Os foguetes e as canas

Ontem foi grande a festa e o foguetório do governo e seus apoiantes a propósito do acordo alcançado na concertação social. Quem, apesar dos tempos, vê os momentos de televisão das novas personagens saídas sabe-se lá de que toca, arrisca-se a ouvir Braga de Macedo na RTP Informação (como aconteceu ontem, ao fim da tarde) a dizer o seguinte (cito de cor):

Este acordo (na concertação social) veio na hora H. Já devia ter acontecido há mais tempo, mas numa semana em que as agências de rating baixam as notações de vários países europeus, entre os quais a França, é importante mostrar o empenho de Portugal em fazer o seu trabalho e dar confiança aos mercados. Foi mesmo na hora H.”

Não sendo estas as palavras exatas, a hora H foi seguramente referida umas seis vezes durante a intervenção. Para este economista do PSD e próximo membro do Conselho Geral e de Supervisão da EDP, a partir de agora o rating de Portugal vai ser sempre a subir. A revisão da lei laboral no sentido da flexibilização era o pormenor que faltava para inverter a situação de “descrédito” do país face aos mercados. Indiferentes a tanta fé, hoje, no mercado secundário, a rendibilidade exigida pela compra de dívida portuguesa a 5 e 10 anos voltou a atingir máximos (18,2% e 14,6% respetivamente), nada indiciando que vamos sair do lixo na próxima década. Chatice, Dr. Macedo. E logo agora que nos tornáramos tão sedutores para os investidores e nos armáramos de um escudo invencível contra os especuladores de tal maneira resistente que nem o provável incumprimento da Grécia nos poderia jamais afetar.
Acredite que eu até gostaria que a vida financeira e política fosse simples assim e que a situação económica internacional decorrente da globalização, do regresso dos nacionalismos, da apropriação dos Estados pela alta finança, etc., etc. exigisse apenas, dos países europeus, que fossem os bons alunos do diretório alemão e da Troika ou seguissem à risca a cartilha do liberalismo económico, baixando os salários, desregulamentando a economia e reduzindo/suprimindo o papel do Estado. Assim não é e essas vias só nos afundam. Com a austeridade e a perda de poder de compra, cada vez haverá menos dinheiro para pagar dívidas e respetivos juros. Atrelados ao euro, a resposta ou é europeia ou não é nenhuma. Se fosse a vocês, guardaria os foguetes para mais nobre ocasião e, por enquanto, trataria de apanhar as canas. Ou mandar apanhar, mais de acordo com a vossa assumida classe (para já, invisível a olho nu).

5 thoughts on “Os foguetes e as canas”

  1. Não deve levar-se a sério este e outros figurões que aparecem nos media a dizer estas baboseiras. Caramba, o que é que esperavam de um tipo que acabou de ser nomeado para um tacho altamente remunerado na edp? que mostrasse o seu profundo reconhecimento por quem lho proporcionou. Foi isso que ele fez, a normalidade impera…tecemos loas a este governo robin dos bosques ao contrário, que rouba aos pobres para encher ainda mais os ricos…porque se é dos pobres o reino dos céus, é legítimo que aos ricos se compense com o reino da terra…

  2. já percebi, vamos passar a ser governados pelos chinocas através da edp e a cobrança de impostos passa a ser feita na factura da electricidade à semelhança da taxa de radiodifusão.

  3. Pois, Penélope, estes tipos não acertam uma!
    Sempre que falam no que as agências de ‘rating’ vão fazer a seguir a uma chispalhada como esta que acabou de ser feita, já se sabe que o tiro sai pela culatra.
    É pena, mas é bem feito, para não se armarem am chico-espertos.

  4. A propósito, a EDP está em queda livre nas cotações. Alguém sabe explicar isto? Ora agora que o Catroga, a Carmona e os outros não sei quantos “não psd” e “não “cds” tomaram posse…

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