“Talvez seja a grande revolução que ele fez num país cansado de crispação; trazer a afectividade para a política. É, a par com a coragem, a sua arma mais eficaz. E por isso ele é, de facto, irresistível. E também imprevisto. Com o Mário, o inesperado pode sempre acontecer. Desenganem-se os que o julgam sentado sobre uma por vezes aparente lassidão. De repente ele salta. Para sacudir o marasmo e de novo forçar o destino.”
Escreveu isto Manuel Alegre, no seu infausto “Arte de Marear”. Esta passagem coroa oito páginas de panegíricos à figura de Soares. E segue-se à descrição da forma como Alegre pôs “os delegados a ferver” num congressos do PS, enquanto o chefe, na mesa da presidência, “barafustava: este gajo está-me a lixar o Congresso.” Claro que tudo se sanou com uma palmadinha no ombro e a admissão por Soares de que o seu amigo “é um tribuno temível”.
Hoje, Alegre espera que o seu ex-amigo não sacuda coisa nenhuma nem force o destino que o parece condenar à derrota sem glória nem proveito. Hoje, o exorbitante ego do poeta-candidato já não se deixará apaziguar com festinhas e elogios utilitários. Hoje, ambos surgem à luz impiedosa da atenção dos media como dois velhos de costas voltadas, tremendos no seu egoísmo, naufragados bem longe das correntes que estão já a moldar as costas de um novo mundo.
Não me tenho eu cansado de te dizer que isto é tudo uma farsa e que esta malta anda toda,incluindo o papa e os comunistas, a soldo da maçonaria?
Gostei do que escreveste, Luís. A tua última frase lapida a ideia essencial a reter.
É pá, andaste a ler muita Arte de Marear! “Naufragados bem longe das correntes que já estão a moldar as costas de um novo mundo”? Foda-se pá, mas isso é poesia! E a poesia é o poder! Tá muita lindo, pá – mas é uma merda. Experimenta a prosa, é capaz de te ficar melhor.
Mário, entende a coisa como uma pequena homenagem: um inofensivo pastiche.
Luís, prefiro quando reflectes sobre política do que quando te metes em alegorias (Cf. post de cima).
Obviamente, o Mário não gosta que se revelem declarações de amor de socialistas que agora “não” se dão bem. Nós compreendemos.O que não precisava era de vir com essa da “poesia” do Luis Rainha. Puro pontapé nos tomates num jogo de boxe – arma preferida do Grão-Mestre de Grau Duvidoso.
Eu não concordo com a Claudia. As alegorias do Luís são tão boas quanto as alegrorias.
Gostei da graciosidade do poeta Luís: pois se era um pastiche a coisa passa! Agora o amigo Pike picou ao lado: ’tou-me bem a c… para as revelações sobre as desavenças de Mário & Manuel; não me atribua intenções que não sabe quem eu sou nem o que eu penso, nem diga que “nós compreendemos” que isso assusta – by the way, quem sois “vós”? Eu não gosto é de poesia foleira, nem de bardos pirosos, and that’s all, folk.
Mário,
Podes também ler por ali uma pequena apropriação de uma frase de Henry David Thoreau: “laving the shores of a new world”. É como na farmácia… há para todos os gostos.
Num plano de pura análise textual, a frasezinha do H.D.Thoreau não é comparável à do meu modesto interlocutor: “Naufragados bem longe das correntes que já estão a moldar as costas de um novo mundo” tem pelo menos três double meanings, que se encadeiam uns nos outros: como diria o Pound, são entulho sentimental, indigno de um asceta como o Thoreau e muito mais próximo do lirismo palavroso e rebarbativo de um Alegre; mas enfim, gostos são gostos, se não fossem eles, o que é que a gente havia de discutir?
“The little rill tinkled the louder, and peopled all the wilderness for me; and the glassy smoothness of the sleeping lake, laving the shores of a new world, with the dark, fantastic rocks rising here and there from its surface, made a scene not easily described.”
Bem… há que convir que não se trata de descrição lá muito ascética.
LR: M&M NAUFRAGADOS, politicamente e no mar em que se mareia, mas longe das CORRENTES, as propriamente ditas + as correntes da política, que MOLDAM (horrível como imagem!) AS COSTAS DE UM NOVO MUNDO – no sentido geográfico e milenarista do termo; se o pobre do Thoreau alguma vez fosse capaz de escrever uma pepineira destas, eu mandava-o ir fazer companhia ao Zé Tim na Lubianka.
Temos aqui poetas à solta? Vá, tudo para dentro e toca a trabalhar!
‘Tou com saudades do Zé Tim… Alguém chama essa alimária, para a gente se divertir?
Luís: não entendi bem este teu post. Não vejo nada de anormal que um sujeito A diga numa determinada altura B e que, passados alguns anos, diga C (em que C > B). É suposto sermos reféns do nosso passado? Conheço dois ou três sujeitos sobre os quais tinha a melhor opinião e, agora, acho-os detestáveis.
Concordo plenamente com o JPC.
À falta do Zé Tim, podíamos usar a Barbuda, e fazer dela o nosso sex-symbol; ela tem uma constância nas suas intervenções que é de assinalar e construíu um modelo discursivo algo monocórdico mas com traços claramente distintivos que lhe confere um estatuto singular entre os frequentadores deste blogue; infelizmente, parece padecer de um ensimesmamento quási esquizóide, certamente associado a alguma psicopatologia de fundo sexual, e que também perturba as suas funções cognitivas mais simples, conforme a sintaxe algo disléxica do seu último post parece provar.
Perguntei precisamente “Erro de avaliação ou mudança de ponto de vista?” porque só se pode ter dado um destes casos, tendo em atenção a minudências públicas deste affair.
Não é uma questão de “dizer bem” e depois achar o mesmo fulano detestável: é errar numa avaliação feita ao longo de décadas de convívio. Ou então, coisa mais provável, enterrar a ideia que se faz de um grande amigo e enorme estadista debaixo do entulho das conveniências do momento e das birras de ocasião.
E, de qualquer forma, não acuso Alegre de incoerência. Verifiquem, por favor.
Apenas anoto a ironia de antes ele estar certo de que Soares “de repente” “salta” e agora ser essa a última coisa que lhe daria jeito.
ouaio iaoixqii
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