A Marcha da Estagnação

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Na imagem, professora segura cartaz com importante reivindicação da classe.

Se o número de indivíduos reunidos em espaço público passa a ser critério para decisões governamentais, os estádios de futebol e o Santuário de Fátima irão ter um glorioso futuro legislativo. 500.000 crentes juntinhos uns aos outros, com velas acesas, serão capazes de reverter o resultado do último referendo sobre o aborto em menos tempo do que se demora a ir do Marquês ao Terreiro do Paço num táxi. A beleza de se ver 100.000 manifestantes é inegável, número que tem provocado chiliques em inveterados e batidos sindicalistas de bigode e senilidade PRECoce. As previsões iniciais eram de 10.000 participantes, e tal já teria sido uma vitória. Tudo o que o sindicalismo e os partidos fazem é sempre uma vitória, como os seus representantes não se cansam de nos informar uma e outra vez. Mas cem mil é lindo, orgasmático. E foi encantador ouvir tantos com o mesmo estribilho, o qual imaginavam judicioso e judicativo: Eu nunca tinha ido a uma manifestação na vida, e vim a esta! Achavam que estava nessa dramática confissão a prova última da superior razão do protesto. Eles tinham vindo, tinham-se dignado a mexer o cu e a misturarem-se com a turbalmulta, a caterva da berraria. Então, cuidado ó ministra, vê lá isto ó Sócrates, o assunto era sério.


Não posso acreditar mais nessa gente caída na manifestação só para impedir qualquer alteração ao seu quotidiano. Vejo-os a nunca terem participado em nenhuma manifestação, de facto. A nunca se terem preocupado com a política, com as causas sociais, com os deveres de cidadania. Indivíduos reféns da sua individualidade, projectando no espaço da escola o estéril egocentrismo, usufruindo dos pequenos poderes, do bacoco e provinciano estatuto de professor e fazendo da relação pedagógica um antro de vícios e disfunções narcísicas. Que terramoto os fez sair da toca? Este: a ameaça aos privilégios profissionais e à auto-imagem. Foi isto, apenas. Como se demonstra pelas afirmações dos próprios, reconhecendo que o sistema educativo não responde às necessidades de professores e alunos há décadas; e, no entanto, essa consciência da miséria e da desgraça não os deixou furiosos e belicistas. Irem para uma escola, todos os dias, onde não se reconheciam, que não lhes dava esperança nem sequer segurança, era, pelos vistos, algo aceite e calado. A troco de um salário remediado, de uma profissão sem exigências intelectuais, de uma carreira sem desafios, de uma vida sem realização, lá iam, barafustando consigo próprios, para mais uma insuportável aula. Aparentemente, essa realidade não os deixava indignados.

Uns dias antes da marcha, Mário Crespo perguntou a Fernando Rosas, na SIC Notícias, o que poderia o Governo fazer para resolver o conflito. Crespo estava do lado do protesto, mas na sua função de jornalista procurava ser construtivo, encontrar uma solução. Rosas começou por baixar a cabeça e falou olhando para o chão, dizendo que nada havia a fazer. A situação, para ele, tinha chegado a um ponto insolúvel. E a única coisa que restava era o finca-pé do protesto. O resto, seria para os outros resolverem, não os professores e sindicatos. Ou seja, o historiador declarava que a sua concepção de política não admitia negociações. Tratava-se de uma batalha, e tal postura era alimentada e concretizada pela linguagem, as metáforas moralistas e psicologistas: os professores queriam ser respeitados e estavam indignados. A ministra, pois, era uma mulher muito má, muito má, muito má.

Os sindicatos, o PCP e o Bloco são entidades que vivem no século XX. Concebem a política como uma guerra civil. Olham para a comunidade e distinguem entre correlegionários, traidores e inimigos. O resultado é o vazio e a violência — porque se proibem de confiar no adversário, e com isso boicotam o bem comum. Acabam invariavelmente amargurados, cínicos.

A Escola que queremos não quer nada com eles. Não quer a estagnação, quer regressar à Cidade.

233 thoughts on “A Marcha da Estagnação”

  1. Faz-me rir, Valupi. Perdeste uma grande oportunidade para te reabilitares um pouco quando decidiste não enfrentar o corno de presas aguçadas que foi o artigo do Barreto colocado num comentário ao teu post anterior sobre o mesmo assunto. O homem tinha razão, não sei se um dia antes ou um dia depois estaria certo. Mas tinha razão no que disse. Encolheste os ombros.Típico e revelador.

    O problema com a nossa Educação é o problema doutros países da Europa com a Educação deles. Mas tu não vez isso. Deve ser dos Rayban. Concluis, então: os professores são calões, os reponsáveis pela educação estão-se cagando, e os alunos o que querem é a excitação da lufa-lufa de corrupção que os espera para finalmente começarem a aprender. Mais simples que isto só na ervanária.

    A ti ninguém te bate a estenderes o guardanapo etiológico. Um doutor, como diz o Daniel. Mas cura das tuas mãos espíritas está quieto ó mau. Tens um defeito, como toda a gente, mas o teu da variedade sonora: usas a grafonola da Nova Ordem Mundial. Mas chamam-te magnífico, que mais queres? Casa-te e arranjas muitos filhos enquanto a coisa vai dando.

    De modo que temos que carregar com esta cruz das castanholas socrato-sarcásticas que aqui jorras e que tão bem servem para acompanhar o saracoteio político das nulidades. “Deveres da cidadania”. Não tens vergonha? Faz-me lembrar os editoriais do DN no tempo do Salazocas.

    E que chavão é esse de se “viver no Século XX”?. Foi só há 8 anos, tinhas tu acabdo de sair da escola, remember?

  2. Quem te fez mal, little Valupi? Ainda dói assim tanto?

    Consta que os boys do Sócas andam pela net a apanhar as pedras que lhe atiram.
    Triste sina.

  3. Adorei o post do Chico Estaca: nada diz sobre o desnudado no post do Valupi e diz imenso sobre o Chico.

  4. Então, ainda ha´dúvidas que sempre foi tudo por lhe irem ao “inginheiro”?

    Da outra vez, apenas por causa do concurso, a ver se falaram em estagnação. Era rua e sms a convocar manif.

  5. Não venho comentar este post, mas manifestar aqui o meu repúdio perante este senhor valupi que, tapando-se com um pseudónimo, se permite chamar fracos e irresponsáveis àqueles que o contestam. Ao contrário de valupi, sou responsável o suficiente para assinar os meus comentários, assim como o faço na publicação de textos meus no blogue http://www.alicerces1.blogspot.com. Gente como este cidadão dão bem a face negra da blogosfera, enquanto instrumento promotor da irresponsabilidade autoral e veículo de insultos e difamações (ainda que difusos).

  6. sou carvalho, zazie, e também m*rm*ta parece.

    mas portanto ficou experimental, não é? Isso acho bem, toda a gente concorda que deve haver alguma avaliação, aliás é um instrumento de trabalho para os próprios. Cuidado com a transparência e o controlo de resultados, é nas sombras que se acoitam as ratazanas

    entretanto está mesmo a apetecer invocar um dos meus patronos, o Zero, o cardinal do conjunto vazio, e dar-me descanso

    espero que os prof.s do secundário já estejam mais descansados para melhor corresponderem nos trabalhos da escalada do final do ano lectivo. Esta manobra era pérfida, sacrificar os miúdos junto pelo caminho, guerra florida…

  7. val,
    gostas pouco, gostas… De qualquer forma, não deixa de ter a sua graça ser o Vitorino a servir o chá e as bolachinhas ao Mário Nogueira, que dá o açucar (com aquela de ‘isto é conversa de quem sabe o que diz’).

  8. e tudo por causa duns submarinos, que abriram umas portas, como detonador – eu bem me parecia que a ministra tinha cara de quem precisa tomar supositórios

    (faça ducha higiénica)

  9. Os sindicatos,o pcp,o bloco e o bloco,pá. essa esquerdalhada toda,pá.Dá-lhes,valupi,dá-lhes com o inginheiro pá.

  10. O que é que Sócrates vai dizer no final do mandato?

    “Só sei que nada sei”

    Depois da avaliação/reprovação que teve como “engenheiro”, era inevitável que reagisse como reagiu. Não deixa de ser curioso este ataque aos docentes, a uma das fracções mais acessíveis dentro da função pública – o tal proletariado das seitas (como lhe chamo). Com os juízes e médicos, encolhem os ombros e o assobiam para o lado.

    Portanto, não estou a dizer que este país não precisa de um safanão. A precaridade é gritante em todos os sectores, graças à toda uma máfia que se instalou e acomodou nas últimas décadas, impregnando tudo à sua volta – dando a ideia que só à rajada é que isto lá vai.

  11. mas tenho de confessar que aprendi uma nova hipérbole política:

    mil é demais, cem mil não é relevante

    Lourdes dixit

    a nossa senhora, não é a outra

  12. Meu Caro Valupi
    Ao contrário do artigo anterior, em que salvaguardavas a existência de profesores dignos, neste deixas todos na amálgama dos oportunismos. Por isso não posso aplaudi-lo sem reticências.
    O que está mal na avaliação dos professores é algo tão simples como o que se segue.
    Um profissional avalia-se mais pelo resultado do seu trabalho do que pelo modo como o faz. Ora, não havendo avaliação do resultado do trabalho dos professores (exames para os alunos), não se poderá nunca concluir se eles cumprem ou não as suas funções como convém. Mas isso daria muito trabalho ao Estado. Seria necessário conhecer a capacidade intelectual dos alunos para se saber que variação no nível de conhecimentos e de capacidade de aprender se encontrariam no final de cada ano lectivo. Porque não é o mesmo ensinar nas Galinheiras que fazê-lo no coração de Lisboa.
    Contra este tipo de avaliação, que não prevê avaliar quem depende dos avaliados, eu também marcharia em Lsboa.

  13. eu concordo que a maioria dos docentes não estaria na manifestação pelos melhores motivos, porque o que vi me deixou essa impressão. quase todos diziam que queriam a demissão da ministra, ou então que queriam ser respeitados. creio que grande parte dos professores não percebe sequer o modelo de avaliação, quanto mais saber verbalizar um porquê de o pôr em causa.

    mas isto não significa que o modelo esteja correcto, nem o princípio de actuação. desde que se começou a falar dele e apareceram por aí alguns dos modelos criados pelas escolas se viu que 1. o ministério demite-se da sua responsabilidade ao atribuir às escolas a formulação dos modelos, sob o pretexto da autonomia, não criando limitações impeditivas de arbitrariedades; 2. os professores, ou corpos docentes de algumas escolas não têm competência para a interpretação dos dados constantes no modelo e do contexto em que a sua escola se insere.
    não sei se está prevista uma medida de supervisão sobre os modelos criados pelas escolas pela entidade máxima (ministério), mas deveria estar, como medida de regulamentação e até pedagógica.

    por outro lado, uma coisa é criticar os docentes, ou aqueles dentre eles que não servem convenientemente o ensino. outra é defender este governo no campo da educação. concordo que mesmo sendo difícil e eventualmente injusto (a vida não é justa) a função pública não pode ter trabalhadores excedentários. horários zero são uma aberração, quando se trata de um sector pago pelos contribuintes. ora os contribuintes não são a santa casa da misericórdia. aí, seria realmente óptimo que houvesse uma justa avaliação dos professores, para não se correr o risco de pôr na rua alguém competente e vocacionado deixando lá ficar quem ensina mal e sem gosto. se o dinheiro não chega é preciso cortar e optimizar os recursos humanos disponíveis, qual é a dúvida? não me convencem os professores que vêm refilar por darem aulas de substituição, ou complementos lectivos no primeiro ciclo. pode haver casos extremos de incompatibilidade, mas aí são as próprias escolas do 1º ciclo a devolver o docente inadequado. [isto aconteceu no ano passado na escola do meu filho mais novo. um dos prolongamentos era feito por um prof que gritava tanto com os miúdos que eles andavam aterrorizados (eu cheguei a ouvi-lo). ora que raio de pessoa é esta? e como pode estar adequado a qualquer nível de ensino um cretino que aterroriza crianças pequenas?] em qualquer profissão em que haja corte há acumulação de competências. um arquitecto num atelier com pouco trabalho tem que fazer o trabalho do desenhador, etc. e no ensino universitário os professores têm imenso trabalho burocrático, acumulando várias funções, quer ligadas aos alunos quer à produção ou divulgação de conhecimento da instituição, etc.

    com o que não concordo é que este governo esteja verdadeiramente interessado num ensino de qualidade. parece-me que há uma data de directivas contraditórias com esta ideia, nomeadamente todas aquelas que levam à produção de resultados artificiais. incluindo uma coisa para pessoas que não completaram o 9º ano, saindo do ensino, e que vieram agora “completá-lo” com um currículo alternativo que nada comporta dos conhecimentos que apesar de tudo os alunos do 9º ano detêm. aquilo é uma paródia, ensinam-nos a mandar mails, a usar o word, a fazer árvores genealógicas, a produzir redacções sobre o seu percurso profissional, a organizar dossiers e a fazer contabilidade doméstica e depois ficam com o 9º ano.

    adenda:
    daniel, esse foi o método de avaliação que propus no post anterior, com a devida salvaguarda de haver uma bitola de compensação consoante a população de estudantes avaliada. como disse a sem-se-ver, e muito bem, no comentário que deixou no fim do post anterior, o modo mais adequado de avaliar o docente é poder-se avaliar não o resultado (absoluto) do aluno, mas o seu progresso. boicotaria ainda qualquer tentativa de obter resultados artificiais do estado da escolaridade portuguesa.
    (e também acho que é mais pelos resultados do que pelo método. há muitas maneiras de partir ovos, quanto mais de os cozinhar.)

  14. Eu ia fazer um enorme protesto,mas não vou gastar energias nem verbo. Aliás, o PROFESSOR Daniel, em pouco texto, disse tudo, compreendeu tudo, não meteu tudo no mesmo saco,e tomou posição.
    Mas isto é para quem sabe e para quem já adquiriu um estatudo de sabedoria e de humanidade que o guindam a outras esferas. E não o conheço pessoalmente.Fique isso bem claro.
    Achei de péssimo mau gosto comparar manifestações de carácter religioso com uma manifestação que não envolve valores de suprema espiritualidade.

  15. Concordo que a avaliação será sempre mais justa se vista através dos resultados. Mas não nos esqueçamos que só se conhece o mérito do professor se no início do processo se fizer uma prova diagnóstica que aponte o ponto de partida de cada aluno. O professor terá mérito se o fizer progredir ou, pelo menos, se impedir a regressão.
    Há no entanto um problema: a não-progressão ou regressão das aprendizagens de um aluno dever-se-á apenas à prática lectiva do professor? Não existirão outros factores? Existem, são muitos e muito complexos.

  16. sim, ruy ventura, mas não estamos a falar de um aluno e sim de um conjunto alargado deles, se considerarmos que quase sempre o professor tem várias turmas. a não ser em casos em que haja tragédias a afectar toda a população, esses casos pontuais (depressões, problemas familiares, doença, etc) serão isso mesmo: pontuais. e não afectarão significativamente os resultados no conjunto.

  17. avaliar o progresso sim, o vector, e não a posição,

    é sempre preciso exames nacionais, de vez em quando, se não perde-se a medida e a métrica comuns

  18. O primeiro parágrafo deste post do Valupi levou-me a uma conclusão que, lírica, não tinha conseguido atingir aquando da troca de comentários que tivémos no seu último post:

    – A de ter perdido o meu tempo ao julgar que estava a ter uma troca de impressões com seriedade.
    Afinal, este blogger revelou agora a verdadeira azia que o tema lhe provoca, raiando quase o rancor por algum mal grande, decerto, que terá sofrido por parte da classe docente? Terá sido na infância?

    Perdi tempo mas confirmei, mais uma vez, que a intuição não me falha e que acertei quando lá decidi dar por terminada a minha intervenção. Tiramos sempre algo de bom da relação com os outros. Plim.

  19. grande descoberta, Mar. O Valupateta é só tanga. Qualquer hipótese de seriedade ou honestidade intelectual está boicotada à partida.

    Mas é com cada um, ele diverte-se muito sempre que consegue fazer as papas na cabeça de algum papalvo. E isso, verdade seja dita, até o faz com bastante facilidade.

  20. Valupi, o texto está bem escrito e tal. Brilhante, como sempre. Mas talvez fosse melhor saberes das razões dos professores. Não ligues ao berreiro, se isso te faz tanta dor de cabeça. Tenta saber das razões de cada um dos professores que ali estavam.

  21. (Mais um arroubo colaboracionista do jovem Valupi…)

    Já que referes a “Cidade”, lembro-te que a nossa democracia não se esgota nas urnas. E mais, o direito à manifestação é um direito cívico dos cidadãos desta “Cidade” e tem tanto significado na avenida da Liberdade como na Fonte Luminosa.
    Na verdade, ninguém duvida que é necessário fazer reformas neste país e que o governo vai contando vitórias nesse sentido, mais à custa da maioria parlamentar que do engenho e arte do diálogo, mas convenhamos, nesta guerra aos professores, depois desta gigante manifestação de descontentamento por razões laborais, sublinhe-se laborais, a vitória só pode ser de “Pirro”.

  22. “creio que grande parte dos professores não percebe sequer o modelo de avaliação, quanto mais saber verbalizar um porquê de o pôr em causa.”

    E eu creio que tu também não, Susana, senão não dizias isto:

    “o ministério demite-se da sua responsabilidade ao atribuir às escolas a formulação dos modelos”

    Não. As escolas apenas têm que elaborar os indicadores de medida segundo o modelo do ministério. E a arbitrariedade está aí, no modo como cada escola constrói a escala e mede cada nível. Basta ver aquela de Leiria que, para o item da dimensão ética, resolveu resolveu reportá-la à atitude dos professores perante o governo.

    “esses casos pontuais (depressões, problemas familiares, doença, etc) serão isso mesmo: pontuais. e não afectarão significativamente os resultados no conjunto.”

    Pois continuas muito enganada! Conheces os relatórios PISA? São muito claros, e não consta que recebam encomendas dos professores portugueses.
    Na comparação com os outros países da OCDE, porque razão os alunos do 9º ano para baixo apresentam resultados muito modestos, enquanto que os do secundário mostram desempenhos semelhantes ou até acima da média?

    Isto é muito fácil de perceber sem necessidade de se recorrer a desenhos.

  23. Rodrigo, mais um para apreciar e aplaudir.
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    Chico, se te faço rir, é uma boa notícia. Significa que não estás completamente anestesiado.
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    undercover, triste sina? Como sabes?
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    Zeca, nem mais.
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    zazie, não sei do que falas. O que, esclareço, não me incomoda.
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    Ruy Ventura, alguns dos insultos que se encontram na Internet serão legítimos e só pecarão por tardios. Contudo, não sei do que falas. É que se te deixas insultar por um anónimo, talvez devas começar por não comunicar com anónimos. E outra coisa, para tua ilustração geral: ninguém insulta ninguém – é sempre o próprio que decide ficar insultado.

    A face negra da blogosfera estará antes nas opiniões difusas, como a tua, donde não salta mais do que um estado de confusão. Ora, para que queres saber o meu nome? E bastará o nome, ou também queres a morada? Que tem a biografia a ver com uma diferença de opinião?
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    TheOldMan, gostava de concordar ainda mais contigo.
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    luis eme, dizes muito bem.
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    z, entre mil e cem mil, há muita coisa para além da aritmética.
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    rvn, parece que há muita falta de chá por aqueles bandas. O mesmo não diria das bolachinhas.
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    ovotas, ó pázinho….
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    Elypse, não comeces já a disparar.
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    Caro Daniel, se tivesses ido à manifestação, terias feito muito bem. A nossa dignidade é intocável enquanto formos livres. Mas erras de palmatória se lês no que escrevo qualquer ataque a qualquer professor. Que sei eu seja de quem for? Como poderia ajuizar da vida, da alma, da ética de alguém que não conheço (ou, até, que conhecesse – outro problema, claro)? Na noite da manifestação jantei com colegas de curso, alguns deles actualmente professores no Secundário, e os quais tinham estado na manifestação. Não me passaria pela cabeça confundir os planos da relação pessoal, da vivência profissional e da conduta política.

    Do que falo é de um peculiar aspecto desta questão, e que nem sequer é o técnico relativo às propostas do Ministério. A mim interessa-me a reflexão sobre a classe docente enquanto corporação a reagir a uma força que a ameaça na sua cultura. Por aí, os discursos dos sindicatos, partidos a eles colados e professores a favor do protesto (que os há contra!), são todos exercícios de primária hipocrisia. Toda esta gente, e cada grupo a seu modo, tem estado passivamente a olhar para a decadência da Escola. Temos décadas disto.

