Portugal não é um país pequeno

Os ministros Crato e Cristas resolveram mandar afixar no dia 2 de Abril em todas as salas de aulas de todas as escolas do país ‒ pontualmente às 10h 30, como na tropa ‒ um mapa intitulado “Portugal é mar”, que mostra que o país poderá vir a ter 40 vezes mais mar do que terra, se for aceite a proposta de alargamento da plataforma continental portuguesa entregue nas Nações Unidas em 2009 pelo governo de Sócrates. A ideia de mandar afixar nas escolas estes 44.780 mapas (!) é a de sensibilizar os “públicos-alvo”, vulgo alunos, para a importância que o mar tem para os portugueses.

Portugal é mar

Estamos perante o acontecimento nacional de maior transcendência desde que Vasco da Gama chegou à Índia e Cavaco foi dormir às Selvagens. Agora só falta fazer qualquer coisa pelo nosso imenso território marítimo, como explorá-lo, estudá-lo, protegê-lo, vigiá-lo e tirar de lá algum proveito. Fica para a próxima.

O mapa em que aparentemente se inspiraram os actuais governantes, da autoria do capitão Henrique Galvão, que mais tarde se zangou com Salazar, era este aqui abaixo, que foi produzido em 1934. Reparem que o capitão se esqueceu de Cabinda, onde só nos anos 60 se descobriu petróleo.

Portugal não é - H Galvão 1934

O bazófias do capitão Galvão pretendia mostrar que o território do Império Colonial Português era superior ao do conjunto da Espanha, França, Inglaterra, Itália e Alemanha. À luz dos acontecimentos posteriores, não se pode dizer que isso nos tenha sido muito útil. Mais valia ter aparecido petróleo em Benavente ou no Algarve.

O arquitecto Paulo Moreira, que tem trabalhado no Porto e em Luanda, teceu em 2011 um comentário muito actual e bem-humorado ao mapa de Galvão, que aqui fica.

Angola não é

22 thoughts on “Portugal não é um país pequeno”

  1. Conseguiu arruinar um post muito pertinente tratando Galvão como um “basófias (…) que mais tarde se zangou com Salazar”.

  2. por portugal ser mar,é que andamos todos a nadar em sêco.a direita efectivamente tem mau gosto e por isso é pimba.

  3. amilcar cabral dizia: portugal é ele proprio uma semi -colonia.as maiores riquezas estão nas mão do capital estrangeiro petroleo diamantes,etc. dizia mais.” portugal prefere o papel de intermediario a retirar-se de angola.prefere que angola seja explorada pelos eua,,belgica pela inglaterra,etc,em vez de partir. no nosso caso preciso ,o da guiné, a unica coisa que impede portugal de se retirar é o precedente que isso representaria.isto foi dito em 1972,hoje temos o pais rendido e vendido ao capital estrangeiro. crato sabe disso,e como tal fala do mar, para enganar meninos!

  4. este texto, esta comparação, terá sido a coisa mais estúpida que li nos últimos vinte anos.

    o mar transporta-nos para a grandeza das reduras de sal de Aveiro ou para as reservas naturais em pequenez grandiosa das berlengas. ou para a pesca de embarcação a partir das costas ou para as espécies protegidas do Minho.

    só mesmo cabeças defeituosas levam o mar para a foz do passado imperialista e tacanho.

  5. oh vaca! estúpida és tu com os transportes para as grandezas do miserabilismo salazarista. gostava de te ver descalça a varrer sal nas salinas de aveiro ou mesmo a declamar a ode triunfal à colónia das gaivotas berlenga & farilhões.

  6. Post-basófias:
    a tua citação do que eu escrevi, “basófias (…) que mais tarde se zangou com Salazar”, é deficiente, o que me sugere que não compreendeste o meu texto.
    Primeiro afirmei que Henrique Galvão, figura que aliás muito prezo e admiro, se zangou com Salazar depois de ter sido um propagandista do Estado Novo, como o era quando elaborou este mapa. É um facto, inútil discuti-lo. Mais adiante no texto, chamei-lhe basófias, porque nunca gostei da basófia colonialista do Estado Novo, que na escola me martelou no toutiço que Portugal começava no Minho e acabava em Timor. Dois milhões de quilómetros quadrados de fome, pé descalço e tarrafais para os descontentes…

    Ignatz, também mostras não ter percebido o que eu escrevi. Vê lá tu que eu guardo há muitos anos como uma relíquia um exemplar desse Paris-Match. Sou fã do Galvão, mas não tenho que concordar com tudo o que ele fez, pensou e disse.

    Nuno, esta é uma operação de propaganda do governo, vangloriando-se subliminarmente do resultado do trabalho do anterior governo. Mas antes assim do que renegar e revogar tudo o que foi feito pelo Sócrates.

  7. “O basófias do capitão Galvão…”
    foi o que escreveste acima e eu não percebi, daí ter atribuído basófia ao desvio do santa maria, afinal o capitão é que era basófias, ora farófias.
    quanto ao não concordares com o galvão, tamém não é inédito, na época, o salazar não achou piada e o cunhal criticou a acção. se fosse hoje, o possoilo e o gerómino tinham as mesmas dos seus antecessores e o 25 abril ainda estava por fazer.

