Pensando bem, Putin, esquece a Ucrânia, tu avança-me é para a Europa

Das coisas relaxantes que há na vida é ver aqueles que, em pleno ataque dos mercados, no primeiro trimestre de 2011, com as taxas de juros da dívida a aproximarem-se dos 7 %, entenderam que uma estratégia concertada de defesa dos interesses do país (a que poderia chamar-se «consenso») não interessava para nada, pois Portugal ganharia com uma passagem pelo esgoto, tendo tido o desplante de mandar às urtigas (depois de paga com tempo de espera a reeleição de Cavaco) um acordo de «no bail-out» com o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia, andarem agora a apelar a um consenso para alegadamente dar confiança aos mercados, enquanto alegam que a mera discussão do problema da dívida excessiva e insustentável, resultante do resgate e da forma como as suas condições foram aplicadas, é uma loucura e pode suscitar a ira dos ditos. Extremamente relaxante. Como um trago de gasolina.

A ver se nos entendemos: o que o BCE resolveu entretanto fazer em defesa do euro já estava em embrião, com Trichet, em 2011 e a baixa dos juros que se verifica atualmente tem muito pouco a ver com a situação económica e financeira do país, que é pior. Mas, dirão alguns, em termos de financiamento, há uma mão por baixo de nós. Sim, uma mão que já se dispusera a lá estar em 2011. Entretanto, se a nossa dívida era alta, agora é altíssima. E, quaisquer que sejam as contas, impagável. Nesta circunstância, o fingimento de pouco serve. Quero dizer, serve de pouco ao país e aos seus habitantes, sendo certo que servirá seguramente para alguma coisa, para alguns.

Estas araras que nem querem ouvir falar na insustentabilidade da dívida são as que tudo fizeram para a agravar. Não pensando, ou divertindo-se com experiências. Voluntária e jovialmente e através de cortes duros e sucessivos nos rendimentos dos portugueses, diretamente ou através de impostos, arrasaram a economia do país, empobreceram 95% da população, exportaram para países da UE mais ricos – e encantados com a oferta – mão de obra barata, especializada e não especializada, desqualificaram os serviços públicos e a educação, venderam ao desbarato empresas públicas rentáveis e bem geridas, tornaram a dívida pública objetivamente insustentável e, agora, condenado o país, sem moeda própria, a 100 anos de servidão, insurgem-se contra quem pensa e reage e não se conforma (alguns deles tarde, é certo). Ora, e invertendo o sentido de uma conhecida anedota, não sendo isto amor ao país, que não têm nem sabem o que é, esta indignação só pode ser interesse, mas interesse próprio. Numa qualquer recompensa externa (cf. Gaspar) ou numa nova ordem que dê todo o poder ao setor privado, pelo qual já se foram distribuindo os amigos. São estes os grandes tementes ao deus Mercado e às suas suscetibilidades. E as televisões com horas e horas de futebol e o funeral do Policarpo.

Por fim, quererão talvez saber o que faz o destemido Putin no meio disto. Aqui vai. Parecendo não ter nada a ver, a questão da Ucrânia e uma eventual desestabilização da Europa ao ponto de poder acarretar o fim do euro, por muito tenebrosa que fosse, poderia ser, para nós, uma libertação. Quiçá a única esperança. Especialmente se as próximas legislativas nem sequer nos livrarem do bando que tomou de assalto o PSD.

One thought on “Pensando bem, Putin, esquece a Ucrânia, tu avança-me é para a Europa”

  1. o povo não tem memoria,e é nesta verdade que a direita confia.já está provado que estes “bandoleiros” já causaram mais estragos ao pais,do que o josé,durante seis anos de governaçao. o seu governo deixou um deficite menor do que o actual,mas com uma diferença, deixou uma obra que muita gente usufruiu com muito agrado às segundas,quartas e sextas. e nos restantes dias muitas criticas para inglês ver.estes rapazes que tomaram conta do pais,só nos vão deixar divida publica agravada por causa do “ir alem da troika”,e com os portugueses mais pobres por causa dos roubos dos salarios.a sorte destes “gatunos” é o estarmos na “desunião europeia” ,caso contrario, já tinhamos tido mais um golpe militar, certamente mais cirúrgico do que o do 25 de abril,para não deixarmos” rabos de palha” como em 1974

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