    Este fenómeno interessa-me sobremaneira, pois trata-se de um país que está em trabalho de parto.
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    susana, a tua posição procura o equilíbrio e a lucidez. Muito bem.
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    Lia, dizes coisas interessantes. Como essa da “suprema espiritualidade”, que gostaria de ver desenvolvida.
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    Mar, subestimas a temporalidade, diria.
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    Pico, acho que é ao contrário. Serão os professores que se terão de convencer que a Escola não é o meio para eles terem um salário e uma vida confortável. A escola não é das donas-de-escola, é da comunidade. É por isso que a reforma é legítima, e a luta sindical é reaccionária. No entanto, toda esta gente se pode entender, basta ter coragem para assumir o bem comum.
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    Sílvia, concordo por inteiro contigo. A manifestação, como exercício político que comprova a superioridade da democracia e do Estado de direito, é um espectacular momento. A comoção de muitos faz todo o sentido. É lindo ver aquela união.

    Porém, fim da História? Não. Enquanto se olhar para Sócrates e para a ministra e se optar pela secessão, Portugal ficará a perder.
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    albino matos, tenho a certeza que não é reconhecida pelos dicionários. Mas isso será razão para a vetar?

  24. O PCP e a FENPROF (a mesma coisa com bigode e outro nome) enredaram nas suas malhas reivindicativas milhares de profs, uns borrados de medo com a perspectiva de serem avaliados até talvez despedidos futuramente, outros ressabiados com o concurso para profs titulares em que ficaram de fora por demérito objectivo e mensurável, outros porque perderam regalias especiais e injustificadas, outros ainda por oposição sectária ao governo de Sócrates.

    Devo dizer que não teria problema nenhum em alinhar numa “luta” dirigida pelo PCP ou pelo Diabo em cuecas cor-de-rosa, se lhe visse a utilidade e se a minha adesão não fosse depois manipulada de alguma maneira pelo dito partido – o que é quase impossível de acontecer. O que se passou com a instrumentalização de milhares de profs não comunistas apanhados nas malhas da grandiosa manifestação é que é a regra: “companheiros de percurso”, para não dizer outra coisa, a ajudar o PCP a sair do marasmo em que se encontra desde a morte de Andropov, há mais de vinte anos.

    Os comunistas não têm responsabilidades governativas desde 1974-75, desde as nacionalizações e a demolição do aparelho de Estado por gajos que não faziam a barba nem cortavam o cabelo, usavam camisolas às riscas muito justas e andavam de sapatos de sola alta. Estão há mais de 30 anos na oposição, não sabem o que é a alternância no poder (nem hão-de saber nunca), não sabem o que é prestar contas ao país, não sabem discutir, nem argumentar, nem negociar, nem fazer compromissos, nem criar consensos, nem construir, nem aproximar. Ou seja, 50% daquilo a que chamamos hoje democracia é-lhes prática estranha e detestável. Essa deficiência, quase invalidez política, é compensada pelo uso e abuso de “lutas” que aprenderam na primeira metade do século passado. Lutas, manifs, comícios, etc, etc. É a mentalidade de que está, sempre esteve e quer continuar a estar na oposição a todos os governos, tentando capitalizar todos os descontentamentos, construindo sobre queixas, reclamações, reivindicações e ressentimentos.

    Organizar manifs é hoje uma alternativa a apresentar propostas, a discutir, a negociar, a chegar a compromissos. Conduzir “lutas” e tentar deitar abaixo governos (o PCP ajudou vários governos a vir abaixo desde os anos 70) é a via que lhes resta para fazer política. Até aqui tudo bem, ninguém lhes contesta o direito. O problema é que se servem dos seus sindicatos privativos, onde também militam alguns não comunistas úteis, para influenciarem uma massa muito maior de gente, cujos votos, contudo, não conseguem caçar. O problema é que inoculam nessa gente respeitável o espírito paranóico-obstrucionista da casa.

    Compare-se esta maltósia sindical da CGTP e da FENPROF com os sindicalistas do Norte e Centro da Europa. A diferença está na força (lá são muito mais poderosos do que cá). Está na capacidade para dialogar e chegar a acordos (aqui negociar é visto como capitulação ideológica). Está naquilo que esperam e não esperam do Estado. Está nas relações por vezes íntimas que mantêm com as forças políticas que passam pelos governos. Está na recusa do ghetto e da paranóia.

  25. M, pelos vistos concordas comigo na primeira premissa. a diferença, aqui, é que eu não tenho nada que compreender.
    no segundo ponto, lapso: usei novamente a palavra «modelo» querendo referir-me à definição concreta dos parâmetros. não altera o que disse, pois estava a concordar com a evidência do problema que esse caso de leiria veio demonstrar.
    terceiro ponto: se os alunos até ao 9º anos estão negativamente afectados por algum factor – que não explicas; já agora, em vez de assinalares o meu desconhecimento dos relatórios pisa, que não é suposto eu conhecer, poderias partilhar o teu conhecimento connosco, para que algo se acrescente – então estás a dizer que estão afectados no seu conjunto. donde, o sistema de avaliação que referi continuaria a não ter os resultados afectados pela diferença, uma vez que esta seria generalizada.

    finalmente, perguntas por que razão há discrepância entre os alunos até ao 9º ano relativamente àqueles que se lhes seguem. para quem vê daqui a resposta parece estar no facto de os alunos que se seguem serem aqueles, em minoria, que mais aptidão têm para «os estudos». antes disso haverá uma grande maioria que pelas suas capacidades intelectuais, cognitivas e um etc onde caiba todos os outros factores de ponderação, tem mais dificuldades.*
    se o caso for outro, então agradecia que o expusesse, pois não serve de nada vir cá apontar a ignorância dos outros sem o proporcional esclarecimento.

    * chamo a atenção para os comentários da sem-se-ver no post abaixo a propósito das alternativas curriculares que muitos defendem.

  26. Deixem de tentar mandar areia para os olhos uns dos outros. A classe que deveria ser avaliada é a política. O problema das bases de um sistema/sociedade (ensino, justiça, saúde) parte da base. A prova de que a classe política não tem sido verdadeiramente avaliada, nas últimas décadas, é esta “alternância” consentida e partilhada entre PS/PSD.

    Ora vejam lá se acertam nesta: quando o PS deixar o governo, quem é que vai governar?

    Se você pensou PSD, acertou!

    Pois, vocês sabem tudo. Mas, então, se sabem tudo, para que é que estão para aqui com es areia?!

  27. Muitos reclamam, esquecendo-se que têm contribuido para esta sucessão de inaptos, chulos e corruptos. Se calhar é por isso que nem reclamar sabem – não se sentem à vontade nem com legitimidade para o fazerem em consciência – oh, que ainda existe gente séria!

  28. Bem, deixo-vos um texto que escrevi em 1997 – altura em que ainda tinha a ingenuidade de poder mudar este estado de “coisas”…

    … Movimento de 69 ao Contrário …

    Não há nenhuma imposição para quem queira aderir a este movimento. Porque este é um movimento do nada.
    Todos os movimentos que surgiram tinham uma ideologia, canalizavam ou congregavam esforços, se preferirem, para um objectivo comum. Visavam a obtenção de um todo, de algo que os fizesse ser perante os que ainda não seriam, ou sendo, pecavam por escassez enquanto ser.
    Houve sempre uma preocupação em atribuir nomes às coisas, com um objectivo primário de assim as controlarmos. Rotulamos toda a novidade com o intuito de sermos detentores de toda a verdade inerente a essa nova ideologia. Sempre se procurou controlar o que se nos deparava incontrolável. Receávamos todo um desconhecido anterior a nós. É um mito que subsiste e subsistirá sempre, por mais que se manifeste actualmente camuflado, através dos falsos nomes que lhes atribuímos, não deixará de nos atormentar.
    Pergunto: O que existe com nome não existiria sem? É evidente que sim. As coisas existem mesmo sem nome, aliás, é sem nome que existem mais intrinsecamente. Porém, para as concebermos como tal, temos necessidade de as identificar…

    Um não ao saber institucionalizado

    Cansa-te da métrica do Camões, do sentir e raciocinar do Fernando e dos inúmeros Saramagos. Farta-te dos falsos políticos, bem como das editoras actuais, cujos critérios selectivos assentam em lavadeiras e em falsos proxenetas literários.
    Temos um ensino de merda, um estado de merda, em síntese, uma cultura de merda que se acha no direito de refutar os nossos ideais.
    Não é pedagógico nem realista rotular-se este século de: “Século do Povo” – não foi o povo que assim o entendeu!

    Não é inteligente colocar uma instituição como a “Universidade de Coimbra”, às cabeçadas por causa de propinol. Tudo não passa de um processo de manipulação com o objectivo de encobrir as questões prioritárias através de um falso alarido – falo do latir ao osso! São atitudes dignas de circo, e tu não és palhaço!
    Não é coerente, e muito menos sensato, permitir que a tecnologia se promova para além do sentimento e do gesto. Não permitamos que tal celeridade nos remeta para mais um momento de esquecimento.

    Vamos p’rá rua!…
    Temos ali aquele espaço destituído do que é instituído. Há que aproveitá-lo, tornando-o num local realmente simbólico. Proponho-vos que nos organize-mos por uma Arte de Rua, e que de hoje em diante fique estabelecido reunirmo-nos e manifestarmo-nos sobre o que nos apetecer, expondo a nossa literatura, a nossa pintura, a nossa música, a nossa escultura, bem como as restantes formas de arte. Criemos a nossa galeria de arte, o nosso oásis de sonhos. Abaixo com o sistema. À arte pela arte!
    Estou farto de observar “artistas” a lamber o cu do que está instituído. Cansado dos serviços nada sociais, dos locais privativos, só coniventes com as cunhas; agoniza-me o ridículo dos agradecimentos e a baixeza dos anúncios nas capas e nos interiores dos livros, indicando locais e pessoas como uma referência salutar. Um pirete para esses: A arte não tem cor nem língua e muito menos coleira , não deve ser regional, pela Universalidade!

    Vamos deixar as galerias vazias
    Vamos retribuir a exploração dos playboys
    com o desprezo pelo consumismo
    Vamos ocupar o nosso espaço merecido
    Vamos sensibilizar todos
    e não uma elite pseudo-intelectual
    Está em nós o poder da mudança
    Está em nós a vontade de um futuro
    Não deixemos que nos isolem, que nos alienem
    Com a merda da tecnologia, com a treta da internet
    Não te vires para a máquina vira-te para o homem

    Não utilizemos a falsa liberdade que nos foi concedida, que apenas serviu para meia dúzia de lobbys de filhos da puta da opus dei e de maçons, e de todas as outras irmandades, de todas as outras seitas. Neguemos o primitivismo progressista das multinacionais exploradoras. Desliguem-se da televisão, da rádio e dos jornais – desliguem-se de toda a desin-formação. Dêem um colapso à economia de mercado.
    Não percam tempo por causa da propina, que não tem sequer um carácter entendível de reivindica-tivo. Têm que exigir o contrário do serviço militar obrigatório – por um ensino superior remunerado – para saldar a escravidão de um saber impregnado de vícios que só serve a quem lá está.
    Não te submetas a toda uma estupidificação que te reduz à imbecilidade de mais um mero consumidor. A partir de hoje admitamos ser logrados, mas com uma remuneração. A perda da nossa liberdade, da nossa naturalidade, tem que ser recuperada…
    Trabalhar
    Ter de ir trabalhar,
    Enfim,
    Tens que ir trabalhar
    Suportar o contacto indesejado
    Conviver com toda aquela mediocridade
    E por vezes esboçar um sorriso
    E da hierarquia cosmopolita admitir as condições
    E pensar nestas coisas, e a todas sabê-las comuns
    E por fim reflectir
    E não encontrar espontaneidade nenhuma
    Nos reflexos do dia-a-dia
    Nem na possível admiração de alguns
    Naquele mesmo dia em que se interrogam e supõem:

    “Isto é sobre mim?!” (que ideia)

    Obedeces servilmente ao poder instituído
    E adoras as vedetas do cinema, da música e do teatro
    Não possuis as sedutoras mamas de Vénus
    Nem és, tão-pouco, portador do grande falo de Príapo

    Cobiças porque não podes comprar
    Invejas porque não podes comprar
    Matas e matas-te porque não podes comprar

    Já só estudas para poder comprar
    Já só trabalhas para poder comprar
    É, só realmente vives se puderes comprar

    Em prol de uma sociedade de merda
    Aniquilam-te a infância
    Pilham-te a adolescência
    Enfim, já adultos, resta-nos saber
    Porque nos fazem parecer e ser uma MERDA!

    Antes a repressão era fechada, hoje é aberta. É simples ver em qual delas o efeito é mais nocivo. Não temos direcção, tiraram-na; não temos sentido, camuflaram-no; não temos objectivos, minaram-nos! Prosseguimos sem vontade, prosseguimos por prosseguir, e o pior é que voltados para nós mesmos. Daí o crescente acréscimo do consumo de drogas. Mas, há que acreditar, não somos uma geração rasca, e é fácil de o perceber através dos que levantam tal bandeira; porque esses querem ser imolados por nós, pelos feitos passados – sim, esses que nos caluniam como geração do nada são os que se masturbam em casa, em delírio, por os entendermos como protagonistas de uma revolução.
    Não se apercebem?! Chamam-nos rascas, mas adoram ser mimados por nós. Gostam de ver o trabalho reconhecido pelos que depreciam!
    Para ti pseudo-intelectual fica a pergunta: para além do que sabes, que foi o que aprendeste, o que é que sabes?
    Consegues sentir, consegues emocionar-te? Então, doninha, descobre-te da carapaça, da falsa pele de cordeiro que partilha toda esta actualidade corrupta. Abaixo os protegidos do sistema – Puta que os pariu!
    É o momento de saberem que nos encontramos num ambiente bem mais constrangedor que o antecedido 25 de Abril; é o momento de saberem que nos deparamos com uma liberdade artificial, inerte de valores, que nos dispersou e desuniu com o objectivo de nos manipular. Por haver um sistema que determinou, através de um conjunto de normas e regras, o normal, ou o comportamento dito normal, não quer dizer que seja normal com o que pressupõe, através da suposta normalidade. Quem elaborou estas regras, apercebeu-se que poderia estabelecer um padrão comportamental de obediência perante os submissos – de modo mais mundano, perante o povo.

    Artilharam-se de códigos e regras, nas quais se sentem à vontade para nos contornar, fragilizam-nos para nos dominar.

    Os jornais e a televisão – a política
    Veio-nos tornar todo um imaginário comum
    Facultou-nos um diálogo cada vez mais comum
    Que poderá ter isso de criativo
    Quando continua a faltar-nos duas
    Realidades primordiais
    A noção de nascimento e a recordação da morte

    É neste modo qualquer
    Consoante o que há e o que há-de vir,
    Para além do que houve,
    Que pensamos atingir ou ter atingido
    A realidade do que é ser
    Uns com os outros falamos, cedemos
    Numa sub noção sabemo-nos presos
    Desejamo-nos nessa mesma igualdade
    Por estranho que possa parecer, será isso?

    Que culpa temos nós da incapacidade dos outros?

    Já não me interessa que me reconheçam pela dor
    Já não me apetece dar um golpe na mão
    Ter um motivo,
    Alguém, para desabafar durante o tempo da sutura

    Diz-me! Fala-me!
    É suposto que algo semelhante a ti se expresse!

    Esta consciência foi o que me corrompeu
    Foi contra ela que me revoltei
    Contra um saber impregnado de vícios, de axiomas,
    Sem conteúdo
    O saber, ou o que é suposto sê-lo, esvaziou-me.

    Não tenho noção, mas sei que estou ao contrário.

  29. Já agora, que passei por aqui, ó Valupi e se corrigisses a legenda da foto? olha que não é a professora quem segura o cartaz mas, provavelmente, o filho dela…
    Obrigadinho pelos posts. Valeu, pá!

  30. Não, não concordo contigo na primeira premissa porque não acredito que 100 000 professores se dêem ao trabalho de se levantar de madrugada, meter nas suas tamanquinhas, correr centenas de km e aguentar cinco horas de manifestação por coisas que nem sabem bem o que são.

    Claro que só podes mesmo concordar que o modelo é o definido pelo ME, caso contrário não me parece que houvesse muitos problemas com as escolas. E trabalhar sobre um modelo do qual se discorda por muitas razões e ainda ter que arranjar gradações e medidas para essa discordância, é obra.

    Eu nâo assinalei o teu desconhecimento do relatório PISA, leste foi de pernas para o ar. Foi exactamente o contrário, se não expliquei mais foi por ter suposto que o conhecias, dado que é um dos aferidores do nosso sistema de ensino. Mais do que a agora famosa ‘avaliação externa’, vulgo exames, simplesmente.

    Pois o famoso relatório conclui, não pelas capacidades cognitivas que não explicam nada porque se distribuem aleatoriamente por toda a população, mas porque existe

    – relação entre o desempenho médio dos alunos de cada país, o rendimento nacional e os gastos por aluno. E que se as condições sociais e económicas em Portugal fossem médias, os alunos portugueses melhorariam substancialmente a sua posição relativamente aos outros participantes

    – relação entre os resultados escolares e as diferenças de perfis das famílias dos alunos. E que os melhores resultados tendem a identificar-se com alunos provenientes de famílias que consomem bens culturais, recursos educacionais, e com níveis mais elevados de educação e de estatuto profissional

    – relação entre os resultados e as expectativas do aluno e da família, que decorrem das situações anteriores.

    As diferenças entre os perfis dos alunos do ensino obrigatório e do secundário em Portugal são mostradas pelo próprio relatório, pelo que julgo mesmo não ser preciso explicar mais nada.

    Para demonstrar desde já, se ainda preciso fosse, como este modelo do ME é pérfido, acrescento que a dita escola de Leiria, num dos parâmetros em que se faz depender a avaliação docente dos resultados dos alunos, considera ‘insuficiente’ um professor que alegue razões como as expostas pela OCDE.
    A irresponsabilidade do ME vai a este ponto, de deixar que os professores fiquem à mercê de idiotas subservientes.

  31. Valupi
    Hoje ouvi uma entrevista na Antena2 com o Gabriel Mitá Ribeiro. Vai sair um livro seu que se chama “A Lógica dos Burros”. É sobre o ensino, claro. Do que ele disse, não ouvi nada com que eu não esteja de acordo. Ia em viagem com minha mulher, que concordou tanto como eu, uma vez que aquele tipo de crítica a fazemos há muito tempo. Eu venho pensando escrever um artigo aqui para nós, mas deixa abater um pouco do pó que por aí vai.
    No entanto, não me calo agora sem antes dizer que a maior culpa dos sindicatos de professores (e fui um dos pioneiros em Portugal destas associações, que eu não gostaria de ter visto esfrangalharem-se em capelinhas) foi nunca se terem oposto com tenacidade às “reformas” anedóticas de ministérios sucessivos. A culpa da ignorância é múltipla, e por isso o odioso desta anunciada avaliação é parecer que se pretende com ela atirar para cima dos professores a responsabilidade toda do baixo nível de conhecimentos dos alunos. O que há é uma recusa visceral da maior parte da sociedade em querer aprender.
    Falaremos disso com mais calma.

  32. daniel,
    permita-me só um comentário: os sindicatos opuseram-se e com muita tenacidade às ‘reformas anedóticas de ministérios sucessivos’. de pouco lhes serviu, bem como a nós, professores. mas que se opuseram, ai lá isso opuseram. :D

    (até já houve quem escrevesse aqui – na outra cauxa de comentários – que os sindicatos não fizeram senão tentar deitar abaixo qualquer reforma que se lhes apresentou… o que é uma visão tão exagerada e desajustada quanto a sua.)

    sem ofensa, claro. :-)

  33. mas M, o facto de os professores se terem unido em massa numa acção de protesto não implica essa compreensão. implica apenas que estão descontentes. a confirmar que não tinham todos a mesma reivindicação temos o facto de muitos professores dizerem que não querem a demissão da ministra e outros dizerem o contrário.
    quanto ao modelo, pois, a mim também me pareceu esquisito. e foi isso mesmo que disse.

    relatório pisa: não conhecia especificamente nem de nome, mas os dados que apresentas são conhecidos de todos. no entanto não vejo como é que a avaliação dos professores por exames nacionais feitos aos alunos colide com esses dados. basta que se tenha em consideração, como disse, as populações e factores heterogéneos. é que dê por onde der a competência do professor traduz-se sempre por resultados, não absolutos, mas relativos. se, numa mesma escola, para um mesmo exame, um prof de biologia obtiver melhores resultados entre os seus alunos que o colega da turma ao lado e, por exemplo, isto acontecer em dois anos consecutivos, podes ter a certeza de que ele tem melhor desempenho.

