Aviso aos pacientes: este blogue é antianalgésico, pirético e inflamatório. Em caso de agravamento dos sintomas, escreva aos enfermeiros de plantão.
Apenas para administração interna; o fabricante não se responsabiliza por usos incorrectos deste fármaco.

A que horas fala?

A que horas irá Manuel Alegre deixar clara a sua inequívoca oposição a este Governo de extrema-direita que está a espoliar os trabalhadores, fazendo cortes e mais cortes nas ajudas sociais, mas não tocando nos bancos que nos chupam o sangue e os ossos? Ou espera por um telefonema de Louçã a autorizar essa declaração conforme ao sonho da grande esquerda bloqueada?

Todos pelas agências de rating

A situação de Portugal é “menos séria” do que a da Grécia porque o Governo tem história de redução do défice e o Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) “é significativamente melhor que o da Grécia”, afirmou hoje o director da agência de avaliação de risco (rating) de crédito Fitch.

Fonte

Risco da dívida portuguesa recua pelo terceiro dia consecutivo

Fonte

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Perante a degradação das condições ideais para a golpada, e isto apesar de o Governo ter afirmado no Parlamento que cumpre com as suas responsabilidades e tem uma política de investimento público e protecção social de que não abdicará, formou-se um grupo de cidadãos que vai protestar em frente à Assembleia da República contra a frouxidão das agências de rating. Está previsto vestirem-se de cor de burro quando foge e levarem cartazes com as seguintes palavras de ordem:

A Fitch não é fixe

No nosso Standard, os outros que fiquem Poor’s

Estou com a Moddy’s em baixa

I love CDS

Na Política de Verdade não cabe a ética nem a caridade

Sócrates perverteu a juventude ateniense, daí os actuais problemas na Grécia

Sócrates é procurado pelas autoridades de Atenas desde 399 a.C., já chega de impunidade

A manifestação ocorrerá entre 16h45 e as 17h, estando prevista uma pausa nos protestos para serem servidos scones e chá, patrocínio das Vicentinas, aos elegantes presentes.

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Adenda – A realidade é quase tão rápida como a minha imaginação.

Equipa de Juniores (área de serviço da auto-estrada)

Minuciosa caravana atrás de nós

Seguindo todos os pontos da viagem

A prova de que nunca estamos sós

Até na área de serviço, na paragem

Minuciosa caravana pela estrada fora

Paternal feminina permanente ansiosa

Nossos passos vigiados a toda a hora

Entre a manhã fria e a tarde chuvosa

Procuram bolos e água suja americana

Na pressa de matar toda a sede reunida

A sua força está em viver uma semana

Como se nela estivesse toda a sua vida

Todos quererão jogar no Barcelona

Todos querem seguir os mais velhos

Nem todos porém acabam a Maratona

Nem todos saberão ouvir conselhos

O autocarro é um grande berçário

Não deixaram ainda de ser crianças

Passam tempo a discutir o calendário

Juntam na voz todas as esperanças

Nós não estamos sós nestes caminhos

Nesta tarde que termina em trovoada

Sentimos o combustível dos carinhos

A empurrar o autocarro pela estrada

João Miguel Tavares, o Barrabás da crónica à portuguesa

O Tribunal da Relação de Lisboa considerou ter JMT direito a ofender Sócrates desde que o faça numa crónica e se escude em matérias divulgadas na comunicação social. Nada a opor.

A passagem que me despertou mais asco na famigerada crónica não foi a das calúnias com que abre o texto, e onde vai buscar a hipocrisia canalha para o resto, mas esta:

eu tenho vergonha da democracia portuguesa por ter à frente dos seus destinos um homem sem o menor respeito por aquilo que são os pilares essenciais de um regime democrático

Independentemente do que o autor identifique como os pilares essenciais de um regime democrático, assunto acerca do qual não perderia tempo a escutá-lo nem que me pagassem o que recebe como publicista ao ano, não nos enganaremos muito se dissermos ser a Justiça um desses pilares. Ora, Sócrates recorreu aos tribunais para marcar uma posição: sentia-se prejudicado pessoalmente pela difamação resultante daquela opinião. Com essa acção, contribuiu para dois corolários: fez de JMT uma vedeta na indústria da asfixia democrática e deu ainda mais munição aos ataques de carácter contra si. Digamos que, para um bandido do calibre deste Sócrates, é demasiado amador. Toda a gente sabe que não é na Justiça que se resolvem chatices com atrevidos, não vale o esforço e dá péssima fama. O engenheiro anda muito mal aconselhado, como é sabido e notório, e depois cometem-se erros de palmatória como este de teimar em respeitar o filha-da-puta dum pilar que não acolheu as suas razões. Tanso.

