Comecemos pelo fim: quem for intelectualmente honesto, quer saber como se chegou ao ponto de votar conclusões risíveis. Dizer que o Governo sabia do negócio por este ter sido noticiado na imprensa no dia anterior ao debate no Parlamento talvez não justificasse a existência de uma comissão de inquérito. Talvez, vamos pois supor. Dizer que a PT queria mudar a linha editorial da TVI através da contratação de Moniz fica como exemplo da política-Tarot: lança-se uma carta e fala-se do que apetecer. E dizer que o Governo interveio no negócio por nada ter feito, primeiro, e por ter reagido à desvairada intervenção dos partidos e do Presidente da República nesse mesmo negócio, depois, é de um nível de estupidez que ameaça ficar sem ser ultrapassado nos próximos 900 anos.
Não por acaso, os tontinhos que foram para a Assembleia durante a hora de almoço, movidos a toque de escutas e violação do Estado de direito, calaram-se assim que a Comissão de Ética passou a exibir os números circenses dos asfixiados. Calaram-se bem caladinhos, não voltaram a tocar no assunto tamanha a falta de vergonha e deboche a que se chegou no Parlamento. Com a CPI foi igual, não piaram. A única esperança era o Pacheco Pereira, esse exemplo de probidade. O deputado-espião encontrou matéria avassaladora no que releu, e anunciou que o Governo devia ser demitido e entregue à Judiciária. Como não foi ouvido, nem sequer no seu partido, esperemos que ele próprio divulgue as escutas e vá até às últimas consequências. A Política de Verdade a isso obriga.
PSD e BE quiseram esta comissão de inquérito para desgastar Sócrates e, dependendo das agendas políticas respectivas, ter pretextos para jogadas parlamentares. Acabam a votar um relatório que apaga as declarações dos principais responsáveis por todo o negócio: Bava, Granadeiro e Polanco.
A Assembleia da República viveu um dos seus piores momentos, conclui o cidadão.
Os mesmos, com a mesma farsa, continuam em palco até ao desgaste final de Sócrates. Novamente saltando, flagrantemente, por cima da lei, os magistrados desta desgraçada república cavaquista ridicularizam o PM, contorcendo-se de gozo, no pedido de levantamento de uma imunidade que eles sabem e sempre souberam não existir. Puro achincalhamento, para que todo o Portugal ouça em todos os meios de comunicação social frases assassinas: Sócrates investigado pelo Supremo; Sócrates não pode ser detido sem autorização do Parlamento; só no caso de crime previsto com pena…Sócrates acusado (já está acusado!) de crime de difamação etc etc.
Estes senhores magistrados actuam em roda livre porque sabem que têm as costas bem quentes. Puseram em sentido, tal a protecção de que gozam, o presidente do Supremo e o Procurador Geral da Republica. Estes dois senhores não actuam ou por cobardia ou porque têm a noção de que está em curso um golpe contra a democracia protagonizado não por militares revoltosos mas exactamente por aqueles nas mãos de quem foi colocado o sagrado dever de defender e respeitar a Lei e a Constituição da República. Só os compreendo, ao Presidente do Supremo e ao PGR, se eles chegaram à conclusão de que demitindo-se dos seus cargos ou esticando demasiado a corda aos golpistas instalar-se-ia o caos no País, que talvez seja esse o objectivo último dos farsantes.
É o que eu penso, perante tão despudorada calhandrice e impunidade de que gozam os magistrados do Porto, de Aveiro ou de Lisboa.
Lucidez não falta ao primeiro ministro que tem resistido ao confronto com os magistrados, que é mesmo isso que eles procuram para desacraditar definitivamente o regime. Com a benção do PC e BE, que nunca acreditaram nas democracias ocidentais. Para se apresentaram como eternos herois, dá-lhes muito mais jeito uma ditadura à moda de Salazar.