  34. Nik, bravo!
    __

    Meia Lua, obrigadinho. Já temia que ninguém fosse reparar nisso. E a mim parece-me a filha, mas há alguma androginia no ser adolescente, lá isso há.

    Quanto ao resto da legenda, deixarias ficar?
    __

    Daniel, o problema não está em haver opiniões diversas, contrárias. Numa temática tão vasta e complexa como a Educação, terão inevitavelmente de aparecer os mais desvairados pontos de vista. O problema está do lado daqueles que entendem a política como uma guerra civil. Porque seria possível aos professores ganharem o apoio popular, e conseguirem moldar a política ministerial, se estivessem unidos numa proposta que fosse obviamente o resultado da procura do bem comum. Porém, onde está ela? Não se conhece porque não existe. O que há são manobras de boicote ao projecto ministerial. A finalidade é só uma: imobilismo.

    Desta evidência não saímos, porque os sindicatos e as associações de professores não têm feito nada de relevante nestes 30 anos que possam mostrar. Só pensaram neles próprios, como bons salazaristas.

  35. Antes que me esqueça apreço-me a dar valentes palmadas de apoio ao Nik das 19,28! Custa-me um pouco aquela sova inicial aos profs que pode ser excessiva por demasiado abrangente mas a verdade que todo o comentário encerra vale bem o aplauso. Poucos terão dado por isso, o certo é que até os assanhados ódios contra qualquer avaliação evoluíram para terrenos mais pragmáticos e realistas: Agora já se fala de avaliações, até se discutem conteúdos, se admitem modelos, se debruçam sobre a carne do problema. O tal que era tabu! Tivéssemos nós (eles) começado por aí e muito folclore se teria poupado, muita indignação genuína teria esfriado naquelas cabeças.
    Mas é aí que entra a outra parte da verdade do comentário, o comportamento típico de um PCP que nunca se habituará ao jogo democrático, sempre pronto a cavalgar descontentamentos e a fornecer-lhe o combustível. Consenso e procura de soluções aplicáveis é blasfémia, como muito bem se descreve.

    O Valupi tem levado por aqui pancada medonha pelo crime, vejam lá, de subscrever posições da política do governo. Para quem acusa o mundo que existe fora da escola de intolerante, não está mau o exemplo. Problema que ele carrega com uma perna ás costas. Quem se intimidasse com os guardiães do templo sagrado não se meteria nestas alhadas. Tal como Sócrates e esta ministra que aqui se incinera. Parece que a atitude certa é encanar a perna à rã para que nada mude. Com os resultados que se conhecem.
    Para quem vai de passagem já falei que chegue. Não sei quem é o Valupi, nem o Nik. Só rezo para que a Zazie me não condene ao fogo eterno. Em três comentários sem tirar fora……

  36. Elipse, não sei se estarei a ser muito elíptico se te disser que os políticos que tu queres ver avaliados de preferência aos professores já são a parte da população que é a mais escrutinada, controlada, observada, devassada e avaliada de todas as maneiras e feitios (sobretudo feitios). Notei no teu discurso uma componente sindicalista apreciável, que deves ter adquirido por osmose. E um certo desespero, visível naquela parte em que acusas não sei quem (os políticos, raça maldita?) de serem todos inaptos, chulos e corruptos. Pecas, entre outras coisas, por falta de originalidade. Mas esse espírito não te vai ajudar a sair dos problemas que defrontas no início da tua vida de adulto. E essa tua queixa contra “a falsa liberdade que nos foi concedida” é mesmo de alguém que não sabe história, não ouviu os pais nem os mais velhos, ignora tudo o que se passa hoje à sua volta e se está nas tintas para quem sabe. Não resisti a dizer-te isto, caro Elipse. Não leves a mal.

  37. “Enquanto se olhar para Sócrates e para a ministra e se optar pela secessão, Portugal ficará a perder.”
    O que é isto? Mas que discurso mais salazarento, pá!

  38. Não concordo contigo quanto fazes coincidir o não conhecimento dos meandros da avaliação com a diversidade de posições sobre a ministra. As pessoas estão de acordo quanto aos objectivos, podem é divergir nas estratégias. E não só divergem como se espraiam pelos muitos motivos de contestação, de que a avaliação é apenas a parte mais visível.

    Era mais do que evidente que pedir a cabeça da ministra para já é irrealista, o Sócrates está amarrado ao efeito Correia de Campos e não tem campo para mais um desaire nos dias mais próximos. Está entre o nada e coisa nenhuma, porque para salvar a face não vejo como se pode governar contra uma classe inteira que é a primeira outorgante neste embate.

    É claro que os resultados dos exames são uma boa medida de aferição se for ponderada com outros factores, mas mesmo essa falível e de geometria variável.

  39. Agora, o Sócrates é o salvador da pátria? E a ministra é a Senhora Maria dos milagres de Fátima que nos quer salvar dos males da Rússia? Malditos sindicatos que nos querem desviar do bem comum… malditos sejam!…

  40. Poucos terão dado por isso, o certo é que até os assanhados ódios contra qualquer avaliação

    Ocasional, deves ter acompanhado os acontecimentos muito à vol d’oiseau, pois eu que até sou bastante atenta não me lembro deste ponto de partida.

    Mas deixa lá, antes assim, sempre temos pontos vivos de conversa, o que não deixa de ser o objectivo deste nosso andar por aqui.

  41. que fosse obviamente o resultado da procura do bem comum.

    E esse é…? A bem da nação?

    Não sei se é impressão minha, ou os tiques de antigamente voltaram reciclados.

  42. Sem-se-ver
    Ter-se-ão oposto, mas não tanto quanto necessário. Eu temi o fim da pureza sindical quando começaram as divisões, segundo o escalão de ensino, segundo as regiões, segundo os partidos políticos, etc. Sobretudo quando ser sindicalista passou a ser cargo remunerado, pois que, no tempo em que tudo se criou, nós tirávamos tempo ao nosso tempo livre e até dinheiro do nosso próprio, porque ainda não o havia do sindicato a formar. Não vou deificar os do meu tempo fundador nem demonizar os outros, mas que se perdeu algo desse idealismo inicial, como em tudo que o pós-revolução contaminou, lá isso perdeu-se.

  43. M
    Não se pode governar contra uma classe? Porquê? Se ela for unida, se fechar em torno de interesses próprios que prejudiquem um serviço público, o governo agacha-se?! E a classe inclui os milhares de rotativos, carne para canhão que animava os nossos fins de Verão?

    A avaliação não foi rechaçada logo à cabeça? Então não eram já todos avaliados sendo a coisa desnecessária? Onde andaríamos nós no começo da III guerra mundial caseira, um surdo e outro tísico!

    Levemos então a coisa assim à vol d’oiseau. Esta vida tem dois dias!

  44. Ocasional, a zazie está a descansar. E bem precisa, tadinha.
    __

    Rodrigo, obrigado nós.
    __

    ovotas, já tinha percebido à primeira. Mas fizeste bem em repetir.
    __

    Sílvia, a ideia de um “salvador da pátria” causa-te alergia pelo lado da salvação ou pelo da pátria?
    __

    M, se não sabes, eu ajudo-te: é mesmo impressão tua. Mas a qual nasce de uma expressão minha.

    E acertas na parte do antigamente, mas bota antigo nisso. Porque o tal “bem comum”, que te baralha, é a noção de que vivemos todos na mesma comunidade. Sim, imagino que isso faça confusão a muita gente.

  45. Não se pode governar contra uma classe? Porquê? Se ela for unida, se fechar em torno de interesses próprios que prejudiquem um serviço público, o governo agacha-se?!

    Eu nem sequer estava a levar o ‘não se pode’ para o ‘não se deve’, mas sim para a impossibilidade prática. Se o ME é suposto governar-se com essa classe, fazendo gala em mostrar que está a fazê-lo bem e para o tal bem comum, como vai gerir a sua função com a mão-de-obra em rebelião interna? Pode obrigar à gestão dos assuntos correntes, não ao empenhamento.
    É por isso pouco inteligente não serem capazes do tal jogo de cintura que os bons governantes mostram. Já nem digo para atrair o entusiasmo da classe, mas pelo menos para não convocar a hostilidade. Mas para isso era preciso o golpe de asa que falta aos medíocres.

    De qualquer modo, embora mostrando a fraqueza de dizer o contrário, já vão piando muito mais fininho. Pelo que ouvi hoje, vais ver que em breve está tudo no ponto que os professores pretendem, embora afirmando sempre o oposto. Faz parte do jogo dos que se sentem fracos falar com voz grossa enquanto recuam. Esses é que partiram de cara feia e dedo em riste com a exigência de os documentos de avaliação estarem obrigatoriamente prontos em Fevereiro, para a não obrigatoriedade de prazos até finais de 2009. E afinal as escolas até podem ir ao seu ritmo; e afinal até já são só 7 000 os avaliados este ano e apenas os desgraçados de mochila às costas; e afinal até vão reunir as vezes que forem precisas para colaborar no que for preciso; e afinal até o capataz do Pedreira hoje apareceu de olheiras a miar mansinho.

    Então não eram já todos avaliados

    Se eram já avaliados e aceitavam, é porque a avaliação não era rechaçada. O que foi rechaçado foi o modelo, a coisa mais idiota que conseguiram engendrar à volta do caldeirão. Não é por acaso que têm levado bordoada até dentro do próprio partido e não é porque os camaradas rejeitem a avalição. Talvez seja porque o processo os deixa a todos mal no retrato, conseguiram essa proeza. Os chamados tiros no pé, que tentam a disfarçar com trapos.

    Pode lá ser-se mais desajeitado?

  46. Valupi, és muito bom a ajudar, mas falta-te sempre o essencial: e o bem comum é…?

    Não me vais dizer que não sabes. Estamos todos ansiosos pelas tuas orientações, há precisamente 34 anos que nos debatemos com falta de quem defina os valores que não se discutem.

  47. M, falas bem. Vê-se que dominas a matéria. E assim, não te apoquentes mais – tens aqui a resposta: o bem comum é a comunidade.

    Agora, tens de convencer os teus colegas a aceitar que a Escola é um espaço comunitário, onde, a par dos professores, também os pais e os pagadores de impostos têm um interesse a ser respeitado. Quando os professores estiverem prontos para dialogar com a comunidade, avisa para se passar à segunda lição.

  48. Pois, Valupi, continua tudo muito vago. Tão vago que não vejo onde é que os professores não cabem nessa tua definição de bem comum. E quem diz professores diz outra qualquer faixa de que te lembres assim de repente.
    Não queres seres um poucochinho mais esclarecedor? Enunciados desses são como os antibióticos de largo espectro, assentam em todas as situações.

    Entretanto já viste as notícias de hoje? Como a estagnação do ME já começou a agitar-se 100 000 manifestantes depois?
    Tal como eu previa ontem, já está tudo no ponto zero, de onde nunca devia ter avançado se não fosse a estupidez de alguns zelotes.

    Agora sim, há condições para se partir em direcção ao bem comum, seja lá isso o que for. Mas ainda não perdi a esperança de que venhas a ser tão preciso na tua definição como os indicadores de avaliação do ME.

  49. A salvação da pátria, caro valupi, resume-se à urgência da redução do déficit orçamental, caso contrário não há senhora de Fátima que nos valha no seio da união europeia. O problema actual dos professores aparece por arrasto.
    Mais, não confundas os problemas da carreira docente da escola pública com os problemas da educação da actualidade. E mais, os profs. também pagam impostos e desejam, tanto como tu, uma escola pública de qualidade.
    Quando referes a “comunidade”, estás a pensar na nossa sociedade, ou, simplesmente, na comunidade educativa de uma escola?

  50. M, tens toda a razão. O bem comum, mesmo definido como comunidade, é um conceito vago. E isso é chato, como dizes. Chato e aborrecido, o que é ainda mais chato. Mas, espera, não vás já a correr em direcção à taça. Com que é que poderemos comparar a latitude semântica do bem comum? Olha, por exemplo, com o respeito. Ou com a indignação. Noções vagas, não dirias? Já para não falar daqueles conceitos que não se limitam a ser vagos, antes provocam uma saudável barafunda quando alguém tenta reduzir-lhes a vagueza e anular-lhes a vagância: a realização, o amor, a liberdade. Curioso como estes vagões levam tanta gente, e para tão longe.

    Ai o ME tenta por todos os meios chegar a acordo com os sindicatos e, como se não bastasse, procura afanosamente governar o sector da Educação? Que vergonha, que fracos. Sim, está descoberta a panaceia nacional: a xaropada dos cem mil.

  51. pamem, nem mais. É o novo chic: o sindicalismo-passerelle.
    __

    Sílvia, penso na comunidade dos vivos, dos pagadores de impostos, dos antepassados e dos descendentes. Não fica ninguém de fora.

  52. Não vejo um país em trabalhos de parto, vejo uma árvore a levar podas radiculares para tolher as citocininas e ficar bonzai, talvez. Quanto à ministra: entre os mil serem demais e os cem mil não serem relevantes, mostrou que o ensino da matemática é totalmente despiciendo, ao contrário da retórica política.

  53. susana, os indicadores são enunciados genéricos. Por exemplo, ‘Dimensão ética’ do professor.

    Depois, segundo os iluminados, cada escola tem que organizar cinco escalões para a dimensão ética, do insufiente ao excelente. E tanto pode considerar que a dimensão ética assenta na relação com o ministério, como fez a escola de Leiria, como na relação com os orgãos dirigentes, como na relação com os colegas, com os alunos, com o gato e o papagaio, com o simples facto de se fumar ou não no recinto escolar e outras normas de convivência e actuação que ocorram a quem elabora os indicadores.
    Alguns são mais precisos, mas mesmo nesses a definição e redacção dos cinco indicadores de nível mantêm-se à vontade do freguês.

    Isto é aceitável? Mas é a isto que o ME chama autonomia das escolas, abrir campo à aplicação de delírios que a imaginação de cada um soprar, como fez a tal escola, que teve o azar de ser conhecida e ter que retirar esse maravilhoso instrumento de avaliação do que é um bom professor.
    Afinal, e ao contrário do que quer fazer crer, até confia plenamente nos professores para gerir a sua própria avaliação, considerando-se a si próprios dispensáveis no processo, contrariando todo o discurso de confronto.

    Mas isto é uma discussão idiota, pois como diz a Sílvia, tudo não passa de um processo cujo único objectivo é o bota-abaixo e portanto qualquer indicador serve desde que seleccione, nem que seja pela cor dos olhos. Não escolhe os melhores, nem os piores, nem os assim-assim e deixa em roda livre arbitrariedades e pequenos poderes a nível local.

    Continuam a tartamudear uma linguagem estagnada ao mesmo tempo que avançam às arrecuas. Patético. Não sei se a machadada de misericórdia foi desferida pelo Vitorino e Maria de Belém se pelo Patriarca. Desconfio que os primeiros fazem parte da estratégia de apoio na retirada e lambidela de feridas, mas não posso falar por eles.

  54. Valupi, jogos de palavras não chegam para o que te falta fazer: decidires o que é o bem comum e como se mede o seu cumprimento.
    Aguardamos ansiosos.

    O bem comum, da comunidade, é tão preciso como a ‘Dimensão ética do docente’.

    Queres ser tu a elaborar os indicadores de nível? É fácil, passa por uma escola que eles ali já tiveram que enfrentar a tarefa.

    Z, não vás tão longe. A ministra é apenas disléxica na leitura dos zeros e os capatazes limitam-se a abanar a cabeça e falar grosso. Limitavam-se, que o capo Pedreira teve que meter terapia da fala para aparecer ontem na televisão.

  55. M, mais dia, menos dia, vais ter de aceitar a realidade: tudo o que se diz é um jogo de palavras. Mas, antes desse dia chegar, podemos fazer avançar a causa.

    Tu pareces decidido/a a que seja eu, e aqui, a decidir por ti, e por todos, o que seja o bem comum. Embora alguns vissem estultícia no teu propósito por ele ser auto-contraditório, e também por jamais abdicarem de pensar autonomamente, eu vejo sageza no teu jogo de palavras. A tua intuição está correcta, deixa-me já afiançar-te, pois não é vergonha nenhuma ignorar conceitos básicos da realidade política, filosófica e sociológica. Vergonha é fingir que se sabe. E tu estás a perguntar, a pedir ajuda. Muito bem.

    Assim, indica-me uma dessas escolas de ansiosos e terei todo o gosto em lá ir fazer uma palestra sobre o bem comum. E até poderemos discutir os indicadores de nível – matéria, afinal, também ainda algo distante da univocidade matemática. E poderei, se pedirem com educação, presidir a reuniões de trabalho. É que não há nada mais aflitivo do que ver um professor assarapantado por causa da linguagem; e, estou certo, todos não seremos de mais para dar uma ajuda a essa malta.

  56. Vá lá, Valupi, eu até sou generosa e dou-te uma ajudinha.

    O docente e o bem comum

    Insuficiente
    Participa em todas as manifestações contra o ME. Participa em todos actos públicos que questionam a actuação do ME. Crítica os actos do ME, principalmente os que lhe dizem profissionalmente respeito.

    Regular
    Participa regularmente em manifestações contra o ME; participa regularmente em actos públicos que questionam a actuação do ME; crítica a maioria dos actos do ME, principalmente os que lhe dizem profissionalmente respeito.

    Bom
    Participa em apenas em um ou outro acto público que ponha em causa a actuação do ME. Crítica apenas um ou outro acto do ME mas nunca aqueles que profissionalmente lhe dizem respeito. Nunca participa em manifestações contra o ME.

    Muito bom
    Não participa em actos públicos que ponham em causa a actuação do ME. Não crítica actos do ME. Não participa em manifestações contra o ME.

    Excelente
    Não participa em actos públicos que ponham em causa a actuação do ME. Não crítica actos do ME. Não participa em manifestações contra o ME. Não tem maus pensamentos que questionem qualquer tipo de actuação ou disposição do ME.

  57. Tu pareces decidida a que seja eu, e aqui, a decidir por ti, e por todos, o que seja o bem comum.

    Caro Valupi, que saída mais pífia.
    A equipa do ME devia orientar-te como se avança até ao nada.

  58. Até que enfim que aparece aqui uma M (professora) a dar cartas à demagogia caseira.

    O que é preciso é apanhar-lhes a gosma. Depois é fácil. Isto é tudo postiço.

  59. o que me chateia é que o que precipitou isto tudo foi os submarinos,

    bastava os prof.s ficarem 15 dias de greve em casa para ver o valor que lhes davam os paizinhos contribuintes. Não quer dizer que não se procure melhorar as coisas, é sempre saudável, mas o que se pôs em cima da mesa foi um processo para pôr tudo a arder à medida que se caminha para o final do ano, os exames correm mal e a culpa é dos professores! Os fogos da tradição mediterrânica de mistura com a exótica do eucalipt_al. Porque é que uma pasta branquinha precisa de passar pelo negro de fumo? para cumprir o ‘ouro verde’ de mira amaral, sai muito mais barato e rentável do que desramar com motoserra, trabalho especializado, isso em Portugal não é bom, porque é mais caro.

    claro que se protegia o solo da erosão, reincorporavam-se nutrientes, resguardava-se a microfauna e os propágulos, e etc., mas isso não conta porque são pensamentos a longo prazo. também não dava para fazer mosaicos, muito caro, coisa de idealistas, vai a serra toda a eito, batalhão glauco, porque estava mesmo a pedi-las…

    também não percebo como é que se chegou a este estado de coisas onde os alunos portugueses saem tão mal colocados no panorama europeu, mas sei que a melhor solução é professores que façam das aulas festas de aprendizagem, com controlo de resultados. Ora só se consegue isso com a cabeça disponível, em tempo e em estado.

    também sei que no superior diabolizavam os prof.s e o ensino do secundário, e eu durante vários anos engoli essa, até que fui consultar os livros de texto e falar com miúdos, etc., não acho justo, e também dá jeito aos miúdos dizerem que o mal é do secundário, para se encostarem

    tudo junto dá um grande regabofe de chumbaria, os rapazes não têm pachorra e preferem puxar pelos músculos e pelo carro, e bazam, as meninas são mais resilientes e assim também se tem a feminização do ensino

    agora lá se há excesso de horários zero e essas porras já não sei

  60. M, também me junto ao entusiasmo da zazie e do z, aplaudindo a grelha e o grelhador. E também agradeço a definição de género, o que me facilita o texto.

    Estive reunido com vários especialistas em bem comum, alguns sem ligação ao Governo (só para tentar disfarçar a marosca), e estivemos a analisar cuidadosamente o que escreveste. Citando o amigo z, a classificação está uma delícia. Foi também essa a consideração unânime do colégio de sábios. Só que, como descobrimos através dos nossos potentes aparelhos (ah, pois), está uma delícia à custa dos nutrientes, tendo tu feito uma aposta exclusiva nas calorias ME. Estas têm energia para exercícios pedestres de alguma extensão, mesmo que sempre a descer, mas não alimentam o pensamento. Depois de te ler, ficamos na MEsma. Só falas de MErda, vendo com atenção.

