!
    Sem te esqueceres do Carlos Alexandre.

  19. Ó cegueta,

    Então aquele inspector da PJ que está preso em Évora e que o Correio Manholas contratou para escrever semanalmente umas tretas caluniosas sobre o Sócrates vem agora dizer que “o Zé sabe umas coisas acerca daquele juiz, o C. Alexandre”.
    Então agora além da campanha de descredibilização do juiz Rui Rangel o Ministério Público, através do seu órgão de comunicação oficioso (o Manholas), ensaia agora uma campanha de descredibilização do juiz Carlos Alexandre ?
    Porquê cegueta ?
    Será porque o Ministério Público se prepara para bater em retirada, sair pela direita baixa, e meter as culpas no Calex ? hum ?

  20. BURRA! Tu bates mal da «cachimónia»! se tens dúvidas pergunta aos teus destinatários. E que perguntas são essas? Quem é o Calex, BURRA? Vai comer palha.

  21. Diz PRUNES

    Perfil anónimo do Manuel de Castro Nunes
    28 DE SETEMBRO DE 2015 ÀS 21:21
    Ora bem, cegueta!
    Repete lá isso, mas dirigido a mim.
    Basófias da merda!
    Repete lá!
    Sem te esqueceres do Carlos Alexandre.

    Repito o quê? Que és parvo e não bates bem da cabeça? Precisas disso? OK, BILTRE és um parvo e não baste bem da cabeça e também podes ser praxado nos mesmos termos que o IGNATALHOO. No teu caso, talvez substituísse a ameixa com um talo de couve….

    Basófias…és tu…

  22. Meu caro,

    Na linha de «saber» que V. Ex.ª. cita, permita-me recorrer a um outro – Voltaire – e reproduzi-lo assim:« O bom humor é incompatível com a crueldade».
    E, um outro, bem mais moderno mas nãoo menos sábio e atento – « É falta de educação calar um idiota, e crueldade deixá-lo prosseguir ». Não o calarei, porém, deixando prosseguir com sua inoportunidade também me custa…
    Já agora, se NÃO SER ESQUERDALHA e não participar da IGNORÂNCIA que por aqui anda, me faz fascista, go ahead….Todos percebem a sua inclinação. Pelo fruto se conhece a árvore…ai que hilário.

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