Esta CIP é apenas mais uma peça do puzzle e competia-lhe meter a ridiculo a estrutura parlamentar da democracia que não querem.
Eu também não quero nem esta democracia nem estes parlamentares. Estou num impasse.
Valupi,
As conclusões do inquérito são, de facto, bastante piores do que aquilo que eu imaginava (atravês do que disse a imprensa).
Acho que não é preciso dizer mais nada. Leiam as conclusões e verão que, de facto, o que elas dizem é que Socrates “sabia” porque vinha nos jornais (portanto temos uma pequena brincadeira semântica acerca do significado da expressão “ter conhecimento” que podia ter piada se fosse numa peça de teatro escrita por adolescentes…) e que o governo interveio, num primeiro momento ao… não fazer nada (vão la ler é o que esta escrito !). E, num segundo momento, quando interveio mesmo, assumidamente, ou seja numa altura em que ele não escondeu tê-lo feito e afirmou mesmo alto e bom som que estava a intervir.
Eu sou contra algumas das politicas levadas a cabo pelo governo Socrates. Considero que ele cometeu erros importantes e que ele é, em parte, responsavel pela situação dificil em que o pais se encontra.
No entanto acho que ele pode dormir descansado. Com gente capaz de assinar esse tipo de relatorio, não ha perigo de eu votar tão cedo no bloco, ou alias no pc ou no psd…
PS : li as conclusões em pdf no http://www.esquerda.net/artigo/comissão-de-inquérito-aprova-relatório-de-joão-semedo que acho que é uma publicação do bloco. Se não são as boas, por favor digam-me depressa para que eu possa sair desse pesadelo !
Ui, tanta gente preocupada. Eu, pelo contrário, vejo neste inquérito e relativo relatório, a mesma senha, sei lá, do plano inclinado e de todos os planos inclinados deste pais que fazem de um tavares qualquer coisa (antes ou depois) um não arguido e do Sócrates arguido pela prática do mesmo tipo de crime. Penso mesmo que tudo isto é um motivo para se comemorar os anos de 2008, 2009 e 2010. E saber que a partir de agora, somos todos mais puros e honestos na nossa tantas vezes apenas lembrada na literatura: grande filhaputice. Já não dá para perder um segundo sequer com estas tribos. É um bom exemplo de cultura se ter e não ligar. Sei, no entanto, que esse sou eu, mas eu sou melhor que a maioria. Não por acaso, sinto-me mais elevado, e com uma vaga mas persistente vontade de dançar. Nada torna um ambiente mais sofisticado do que sabermos a realidade à nossa volta como um conjunto de almas cuidadosamente marteladas e cuja verticalidade foi esquecida algures numa caixa de sapatos. Por todos um: obrigado, Pacheco Pereira!
Eu hoje é mais blandícia!
Uma vergonha que não deveria deixar indiferente qualquer português com consciência.
Como a novela da CPI terminou, resolveram desenterrar outra, que ainda agora começou e já está a tornar-se igualmente ridícula.
Mas o que terá Sócrates para que incessantemente e por todos os meios possíveis (sobretudo ilegais e anti-constitucionais) provocarem a sua destruição ????
O PSD está a destruir todas as instituições onde os actos de justiça podem conduzir à VERDADE dos factos. Espero que estas instituições ainda possam ser recuperáveis…
Carmen, ora vá espreitar a blandícia… [se quiser, claro]
:)))
Val,
Sei que este não deveria ser o post indicado, mas aqui vai:
Tendo assistido à novela C. Santos com alguma curiosidade, ontem deixei um comentário no Corta-Fitas a propósito da insinuação feita pelo Carlos Santos de que membros da família de um assessor do PM teriam subido na vida à custa de tachos.
Fi-lo porque, segundo uma regra básica que se aprende na escola, se queremos insultar o menino do lado, fazêmo-lo, mas deixamos a família dele em paz, e porque tenho andado tão deliciado com a narrativa escrita pelo Carlos Santos que, já agora, ia ver se era verdade e aquela família era uma tenebrosa rede de influências.