    Acontece que eu acredito que não saibas, genuinamente, o que seja isso do bem comum. O mais certo é ser noção que não te acompanhou no teu crescimento intelectual, nem se encontra no teu meio profissional e político. Terás outras, muitas, impecáveis. Mas quanto a esta, dá-te para o inquérito. E tu gostarias que o bem comum fosse alguma coisa que coubesse em 10 páginas A4. Se possível, só numa, que a malta tem pouco tempo para pensar. Aliás, o que era muita fixe era sacar uma definição de duas linhas. Porque assim já daria para rir um bocadinho com o disparate que saísse.

    Aquilo a que chamaste uma saída era, concederás, uma entrada. E, podendo ser pífia (sim, claro), era minha. Onde está a tua? Que propões? Queres ser avaliada? Se sim, como? Se não, porquê? Pode ser isto o bem comum, a reunião do melhor de cada um. Mas olhar para o Governo, para a ministra, para o Ministério, como se olha para um grupo de bandidos, que é o que tens revelado, já não será o bem comum. É maldade própria, mesmo que muito comum.

  61. Foi um bom debate, não? enriquecemos um pouco a democracia, espero

    que fique em avaliação experimental não acho mal

    o que me lixa é a economia: durante os últimos anos as poupanças de muitos e muitos portugueses foram-se, ou para sobrevivência própria, ou para pagar impostos em dívida, ou na bolsa, ou sei lá

    Para onde é que isso foi tudo? Ou será que afinal não existia?

    apetece-me mandar um feitiço a dizer ‘pois que regresse’, já que a economia também é virtual, mas não sei se ficamos atolados

    e agora os prof.s do secundário e do superior são o bode expiatório dos submarinos e quejandos, vejam lá os torpedos

  62. Já passados os sessenta comentários, o que é que vimos pelo caminho? Vimos muito. Vimos um Valupi desprepucionado (Bravo, Nick!) e crista murcha e vimos o bravo Nick pròpriamente dito, no acto de posse, de plumagem eriçada. Se estes dois gajos não reunem todas as condições necessárias para terem almoços de trabalho democrático em bons restaurantes com apparatchiks granjolas do Partido Socialista, então não sei, dona Rosalina. E Vimos M, dialing for Murder cada vez que aparece, sexos invertidos, Valupi encostado à parede, só falta premer o gatilho. Muchas flores para Valupi mañana.

    Claro que Valupi, compreende-se, está-lhe no sangue, talvez no intento, ou mesmo no plano das intrigas seculares, além disso foi criador e inventor do nobre post nação valente próprio de paraclitos irreverentes e malcriados. Deixêmo-lo navegar, pelo menos enquanto falar é sinal que está vivo.
    Mas o Nick, o que é que veio fazer aqui esse erudito dos bons princípios e gorduras democráticas a derreterem-se pelo pote abaixo das demagogias sobre problemas negociáveis e compromissos entre classes muito respeitadoras entre si? Veio fazer várias coisas, entre elas proferir algumas asneiras de porte considerável.

    De pés muito seguros sobre o inatacável pedestal da Democracia, ataca sem piedade os coitados dos sindicatos acusando-os de organizarem marchas inconvenientes ou desnecessárias, de lhes faltar a razão, de inocularem inocentes, e de não terem estofo, nem hábito, nem calma ou diplomacia para se sentarem à volta duma mesa com água mineral à discrição, e de não serem como os bem comportados equivalentes da Europa evoluida. Esqueceu ele, mas isso será porque conhece bem a História que o papá lhe contou no século XX, que tem sido precisamente à volta de mesas que se têm cometido os maiores crimes da História. Por exemplo, o bombardeamento de Hiroshima. Mesas imperialistas, democráticas, capitalistas, comunistas, partidárias e um montão doutras.

    A seguir, por carambola e reflexo fatal inevitável, cai em cima dos comunistas como perdigueiro em lebre chumbada acusando-os de não terem experiência governamental há trinta e tal anos, que vergonha! – como se isso fosse pecado ou coisa a não esperar numa sociedade capitalista mais ou menos organizada. Nem sei porque não lhe veio à cabeça acusá-los também de principes menores das autarquias arrabaldinas sem direito aos tronos centrais.

    E nem me atrevo a imaginar que ideia é que este arauto do bate papo sereno entre classes fará do direito à greve ou do recurso à dita, já para não se falar da revolução (a ele deve-lhe ter bastado a francesa e a de 1910, a mesma história dos americanos com a bomba atómica), porque pela maneira como ele se insurge contra as manifestações leva-me a crer que não será das melhores.

    Os democratas de trazer por casa, avessos a análises desapaixondas não sujeitas a influências de carapaus políticos de sua predilecção, são assim, vomitam o que lhes vem às cabeças. Quando assaltam as “liberdades” deles, a conversa é outra – vêm pra rua gritar como qualquer donzela delicada a quem se lhe invadiu por acidente a zona interdita das cuecas; invocam direitos constitucionais, humanos, Dia da Mãe, vão à Igreja, à bruxa e à Sinagoga, ao Estado Maior, à Nossa Senhora da Deriva, etc., e até são capazes de pegar em varapaus e forquilhas e tirar cursos de judo para defenderem as suas regalias ameaçadas. Quando os outros são os lesados, comunistões ou professorões, tanto faz, armam-se logo nos diplomatas mais civilizados do mundo. Eu não posso com corjazinhas destas. Caquinha pior não há.

  63. Valupi, não te descomponhas com linguagem menos própria. Não vale a pena, olha a ministra a quem nem um cabelo mexe mesmo que se roa por dentro.

    Caíste num labirinto de balelas e andas aí a pisar ovos à procura da saída. Se não estivesses tão ocupado a tentar chegar à superfície já me tinhas respondido que há tantas definições de bem comum como as almas existentes sobre a terra. E vá lá, mesmo que um determinado país num determinado tempo conseguisse uma plataforma de entendimento quanto ao conceito, seria muito duvidoso que este preciso esquema de avaliação engendrado pelo gabinete da 5 de Outubro fosse importante para esse bem comum. Era muito arriscado para o país e injusto para o próprio ME, que vai continuar apesar deles e já não falta tudo.
    Ainda me custa a acreditar que se tenham deixado encurralar por um triunvirato cheio de ar e vento.

    Mas estás bem acompanhado na busca de uma saída airosa. Como já te disse, a marca Sócrates não tem qualidade suficiente para encaixar dois cataclismos seguidos, que lhe colocam em causa a habilidade para gerir castings. E o tempo corre contra eles porque, na ânsia de encobrir a retirada, continuam a produzir uma torrente palavrosa que a prazo os vai engolir. Se ao menos tivessem piedade de si próprios e se calassem!

    Mas pode ser que a manifestação de autocomplacência de sábado traga novidades, apesar de o sangue frio dentro do PS desaconselhar a sua realização. Parece-me avisado, sei lá. E algo me diz que se sentem acossados pela convocatória por SMS para presença silenciosa à porta do comício.

    Mas olhar para o Governo, para a ministra, para o Ministério, como se olha para um grupo de bandidos, que é o que tens revelado, já não será o bem comum. É maldade própria, mesmo que muito comum.

    Valupi, não incorras no mesmo caudal palavroso que submerge o ME porque isso vira-se contra ti. Lê antes o te proponho que percebes logo que estás em risco de ir na enxurrada.

    Mas olhar para os professores como se olha para um grupo de bandidos, que é o que tu e o ME têm revelado, já não será o bem comum. É maldade própria, mesmo que muito comum. Até porque os professores são 140 000 e indispensáveis ao funcionamento do sistema, o que não se pode dizer da troika.

    Já lá esteve o Santos Silva e vê o que ele considerava antes e considera agora o que é o bem comum. Parece ser um conceito bastante oscilante por aquelas bandas. Não te comprometas tu com ele, que te largam ao primeiro apertão.

    Se não tens mais nada que dizer a não ser deitar conversa fora, despeço-me até um novo tema.

  64. o Valupi já duvidou que seja mulher

    Zazie, até tens razão. O Valupi aposta ainda nas mamãs a tempo inteiro.

    Z, mesmo que te recuses a acreditar, há fichas semelhantes, como a de Leiria.

    Os horários zero já são poucos e da inteira co-responsabilidade do benfeitor comum Santos Silva. Criaram vagas quando se estava a ver que não havia sustentação no crescimento demográfico e agora põem os Valupis a apontar o dedo aos professores para fugirem aos torpedos.

  65. Até eu duvidaria que fosses mulher, caso não conhecesse o género de mulher que não é galinha e sabe pensar. Coisa que por aqui não estão habituados a enfrentar.

    E é claro que o retrato das “donas-da-escola”/Maria dona-de-casa/ foi esse. E foi sempre a contar com tudo o que era básico que foi vendendo o peixe, chegando até a dizer que “algo me diz que és professora” quando os disparates e taralhoquices se amontoavam por parte das oponentes.

    M: se não fosses mulher e eu ser comprometida, até era capaz de arrebitar as antenas
    “;O)))

  66. Acabei de assistir na televisão ao velório deste sistema de avaliação. Sinceramente até tive pena dos oficiantes.
    Sempre de cabeça baixa, gaguejante, ar adoentado como se 100 000 pessoas lhe tivesse passado por cima, pela primeira vez a ministra veio dar conta de que tinha pessoalmente negociado com todos, todinhos, sindicatos, conselho de escolas. Os outros dois que a ladeavam não sei bem quem são, a crista murcha torna-os irreconhecíveis.

    E que sim senhora, que tudo está a ser negociado. Horários e remunerações (!!!!) para os avaliadores, ajustamentos, adaptações, reformulações, avaliação ao jeito de cada escola para este ano, tempo e mais tempo para elaborar os indicadores, etc, etc, etc.
    Afinal o bem comum já não reside por ali.

    E – aqui tive que ajustar a corneta acústica na dúvida de que a acuidade auditiva ainda seja o que era – até sugestões se aceitam para o concurso a professores titulares!

    Francamente, gostava mais deles há uma semana, tinham mais garbo. A rua é danada a triturar.

    Zazie, nada feito. Também tenho a minhas afinidades electivas que não me dão qualquer folga.

  67. Pois é… um grande melão o deles.

    Quanto ao resto, M, idem, idem, aspas, aspas. Mas olha que te posso garantir que não há por aqui, na blogo (e nem nos jornais) mulher a pensar política assim.

    Isso garanto-te. Há alguma coisa ao lado, quando são juristas mas, nesses casos, tendem a deixar-se enredar na casuística ou a não sair desse campo de especialidade. A Kamikaze é um bom exemplo.

  68. Também eu vi e ouvi a montanha parir um ratito, com estas declarações do ME. E ouvi a reacção de Mário Nogueira, também. Não é que não tenha percebido as palavras proriamente ditas, mas juro que quando as juntei às expressões de cada um, os sinais que li das respectivas posturas deixam-me à toa com aquilo que (não) adivinho nos bastidores. Vocês perceberam este duplo salto à retaguarda com triplo mortal? Então e quem é que está a tirar o tapete a quem, dizem-me? Que raio de negociações são estas, que tipo de ultimato é este das 48 horas, que insegura segurança é aquela da marilú? E o que insinua Nogueira, nas sublinhadas reticências? Onde está o ponto de acordo, o consenso? Em quantos avaliados e como? E o que diabo está na mesa afinal? Quem torce o braço a quem, explicam-me?

  69. Valupi:

    Eu sei que o meu comentário e a tua pergunta já ficaram lá muito em cima. Mas, já agora, que passei por aqui outra vez, lembrei-me de te contar um pequeno episódio, à laia de historieta, do meu tempo de estudante no ISEL. Ou não me tivesses tu puxado pela língua ou pelo teclado do computador. Por ele ficarás a saber se deixava ou não ficar o resto da legenda no teu post.
    Conclui o curso de engenheiro técnico de Electrotecnia e Máquinas com trinta e quatro anos. Estudei à noite, já casado e com dois filhos. Com idade para fazer com mais coerência e acuidade a avaliação dos meus professores.
    Para encurtar:
    As aulas de Correntes Fortes eram formidáveis. A sala estava sempre cheia. Muitos dos alunos ficavam de pé. Chagas Gomes nunca fazia chamadas. Apenas assinava o livro de presenças. A fazer chamadas perdia-se perto de quinze minutos. Era um gosto ouvir o homem, pá!
    Certa vez, os alunos pediram ao professor de teórica, como responsável pela Cadeira de Órgãos de Máquinas, que o professor de prática pudesse dar alguns exercícios sobre a matéria para tirar as muitas dúvidas que tínhamos.
    – Muito bem. Vou falar com o vosso professor e explicar-lhe a situação. O que vocês pretendem.
    E falou.
    Na aula seguinte com o professor de prática – por alcunha o Pés-Frios: «Vocês não têm frio? Está frio, não está? Tenho os pés frios…», eterno pretexto para a aula terminar mais cedo –, veio a resposta ao nosso pedido:
    – Conforme pediram ao meu colega da teórica, na próxima aula vou dar-vos exemplos sobre a matéria solicitada.
    No dia da aula a nossa expectativa e interesse eram notórios. A surpresa do Pés-Frios ao ver a sala a abarrotar, em vez da costumada meia dúzia de gatos, também.
    Após a chamada, da qual nunca prescindia, coçou levemente por detrás da orelha, endireitou os óculos na cana do nariz e disse:
    – Pois bem, meus senhores. Trago aqui alguns exercícios. Vamos lá…Vamos lá, então, começar…
    Em má hora. Ninguém entendia os exercícios e quem menos os entendia era o próprio Pés-Frios. Com isto, teria decorrido, pelo menos, metade do tempo da aula. Até que a voz do Manuel Mocho se fez ouvir:
    – Senhor professor, dá licença que vá ao quadro expor as minhas dúvidas?
    – Ao quadro? Com certeza. Com certeza que dou licença. Faça o favor, senhor Manuel!
    Foi o bom e o bonito. Ambos de costas para nós, gerou-se a confusão total. A dado ponto, ouviu-se outra voz:
    – Senhor professor, desculpe, posso sair mais cedo? É que moro no Barreiro e o horário do barco…
    – Certamente. Certamente que pode sair. É claro, pois. O barco…
    E outra voz logo a seguir:
    – Eu também, senhor professor…
    – É do Barreiro? – Interroga o Pés-Frios – Faça favor…
    E num rasgo de benevolência:
    – Bom, se estiver aí mais alguém do Barreiro, que queira sair…
    Foi a debandada quase geral. «É pá, deixa a porta aberta!», sussurravam os que ficavam.
    Até que o Pés-Frios, o nosso professor de prática, olha a sala como se a visse pela primeira vez, coça com o dedinho atrás da orelha, endireita os óculos na cana do nariz e comenta para os já poucos alunos:
    – Olha que…Olha que muitos alunos do Barreiro há por aqui. Muitos. Mesmo muitos, realmente!

    Valupi: já tem a resposta ao resto da legenda?
    O que descrevo não é ficção. Não é anedota. Passou-se, exactamente, assim. Mas tirei o curso.

  70. hum. Ainda não percebi em que é que isto ficou afinal. Seja como fôr enquanto houver M’s fico mais descansado, embora esta coisa do secundário não me diga propriamente respeito. Cuidado com essa pôrra das avaliações externas, à partida pensa-se que uma entidade independente introduz mais imparcialidade, mas é o tanas. A única defesa é a transparência completa.

    Também já vi que vai haver por aí umas ratazanas remuneradas para pôr os colegas na rua, em nome da excelência, tristeza dos barcos torpedeados

  71. Consultório Grátis

    Estaca, li 3,43% do teu comentário e foi demasiado. Se bem entendo, a democracia faz-te gases. Deves andar para expulsá-los, é o meu conselho. Sempre é melhor do que vires fermentá-los para aqui.

    Professores em pânico, comunistas fora de época, idiotas úteis e outros distraídos: o vosso caso é mais complicado. Uma manifestação não vos evacua a flatulência, por isso recomendo-vos chá de hipericão, que também ajuda no sono.

    Boas noites

  72. já agora pode ser que isto dê jeito a alguém,

    se se quiser avaliar um vector de transformação e não apenas a posição, então:

    sejam n as categorias da classificação ou seja a dimensão do vector

    e a=(a1, a2, …, an) o ponto de partida

    e b=(b1,b2,…,bn) o ponto de chegada

    então v=b-a=(b1-a1, b2-a2,…, bn-an) é o vector da evolução

    e |v|, a norma euclideana, ou comprimento, ou valor absoluto (de v), calcula-se como:

    |v|=raiz quadrada de ((b1-a1)^2 mais (b2-a2)^2 mais … mais (bn-an)^2))

    (desculpem lá mas isto antes não escrevia o sinal de ‘mais’, agora não sei

    ———–

    -> fazer mala

  73. M, pode ser que sejas mulher (and who cares?), mas não consegues esconder o farfalhudo bigode de sindicalista. Puseram-te alguma coisa no caldo verde e achaste que tinhas de vir para um blogue repetir as posições da FENPROF. Que todo o mal no Mundo fosse esse, diga-se em teu abono. Só que estás a deitar água no ribeiro. Podes confiar nesta informação: já era do conhecimento público, antes de teres aqui aterrado, que havia um diferendo entre Governo e sindicatos. Mas não é intenção do meu texto dar razão ao Ministério, pois não faço parte das equipas que negoceiam o acordo; do que falo é da Marcha da Indignação e do professorado como corporação reaccionária, convém lembrar-te.

    Tu não consegues sair do registo da cassete. Por isso não estás interessada em discutir seja o que for que ultrapasse a cartilha. Como boa comuna (ou usando a táctica), anulas o discurso do outro (diluição num “jogo de palavras”) e repetes a tua mensagem de forma monótona (a temática “ME”). Não te incomoda seres agente de terrorismo argumentativo: quem discorda de ti, está ao serviço do inimigo – é, de facto, o teu inimigo. Isto acontece-te porque só concebes a política como aquele exercício em que se derrota alguém, o tal inimigo. E não te embaraças nada para encontrares inimigos: vais inventando os alvos à medida da tua pontaria.

    No que escreveste, há duas partes: uma em que discutes o diferendo, e outra onde não discutes o bem comum. Foi nesta segunda parte, por me envolver a mim, que recebeste a simpatia de dois alucinados de serviço, a zazie e o Chico Estaca. Com mais experiência neste grupo, saberias que o apoio destes cromos significa que entraste para o clube dos taralhoucos.

    Claro que tu nunca quiseste falar sobre o bem comum, querias apenas um passatempo. Mas deu para perceber a tua dificuldade cognitiva: sem conceber materialmente o conceito, não o conseguirias pensar neste contexto. Quer isto dizer que estás a revelar uma ingenuidade intelectual; e por isso acabas a dizer, candidamente, que:

    “Se não estivesses tão ocupado a tentar chegar à superfície já me tinhas respondido que há tantas definições de bem comum como as almas existentes sobre a terra.”

    Creio que está nesta afirmação a raiz do teu problema. Perturba-te a diversidade de opiniões, lidas mal com a necessidade de comunicar com o diferente, incomoda-te viveres com o opositor. Por isso estavas tão insistente na procura de um qualquer ponto de apoio, donde pudesses levantar a tua contra-argumentação. Como é óbvio, como devia ser evidente para ti caso tivesses outras referências culturais, o tema do bem comum não se relaciona directamente com a temática da educação ou com a proposta do ME – relaciona-se com a comunidade, com a política no sentido mais alto e mais profundo, simultaneamente. É por isso que continuas, e tão ingénua que começa a despertar ternura, a errar:

    “E vá lá, mesmo que um determinado país num determinado tempo conseguisse uma plataforma de entendimento quanto ao conceito, seria muito duvidoso que este preciso esquema de avaliação engendrado pelo gabinete da 5 de Outubro fosse importante para esse bem comum.”

    Erras nisto: o bem comum não é uma noção apriorística. Esclareço ainda melhor: o bem comum não é uma ideologia. Antes, é um ideal; o resultado da acção política, desde que orientada para ele. Vou dar um exemplo concreto relacionado com a temática: se o ME levar avante a avaliação, como o afirmou nesta quarta-feira (para fúria da FENPROF), e mesmo que ela aconteça de forma reduzida face ao original (as tais cedências, recuos, no teu léxico, ou negociações, no meu), o Governo terá sido agente do bem comum. Porque estará a respeitar o melhor interesse: efectivar o que mais bem origina na comunidade. Eu, pagador de impostos, quero que o meu Governo concretize a avaliação no sistema de ensino. O modo como essa avaliação acabará por ser realizada também terá o contributo de sindicatos, associações e indivíduos – e tal método e dinâmica são legítimos e bondosos, para mim.