Maneiras que JMT pode assaltar a imagem pública de Sócrates e assassinar-lhe o carácter sem correr o risco de ser crucificado. A liberdade de expressão não se incomoda, não precisa da prova dos factos, lava as mãos – mas, neste caso, por uma questão de higiene.

Coisas do arco da velha

Confiança das empresas melhora mas a dos consumidores continua a cair

Fonte

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O fenómeno tem singela explicação: enquanto os consumidores estão sob barragem cerrada da artilharia mediática e suas agendas comerciais e políticas, as empresas estão a produzir riqueza num mercado internacional que recupera mais rápido do que o previsto.

A oposição transformou o Parlamento numa esquadra salazarista. A perseguição ao Governo não é uma fiscalização porque quem fiscaliza não parte de uma convicção de culpa. Fiscalizar é uma actividade silenciosa, rigorosa, demonstrativa. Nas variadas comissões de inquérito, ao invés, os deputados da oposição são panfletários, comicieiros, debochados na sua arrogância conclusiva. O que os motiva e anima é o frenesim da caçada, o tiro ao alvo.

Esta oposição negativa, cujas raízes ultrapassam a dimensão política, vê roubalheiras em qualquer acto do Governo, tantos os que são razão de orgulho popular, como o projecto Magalhães e inovação escolar associada, como os que nem sequer dependem do Executivo nem chegaram a realizar-se, como o negócio PT/Prisa. Os que alimentam esta forma de fazer política, constantemente pondo em causa a honorabilidade dos governantes, são de um primarismo animal. Fanáticos.

Como é velha, e relha, a nossa oposição.

Já está feito?

Precisamos, urgentemente, de um voluntário para criar no Facebook o grupo das pessoas que têm como única causa protestaram contra a mudança de layout do A Causa Foi Modificada, o qual é Um blogue with dense argument, modernist poetry, long political tracts, and texts that need careful attention and slow reading que não merece estes (des)tratos de polé. O problema é muito mais grave do que a descida do rating do Barcelona em consequência da sua insuficiente produtividade atacante, haja noção das prioridades nacionais.

Eu não o posso criar porque tenho de ir ao Rato levantar o cheque, mas tu, que não mamas do Orçamento ou estás desempregado porque não queres trabalhar, bem que podias tratar dessa merda.

O segredo de Ourozinho

O segredo de Ourozinho

Está na luz do teu olhar

Que trouxe pó do caminho

Ao asfalto deste lugar

Nela veio a terra trazida

Batata, milho e centeio

As origens de uma vida

Onde não cabe o receio

Onde o futuro sonhado

Infância em pensamento

Não é o comboio lotado

Nem cidade de cimento

Na festa do padroeiro

Coração em pé de guerra

Santiago é o verdadeiro

Vértice entre rio e serra

Monumento ao emigrante

Pedra feita num abraço

Nossa vida é um instante

O caminho é só um passo

Na tua voz tão devagar

No seu timbre de metal

Chega o som do lagar

Com o azeite sem igual

No sabor destas castanhas

Vinho doce do teu Mundo

Vem o frio das montanhas

E o calor forte e profundo

E já noutra sonoridade

Mais alta que um moinho

A roda chega á cidade

No segredo de Ourozinho

Intermitência

“E deste, gostas”, pergunta-me, entusiasmada e viva, F., ao mesmo tempo em que aponta para a zona dos seios. “Sim, fica muito bem. Ainda melhor do que o modelo anterior”, respondo. “Óptimo. É maravilhoso saber que, ao contrário de todos os outros homens, não achas que o meu peito é demasiado grande”, confessa-me, feliz e aliviada. “Porque haveria de pensar isso”, pergunto-lhe, surpreso. E, alegres e de braço dado, abandonamos a loja especializada em pára-quedas.

Américo Thomati na Comissão de Inquérito – 3 notas

João Oliveira, deputado do PCP, tem a certeza de ser comunista? É que o grau de confusão que aquela cabeça exibe no mero acto de interrogar os depoentes deixa as maiores suspeitas quanto ao seu conhecimento do marxismo, doutrina basto complexa e fastidiosa no seu estudo.