O comentário não foi publicado, porque explicava como eu, através de uma simples pesquisa por nome no Google, tinha chegado à conclusão de que aquilo que ele afirmava era mentira (tinha links e tudo).
Insinuava C. Santos que a mãe do assessor se tinha tornado Directora do CED D. Maria Pia durante o mandato Sócrates como recompensa por alguma coisa obscura (não sabia que ser director de uma escola pública era um cargo de nomeação política, mas pronto…).
Através da pesquisa por nome verifiquei que a senhora é professora de carreira, foi nomeada pelo Ministro David Justino (do PSD, portanto) Directora-Adjunta do Departamento de Educação Básica do Ministério da Educação, em 2002 – despacho 16384/2002- e se tornou mais tarde, ainda durante um governo PSD Directora do Colégio de Santa Clara da Casa Pia. Pelo vistos em 2006 ou 2007 passou para a direcção do CED D. Maria Pia.
Perguntei ao Carlos Santos que, face a esta ascensão na carreira ao longo de décadas de trabalho a senhora não seria, apenas, competente.
Quanto ao irmão do tal assessor, que, asseverava C. Santos teria tido uma ascensão meteórica por ser um boy do PS, a busca por nome do Google revelou que ele já era Director-Geral de Energia e Geologia no Governo PSD/PP.
Tudo isto com uma simples busca por nome.
A não publicação do meu comentário no blogue apenas serviu para provar que, não só o homem não está bem de cabeça -não acredito que um doutorado em Oxford não saiba fazer investigação tão básica quanto esta- e que aquilo é mesmo má-fé…
Faço tenções de deixar este comentário em vários blogues, pode ser que o C.Santos o leia num deles e caia na realidade…aquilo já mete nojo.
Deixei também um comentário no Corta-Fitas, mas duvido que publiquem.
Não queremos é palermentares, Mário. Palermentares.
Existe sempre um lado positivo e a CPI não foge à regra: deu espectáculo e permitiu que gente insuspeita (digo eu) como o Henrique Ganadeiro concluísse que este país é governado por justiça e comunicação social em coligação. Agora só falta irem ambos a votos para sabermos se é ao sol e à comarca de Aveiro que cabe apresentar o executivo ou se, pelo contrário, deve ser o defunto jornal nacional e o tic(?) a formarem governo. Pelo PR deve estar tudo bem desde que possa ir cumprindo as promessas que tem assumidas com os netos.
As coisas também se resolvem de outra forma: seguir os procuradores, discretamente, a ver onde moram….eles têm família, provavelmente há crianças….bem….qualquer um desses magistrados que calhem de ler este blog..percebem ao que eu me refiro…….as coisas acontecem quando menos se esperam……..para sacana sacana e meio…..
O sr Pacheco, o espião que veio do frio, deixou o leste veio para oeste; veio do norte para o sul sem que ninguém o cá tivesse chamado, veio de tanga como eu que sou mais do sul, viemos fazer pela vida tudo bem, mas eu vim trabalhar e o sr Pacheco foi deputar, primeiro em São Bento depois em Bruxelas, de novo em São Bento e comulativamente em qualquer meio de comunicação audio visual porque o seu estatuto é o de “special one”, para esse grandessíssimo mastunço esse procedimento é legal e èticamente correcto; faz aí a sua propaganda, numa deriva infame de juiz em causa própria.
O sr Pacheco-deputado, não vai requerer uma comissão de inquérito independente para avaliar o seu desempenho no Parlamento, saber por sua culpa, quanto aumentou o défice?
Até prova em contrário o seu sucesso é um circunstancialismo do cavaquismo, essa fatal peste negra da democracia, contudo um santa ocasião para enriquecer o dito cujo e por essa via, ter ao seu dispor a justiça necessária e suficiente, para tentar ditar a sua lei.