    Como boa alucinada, projectas nos outros as disfunções que exibes. És tu a palavrosa e a descompensada. Por isso falas ressabiada, a pingar ressentimento. Para ti, a ministra e quem a acompanha são velhacos, portugueses desprezíveis. Queres que eles sofram. Fantasias poderes titânicos, adoras metáforas facínoras: “A rua é danada a triturar.” Ui, esses amanhãs que cantam tão esquizofrenicamente…

    Mas peço-te um favor: fala-me um pouco da tua concepção de linguagem própria, mais própria e menos própria. Ou, então, corta esse bigode.
    __

    rvn, perguntas muito bem. Que se passará? Só quem vai às reuniões saberá.
    __

    Meia Lua, muito obrigado pelo teu testemunho. E é isso: todos temos histórias com professores que foram autênticas desgraças. Durante décadas, fez parte do folclore. Agora, talvez seja tempo de sermos mais responsáveis.

  74. valupi, já me despedi de ti. Nada de novo debaixo do sol que justifique voltar à antena.
    Embala-te com as tuas palavras que dormes que nem um anjinho.

  75. Roubei este post no «A Origem das Espécies». Como assino por baixo, poupo-me ao trabalho.

    As queixas sobre a educação encontraram agora um argumento político de força, graças à manifestação dos professores. A avaliação iria pôr termo a todos os males e levar-nos ao caminho da civilização. Mas, na verdade, a guerra contra os professores e os pedidos para que as autoridades actuem sem recuo faz esquecer o pormenor: avaliem o trabalho do Ministério nos últimos vinte anos. Não dos proprietários ou ocupantes temporários da pasta, mas dos verdadeiros donos do ME, uma classe de experimentalistas que elaboraram programas, preâmbulos a programas, ordens burocráticas e documentos sobre procedimentos burocráticos, escalas de reuniões e curricula absurdos (e que, inclusive, autorizou curricula ainda mais absurdos para valorização «profissional» de professores hábeis, muito hábeis), ausência de razoabilidade em processos disciplinares, reformas e contra-reformas curriculares ao sabor de pantomineirices (como a TLEBS, a imbecilização no ensino da Matemática, da História e da Ciência) que favoreceram a falta de cultura científica e de hábitos de trabalho dos estudantes. Esses são os verdadeiros responsáveis. Meter na escola – essa arena onde o ME sempre esteve impune e sempre defendeu a sua autoridade para impor regras e princípios sem discussão e sem participação – pais, autarquias, estatísticas, julgamentos pelos pares, inspectores sem competência científica e até gente analfabeta mas com todo o conhecimento da novilíngua ministerial providenciada por génios que raramente ou nunca deram aulas ou estiveram mais de dois anos seguidos numa escola, não é o melhor método de nos levar ao caminho da civilização.
    Claro que se pode questionar uma avaliação feita contra os professores, mas essa é uma guerra fácil e cheia de armadilhas. Basta ver os blogs, de esquerda e de direita, pedindo autoridade, disciplina e avaliação. Avaliam-se resultados, sim; mas com que instrumentos, com que programas escolares, com que linguagem técnica?
    A questão, aqui, não é a de dar crédito aos sindicatos ou às multidões, a de apoiar a ministra (mais uma vez, aliás, é o secretário de Estado Jorge Pedreira que vem salvar a nau…) ou a de considerar que qualquer recuo é uma derrota de José Sócrates. Outras equipas optaram por outro caminho: primeiro, tratar da matéria educativa, dos programas, dos curricula, de um estatuto do aluno sério e capaz, da chegada do rigor (esse sim) ao ensino das ciências e das humanidades – depois, tratar também da avaliação dos professores. Estranho, por isso, que tanta gente caia na armadilha.
    Na verdade, esta ministra não tratou de reformar a escola, nem o ensino, nem a educação; tratou, isso sim, e com razoável eficácia, de melhorar as estatísticas e de disciplinar o funcionamento da rede ministerial (desde os célebres corredores da Av. 5 de Outubro às regras para auxiliares administrativos, comportamento de professores e de sindicalistas). Fez bem. Era um ponto. Mas a verdadeira reforma, aquela que este sistema de avaliação há-de esconder, essa não me parece que esteja a ser feita. Coisas simples: o que defende o ME sobre a utilização de calculadoras no ensino básico?; o que diz o ME sobre o programa de ensino de Português?; por que razão entrega de mão beijada o ensino da Literatura e da Filosofia?; por que razão se continua a autorizar o aumento do preço do livro escolar (vem aí, vem aí, preparem-se…)?; foram os professores ouvidos sobre as reformas curriculares? Eu queria um ME que se preocupasse com isso. Argumentarão que a avaliação é o primeiro passo para que o ME deixe de tratar todos os professores como «os professores» e passe a distinguir os bons, os maus e os outros. Mas a fazer o quê, nas escolas?

  76. Valupi, nem duvides, especialmente depois de me atribuir os imerecidos louros de te ter permitido deitar cá para fora o que te vai na alma. Mágoas, frustações, sonhos, projectos de vida.

  77. Ana, espero que tenhas consciência de estar a assinar uma falácia.
    __

    M, é para essa expressão do que nos vai na alma que viemos à existência. Mas desilude-te se achas que fizeste o mesmo. É que não acredito que a tua alma se reduza a uma cassete em muito mau estado de conservação.

  78. Ana Cristina, a literatura sobre as causas do insucesso escolar em Portugal dava para encher de novo as avenidas de Lisboa desde a Fontes Pereira de Melo ao Terreiro do Paço. Passa por muitos factores, mas provavelmente não andará muito longe daquilo que é sabido sobre os trabalhadores portugueses: em Portugal produzem pouco, no Luxemburgo são parte incontornável dos números do sucesso.

    O livrinho que quanto a mim resume a situação como nenhum outro, sem grandes rodeios nem desculpabilizações, é “O ‘Eduquês’ em Discurso Directo. Uma crítica da pedagogia romântica e construtivista” do Nuno Crato.
    Está lá tudo.

  79. valupi, não adianta tanto embrulho para coisa nenhuma. Ou como dizia o outro, ‘much ado about nothing’.
    Está tudo à vista, principalmente quem é o casseteiro.

  80. Vê se percebes uma coisa. Quiseste dizer tanto sobre mim, esmiuçar até ao detalhe a partir do nada que me conheces, que te limitaste a falar de ti. A fúria catalogadora speaks volumes acerca dos catalogadores.

  81. Valupi,

    Não me surpreende, claro ver-te abrir mais uma vez a caixinha de primeiros-socorros e dela sacares os famosos pensos “Taralhouco” e tinturas “Alucinação”. Do que não estava realmente à espera era que o fizesses aqui, porque sinceramente pensei que já tinhas dado o último suspiro, resultado dramático das persistentes pauladas que a “sindicalista” M.(isteriosa) te afinfou. Só se vive duas vezes, como disse o outro, não há dúvida nenhuma.

    Mas antes que leias deliciado pela quinta ou sexta vez o teu último contra-ataque frente ao espelho onde normalmente costumas declarar a paixão incendiária que sentes pelo teu próprio reflexo, deixa-me lembrar-te novamente duma coisa que é muito muito importante: eu tenho um educado asco à política, especialmente à política dos partidos organizados. Seja quais forem. Sou como os caramelos que dizem instintivamente, ou ajudados por faros especiais, que isto é tudo a mesma cambada. Mas um caramelo “with a difference”, nota bem, que procura ler e aprender coisas novas todos os dias. Ontem, por exemplo, foi o dia de aprender com surpresa que o Mussolini salvou (das garras da Gestapo) a vida a muitos socialistas de bom champanhe e caviar ideológico e até os pôs a viver, cama e roupa lavada, em lindas ilhas do Mediterrâneo. E que as suas ideias socialistas, repara na propositada ausência das aspas, metiam as da completa comissão nacional do modelo português na barraquita do cão. Olhando ao passado, não sei que raio de abalo cerebral teria dado ao Cunhal para pensar que chamando “fascista” ao Salazar o estava a ofender numa perspectiva de direita. Coisa louca.

    Por isso, ninguém partidàriamente organizado ou em seu perfeito juízo cometeria a imprevidência de se apoiar ao que eu disse nesta discussão para dar dois passos seja para onde for sem o perigo de estatelar-se com surpresa.. A minha intervenção aqui, nesta caixa de brincadeiras opiniáticas para neocon ver e partir a moca a rir-se, foi puramente com o propósito de denunciar os “double standards” de democratas como tu – os tais da variedade esteriofónica cheia de graça. E a ideia que tenho de “democrata” e “democracia” é estranha e levada do diabo que nem queiras saber. Acho, por exemplo, que todos temos o direito de nos manifestarmos, quer estejamos certos ou errados, incluindo avenida acima ou abaixo com apolícia no encalço.. E chega. É o que basta para construirmos o futuro se não deixarmos que nos enfiem os garruços. O resto são desdobramentos e subdivisões.Tenho muita pena mas foi só o que aprendi no respeitado livro dos pascácios.

  82. M, estás a confundir o cu com as calças. Eu nada disse sobre “ti”, disse sobre o teu discurso. Que sei eu de ti? Nada. Mas da interacção que tive, e tenho, contigo, sei tudo. Foste tu a catalogadora mor, até precisaste de me colar ao Ministério.

    Enfim, que querias discutir quando me falaste do bem comum? E onde é que me viste aqui a defender a avaliação de forma técnica? Claro que a proposta do ME estaria condenada a levantar um coro de protesto, muito estranho (e perigoso!) seria se tal não acontecesse. E não há mal nenhum nisso, bem pelo contrário. Mas quando te perguntei se eras a favor da avaliação e como, népias, silêncio do teu lado. Porque essa, para mim (e para muitos), é a questão: querem os professores, ou não querem, uma avaliação? Se querem, o que custa chapar com o modelo da vossa proposta na Net para toda a comunidade o conhecer e pensar? É que a posição dos sindicatos, e o sentido da manifestação, configuram uma atitude que é apenas de oposição.

    Atacar professores individualmente? Jamais, isso seria imbecil. Já fui professor, e tenho muitos amigos professores – sei bem das condições terríveis em que alguns fazem o seu trabalho (mas também das perversões incríveis que alguns levam para o seu trabalho!). Aliás, acho que serei professor pela vida fora, quase como um sacerdócio. Mas isso não me inibe de criticar a corporação que tem estado passiva perante a decadência da Escola.

    Se não fosse pela força de Sócrates, acaso os professores iriam para a rua protestar para exigir mais qualidade no ensino? Não, continuariam bem adaptados à “realidade”.

  83. Chico, como sabes, tu só és bom quando tentas ser mau. E nisso vais encantando alguns sofisticados apreciadores de vinho velho fora do circuito comercial (o vinho e os apreciadores). E tenho de te estender a passadeira vermelha por causa deste exacto retrato:

    “Mas antes que leias deliciado pela quinta ou sexta vez o teu último contra-ataque frente ao espelho onde normalmente costumas declarar a paixão incendiária que sentes pelo teu próprio reflexo, […]”

    O que vem a seguir é o teu usual cardápio, com pratos clássicos. Tens muitas contas a acertar com o século XX, e eu só lamento não te ver mais vezes a dizer a tabuada. A tua.

  84. Valupi, estás a tresler, mas julgo que nem é propositado, apenas má aprendizagem.

    Interpelei-te com uma pergunta simples, que não há meio de responderes de modo directo: o que é o bem comum, como se mede e quem está investido da capacidade de o definir para toda a comunidade, já que afirmas que certa ou certas classes não dão o seu contributo. Nem sequer entendeste uma frase simples de sujeito, predicado e complementos: há tantas definições de bem comum quantas as almas que existem no mundo. Mais catalogações à conta da não descodificação do texto.

    Errata: reconheço que afinal a frase não é simples, existe uma relação de subordinação entre duas orações. Desculpa lá o incómodo, é só mais um esforço.

  85. valupi, de acordo: também ando a pedir desde o princípio da conversa que os professores digam, então, qual é o modelo de avaliação que preconizam e, exceptuando críticas ao que está mal no outro, nada aparece como alternativa. e já não falo duma alguma coisa hipotética, à laia de exemplo, mas de um ensaio concreto de modelo.

    por outro lado, se admites que houve negociações, terás também que admitir que elas apenas aconteceram por causa da manifestação. ou seja: o ministério estava numa posição de inegociável antes desse momento. e se a intransigência é sempre má conselheira, a “boa-vontade-negociante” nada nos diz sobre qualquer espécie de reconhecimento dos erros – o que é pena, pois a avaliação é desejável, mas o modelo previsto era um grande disparate.

  86. Olha, o Estaca descobriu ontem, já tão crescidito, que o Mussolini era socialista sem aspas e sem caspa e que salvou a vida a socialistas. A começar pelo chefe deles, o Matteotti, não foi? Nunca é tarde para ampliar a cultura geral.

    Este buthead do comentário bloguístico ainda vai demorar uns anos mais a descobrir que o Mussolini era fascista (sem ofensa), que expulsou os socialistas da política, que perseguiu e matou socialistas, inclusive o seu chefe, que ilegalizou os sindicatos maioritários, entre os quais os socialistas. Para o Estaca, o importante é que o Duce salvou uns amiguitos socialistas-caviar. O Estaca não gosta de caviar, prefere alimentar-se de paradoxos. Depois queixa-se dos gases, claro.

    Olha pá, já agora, sabias que o Hitler foi nacional-socialista? Se puderes, investiga quantos socialistas-caviar ele salvou das suas próprias garras.

    Um peido na tola, Chico.

  87. M, será má aprendizagem, como apontas, tendo eu tantos anos de escola pública.

    Começo, num crescendo, a ficar seriamente preocupado contigo. Deixa-me dizer, antes mais nada, que acredito piamente que a noção de bem comum te fosse estranha até esta conversa. Claro que não tenho forma de o saber, mas coisas mais incríveis já aconteceram, algumas no Entroncamento. Depois, também confio na tua capacidade para reconheceres o meio que utilizas, a Internet. Saberás que podes passar os teus dias e horas de inactividade a ler definições e reflexões sobre o bem comum – o que dá muito, muito tempo de leitura. Mas o mais bizarro é a tua obstinação com o boicote ao conceito: tu queres que seja eu a definir aquilo que resulta da acção colectiva. E colocas a questão com desamparo:

    “o que é o bem comum, como se mede e quem está investido da capacidade de o definir para toda a comunidade […]”

    Estarás, então, habituada a que pensem por ti. Nada de mal com isso. Mas convirás que és vítima de alergia ao adjectivo: se o bem é comum, não é só meu, nem primeiramente meu, nem mais meu do que teu e do que deles. Como resolver o imbróglio? Tens de arriscar o pensamento próprio. Sem sindicatos e partidos, ousa pensar por ti própria – o lema iluminista. Por exemplo, pergunta-te a quem pertence a Escola. Será feudo dos professores? Ou dirá respeito também ao Governo, aos pais e aos que pagam impostos? No caso de admitires alterar o estatuto de dona-de-escola para parceira da comunidade, ficarás a contemplar o bem comum: aquilo que une todos num mesmo propósito.

    Neste caso, e como já coloquei perante a tua indiferença ou incompreensão, o bem comum implica que os professores respondam à pergunta: querem ser avaliados? Acto contínuo, deverão justificar a resposta. E porquê? Porque do outro lado há quem queira avaliar os professores. E sem conhecermos a rigorosa posição dos professores perante a matéria, não podemos encontrar a melhor solução. Encontrar a melhor solução, mesmo que passe por centenas de reuniões e de protestos, acções de luta, tomadas de posição, é o que configura, substantiva e institui o bem comum. Repara: não sou eu a definir o bem comum, porque esse conceito não se esgota numa qualquer particular questão. Trata-se de um ideal comunitário, o que só existe na equivalente medida em que toda a comunidade se comprometer com ele.

    Lamento, o bem comum não é mais uma cassete. É um palco.
    __

    susana, as negociações têm acontecido com muita gente e há muito tempo. A manifestação não veio desbloquear as negociações, veio coroar a estratégia de um dos lados. Mas eu não tomo o partido do Ministério, muito menos pretendo discutir os aspectos técnicos da proposta, por razões óbvias. Apenas me relaciono com a questão enquanto cidadão. Nesse estatuto, quero que se chegue ao melhor acordo que as partes forem capaz de estabelecer. Seguramente, haverá manipulações informativas de parte a parte, mas é nesse plano inerente à democracia que vejo os sindicatos a boicotar, a guerrear, não a construir nem a solucionar.

  88. susana,
    por regra negociar implica uma de duas coisas: receber uma proposta e sobre ela tecer considerações, críticas, sugestões de alterações; recusá-la em absoluto e propôr outra em alternativa.

    os sindicatos (esses malfeitores), como costuma aliás acontecer, discutiram as propostas (vamos supôr que sem aspas) vindas da Ministério; porque é assim que se faz, e a perspectiva foi, contrariamente ao que se veicula, construtiva. O Ministério fez ouvidos moucos a (quase) tudo.

    por essa intransigência é que houve uma marcha tão de indignação que ela realmente foi a marcha contra a estagnação – do Ministério; e deu resultados, ao invés do que eu mesma julgara, antes, durante e após lá ter ido dar à perna avenida abaixo: M já listou as cedências (não negociações, porque a intransigência antes da marcha fez a ministra propalar várias vezes que não cederia um milímetro – e afinal já foram vários kms, pelo menos os que vão do Terreiro do Paço ao Marquês) que resultaram de tanta mobilização.

    está então chegada a hora de entregar uma proposta alternativa. é o que vai acontecer, segundo já vi anunciado pela fenprof.

    (tremo com as enormidades que hão-de vir dali, mas enfim! :D

    cá estarei para lhes dar pancada também.)

    e sim, z, o nogueira bem que podia perder aquele ar vitorioso e de chantagista que tão mal lhe cai, com ultimatos absurdos de quem está nitidamente a abusar de um poder que nem a marcha nem os professores lhe conferiram. pczões, já se sabe como é. nunca sabem quando parar.

    em todo o caso, acentue-se que a teima em aplicar a avaliação este ano, mesmo sobre uma diminuta percentagem de professores, será só para salvar a face da Ministra. contudo, se realmente se cingir à auto-avaliação do professor e à avaliação deste pelo conselho executivo, como referiu a Ministra, não me repugna de todo (nem é muito diferente do que já se fazia, aliás). os professores contratados não necessitam dela (poderiam não necessitar), mas há colegas que sim, para passar de escalão. e, sendo assim, porque não sairão prejudicados com uma ‘avaliação simplificada’ destas (mesmo que ela esteja perto da anedota e longíssimo do modelo de avaliação elaborado pelo ministério), não vejo porque terão de ser prejudicados.

    não somos nós que temos as carreiras congeladas há 3 anos ou lá o que é?

    então que pelo menos alguns possam finalmente mudar de escalão este ano, se a avaliação provar que o merecem.

    (sabe do que eu gosto na escola? e só? dos alunos. da sala de aula. esse é o meu bem comum. ou será individual, por ser o meu?)

    lá vou de novo.

  89. É preciso algum pulso para te amarrar ao assunto porque te deixas embalar pela corrente sonora e tornas-te instável e incontinente.

    1. Os professores não contribuem para o bem comum
    2. O ME contribui para o bem comum ao lançar um normativo sobre avaliação docente
    3. O bem comum consiste no bem que resulta do debate, negociação sobre o método de aplicação do mesmo normativo e sua operacionalização

    1. O ME enviou para as escolas em início de Fevereiro uma proposta de avaliação insusceptível de discussão em qualquer dos seus aspectos, pedagógico, formal, timing. Os instrumentos para fazer cumprir essa imposição teriam que estar impreterivelmente acabados em finais de Fevereiro e a avaliação iniciada de imediato.
    2. A movimentação docente, sistemática, persistente ao longo de semanas, enquadrada ou não pelos sindicatos, forçou o ME à abertura de negociações, diálogo, concertação. Bem comum.
    3. Os professores tornaram possível que o bem comum visse a luz do dia.
    4. Os professores contribuem para o bem comum. Pelo menos para o do Valupi.

    As ideias tu tinha-as lá, o sistema de canais em que a informação circula é que está um tanto danificado. Um bypass aqui e ali põe isso a funcionar com alguma eficiência.

    Sim, a escola pública tem as suas insuficiências e uma delas decorre do facto de ter anos a fio lançado mão de cidadãos não habilitados. Acabam mais cedo ou mais tarde por abandonar, mas os estragos estendem-se por várias gerações escolares.

  90. M, se “a escola pública tem as suas insuficiências” (o poder do eufemismo), que impediu os professores de se manifestar mais cedo? O sindicato não deixava? Ou as insuficiências não eram suficientes para um passeio na Capital, só o passando a ser quando, para espanto geral, um Governo resolveu pedir responsabilidades aos professores?

