Como veem, faço o acompanhamento atento do caso Sócrates

E penso que há um país inteiro à espera do desfecho. Nesta altura do processo, quer seja tudo arquivado, quer haja acusação, a palavra escândalo estará sempre presente, pelo que este caso não tem como não ser apaixonante. Estou apaixonadamente interessada e assim me encontro desde o início.

Depois de ler esta notícia no jornal i, fui tentar contextualizar e perceber melhor a história da Oi, quais os seus negócios, qual o seu peso no mercado brasileiro e qual a sua situação atual. Descobri este artigo relativamente recente, de assinatura brasileira, que me esclareceu bastante. Não me pareceu tendencioso, mas, se há nele alguma informação errada ou incompleta, força nisso, digam aqui. Recomendo, pois, a leitura a quem, como eu, tenha um conhecimento à partida sobre esta matéria algo rudimentar. O mais importante que fiquei a saber foi que o governo brasileiro de então tinha, por motivos absolutamente legítimos, um objetivo grandioso, ou ambicioso, como agora se diz, de internacionalização para a Oi (e também para outras empresas brasileiras), sendo por isso que, embora não oficialmente, quase a renacionalizou com facilidades e tratou de a revigorar. E aqui junta-se a PT. A participação da PT e a fusão posterior visavam  esse mesmo objetivo, aliás igualmente benéfico para a empresa portuguesa – que, penso eu, ambicionava um “império” equiparável à Telefónica. Tudo correu mal e a crise internacional e o estoiro do BES tiveram muito a ver com o que veio a passar-se. A Oi está agora insolvente e nas mãos dos credores.

Mas voltando à notícia do jornal português, e tendo em conta o que li acima, se o Ministério Público português decide escarafunchar nos negócios da PT na altura em que o Estado português ainda detinha a Golden Share (e mesmo que não detivesse), incluindo a venda à Telefónica da participação da PT na Vivo e a compra da participação na OI (um negócio acima contextualizado), parece-me natural que encontre ministros brasileiros (ou ex-ministros) e advogados no caminho, não? A negociarem com a PT. Qual a surpresa de depararem com documentos de José Dirceu? Nenhuma? É que, pela notícia, parece surpreendente. O facto de o senhor estar preso em Curitiba por corrupção no âmbito da operação Lava Jato não faz necessariamente dos administradores da PT e sobretudo de Sócrates, o chefe de um governo durante cujo mandato os accionistas da PT decidiram não a vender à SONAE,  um corrupto nem um ex-primeiro-ministro que, indirecta mas propositadamente, enterrou uma grande empresa portuguesa por ser amigo do Lula.

Mas é precisamente aí que a notícia acaba por nos levar, ou seja, à (última) tese do Ministério Público de que Sócrates recebeu uma comissão pelo negócio, comissão essa que, depois de umas voltas com passagem pela Abrantina, foi ter à conta de Carlos Santos Silva, que, como já sabemos, é o fiel depositário da riqueza de Sócrates. Ora, constato que esta tese continua a carecer de demonstração. Dos papéis de Dirceu encontrados num escritório da rua Castilho e que mencionavam comissões não parece constar, segundo a notícia, o nome de Sócrates. Nem no gentil esquema que a notícia nos desenha, com gravuras. Mas o jornal diz que, para Rosário Teixeira, “foi fechada a ligação entre todos os vértices da teia”. Então, já está. É só uma caneta para unir os pontos. Vamos finalmente ter acusação. Para quê seis meses, com ameaça de mais?

14 thoughts on “Como veem, faço o acompanhamento atento do caso Sócrates”

  1. eu que nem aprecio ana gomes, ate gostei do que falou acerca do sr. sócrates (não é eng. pois para ter esse titulo necessitava de estar inscrito na ordem dos eng.)

  2. Atenção, há uma situação que não valorizou: o escritório dos advogados fica na rua Castilho… Atão ? Isso não vale nada ? Vamos lá ser sérios como diria o Vale e Azevedo, pois então….

  3. A direita sabe tudo sobre os meandros da corrupção mas:
    – não tem condenados nem moralmente.

    Veremos se consegue desencantar culpas aos de esquerda :
    – para esses, já se percebeu, basta a hipócrita moral dos fariseus.

  4. http://sol.sapo.pt/artigo/524431/operacao-marqu-s-buscas-revelam-que-dirceu-e-peca-chave
    Atão quem é que garante a estes estarolas que o dinheiro que o Bataglia recebeu através do GES não veio da Ferrostal dos submarinos ? …. O Teixeira só tem um olho e só vê para a esquerda. Ele que tente desfazer o torcicolo e virar o pescoço para a direita, que bate com a tromba em 2 submarinos … estão ali mesmo na frente do nariz dele !