O Pacheco, deputado de si próprio, precisa de chamar negligente e irracional a quem questiona só porque está armado em polícia? De facto, o Diabo está nos detalhes.

Que faz um partido interessado na verdade? O que fez o PS. Na 2ª ronda, confrontou Américo com uma notícia publicada na Internet a respeito dessa mesma sessão, onde se apontava uma eventual incongruência nas suas declarações na 1ª ronda. Directos ao assunto.

Sir, Custer was a pussy

Falta de informação, ou excesso da mesma, pode contribuir para o catastrofismo. Tendências paranóicas, estados depressivos e crises de ansiedade também. Se juntarmos tudo isto, temos o PSD de Ferreira Leite, Pacheco e Rangel, mais a legião dos cavaquistas apocalípticos.

Em abono dos catastrofistas, dizer que têm razão. Catástrofes acontecem com monótona regularidade. Estas pitonisas só precisam de esperar o tempo suficiente para reclamarem a presciência. Entretanto, os catastrofistas empatam e pervertem. Não dispõem de soluções que interessem a quem decide, e tentam boicotar as soluções dos decisores interessados. Pior ainda, são tóxicos. Aumentam o número de afectados pela maleita dissolvente que espalham com sanha.

Na campanha para as Legislativas, o PSD falava do problema do endividamento de forma retórica, projectado a longo prazo, no confronto com a política de investimento público defendida pelo PS. Em nenhum momento se falou desta crise com epicentro na Grécia, pois tal cenário era completamente desconhecido, antes o debate se fazia num plano teórico onde os dois caminhos esgrimiam argumentos adentro de um contexto volátil e incerto na economia internacional.

Como o PSD não tinha qualquer ideia para apresentar ao eleitorado, a estratégia foi a de tentar vencer pela conspurcação do adversário, a lama, o assassinato de carácter. O PS iria perder porque era um partido de ladrões e o PSD, quando recebesse o Governo que era seu por direito divino, logo decidiria o que fazer com o País. Os iluminados que gizaram esta pulhice perderam clamorosamente, mas não estão prontos para admitirem a estupidez que o eleitorado rejeitou.

Um dos fãs desta maralha é o Filipe Nunes Vicente, que está a desenvolver uma bizarra fixação com um humilde texto escrito em Novembro. Já é a segunda vez que o oferece aos seus leitores; a primeira foi em Fevereiro, também numa altura de excitação catastrofista. Ora, a repetição convenceu-me do que suspeitei anteriormente: os catastrofistas atrofiam cognitivamente, mas um catastrofista apoiante da Manela atrofia muito mais. Um dos sintomas desta intelectualmente catastrófica condição é, ironicamente, a incapacidade de entender a ironia.

Acontece que a ironia não se explica, Filipe. Podes apontar mais esta catástrofe no local onde me eleges como fetiche.

Intermitência

“Obrigada, amor”, diz-me C., ao mesmo tempo em que experimenta os óculos de sol que acabo de lhe oferecer. “Mas não achas que são demasiado grandes para o tamanho do meu rosto”, pergunta-me. “Sim”, respondo. “Beneficiam-te, de facto, bastante.”

Vinte Linhas 476

Angústias – «aqui na América estes bichos não têm cedilhas nas máquinas de escrever»

A imagem a ilustrar o poema «Balda nocturna para Eduardina» era um bilhete-postal de 1910 com a igreja paroquial das Angústias, cidade da Horta. É óbvio que poderia ter escolhido outra imagem da Horta – a mais bela pequena cidade do Mundo, nas palavras do poeta Pedro da Silveira. Em 1968 conheci Isidro Espínola, meu colega de trabalho que pedia sempre emprestado o jornal A BOLA para ler as gordas alegando que o jornal não trazia os jogos do seu Clube, o Angústias. Mais tarde recebemos da Califórnia cartas dele com a particularidade de as cedilhas serem «vírgulas» batidas em cima dos «cês». Como ele escrevia «aqui na América estes bichos não têm cedilhas nas máquinas de escrever». Anos depois, numa digressão do Benfica à West Coast, Isidro Espínola apareceu como o salvador das malas perdidas dos encarnados. Sendo proprietário de uma agência de viagens, ao ver os compatriotas enrascados, encheu-se de brios, procurou, procurou e acabou por encontrar as malas da comitiva do SLB. Alfredo Farinha, nas páginas de A BOLA, lembrando o sportinguismo de sempre e para sempre do Espínola, sublinhou a contradição: foi um leão que alugou uma pick up de caixa aberta para trazer as malas perdidas das águias entre aplausos dos elementos da comitiva. Por causa desta história procurei saber mais sobre o Angústias e tenho a fotobiografia do Clube, um trabalho de Carlos Lobão. Aí descobri que um clube de futebol pode ser (e é) muito mais do que uma sede, uma bandeira, um campo e um emblema. Pode ser, como nesta foto, orgulho da freguesia, seus residentes e seus emigrantes – que partiram mas ficaram com o coração preso às cores do Angústias.