  91. sem-se-ver, por regra negociar implica uma de duas coisas: receber uma proposta e sobre ela tecer considerações, críticas, sugestões de alterações; recusá-la em absoluto e propor outra em alternativa.

    pois precisamente! onde está ela concretizada? porquê não estamos em cima desta discussão podendo comparar o modelo de avaliação construído pelos docentes com o modelo de avaliação proposto pela tutela, visto que não concordava com este?

  92. Susana, a sem-se-ver já te respondeu e apenas pretendo reforçar umas ideias.

    Não estou dentro das negociações dos sindicatos, mas vou estando informada. Os sindicatos são vários, cada qual terá uma proposta que privilegia e só há pouco, perante a irredutibilidade do ME, é que se formou uma plataforma comum.
    Até agora e tanto quanto me apercebo por informações a que todos temos acesso, os sindicatos estavam de boa fé para ponderar, discutir, negociar a proposta do ME. Como sabes, foi impossível, não se faz negócio com um muro. Daí toda a movimentação que conheces.

    Quanto à avaliação para este ano, dos professores contratados e em mudança de escalão, foi o recuo em toda a linha, por muito que a linguagem mascare do público o que ela significa. E só podia ser assim, mas é uma pena que, devido ao adiantado da hora, cada escola tenha que improvisar a sua própria avaliação. A demissão do ME em encontrar uma alternativa que poria todos os professores em igualdade de circunstâncias é vergonhosa. Mas do mal, o menos.
    Aquelas cabecinhas imoderadas pretenderam prestidigitar o público acenando com as apenas 7 000 avaliações previstas para este ano, como se o que estivesse em causa fosse o número e não o processo. Bastava ser legitimado por uma única avaliação que deixaria de haver autoridade para continuar a contestação.

    Ora o que se pretende é que o processo seja congelado por agora, experimentado durante algum tempo para que possa ser concertado, avaliado, melhorado, apurado, ajuizado na sua aplicabilidade para finalmente se concluir com segurança se um sistema com alguma complexidade (a rede de metropolitano de Londres, como lhe chamou o Lobo Antunes) é ou não exequível. Tudo ainda aceitando como base de trabalho o processo imposto pelo ME.
    Mas como vês, a boa vontade não é suficiente.

  93. amor meu (susana, pois tá claro), não leu o que eu escrevi a seguir…

    o sindicato vai propôr um. eu juro que até por si faria um modelozito todo catita, mas eh pá!, além de não ter tempo já me passou o voluntarismo de congeminar cenas muita complicadas sem me pagarem!!!!

    (não ligue, tou em stress
    fim-de-periodo-avaliações-de-alunos-semana-cultural-da-escola-aberta-à-comunidade-deve-ser-isso-o-bem-comum-ter-lá-as-criancinhas-
    -todas-do-primeiro-ciclo-e-segundo-e-terceiro-a-visitar-a-feira-do-livro-e-mais-barraquinhas-todas-lindinhas-principalmente-a-dos-minerais-
    -comprei-um-medalhão-e-uma-pedrinha-precisa-de-uma-ametista-ou-assim?-é-só-dizer-que-me-é-mais-fácil-que-estar-a-elaborar-um-
    -modelo-de-avaliação-para-pôr-à-discussão-pública-em-blogs-de-preferência-como-todas-as-ordens-profissionais-costumam-fazer-aliás)

  94. Valupi, continuas em delírio. Mostras realmente uma perspicácia invejável.

    Esses tais cidadãos que foram aos poucos abandonando o ensino, e existem milhares que agora põem o corpinho de fora em relação ao que por lá andaram a fazer, foram precisos os vários ME quando a mão-de-obra qualificada não abundava. Há uns anos começaram a ser considerados descartáveis e foram na enxurrada.

    E depois, valupi, toda a gente tem que comer. Se uns precisam e outros dão, quem pode levá-los a mal?

  95. Eu quando for grande também vou escrever assim, com hifenzinhos a ligar as palavras todas, como se fossem professores de mãos dadas a descer a Avenida.

  96. M, não levo ninguém a mal, nem nada. Nem sequer o teu autismo. Apenas fica para a História que houve um Governo que conseguiu levar os professores a mexerem-se. Primeiro, do Marquês até ao Terreiro do Paço (e para muitos já foi um exercício tremendo). Depois, lá se deixaram avaliar. É obra, não achas?

    Mas tu permaneces sem responder: queres ser avaliada?

  97. O Mário dos bigodes é que diz como é :

    «A ministra, para alterar uma lei, tem de o fazer em articulação com os sindicatos» (hoje, no DN, com destaque, pág 5).

    “Tem”, diz o gajo.

    Em “articulação”, não sei se estão a ver.

    Deve ser ao abrigo duma lei da República Soviética do Merdequistão, onde nem sindicatos havia.

    O Mário Basófias diz isto depois de ter pela milésima vez criticado a arrogância da ministra.

  98. Se alguém se lembrar de parar para pensar um pouco, há-de descobrir esta coisa espantosa: Tem-se gritado ano após ano que o ensino está num caos. Manuais que mudam todos os anos só porque se alterou uma virgula ou um nome, professores a caminhar do
    inho ao Algarve, todos os santos anos. Insucesso e abandono escolar maior da Europa… Onde estavam os sindicatos a defender a Escola pública? Só em véspera de eleições, para dizer que existiam. Nem 10 professores, nem 1000 nem 10 000, quanto mais 100 000, para defender os infelizes dos alunos portugueses, o ensino, a escola, a universidade… De repente é pela escola, pela educação, por Portugal? Tenham paciencia: é pelo seu interesse (legítimo que seja) e não por outro motivo qualquer. Hoje até arregimentaram alunos para fazer o cordão humano de protesto. Porque nunca o fizeram antes, pela defesa de uma escola vilipendiada por governos com a complacência total de sindicatos e professores? Pensem antes de falar ou escrever. ~Pretendem iludir quem? O Valupi pôs o dedo na ferida. Deixa-o lá estar, caro amigo, e que esperneiem com a dor…

  99. Entretanto, o Luis Filipe Amnezes, em mais uma etapa da sua quixotesca campanha para o “desmantelamento do Estado”, defendeu ontem um modelo de avaliação dos professores cujo controlo seja “desestatizado e desgovernamentalizado através de agências externas seleccionadas por concurso público” (sic). Ele até costuma pôr nome nas propostas que faz: para a CGD era o Cadilhe, agora para as agências externas podia ser a SONAE ou o BCP.

  100. lá está, sem-se-ver: vai propor. :-)
    porque não propôs já? o modelo do ministério está em cima da mesa desde o princípio do ano lectivo. é que essas estratégias do «assim tá mal» e do «vamos lá conversar» ou do «eu quero conversar contigo e se me mandas o teu secretário de estado, não me estás a respeitar» são o alimento do imobilismo. eu penso que se os docentes sempre quiseram ser avaliados, como tem vindo dizer, então todos eles, ou pelo menos aqueles que o querem (porque eu mantenho que muitos não querem e muitos nem podem querer) hão de ter algumas ideias sobre o método mais adequado. que tal terem apresentado o vosso modelo em resposta ao outro? num «este é o modelo que defendemos, por estas e aquelas razões. agora queremos este, ou então teremos que chagar a um compromisso.» é que é mesmo difícil negociar quando apenas se tem uma recusa do outro lado e não uma contra-proposta, sabe?

    (só agora que editei a parte entre hífens consegui lê-la. :D as outras ordens profissionais costumam tratar da sua regulamentação. são elas as guardiãs da dignidade que querem para a sua profissão. por várias razões a comparação não é possível, por outras seria contraproducente fazerem-no.)

  101. (não discutamos os ordens então, susana, salvo com um copo à frente. ok?)


    os sindicatos, para o bem e para o mal, são quem representa os professores (e em muitas profissões assim, é, concorda?) nas negociações com o governo.


    os sindicatos têm e apresentaram tais propostas e/ou vão apresentá-las agora, se ministério se continuar a mostrar irredutível face ao que, no actual modelo, é contestado;


    as escolas foram-se pronunciando sempre que foram chamadas a dar a sua opinião; precisa das actas da minha? :-)


    querida, eu percebo o seu raciocínio, mas não considera que ele pode resvalar para a demagogia? diga-me lá, em concreto, o que entende por (e de que maneira se poderia concretizar) “terem apresentado o vosso modelo em resposta ao outro?”. eu fazer um modelo e ir negociá-lo ao ministério? eu e os meus amigos profs? a minha escola? what?? :D

    repito-me:
    negoceia-se a partir de uma base concreta, elaborada pelo Ministério; se o acordo não for possível, propostas alternativas surgirão.

    lá vou.

    e então, sempre vai uma ametista? ou prefere um âmbar? há lá um muito giro com um insecto dentro (tadinho). e há também fósseis e búzios. e brincos e medalhões. tudo com minerais. calhauzinhos lindos, mesmo.

  102. não, não tinha que ser a sem-se-ver a ir lá com a sua proposta. se bem percebi, além dos sindicatos existe um orgão representante da classe – a associação nacional de professores?

    (prefiro o âmbar em medalhão, mas aviso que a minha concordância não pode ser comprada! :D)

  103. ahahhah!

    lol! ai nao??? então nao lhe compro!!

    (acho que nao há ambar em medalhão, mas vou confirmar. ha medalhoes liiiindoosssss. rectangulares. linderrimos. mesmo.)

    (e nao lhe compro nenhum, ora. depois quando viesse a concordar comigo ainda nos iriam acusar de corrupção activa e passiva)

    essa nem sei quem é :D (mais uma associação… só sindicatos somos 14… e acho que esta foi a primeira vez que fizeram a tal plataforma comum. atesta, no mínimo, a incomodidade que reinava, não acha?)

    donde, essa associação é MAIS UMA, susana. não há quem nos represente verdadeiramente, essa é que é essa.

    vou à bica, quer vir?

    até logo :-)

  104. *mais do que ‘verdadeiramente’ (embora tal também seja verdade…), deveria ter escrito *a todos.

  105. Sim, valupi, se te contentas com essa glória do governo, está bem, talvez seja mais um by-proxy do bem comum, já que o outro parece que não chegou a sair do ovo. Mas olha que colocas a fasquia bastante baixa.

    És muito cusco quanto a situações pessoais mas não te adiantam esses passes de mágica para tentar descentrar a discussão.
    Como sabes se sou professora? Âchas que porque alguém tem informação mais detalhada sobre um assunto tem que ser obrigatoriamente profissional nessa área? E se eu estivesse ligada ao ministério? Ou à avaliação? Ou à pedagogia? Ou à didáctica? Ou a todas? O teu campo de visão vai do nada para a coisa nenhuma.
    Conheces a Ruth Rendell/Barbara Vine? ‘A dark adapted eye’? Devias ler.

    Mas é claro que só podias raciocinar assim, assumindo implicitamente que não és grande espingarda no assunto.

    porque não propôs já?

    Susana, não estás atenta. Até aqui a proposta a analisar, de boa fé, era a do ME. E porque não? Seria uma base de trabalho como qualquer outra. O que alterou as regras foi a inabilidade da troika para discutir, negociar, esclarecer o que quer que fosse.
    Desde a trapalhada com a publicação da Lei 2/2008 até finais do mês de Fevereiro, não se admitiam alterações, adaptações, melhoramentos, sugestões, acompanhamento de dificuldades. Nenhuma questão relacionada com dúvidas de aplicação colocada pelas escolas às diferentes estruturas do ME foi alguma vez respondida.
    Não te parece que os professores foram até bastante tolerantes com quem não tinha nada para dar? Agora é ver qual dos três abre mais as mãos com benesses para distribuir. Provavelmente chegam um bocadinho tarde, distrairam-se pelo caminho a jogar ao berlinde e os camaradas de partido já lhes andam a chegar a roupa ao pêlo. Certamente também não querem ser avaliados.

  106. M, estás obcecada contigo. E poderás medir o meu desinteresse por ti se o imaginares simétrico da necessidade que já declaraste várias vezes: que se fale de ti. Mas tu, para mim, até podes ser o bacano grafiteiro que trabalha à minha frente e que vejo amiúde a teclar; até já o apanhei a rir para o ecrã. Serás tu ele ou ele tu? Serás a minha mãe? Ou serás a alma penada do doutor Sousa Martins? De ti só sei uma coisa: usas bigode.

    Fasquia baixa é a tua que nada dizes que se aproveite. Se és ou não és professora, se és a pessoa mais bem informada no Mundo sobre o processo ou uma singela consumidora mediática, vai dar ao mesmo: aprovas a avaliação dos professores? Se não, porquê? Se sim, qual?

    Ruth Rendell?! O quê, também lês livros? Mas, desculpa lá, tens noção do disparate narcísico que estás a propor? Achas difícil alguém na Internet simular que leu esse livro? E que tem esse livro de especial para ser aceite pelo teu interlocutor como critério orientador da discussão? E depois da conversa feita, onde irias aborrecer o leitor com a tua subjectividade, terias disponibilidade para acolher uma sugestão de leitura que eu te propusesse? Não, claro que não, a tua atenção é solipsista.

    Estás cheia de ti própria, e sonhas com campos de visão dirigidos ao que fantasias a coberto dos altos muros dos teus medos. Acorda ou a corda.

  107. Valupi, se não queres saber, porque perguntas?
    Já não é se quero ou não ser avaliada, a cusquice deu com os burrinhos na água, agora passou-se ao departamento da opinião.

    Poupa-te. Três quartos do que escreves são meros estados de alma. Segue o método criativo do Cardoso Pires: cortar, cortar, cortar até desengordurar o texto. Ficas reduzido a duas linhas e descansas mais.

    e sonhas com campos de visão dirigidos ao que fantasias a coberto dos altos muros dos teus medos.
    Linda frase. O proveito que o Cardoso Pires tiraria dela.

    Já me tinha despedido de ti. Volto quando houver novidades.

  108. BATE-ESTACAS,

    Sei de todas as coisas que aconteceram aos fascismos e aos nacional fascismos italianos e germanos e a todos os partidos das esquerdas e os das direitas para disfarçar claro e tu nunca irás sonhar saberes tanto como eu, se quizeres saber vai a Veneza tem lá numa igreja parece que é a da Nossa Senhora do Piccolletto tá tudo escrito para tu veres. Tem lá uma placa em latão que é areiada todos os dias e que diz; neste cais do Grande Canal Cinco foi a primeira vez que um portugues de nome Bate-Estacas partiu para a conquista das indias. Tudo escarrapachadinho que é para ignorantes desculpe o modo como tu saberem. Não me acuses de nada outra vez que eu não tenho tempo para dar liçoes,a pessoas que não percebem nada do que estão a dizer, isto é um blogue livre para aventares os teus pareceres mas tudo tem um limite. Adeus e por favor não me chateies.

    PS E não me chame buthede. Tenha vergonha e escreva na nossa lingua. A falta de patriotismo nunca foi boa companheira. Ail itler!

  109. “Se o número de indivíduos reunidos em espaço público passa a ser critério para decisões governamentais, os estádios de futebol e o Santuário de Fátima irão ter um glorioso futuro legislativo. 500.000 crentes juntinhos uns aos outros, com velas acesas, serão capazes de reverter o resultado do último referendo sobre o aborto em menos tempo do que se demora a ir do Marquês ao Terreiro do Paço num táxi.”

    As palavras escorregam, mas por detrás que resta senão vazio, um reaccionário mais e toneladas de azedume.

  110. “reféns da sua individualidade”

    manda-lhe!!
    “indicalistas de bigode e senilidade PRECoce”

    sim senhor!!

    “Mas cem mil é lindo, orgasmático”

    muito bem!!!

    “a prova última da superior razão do protesto”

    assim é qu’é!!!

    “Eles tinham vindo, tinham-se dignado a mexer o cu e a misturarem-se com a turbalmulta”

    assim é qu’é!!

    “projectando no espaço da escola o estéril egocentrismo”

    muito bem!

    “usufruindo dos pequenos poderes, do bacoco e provinciano estatuto de professor”

    dá-lhe com força!

    “fazendo da relação pedagógica um antro de vícios e disfunções narcísicas”

    colossal!

    “Que terramoto os fez sair da toca”

    muito bem

    “de uma vida sem realização”

    manda-lhe!!!

    “A Escola que queremos não quer nada com eles. Não quer a estagnação, quer regressar à Cidade.”

    Bravo!!! bravo!!! bravíssimo!!!

    Isto sim!! isto é qu’é um homem um homem com colhões!!! com colhões!!!

    Viva o Zé!!! VIVA o ZÉPUTI!!!

  111. V.G., partilho do teu entusiasmo com a escrita. Mas, apesar da simpatia, sou obrigado a dar-te uma novidade, e espero que não venhas a ficar muito abalado/a com ela. Cá vai: todos os homens têm colhões. (enfim, tirando alguns casos do foro médico, passional ou operático, que não vêm ao caso)

  112. V.G., estive aqui a fazer contas e conclui que tu és o comentador mais objectivo e rigoroso de todos nesta caixa. Se conseguires baixar um pouco o tom de letra e corrigires o cicio, atingirás a perfeição.

  113. Mas o senhor ZÉPUTI precisa mesmo de descansar… senão lá se vão os ardores oratórios
    para o maneta.

    Boa noite, boa noite.

  114. Os professores querem ou não querem ser avaliados? – pergunta objectiva de Valupi
    Eu não sou professora, mas esboço uma resposta igualmente objectiva
    1. Avaliados por quem?
    2 Em que moldes e segundo que critérios?
    3.Com que objectivos? (detesto o «com que» mas fica – afinal, eu não sou o Cardoso Pires)
    E agora, uma pequena redacção, escrita do ponto de vista de uma mãe:
    Estou-me a borrifar para a avaliação dos professores.
    O que eu gostava era que a minha filha mais nova não começasse as aulas às 8h15m e duas vezes por semana saísse às 17h15m (isto é horário de fábrica e que eu saiba o trabalho infantil é condenado por lei);
    O que eu gostava é que a minha filha em português não estivesse sempre a levar com poemas do Letria e histórias do Torrado
    O que eu gostava é que na aula de inglês a professora não passasse 35 minutos dos 45 a falar em português
    O que eu gostava é que ela não tivesse inveja das visitas de estudo das irmãs, porque desde que começou as aulas não fez nenhuma
    O que eu gostava é que o jardim (e bem grande) da escola da minha filha não estivesse transformado num mato
    O que eu gostava é que ela não tivesse aulas de ciências sobre a natureza sem sequer ir ao mato da escola ver os coelhos que ainda por lá sobrevivem
    O que eu gostava é que numa reunião de pais não se argumentasse que negativas a ginástica no primeiro período são um estímulo para os miúdos se mexerem mais no segundo
    O que eu gostava é que numa reunião de pais não se passasse meia hora a discutir a qualidade das argolas dos dossiers e quando proponho cadernos simples e pequenos (para não pesarem aos miúdos) pautados e quadriculados, se pusessem a olhar para mim como se eu tivesse aterrado ali directamente da pré-história
    O que eu gostava é que alguém andasse a pensar nos maus resultados escolares dos rapazes e como é que isso se relaciona com o crescimento desfasado entre eles e as raparigas e com o facto de haver cada vez menos professores homens
    O que eu gostava é que a ASAE fosse às cantinas escolares para ver que refeições andam a servir às crianças
    O que eu gostava era que não ensinassem programas de computador em aulas… teóricas
    et, etc.etc
    O que eu gostava, na realidade, era de em vez de ser mãe das minhas filhas ser tia delas para lhes poder dizer para se baldarem à escola. Porque a vida, e a famigerada modernidade, estão para lá dos portões
    Perante isto, e mais que já não cabe no post, que já vai longo, reafirmo: estou-me nas tintas para a avaliação dos professores!

  115. BATE-ESTACAS,

    Três “comentários” em cinco minutos? Ora pára de bater com os pés, chavalito.

    Não te respondo direito enquanto não acalmares mais. Se qizeres ser avaliado como se quer fazer aos profs, tens que provar que já sabes alguma coisa. Infelizmente, aquilo que li de ti não passa de assobio curto. Usa isso para chamares a atenção de cachorros lá nas berças donde vens.

    No caso de seres menino da cidade, também te digo, para teu bem, que birras e espasmos passageiros, ainda que úteis em exames preliminares, não bastam para diagnosticar satisfatòriamente uma doença.

    Portanto, desembucha e põe na mesa cartas que se vejam. Pode ser que tenhas sorte e passes de anjo malcriado a arcanjo de boas maneiras..