    Ó Soares
    É o escritório de advogados ser na Rua Castilho e é um dos clientes desse escritório ser a Abrantina que depois foi comprada pelo Grupo Lena, pá. Isto anda tudo ligado. Deve ser por isso que o Teixeira está sempre a tropeçar nos fios do novelo.

  5. isso… isso, cavem na abrantina e vão ver a quantidade de esqueletos direitolas que vão desenterrar numa operação de maquilhagem dos prejuízos do bcp. a abrantina estava falida e foi vendida por 1 euro ao grupo lena que precisava do alvará para fazer aquilo a que não estava habilitada e o bcp necessitava de transferir os créditos para minimizar os prejuízos. o ró-ró poderia ao menos ler os jornais da época para se prevenir da merda onde se vai meter e mais uma vez ter de abortar a investigação ao principal empregador de direitolas na zona centro do país.

  6. Acho que a generalidade das pessoas nem se apercebe do que significa realmente para alguém ver-se enredado nas malhas da justiça.

    Vejam este caso real com um amigo de um familiar directo.

    Morando ele algures no Algarve, um belo dia recebeu em casa a conta de uma passagem na via verde ( ou scut, não sei….) lá para as bandas de Braga. Riu-se. Não apenas por haver anos que não ia a Braga, mas …por se tratar do mini-tractor com que amanha o ajardinado da propriedade. E dirigiu-se, ainda rindo ao posto da GNR . Quando lhe disseram o que tinha de fazer para reclamar, passou-lhe a vontade de rir. Chegado à rua, e para não perder mais tempo com aquela história de doidos, foi ao Multibanco e pagou a ridicularia.

    Passado um par de meses, recebe uma convocatória da judiciária. Assunto: a “viatura” dele tinha sido visto na fuga de um assalto a uma bomba de gasolina lá do norte no tal dia em que “passara ” na via verde. Ele explicou o ridículo da cena, mas…”Então se não era o seu porque pagou a conta ?”

    Cacha do semanário regional na semana seguinte:” Empresário local envolvido em assalto a bomba de gasolina no norte”. E nem uma linha sobre o mini-tractor….

    Poupo-vos aos enredos das cenas seguintes.

  7. Penélope: “a palavra escândalo estará sempre presente”

    Não estou de acordo. O torpor colectivo está de tal modo enquistado, os sentidos do pagode estão de tal maneira embotados, que eu, por mais que apure a vista, não vislumbro “escândalo” digno desse nome. A palavra correcta é “vergonha”, a que naturalmente teremos de acrescentar o seu corolário, que é a falta dela. A vergonha que tu, eu e qualquer pessoa decente sente por viver num país em que o sistema de “justiça” é capaz de parir trampa como esta impunemente. E a falta de vergonha da cambada que gasta o dinheiro dos nossos impostos a tecer abortos jurídicos como os que estão à vista.

    É uma justiça simultaneamente incompetente e rancorosa, burra e mafiosa, arrogante e infantilóide, vingativa e prepotente, pretensiosa e analfabeta, um rolo compressor em roda livre, completamente cego ou obedecendo a agendas ocultas, que age em completa impunidade e trucida inocentes sem a mais pequena hesitação.

    Deixa-os poisar.

  8. Notícia no Observador: «Antes de referir-se ao seu próprio processo judicial, Sócrates falou sobre o julgamento de Nuremberga para lembrar que “a universalização dos direitos do homem nasceu nesse momento, porque pela primeira vez a humanidade tinha uma lei que se sobrepunha a todas as outras”. E para defender que, a partir desse momento, o Estado perdeu o direito de ultrapassar as “linhas vermelhas” dos direitos do homem.»

    Gentil Penélope, também eu faço o acompanhamento atento do caso do Sócrates, mas estou em crer que o acompanhamento que o Sócrates resolveu fazer da farsa judicial histórica conhecida por «julgamento de Nuremberga» foi bastante desatento.

    É por essas e outras que me interessa muito mais o caso do Sócrates que o Sócrates do caso.

    Aqui fica, no texto original inglês, uma breve achega sobre os «direitos do homem» que a constituição do Tribunal Militar Internacional (3 mentiras em 3 palavras, como muito bem diria o prof. Faurisson) de Nuremberga consagrou: “Art. 19: The Tribunal shall not be bound by technical rules of evidence. […] Art. 21: The Tribunal shall not require proof of facts of common knowledge but shall take judicial notice thereof.”