  8. O que o aquele antónio-das-botas gozou com a maralha.
    Aquela do Minho a Timor, e o que ele inspirou de piratas e corsários das caraíbas, poetas por castrar, generais sem medo, revolucionários protegidos por cortinas de ferro…
    Até ditou a moda ao proibir a mini-saia e a boca-de-sino, que só com o larachas-em- família chegaram os sapateiros com tacões de 0,07metros.
    De facto voltamos a precisar de muito mar, porque navegar voltou a ser preciso!
    Grande post este! Inspirador!

  9. Ignatz, Henrique Galvão foi de facto, como diz o título de um livro há tempos publicado, o Inimigo N.º 1 de Salazar. A tomada do navio Santa Maria foi a maior acção mediática internacional contra o salazarismo. Não admira que Cunhal não gostasse do Galvão, porque ele era 100% anticomunista. Estiveram os dois presos ao mesmo tempo na Penitenciária de Lisboa e o Cunhal depois chamou-lhe nazi numa porcaria dum livro que escreveu. Os comunistas nunca conseguiram fazer nada que se comparasse com o que Galvão, Delgado ou até o bispo do Porto fizeram contra Salazar. Nunca fizeram tremer o homem de Santa Comba.

  10. olinda, andas a ver os tubaroes na sic radical?ontem a senhora que roubaos “inventores” tambem disse que determinada proposta,foi a coisa mais estúpida que ouviu nos ultimos 20 anos,para influenciar a concorrencia. resultado acabou por fazer sociedade com o proponente!quanto ao ignatz,não ligues,ele no intimo é bom rapaz.olha o trabalho que nos mostrou do santa maria,fez-me recordar o medico que foi ferido,que é tio de uma minha familiar.era portista e pior ainda reacionario.

  11. não sei do que falas, nuno cm, só do que eu disse. e o que disse daquela forma, a que poucos estão habituados e desdenham, é que há obra anterior feita em terra, que se centrou no mar, que é preciso fazer crescer. e começar pelo início do futuro, que são as próximas gerações, é sempre bom – sem interessar a cor do governo que está a fazer ainda que não tenha sido o que começou. a cor do mar é sempre a mesma e isso é que importa mesmo.
    viva a salicultura! viva o turismo de natureza! viva a pesca! viva a fauna e a flora molhadas! :-)

  12. Julio: gosto de ler os seus posts. Este daria mais um excelente post se não tivesse escrito o “basófias do capitão Galvão” e antes disso, “que mais tarde se zangou com Salazar”. Foi infeliz (no mínimo) e estragou o post.

    É possível que a minha interpretação seja injusta, mas quando se escreve, particularmente quando se escreve bem, é importante que a mensagem seja inequívoca (e penso que não vale a pena entrar pelo “não percebeu” condescendente, até porque me parece que não fui o único que “não percebeu”….).

    Mas aquilo que mais me incomodou no seu texto nem foi o ” basófias”, mas antes o “que mais tarde se zangou com Salazar”, pois esta expressão menoriza o combate de Galvão e a suas verdadeiras motivações.

    Foi Galvão inicialmente um entusiasta do regime? Foi. Como Humberto Delgado, por exemplo. Leiam o que Galvão escreveu a seguir sobre a sua evolução política. Podia Álvaro Cunhal nascer duas, três ou mil vezes, e virem três Estalines, dois Ceausescus e mil Kim’s e os seus crimes, que nunca veríamos semelhante exercício de honestidade intelectual e humildade, a par da mesma determinação pelo ideal de justiça.

    Henrique Galvão foi um herói (sim, um herói como os que vêm nos livros, é o próprio Soares que o diz no “Portugal Amordaçado”) que morreu como esses heróis: abandonado, injustiçado e longe da sua pátria.

  13. Todo o problema se resume nas pequenas “figurinhas” que,
    nos desgovernam, aproveitando o trabalho dos outros sim,
    porque eles a começar pelo cavaco sempre se borrifaram no
    MAR, este quase destruíu a frota pesqueira e transportes, os
    actuais estarolas no Pote já liquidaram os Estaleiros Navais
    com capacidade de construção e reparação naval (viana e
    Alfeite) … surgem agora como defensores de “epopeias”!?!

  14. 1. Vaidade.
    2. Prosápia.
    3. Fanfarronice.
    4. [Culinária] Guisado feito com restos de comida.
    5. [Culinária] Doce feito de claras de ovos, leite e açúcar. = FARÓFIA
    substantivo de dois géneros
    6. [Portugal: Beira] Fanfarrão.

    “bazófia”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/bazófia [consultado em 08-04-2014].

    o .4 e .5 não devem ser e os restantes não rimam com os tomates dum gajo que aos 65 anos (suponho, não confirmei a idade) se mete numa basófia destas, já para não falar da humildade do que depois se seguiu.

    vá lá, tira lá o basófias, cujo significado não corresponde à verdade histórica e ainda por cima tem erro ortográfico. o galvão merecia mais e melhor.