  116. ana, tudo, tudo muito bem lembrado. no recinto exterior da escola do meu filho mais novo também há um espaço com árvores e uma ex-horta. está interdito, porque atiram seringas da casa adjacente.
    cadernos, idem (e porque será, conseguiste perceber?)
    e os textos de língua portuguesa, igual.
    essa questão do ensino entregue quase exclusivamente a mulheres é bem importante. sabemos que não só por colagem a modelos, mas também por adequação espontânea de métodos, os rapazes aprendem melhor com homens, sobretudo a partir da adolescência. isto deveria ser olhado com mais atenção.

    e por aí fora, assino por baixo. mas eu quero isso, e o resto, e tudo. é tanto, que debatermos apenas a avaliação dos professores é estarmos concentrados numa ínfima porção.

  117. A feminização do ensino tem a ver com muitos factores, a começar pelas questões de género, que em Portugal não são/eram percebidas exctamente do modo que em outros países. Mas nos últimos anos tem havido uma aproximação, mesmo nos países não latinos (ou não católicos?) onde a presença masculina era mais forte.

    Em Portugal sempre se prendeu bastante, a nível de secundário e até aos anos 60/70, com o ‘arredondar’ o ordenado do marido e ganhar para os alfinetes. Bela imagem, esta dos alfinetes.

    Mas a procura tem vindo a mudar com a alteração dos condicionamentos económicos e sociais e o que se verifica é que à medida que o mercado de trabalho se tem revelado mais competitivo e escasso em áreas tradicionalmente escolhidas pelos homens, as escolas vão-se enchendo de professores. Há hoje muitos mais do que há quinze ou vinte anos, quando as escolas ainda viviam da reserva de mão-de-obra criada com outros pressupostos.

    Poderá ser uma tendência temporária e até regionalizada, os tempos determinação as mudanças ou a consolidação do estado actual.

  118. Ana Cristina Leonardo

    Perguntas se os professores querem ou não ser avaliados. E por quem e como e com que finalidade. Não sei o que fazes, amiga. Não sei como ganhas o pão de cada dia. Eu trabalhei numa daquelas chamadas grandes empresas e, quando chegou a Portugal (talvez com o costumeiro atraso de 30 anos) essa história de quererem avaliar o nosso trabalho, foi um choradinho que nem queiras saber. Mas fez-se e toda a gente percebeu de imediato o que se pretendia, quem avaliava e os parâmetros dessa valiação. NO meu caso eram nove itens…Ana Cristina, a valiação só é novidade para quem realmente não a quer… Tens alguma dúvida, que os professores já perceberam exactamente o que está em causa? Tanto barulho por causa de umas tantas borlas!

  119. M, faz todo o sentido. é inevitável que os papeis-modelo tenham influência nas escolhas profissionais. antigamente era vulgar a figura do mestre-escola. nos liceus os professores eram homens. enquanto fui aluna as professoras da primária eram, claro, professoras… no liceu houve alguns homens, mas já predominavam as mulheres. acredito que haja a tendência que referes, mas não tem sido verificado com o meu filho mais velho, agora no 9º ano. até à data só teve 3 professores-homens. um no 5º ano, outro no 7º e um terceiro no 7º e 8º. este ano só tem professoras. e quando entro na sala de professores só vejo mulheres. acho que este princípio ficou muito ligado à ideia da mãe-que-educa, desde que deixou de ser uma profissão de prestígio social, desde que se subalternizou. mas olha que em inglaterra, onde vivi, a situação não era muito diferente. e lá a profissão é proporcionalmente muito menos bem paga do que cá.

  120. A frase que eu gostei mais foi esta:

    Este fenómeno interessa-me sobremaneira, pois trata-se de um país que está em trabalho de parto.

  121. susana, é verdade que continua a haver muitas mais mulheres do que homens, isso sem dúvida, mas já se nota uma inversão, que até pode dar uma reviravolta de um momento para o outro. Acho que é um mercado muito instável porque depende de factores externos a vocações, modelos ou outros. Um bom exemplo é o dos professores de Educação Física. Quando estavam a reentrar em força no ensino público, começou a onda dos ginásios, spas e afins que absorveu uns bons milhares. Alguns ainda puderam acumular e acumulam, mas de hoje em dia é muito difícil.

    É também verdade, em Inglaterra a profissão é ou era há pouco pior paga do que em Portugal em termos relativos. Talvez por isso eles andem a recrutar professores em países que há uns anos não se julgaria passíveis de engrossar o corpo docente de Sua Majestade. A Rule Britannia a pescar educadores pelo império! Quando o apelo chegou aos países africanos, houve uma mini-rebelião (já se pode escrever minirrebelião, ‘soa’ tão mal) da opinião pública.

    Há tempos, num projecto de parcerias, tive oportunidade de comparar salários e condições de trabalho em vários países, e os mais proletas eram de longe os italianos. Não só recebiam bem abaixo dos portugueses, espanhóis, ingleses, franceses, para já não falar dos alemães, como o nível de vida em Itália amarinha pelas paredes acima.

  122. Zazie, eu gosto mais desta. Mais literária, sei lá. Mais destino, fatalidade, fado.

    Com mais experiência neste grupo, saberias que o apoio destes cromos significa que entraste para o clube dos taralhoucos.

  123. A crise em Inglaterra é tamanha que até os vêm cá buscar aos centros de Emprego e à Austrália. Conheço um caso de uma professora que só não acabou a dormir na rua com os filhos, porque a Embaixada a despachou para casa de uma senhora portuguesa reformada. E foi essa senhora que ainde lhe pagou o bilhete de volta.

    A Inglaterra está bem pior que nós. E mesmo com direcções privadas e entregues, grande parte delas, à Igreja.

    Um professor em Inglaterra está no topo mais baixo da sociedade. Comparativamente pode equivalar-se aos bombeiros.

    Mas isso acontece por diversas razões- uma delas a escolaridade obrigatória até tão tarde que é só marginal- tenho cá documentos oficiais de todas as linhas de alarme e apoio a professores espancados; e porque o que não dá lucro deixou de interessar.
    Motivo pelo qual também já estão a importar mão de obra especializada. Vendem-se cursos de matemática por balúrdios, com matéria que por cá equivale ao 11º ano. E estes cursos são vendidos a profissionais que já trabalham em empresas.

  124. aahahahhaha

    Um dia destes colecciono as frases do Valupi.

    É cá um cromo… mato-me a rir porque é contagioso. Já tem por aí imitação a apanhar-lhe os tiques

    “:O)))

  125. Mas ele é que diz que começa a ficar seriamente preocupado com os outros

    ahaha

    Às vezes também fica “profundamente” preocupado e é tudo orgasmático ou taralhouco.

  126. zazie, acredito, é uma frase pregnante. Mas continuas taralhouca. E orgasmática, para nosso prazer.
    __

    M, não leves a mal a questão que te vou colocar, mas tu pareces ser a melhor pessoa para lhe dar resposta, e tenho de aproveitar a efémera presença, visto estares de saída desde que entraste: és a favor da avaliação dos professores? Se não, porquê? Se sim, como?

  127. A propósito, será que ainda não percebeu que a miudinha da fotografia não é uma professora a segurar “cartaz com importante reivindicação da classe”.

    “:O)))))

  128. ehehe

    O bacano está aí.
    Tem uma vantagem- é mesmo um cromo blindado que nunca fica tremeliques com a porrada e nem faz intrigas ou devassas.

    Só por isso já tem lugar de distinção no panteão da blogo. O dos taralhoucos orgasmáticos sem voyeurismos

    “:O)

  129. zazie, convido-te à meditação sobre este sublime momento de taralhouquice:

    “A propósito, será que ainda não percebeu que a miudinha da fotografia não é uma professora a segurar “cartaz com importante reivindicação da classe”.

    “:O)))))”

    Vou dar-te 6 pistas: i r o n i a

  130. É zazie, o valupi tem um vocabulário variado. Quem pensa bem escreve bem.

    valupi, o imprint que a inquisição deixou por cá mantém o culto vivinho para apreciadores.

    Porque não te atens a ideias? Não é por nada, é que daqui a pouco entras em transe e estás a produzir mais meio metro de frases gordurosas. As tais que o Cardoso Pires adorava estralhaçar.

  131. M, és avessa à gordura, ’tá certo. Mas escusas de estar sempre a incomodar o Sr. Cardoso Pires. No entanto, e por mais que esperneies, ando com uma pergunta para te fazer. Ainda bem que te encontro aqui para resolvermos esse assunto. É o seguinte: és a favor da avaliação dos professores? Se não, porquê? Se sim, como?

  132. Essa da ironia teve piada porque podia não ser e era igual.

    O Valupi escreve bem porque joga bem. Para jogar e ganhar bastam umas teorias de jogo e algum treino zen.

    Aposto que bloga em kimono

    “:OP

  133. Porque é que não respondeste quando dei o exemplo do que poderia ser uma avaliação?

    E até contei como funcionava na Alemanha.

    Mas é claro que isso nunca poderia ser feito com este modelo de escola e muito menos ser a única de mudança quando tu achas intocável o eduquês.

    Até lhe chamaste uma mera fantasia de jornal.

  134. Olha, Valupi, se te sabujares e pedires muito, eu antes de sair faço-te esse favor. Mas depois não te lamuries por eu dar a minha opinião com as minhas palavras e não ter a delicadeza de adoptar a tua.

    Gosto do incómodo do sr. cardoso e ele também gostava. Se ele tivesse apanhado os teus textos em tempo útil tinha trabalho de tesoura até ao fim da vida.

    E agora, vai. Volta só se tiveres qualquer coisa diferente, como ficou combinado.

  135. Pois, foi o que disseeste. Que era mera treta para vender no jornal. Não vamos agora à segunda parte que consiste em negar tudo o que disse antes para obrigar a andar-se à pesca das citações e links.

    Disseste pois e nunca respondeste ao que disse acerca deste inviável modelo de avaliação. Que não existe em mais parte do mundo.

    Ou tens aí exemplos de coisa assim- entre pares, tudo a preencher grelhas burocráticas acerca dos colegas e ainda a chamarem o pessoal da família para mandar mais bitaistes?

  136. M, estamos numa fase de crescente intimidade, já combinamos encontros. Mas não estava preparado para essa revelação: o Cardoso Pires, podendo, teria censurado os meus textos!

    Hum… também tu tens de largar a droga.

    (mas, antes, espera aí… já te falei de uma perguntinha que tenho para te fazer?…)

  137. Ó zazie, pela tua santa saúde! Não toques no eduquês que a sra ministra manda-te os inspectores a casa para te avaliar.

  138. O Valupi acabou de dizer a única verdade nestes 2 postes. Não defendeu este modelo.

    Pois é. Ele não defendeu nada. Absolutamente nada.

    Nem precisou de explicar nada. Porque se limitou a dizer que os profs é que não queriam ser avaliados, fosse de que forma fosse.

    E o resto era política dos sindicalões malignos e da canalha graúda que nunca se mexeu. Logo agora que a pátria está finalmente a ser parida iam estragar tudo.

    “:O))

  139. É o Homem Novo. É sempre o Homem Novo que está a ser parido e gente não dá por isso. E depois vê-se no que deu o Homem Novo de Salazar- saído à rua no PREC e o do Cavaco que guterrou este agora que há-de dar em cigano, graças ao exemplo do inginheiro-mor do reino.

  140. Que recenção, pá?

    Eu tenho a pederastia dos sobrinhos do pato Donald para postar e depois vou caçar gárgulas. Querias mais nada…

  141. Mas tens de fazer uma justiça: o homem não vem com essa conversa. Acontece é que ele, de facto, é o “homem novo”. Daí o ataque de nervos na canalhada.

  142. Porque se limitou a dizer que os profs é que não queriam ser avaliados

    Mas isso não tem grande importância, resume-se a um problemazito auditivo e de competências de leitura.

    Qualquer curso pós-laboral de complemento de habilitações sabe lidar com isso.

  143. ah, esta. Fazes bem. Foi mesmo isso que fizeste. E gabo-te o dom de língua para a conseguires render tanto.

    O mais engraçado nos teus postes até nem é o facto de não precisares de dizer nada.

    É o truque que usas a limitar o assunto que pretendes fazer aprovar, deixando apenas um niquinho mais que óbvio onde só pode haver unanimidades.

    E depois o que eles e elas gostam da língua. Ficam todos de boca aberta com o teu estilo e tu lá vais orientando com a cenoura.

    E é sempre um discurso hiper-moralista. Quem discordar da conclusão óbvia (a que ele retira as premissas e o contexto) só pode ser um vendido- um canalha, um sorna ou até um apoiante do terrorismo, como na série anterior a esta.

  144. Valupi:
    nada melhor que um personagem de plástico e insuflado, para deixar a ideia que é tudo imperioso e da responsabilidade do povo. Este gajo tem um treino idêntico ao teu nos debates blogosféricos- ele aprendeu nos concursos de tv.

  145. Bem, isto cá, depois de aterrar num aeroporto minúsculo sempre em obras com tudo mal disposto, ao menos está Sol, e cá continuamos Dinossauros Excelentíssimos

  146. Atão mas como é que isto ficou?

    Eu, cá para mim, a ministra morreu com aquela frase dos ‘cem mil não é relevante’, só que o socras não pode enterrá-la para fingir que não cede a pressões de rua, depois da encenação do Correia de Campos.

    quanto a isso da avaliação: o fundamental é os resultados dos alunos em exames nacionais, que mesmo assim deve ser decomposta, por análise de variância ou outro método de comparação de valores médios, em efeito_prof, efeito_escola e efeito_região, já que se sabe que parte dos resultados são imputáveis a funcionamentos familiares e hábitos regionais, etc.

    Por exemplo um prof com maus resultados numa escola que tem maus resultados numa região que tem maus resultados não é a mesma coisa do que o mesmo numa escola com bons resultados naquela disciplina.

    mas também já percebi que isso é para dar de mamar aos ‘avaliadores’, que lá se vão deslocando de escola em escola, e sentem-se remunerados em dois níveis: nas ajudas de custo e etc, e na sensação de poder e punição que lhe está associada, tudo em nome do bem comum claro, e dos submarinos, mas essa parte não se diz porque não é conveniente, a modos que segredo de Estado para as pessoas sensatas

    ainda anda aí a confusão com a tradução de phronesis: para Platão era essencialmente reflexão, e depois foi treslida como ‘sensatez’ em Aristóteles ou mesmo ‘bom-senso’ para ajudar ao eduquês, felizmente outros traduzem como sabedoria

    bro Valupi, eu discordo de ti em certas coisas mas gosto muito de te ler, pelo menos até ver

  147. z, só tenho uma pequena correcção a fazer-te e é esse preciso ponto que me chateia muito, além da maior parte dos outros. Quem vai avaliar o grosso dos profs não são avaliadores profisionais, mas outros colegas, supostamente mais habilitados. Supostamente, porque toda a gente sabe o que foi a canalhice do concurso para professores titulares. Só os titulares podem ser coordenadores de departamento ou delegados de disciplina. Agora transformaram-se em avaliadores dos colegas que por qualquer razão não foram eleitos para esses cargos, muitas vezes porque já exerciam outros.
    Os avaliadores externos entram apenas para avaliar estes e os membros dos conselhos executivos.

    Quando a ME anunciou adequação de horários, que não existe, e pagamentos a avaliadores, deduzi eu e toda a gente que esses pagamentos serão feitos aos próprios professores das escolas que vão avaliar. Estás a ver a sacanice de mais um degrau no dividir para reinar. Já não bastava tudo o resto, em que professores com carreiras que só se podem classificar de boas e muitos boas, reconhecidas por todos e pelos resultados, ficaram à porta porque tiveram problemas de saúde ou outros nos últimos 7 anos. Não atingiram a pontuação (sim, porque o concurso para titulares foi por pontos e não por avaliação) necessária à entrada nessa 2ª carreira que é a dos titulares e ficaram a patinar no contingente geral. Que ninguém ainda sabe o que é, porque as situações decorrentes de grande parte desta e de outra legislação que condiciona a carreira dos professores continuam uma grande incógnita.

  148. sim M, eu tinha percebido a sacanagem oligárquica em curso, e os mecanismos persecutórios associados.

    colegas a ganhar umas coroas extra para pôr colegas na rua e etc, e curtir as sensações do poder sistémico a até as promoções

    A mulher que deu parecer negativo à minha continuação na escola (eu digo escola mas é universidade) foi logo ‘promovida’ a catedrática de seguida. Deu um parecer incompleto e incompetente, como se comprova, mas isso não interessa, ou melhor fica para o juiz avaliar

    e assim se manda para a rua uma pessoa com mais de 20 anos de serviço ao Estado, sem menções disciplinares ou de incumprimento de serviço, cujo contrato estaria automaticamente renovado há mais de um ano, mas afinal não, e sem subsídio de desemprego… o castigo exemplar para quem ousou mexer no que não devia: o insucesso escolar e a indústria dos fogos, no meu caso.

    Todos têm que ser muito bem ‘comportadinhos’ senão o bicho pega, o bicho morde e o bicho mata.

    O socras já perdeu a maioria absoluta ao menos, até hoje eu voltava a votar PCP, como há milénios.

    ——

    no vosso caso a avaliação fica tutelada pelo rigor da afirmação: mil é demais, cem mil é irrelevante

  149. Nas universidades só se pode andar de colete à prova de bala e cosido com as paredes, em campo aberto é tiro ao pato. Mas o ensino básico e secundário não tem que ser assim.

    Ou não tinha porque não valia a pena, não se ia a lado nenhum, os lobbies e capelinhas passam completamente ao lado. Agora vai-se uns euros mais lá para riba enquanto a maioria fica cá em baixo a contá-los, mas a função é exactamente a mesma, não há glória no tamanho da carteira.

    Tudo se resume a cifrões e a números. 100 000 não são nada, a não ser a classe quase toda. Que é nada, lá o D. Policarpo e o Adriano Moreira (só cito os pesos-muito pesados) andam vesguinhos, só os Polifemos vêem mais do que ninguém.

  150. senhores,
    Uma verdadeira animação, o que para aqui vai. Entretanto ontem houve comício PS, manifestação(zinha) contra e palpites na imprensa sobre um e outra, mais as opiniões do país pensante. O caldo j´ a ferveu, agora marina até assentar. Deixo um pedido para a geral, para quem se sentir habilitado a uma adivinhação segura: O que vai acontecer nesta semana que amanhã começa? Que evolução vai conhecer este assunto? Teremos sucesso na negociação ou não? De hoje a uma semana estará tudo na mesma ou já vai haver uma conclusão? E se sim, qual?

    (M, tenho particular curiosidade numa eventual resposta sua, depois do interesse com que li o que escreveu até aqui)

  151. Estou contigo, rvn: M, depois de teres estabelecido que o ME só negociava porque os “cem mil” tinham visto o Tejo, o que se seguiu mostrou que estavas “um bocadinho” a delirar – afinal, a Ministra quer mesmo avaliar professores, não tendo sido ainda triturada o suficiente -; que te diz a tua objectiva, e séria, capacidade crítica?

  152. Z, os professores têm tido apreciações diversas mas de um modo geral nunca foram muito mal vistos, a não ser no início desta legislatura quando a troika aplicou o golpe nº1 – desacreditar. E muita gente foi na cantiga até que com as questões da saúde perceberam o modus operandi.

    Também concordo que há um certo ‘azar’ a perseguir o Sócras ao escolhê-los, porque são gente de se lhes tirar o chapéu. O arrastar do conflito para um beco não se deve tanto a posições que não pudessem ser conciliadas mas por assumirem que governar é fazer cara má, falar grosso e empancar às quatro rodas, e que a sua qualidade como lideres se mede pelos conflitos que provocam.
    Deve dar-lhes algum status, sei lá, e se os professores não os seguem babados é porque não querem cooperar na sua reforma, difícil sim, mas a única, entre dezenas de outras, passível de alcançar o bem comum.

    Da ministra pouco sei, desconhecia-a a até aparecer aí com cara de pau, mas os outros dois já têm biografia que chegue. Como andaram sempre na babugem da educação, quer como sindicalistas (o Pedreira) quer como voz activa em grupos de avaliação sempre muito prá-frentex, benevolente, suave, aplica-se-lhes um ditado certeiro: não sirvas a quem serviu.

    Quando me explicarem como é que um bom professor dentro da sala de aula se mede pela sua postura perante o sistema educativo – a ‘dimensão ética’ –, pelo facto de as suas alunas ciganas abandonarem a escola aos 13 anos para casar e os rapazitos um pouco mais tarde, quando a actividade das feiras se torna mais rendosa do que o subsídio de inserção, talvez comece a vislumbrar-se a bondade desta teia armadilhada para o bota-abaixo.

    Querem poupar dinheiro pagando menos pelo mesmo serviço, ok, mas façam-no em cima duma mesa a discutir e não à volta do caldeirão. Se o objectivo é além de poupar, forçar a passagem administrativa de todos os alunos do sistema, independentemente das suas aprendizagens, já o caso muda de figura. A iliteracia juvenil e adulta não é propriamente o bem comum.