Spam 3.0

O blogue tem estado sob ataque de uma forma nova de spam (por aqui, pelo menos), o qual gera comentários que repetem comentários já presentes nas caixas dos ditos. Por agora, aparecem com nomes ingleses usuais. Os nomes são links para websites comerciais.

Irei varrendo a casa, mas alguns irão escapar, antecipo. Quem for atingido pelas cópias do que escreveu, fique a saber que não tem sido algum tontinho, antes um sistema automático de invasão e simulação.

Lãzudos

Se neste processo for substituído o director-geral é gato escondido com corpo todo de fora e trata-se simplesmente de uma intervenção do Governo num órgão de comunicação social que, como ele [José Sócrates] disse várias vezes, lhe era incómodo.

Ferreira Leite a 24 de Junho de 2009

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Muito mentem os mentirosos que produziram e trouxeram até nós a Política de Verdade. De toda a verrina que a Manela despejou na comissão de inquérito, o cúmulo da falta de vergonha é ter dito que Sócrates fez mal em ter impedido um bom negócio. Havendo um prémio Nobel da Lata (e de lata) era teu, Manecas.

Estávamos a dois meses das Legislativas. O Presidente da República fez da possibilidade do negócio um caso político da maior gravidade, não havendo memória de tamanha intromissão Presidencial num acordo entre privados. A oposição em peso saltou com os dentes afiados e o cheiro a sangue. E a presidente do PSD dá uma entrevista onde garante saber que o Primeiro-Ministro mente e pretende afastar Moniz por vingança e para alívio. Conclusão: estavam todos a influenciar o negócio menos Sócrates.

Usando o lendário poder de raciocínio de Ferreira Leite, que tão desopilantes momentos proporcionou durante o período em que liderou os socias-democratas, podíamos também pensar que a última situação que interessava a Sócrates, e ao PS, era a notícia daquele negócio naquela altura. O aproveitamento feito veio legitimar a estratégia do PSD e de Cavaco, a qual apostava nos ataques de carácter como forma de descredibilizar Sócrates e Governo. Assim, havendo conhecimento prévio e poder de influência, pareceria mais inteligente que Sócrates tivesse impedido o episódio. A mesma lógica para o fim do Jornal de Sexta, já agora, que só prejudicou o PS e reforçou a máquina das suspeições.

Já se sabia, e ficou provado para além de qualquer dúvida, que nem Sócrates nem Governo tinham qualquer plano para dominar meios de comunicação e afastar pessoas. Contudo, alguns membros do Gabinete do engenheiro poderão ter sonhado com isso. Como a Judiciária, por carência orçamental, ainda não se equipou com aquelas maquinetas que permitem gravar sonhos alheios, o PSD – da dupla mais funesta da política portuguesa nos últimos 20 anos, Manela e Pacheco – mobiliza o Parlamento para apanhar o Primeiro-Ministro por causa do que outros imaginam a seu respeito, não pelo que factualmente fez.

Este vale tudo, nascido e alimentado no ódio, é lã a mais para a democracia.

Intermitência

“Só vejo uma forma de eliminar esta pele eriçada, arrepiada”, explico a H., abraço apertado. “Mas tenho medo de estar, ao fazê-lo, a ir longe de mais. Afinal de contas é a primeira vez que estamos juntos. A primeira vez que estou aqui, em tua casa, a dois”, prossigo. “Não tenhas medo de o fazer. Vai. Faz”, ouço, lábios em sussurro. “Dá-me só um segundo”, peço, palavras acarinhadas. E, num movimento rápido e audaz, fecho a janela do quarto.