  15. Basófias sim, se ainda existisse andava sempre como o Marocas em bicos-de-pés a gabar-se que foi mais vezes perseguido e preso que qualquer outro.

    Eram todos uns gabarolas e aproveitavam a censura para lançar boatos, como aquela de dizer que queriam ir a Angola com o Santa Maria libertar aquilo.

    Quando já lá tínhamos o Rosa Coutinho e mais uns tantos para resolver.

  16. “Eram todos uns gabarolas e aproveitavam a censura para lançar boatos” afinal a censura era boa para os opositores do regime, sim senhor.

  17. Júlio, aquelas ‘basófias’ acabaram por dar mais que falar do que o nóvel mapa de uma realidade ainda inexistente.
    O mar enche a boca a muita gente mas, para além de falarem dele, o que mais se tem feito?
    O Soares atirou-se ao mar em teatral gesto, o Cavaco desmantelou a frota com o apoio de Bruxelas em nome de uma reestruturação, a rede de frio de que tanto se falou nos idos de setenta não se sabe onde anda, as escolas navais fecham ou degradam-se por falta de alunos, a frota nacional é uma anedota, a vigilância costeira é uma miragem, o ordenamento da costa um anacronismo, por isso tanto mar para quê? Para dar mais umas coroas a quem fez os mapas que se irão encher de poeira e a que ninguém ligará nenhuma?
    É mais uma medida inconsequente, demagógica, fruto da irrelevância de um Crato, que mal chegado ao ministério que tanto criticava ficou vazio de ideias.
    Lá falar sabia ele… fazer já se viu que não sabe.

  18. Post-basófias,
    explique lá como é que a frase “que mais tarde se zangou com Salazar” (uma verdade histórica insofismável) “menoriza o combate de Galvão” contra o salazarismo?

    Galvão foi colaborador e propagandista do regime de Salazar: inspector colonial, organizador de exposições coloniais, primeiro presidente da Emissora Nacional, deputado à Assembleia Nacional, etc. Antes disso, tinha lutado de armas na mão contra os adversários da ditadura (revolta de 5 Fevereiro de 1927), tal como o Humberto Delgado, que depois também se zangou com Salazar. Factos são factos.

    Tudo aquilo que Galvão foi depois, a partir de 1949 e até à morte, por mais respeito e admiração que nos mereça (também o considero um herói), não faz simplesmente desaparecer o que ele foi antes. Galvão foi tudo isso numa só vida e, que se saiba, nunca renegou o seu passado. E nunca deixou de ser um colonialista! É preciso respeitar a verdade histórica, ainda que reconheçamos que as pessoas possam mudar e evoluir.

  19. É assim mesmo Júilio, chega-lhe!
    Foi a malta da oposição, que tanto como Salazar contribuiu para que o Estado Novo fosse o que foi.
    Sem oposição nem era estado novo nem porra nenhuma. Era uma sensaboria.
    Mesmo com os comunistas com Cunhal à cabeça, é que aquilo tinha algum picante.
    Foi pena que ao partir-se a cadeira não ter havido logo o 25 de Abril, sempre eramos menos retornados com caixotes de canabis e a ponte era mais novinha quase a estrear.
    E Galvão ainda vinha do Brasil ao mesmo tempo que Mário Soares e Cunhal vinham do frio a ajudar ao 26 de Abril.

  20. Julio: “que mais tarde se zangou com Salazar”. O “zangou” aqui deixa transparecer uma motivação pessoal, dá sentido mesquinho às motivações de Galvão para entrar em rota de colisão com Salazar.
    Galvão foi um colonialista? Bom… talvez o imperialismo como ideologia (historicamente datada) influenciou homens de ideias muito diferentes. Contudo, desconfio que não tenha sido tão colonialista/imperialista como De Gaulle ou Churchill ou mesmo Delgado.

  21. Post-basófias, você conhece muito mal aquilo de que fala.

    Motivação pessoal? Talvez chegue esta: Galvão tentou, durante anos, ser nomeado governador de Angola, mas Salazar recusou sempre, porque abominava o seu espírito independente e rebelde. Pelas mesmas razões Galvão se zangou também com Caetano, que o tinha escolhido para deputado por Angola em 1945. É a verdade histórica, que não se compadece com visões hagiográficas de Henrique Galvão.

    Galvão foi uma das mais convictas e coerentes figuras de colonialista que houve em Portugal no século XX. Nunca deixou de o ser, embora o seu colonialismo fosse diferente do de Salazar. No fim da vida (só no fim da vida), queria uma solução que conciliasse o direito dos povos à autodeterminação com a continuação de uma forte presença portuguesa em África. Em 1963 foi a Nova Iorque, à ONU, defender essas mesmas ideias e declarar que uma independência apressada das colónias daria péssimos resultados. Como deu, para os angolanos (perto de um milhão de mortos numa longuíssima guerra) e para os portugueses que lá viviam.

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