  153. rvn, não pertenço às equipas negociadoras e não sei mais do que o que vai saindo dos sindicatos e na imprensa. Além disso as escolas fecharam para férias dos alunos e a informação não se cruza.

    Há um formidável jogo de espelhos porque a palavra que mais complexa o ME é ‘recuo’, mesmo que dê meia volta e continue em frente (ouvi ontem esta e adorei a imagem). Salvar a face, como se diz para o oriente. E é isso, nada de muito respeitável, que os leva à insistência da avaliação para este ano, colocando nas escolas o ónus da não progressão dos 7 000 contratados e em mudança de escalão.

    Cabe na cabeça de alguém que um prof. avaliador, que segundo a legislação tem que assistir a aulas dos avaliados, não tenha compatibilidade de horários? Faz o quê? Falta às suas para estar presente nas dos colegas?

    É claro que esta semana o próprio ME mordeu a língua, naquele modo enviesado e indecoroso de se exprimir, e que sim senhor, por este ano as escolas podem fazer o que muito bem lhes aprouver, mesmo decidir-se por uma conversinha de pé de orelha com os avaliados e mandá-los com Deus.
    Onde está a qualidade e o rigor da avaliação, afinal? O caos, a balbúrdia, a sorte ou o azar que um professor tem por se encontrar numa escola e não na outra ao lado.
    E isto é um recuo ou um avanço nas negociações?
    Recuo formal de posição é, em toda a linha, juntamente com as outras medidas de que já falei. Agora se serve de plataforma giratória para se avançar, duvido, pois o ME, incapaz de aplicar o seu próprio modelo de avaliação, como o admitiu esta semana, não tem alternativa para ele a não ser o facilitismo.

    Tanto quanto sei, as coisas estão neste pé, de vitória em vitória até ao descalabro. Ainda ontem mais escolas, desta vez as de Viana, tornaram público que não têm qualquer viabilidade de efectuar a avaliação. Muitas outras pararam pura e simplesmente e declararam-no. Toda a gente responsável já viu que as propostas do ME são dementes e apela à pacificação e à mediação, mas aquela equipa não mostra a maturidade necessária.

    E agora torna a colocar-se em cima da mesa a parte dos tribunais, que tem estado na gaveta à espera do bom senso. Os tribunais mandaram parar todo o processo porque o ME é tão desajeitado que, por um lado, faz depender a aplicação da avaliação de quadros legais que ainda não publicou, e por outro, a avaliação que agora atabalhoadamente propõe é ilegal à luz dos que já publicou.

    Estão a enfronhar-se num labirinto e desgastam as escolas. Aceitam tudo baixinho e disfarçado desde que a palavra ‘cedência’ não seja mencionada nem apercebida pelo público em geral. A diferença de exigências entre o mês de Fevereiro e as de hoje é abismal. Causam dó.
    Lamentável em toda a linha. E chamamos-lhes governantes.

    ______________________________________________________________________

    Valupi, não te atreles ao carro. É capaz de não haver lugar para ti.

  154. pois:

    «Estão a enfronhar-se num labirinto e desgastam as escolas»,

    acontece que eu talvez já esteja demente de suspeição, mas a vida ensinou-me que talvez não seja por acaso, talvez até seja deliberado, para que o ano escolar termine com piores resultados e assim se possa assacar a culpa aos professores, junto da opinião pública, já a caminho das eleições

    Como a culpa não morre solteira -> scapegoat!

    e a ministra e os pedreiras até poderão estar a ser iscos, da sua própria pesporrência identitária também, mas de interesses ocultos maiores, submarinos…

    Não tarda muito conto já não estar por aqui – em Portugal, no sector público, sobrevivem os dissimulados e hipócritas, os outros emigram.

    Valupi, que bom que era que eu estivera enganado, e tu acertasses no parto, e que não fora uma besta a ser parida.

  155. pois Valupi, não sei que te diga, por natureza sou meio ingénuo e optimista, mas vai que não vai cai-me em cima cada vez com mais força o adágio schopenhaueriano de que o optimismo é um insulto à inteligência.

    felizmente há outras terras, outros mares, outras gentes,

  156. z, eu ainda tento não ir tão longe, e por enquanto tomo tudo à conta de características individuais no modo de lidar com o poder. E acho mesmo que se o Sócras tivesse margem de manobra para os mandar às urtigas, não hesitava.

    A seu tempo se verá se não és tu quem tem razão.

  157. eu espero bem não ter razão M, sinceramente!

    Valupi: espero que estejas certo, muito mais bonita seria a vida então

    (tenho de ir às compras)

  158. conclusão: o melhor é ser realista, e em política, no sentido mais lato do termo, fazem-se coisas crudelíssimas e injustas, só porque dá jeito ao sistema, seja lá qual fôr o nível.

    Mas portanto, conforme podes imaginar, a avaliação dos prof.s do secundário comportará inúmeras perversões possíveis, como estava à vista naquele item ‘se era favorável ou não às políticas do ministério’, e em ambientes em contracção há tendência para pôr os ‘inconvenientes’ fora do baralho, sejam ou não bons profissionais

    Por exemplo: se puderem caçam a M,

    por delito de opinião

  159. Quem me caça? O ME?
    Não têm poder para isso, z.

    Os ‘inconvenientes’ vão ser cada vez mais raros se continuar esta cruzada ministerial pelo bem comum.
    Até agora os coordenadores de departamento e delegados de disciplina têm sido eleitos pelos seus pares. Pelos mais variados motivos, é verdade, mas o mais consistente é o que se relaciona com a capacidade de trabalho e gestão pedagógica do departamento/disciplina.

    A nova proposta de gestão do ME só podia ir na direcção oposta: passam a ser nomeados pelo director.
    Como consequência, os dóceis Conselhos Pedagógicos vão deixar de levantar ondas e de beliscar o bem comum.

    Autonomia é isto, serve para atamancar por este ano uma área tão importante como a avaliação docente, mas não serve para governar uma escola. E serve principalmente para dizer amén.

    A verdade é que o ME foi incapaz, até hoje, de esclarecer uma única dúvida levantada pelos normativos, e se as escolas o têm tentado. No entanto, durante esta semana, os dois oficiantes encheram os ecrãs com ‘ajudar as escolas nas dificuldades’. Mentira, mentira e mentira. Nada e nunca. Nem respondem.

    Uma coisa é o discurso público de quem veio, viu e venceu, outra a realidade. E já avisou que as escolas escusam de se virar para o ME à procura de indicações, estão entregues a si próprias para lhes tirarem as castanhas do lume.

    Para veres a qualidade do diálogo com este ME, quando confrontado com o grave problema do Reino Unido que anda a recrutar professores no mundo inteiro porque os nacionais fugiram, o exmo dinossauro respondeu que não havia problemas, o Brasil está cheiinho de candidatos mortos por desembarcar aqui. E contra isto, batatas.

  160. M,
    (‘Jogo de espelhos’ é bom, quando se fala de política em geral e deste braço enferrujado em particular. Quanto ao tal ‘‘’recuo’, mesmo que dê meia volta e continue em frente”, vai ser para acabar no mesmo sítio, suspeito, mas a imagem é igualmente boa.)

    Por esta altura já me cheira mal esta ‘Luta dos Professores’, confesso. Não a luta dos professores, que essa julgo entender, ou pelo menos esforço-me, a tanto obrigado pelo meu interesse pessoal e por todo este alarido no Portugal pós-Campos, o Corrido. Não, não essa. A questão está na outra, na ‘Luta dos Professores’ que todos gritam. Qual é a diferença? Muita, suspeito. A diferença está no caixar alto, na bandeira que já anda de repente de mão em mão, a mesma para professores e profissionais do barulho, louças portas e Menezes, às vezes. Pois que no mesmo repente arrisca o país deixar de falar de Educação para se passar a braços de ferro, recuos e avanços, estratégias e jogadas, tudo truques e simbolismos, rasteiras e contra-manobras dos uns que põem os outros (tudo e todos) com os olhos na televisão para ver quem ganha. E assim fazem esquecer o que está de facto em jogo, que era o que nos interessava a todos nós no início da conversa. E agora discutimos uma árvore, com a floresta a arder. Esse é o problema nesta ao intervalo, para mim.

    Sei que tenho uma opinião escanhoada, se pensarmos no bigode sindicalista que Mário Nogueira vem dando à nação desde que a indignação desesperada (ou teria sido o desespero indignado) da classe docente disparou e acertou em cheio no coração do governo uma rajada de cem mil, todos juntos e a gritarem o mesmo de uma razão comum. Os professores contestam a avaliação, querem uma solução para esse seu problema profissional? Pois logo os sindicatos não querem, exigem uma. E o governo “não discute sob ultimato” e é tudo o que diz, grato pela borla para escapar ao debate técnico. E de repente já tudo gira em torno do tom de voz de um lado e outro, já tudo se resume à avaliação dos professores, ao que Sócrates tem que fazer, ao que o Ministério tem que ceder, ‘força!’ ou ‘forca!’ para Marilu. Os professores, ou porque lhes interessa, ou porque é uma questão do seu trabalho, ou porque envolve a sua dignidade pessoal e de classe, ou porque os incomoda, ou porque é justo, ou porque os assusta, ou porque seja, não vêm a terreiro dizer que há mais e pior para corrigir quando falamos de Educação e Ensino em Portugal, que há outras questões que se calhar há anos os incomodam e perturbam o seu desempenho e a vocação dos que o são. Porque teriam que o fazer, aliás, perante o facto? Até porque só a questão da avaliação tem de facto pano para mangas, quer pela sua importância real, quer pela sua natural complexidade, não fosse o brio um requisito de humanidade de cada profissão. Resultado? Isto que vemos, isto que temos. Um mar de metades, meias verdades, meias medidas, meias desfeitas, meias curtas para estas pernas que fazem andar a cultura nacional, a educação e o ensino. E os putos sujeitos a quotas de dias perdidos. Os pais a pagarem essas quotas em cãs e numerário, nem sempre por essa ordem. E o país a perder agora e mais tarde, numa derrota colectiva com temporizador activado.

    Tal como eu dizia, entre mim e o Mário Nogueira existe mais que um bigode sindicalista. Eu faria diferente se fosse a cara da luta dos professores (e não a cara da ‘Luta dos Professores’). Se eu tivesse o acesso ao microfone principal do palco da reivindicação docente, eu não aceitava que o Estado me impusesse a avaliação. Eu impunha a avaliação dos professores, a minha avaliação, tão alto que o país pararia para me ouvir e o governo bateria a compasso quando eu exigisse uma gigantesca avaliação à prestação de cada professor. Nos termos que o ME sugere? Não, vamos carregar nas cores. Se resumem os senhores o tal ‘braço de ferro’ à avaliação, pois faça-se um aferir que inclua a prestação profissional nos critérios que preocupam o governo, sim, mas juntem-se ainda mais estes e estes e estoutros que espelham isto e mais aquilo e mais aqueloutro que prejudica a educação, que tolhe o ensino, no saber daqueles que há décadas o fazem e estão aí, insatisfeitos. E aí falemos de currículos, de colocações, de horários, de instalações, de carreiras, de números, de programas, do diabo a quatro que inferniza a escola em Portugal há anos demais. São os professores a exigi-lo. A gritá-lo, mais alto e mais duro que o governo. Querem conferir? Confiramos, mas todo o stock, não só a montra escolhida. E chamem-se os arautos do costume para mostrar o escândalo ao país e ao mundo. E faça-se tudo agora e com a mobilização de tudo e todos, professores, sindicatos, alunos, pais, varredores e apanha bolas – o país inteiro, porque o país inteiro não sobrevive sem educação, não respira sem ensino. E faça-se depressa, porra, numa só motivação, numa onda comum, que as crianças crescem depressa e tendem a reproduzir-se que nem martas.

    Ninguém acredita possível este lirismo, certo? Mas eu respeitaria uma classe docente que fizesse tal exigência. Eu parava o meu passo, estacionava qualquer preconceito, encostava qualquer embalo para ver e ouvir um braço feito deste aço inox. Quereria saber mais da tal indignação que agora se confunde perigosamente nas sombras do jogo político, que se escoa na transparência das razões de todos (que todos as têm, é sabido e escusado discutir). E exigiria mais e melhor da outra parte, por mais minha equipa que fosse pela cor do voto, simpatia ou convicção. Que a verdade faz cair as máscaras, derrete-lhes o sebo de mentira que as cola à cara de quem as usa para sobreviver, politica ou profissionalmente. Por isso avalie-se o que se questiona de um lado, mas questione-se o que se avalia também, acrescentando as nossas razões na mesma exposição nacional. E porque não fazê-lo, se o essencial da classe docente, os bons que dão o seu melhor, não temem avaliações e não se deixam iludir com falsas questões? Mas ande-se para a frente com a carroça, que gritos e diz-que-disse, bigodes e porreirospá, só trazem fumaça e poeira aos tais avanços e recuos que dão meia volta e continuam em frente, para acabar no mesmo sítio.

  161. z,
    há um pessarinho que diz ‘cá calharás, cá calharás!’. Pois cá calharás num tufa destes, quando fores às compras, escreve o que te digo. Nem Schopenhauer te salva.

  162. errata:
    aproveitei e postei a prosa lá na loja, não levarão decerto a mal. E pelo caminho corrigi uma coisita ou outra que, notarão, passou no comentário sem revisão. Lá, escovei as polainas, passei as entretelas, mantive o corte. Que aqui é o de menos, que se lixem as flores, vale pela essência o prazer deste vnosso conversar. As gralhas fazem parte. Pois um grande obrigadinho a todos.

  163. vocês são danadinhos, pás! mas ao menos já me fizeram rir

    esse naco de prosa está bonito rvn

    o passarinho é que não sei, andei a namorar com um colibri na Bahia que me ia visitar todos os dias bastas vezes, mas é verdade que fiz batota: punha um bocadinho de açúcar na água dele

    eu cá ando a cheirar vectores neomalthusianos, vou escrever sobre isso – do paradigma aos sintagmas

  164. rnv, não penses que não chateia este oportunismo dos que se colaram aos professores. Quando se viu o périplo do Meneses e outros que até aos sindicatos foram, era fácil de prever que quem ia ganhar com isso não era quem fingiam ser. É o preço a pagar, nada nem ninguém pode impedir que quem está nos antípodas resolva tirar algum proveito da situação. E até foi com alguma inteligência que o fizeram, pois pela primeira vez a maioria dos professores que os apoiam e neles votam estão empenhados no protesto. Mas não podes é assacar aos professores que estes e outros tenham decidido pegar nesse pendão. Quando chegar a sua vez, e chega, não tenho qualquer dúvida de que os campos se invertem à velocidade da luz e será, mais uma vez, o PS a liderar a contestação. Pelo menos a pedagógica, que é onde mais se faz sentir a sua influência, isto de darem neste momento o dito por não dito é meramente conjuntural. Tudo o que agora põem em causa foi por eles proposto, apadrinhado e legislado. Daí o bate-boca com a Ana Benavente e o silêncio pesado do Oliveira Martins e outros. Talvez não possam dizer nada, talvez não queiram.

    E também adianto que, se por um lado os que se encontram fora do governo aproveitam a onda actual, por outro dá-lhes muito jeito que as coisas fiquem resolvidas agora e não transitem para a próxima gestão partidária.
    São as malhas com que se tem que viver e tentar contornar, se houver capacidade para isso.
    Os professores, desta vez, estão unanimemente representados, não é só o bigode do Nogueira que faz comichões. São os 14 sindicatos da educação que percorrem todo o espectro político, mais os professores não sindicalizados que se reconhecem no protesto. Quase todos, afinal.

    E cada coisa é cada coisa, uma não exclui a outra. A avaliação é apenas a parte mais visível para a opinião pública devido à pressão do tempo. Mas está longe de ser a mais importante, outras questões se colocam mais graves para a escola pública, como o estatuto do aluno, a gestão das escolas, a gestão horária do inglês no 1º ciclo do ensino básico, o fim dos apoios especializados aos alunos com NEE, a extensão horária, etc. Uma catadupa. Ainda uma medida não foi examinada nas escolas, aparece outra de imediato para não dar tempo de discutir com seriedade o que quer que seja.
    Bem engendrado, por acaso. Quem sabe, sabe.

    A situação profissional dos professores é importante na medida em que são eles quem mexe e faz ligação de todo o resto. Não se vê também qualquer motivo para que não digam de sua justiça quando sentem que são meros instrumentos de uma política que pouco tem a ver com educação. E se não forem eles os agentes que se insurgem contra a ilegalidade da sua situação, quem o vai fazer?

    Como dizes que por motivos pessoais entendes do que se fala, sabes que em educação anda tudo ligado e que as medidas avulsas não são indiferentes ao resultado do conjunto.
    Voltando à avaliação por ser o que está na ordem do dia, não se trata de aceitar os parâmetros do governo e ainda aproveitar o palanque, o megafone e o bigode para acrescentar outros.
    Como se gerem 30 itens, cada um subdividido em 5 indicadores de medida, mais os propostos pelos professores, a um terço do final do ano escolar?
    Mais itens? Ou uns em vez de outros?
    Estes é que no conjunto não seleccionam pela qualidade, apenas fazem o escalonamento para as cotas por meio de critérios duvidosos. Como fica a escola pública cujos professores com poder institucional e capacidade pedagógica não são os melhores?
    A escola ganha? Os alunos ganham com medíocres dóceis a orientar e avaliar os outros?
    É uma questão prioritária, prévia a outras e com repercussões pedagógicas, ao contrário do que me parece que te parece.

    Pois dizes bem, é mesmo lirismo. Quando questões básicas de mera legalidade andam há 2 anos para serem, já não digo dirimidas, apenas discutidas, e encalham num muro falante que contra-argumenta com o Brasil para a solução dos problemas da educação em Portugal, o espaço disponível para questões pedagógicas é mínimo. E nem pode actuar de modo diferente, tem metas de escolaridade a cumprir, a bem ou a mal.
    A próxima etapa podia ser essa, mas entretanto a política do facto consumado é a que vence.

    ______________________________________________

    Valupi, que curtinho. À boleia dos outros!

  165. valupi, apanha lá as boleias que te derem mais jeito. Afinal é uma prática corrente em Portugal e não sei se haverá alguma vantagem em te afastares da norma.

  166. M,
    nota:
    «Como dizes que por motivos pessoais entendes do que se fala, sabes que em educação anda tudo ligado»
    Não mereço tanto, disse parecido mas diferente.
    «Não a luta dos professores, que essa julgo entender, ou pelo menos esforço-me, a tanto obrigado pelo meu interesse pessoal e por todo este alarido no Portugal pós-Campos, o Corrido.»

    Excelente texto, muito para digerir. Fala de boleias, de resto. A reler.

  167. pois é: essa pressão a um terço do final do ano lectivo, com medidas avulsas em cima de outras confusas, é o que mais me preocupa como sintoma de desonestidade intelectual e política. Se a coisa fosse séria e honesta, visando o tal bem comum não se faria assim. De facto não se podia fazer melhor para fazer a escola funcionar pior neste trânsito final. Maquiavelismo ou inépcia? Eu vou pelo primeiro, arrasar os prof.s psicologicamente e sacrificar os miúdos, guerra florida, tão antiga como os Azstecas, mas os deuses agora é o deficit e os submarinos.

    catástrofes fiduciárias, escrevi em tempos sobre isso, amanhã veremos como vai a cambalhota das bolsas

    durmam bem que é preciso, e é bom

  168. rnv, realmente pareceu-me outra coisa. Não pela profissão, porque julgo saber quem és, mas que o teu interesse vinha por interposta pessoa.
    De qualquer modo, é claro que só pode mesmo preocupar-te, nem duvido.

  169. Então pertences ao clube das famílias numerosas, que me parecem ter também algumas reivindicações, pelo menos fiscais. Mas é capaz de ser mais pesadote do que isso. É o que ouço, eu não me atrevi a tanto.

  170. M,
    Não, pertenço a outro clube, com menos sócios. Mas não sou mau rapaz, pergunta a quem quiseres. Ou talvez não, deixa lá, pronto.

  171. Felizmente para nós, Sócrates tem uma paciência de Santo. No lugar dele tinha mandado todos para o caralho, e quem viesse atrás que fechasse a porta.
    Sobre a avaliação dos professores já falaram Pacheco Pereira, David Justino e Arsénio Martins, entre outros, mencionados sómente por não serem da área socialista.
    Na realidade, alguns professores discordam do método, outros da avaliação. Uns e outros propõem o mesmo: sendo ou não avaliados fica tudo como está, e o topo da carreira é já ali.
    Enfim, gentalha esperta e hipócrita, disse o Arsénio Martins.

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