    Ora aqui estão dois princípios que muito facilitariam a tarefa ao super-juiz Alexandre. Que achará o nosso arguido do Marquês desta ideia? É só tomar nota do que «toda a gente sabe» e passar a sentença. Valeu?

    Para os mais curiosos que não percebem de que estou a falar:
    http://www.ihr.org/jhr/v12/v12p167_webera.html
    http://www.ihr.org/jhr/v17/v17n1p38_michaels.html

    Florilégio de actas nuremberguenses para deleite de juristas, sapateiros, maleiros, saboneteiros, canibais e donas de casas (fotocópias autenticadas):
    http://www.cwporter.com/partone.htm

  9. Já agora, aqui fica, à laia de símbolo da Justiça, uma imagem para a posteridade de Thomas J. Dodd, acusador americano no julgamento de Nuremberga, na companhia de um amigo para não ficar atrás da sabonetada humana fornecida pelo colega soviético Nikitchenko, braço direito do procurador Vichinsky famoso pelos processos do mesmo tipo que protagonizou:
    http://connecticutmag-images.dashdigital.com/dodd1.jpg?ver=1447093820

    Breve documentário sobre fantochadas judicias:
    https://www.youtube.com/watch?v=QLOmNUvdqhQ

    Uma risota pegada…

  10. E para que servem estas farsas judiciais, ditas internacionais, mas servidas por nações escolhidas, na esteira de Nuremberga e supostas assegurar os «direitos do Homem»?, perguntarão os mais ingénuos. Ora, para que é que havia de ser? Leiam a desmontagem porJames J. Martin do novo crime de «genocídio» inventado por Rafael Lemkin para Nuremberga e vejam o anúncio do novo Hitler da semana no vosso noticiário favorito.

    Lembram-se do Slobodan Milosevic? Sim, o sérvio que foi um dos maiores criminosos de guerra, culpado de massacres infindos, que findou os seus dias no calabouço justiceiro da Haia. Pois bem, pela calada da noite, pé ante-pé, como quem não quer a coisa… já não é. Já foi, mas, sem grandes fanfarras, deixou de ser.

    John Pilger explica para que serviu:
    http://johnpilger.com/articles/provoking-nuclear-war-by-media

    «The International Criminal Tribunal for the former Yugoslavia (ICTY) in The Hague has quietly cleared the late Serbian president, Slobodan Milosevic, of war crimes committed during the 1992-95 Bosnian war, including the massacre at Srebrenica.

    «Far from conspiring with the convicted Bosnian-Serb leader Radovan Karadzic, Milosevic actually “condemned ethnic cleansing”, opposed Karadzic and tried to stop the war that dismembered Yugoslavia. Buried near the end of a 2,590 page judgement on Karadzic last February, this truth further demolishes the propaganda that justified Nato’s illegal onslaught on Serbia in 1999.

    «Milosevic died of a heart attack in 2006, alone in his cell in The Hague, during what amounted to a bogus trial by an American-invented “international tribunal”. Denied heart surgery that might have saved his life, his condition worsened and was monitored and kept secret by US officials, as WikiLeaks has since revealed.

    «Milosevic was the victim of war propaganda that today runs like a torrent across our screens and newspapers and beckons great danger for us all. He was the prototype demon, vilified by the western media as the “butcher of the Balkans” who was responsible for “genocide”, especially in the secessionist Yugoslav province of Kosovo. Prime Minister Tony Blair said so, invoked the Holocaust and demanded action against “this new Hitler”. David Scheffer, the US ambassador-at-large for war crimes [sic], declared that as many as “225,000 ethnic Albanian men aged between 14 and 59” may have been murdered by Milosevic’s forces.

    «This was the justification for Nato’s bombing, led by Bill Clinton and Blair, that killed hundreds of civilians in hospitals, schools, churches, parks and television studios and destroyed Serbia’s economic infrastructure. It was blatantly ideological; at a notorious “peace conference” in Rambouillet in France, Milosevic was confronted by Madeleine Albright, the US secretary of state, who was to achieve infamy with her remark that the deaths of half a million Iraqi children were “worth it”.

    (. . .)»

  11. sei lá , disto tudo retira-se que não se pode deixar os accionistas decidir , não se pode : imaginem onde estaria agora a ptsonae …. a dar lucros aos accionistas , seguramente :)

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