Para uma nova licenciatura

É um assunto que não pode rivalizar com a importância do jogo desta noite entre o Benfica e o Barcelona, sequer com o interesse do jogo Alcaçovense contra o Fazendas do Cortiço (1ª Divisão Distrital, o Fazendas perdeu por um golo tendo marcado dois), mas que preocupa um grupo restrito de pessoas: educar os pais a serem pais.

Uma das últimas vacas sagradas, talvez um tabu, que não se ensina nas escolas, por maioria de razão não se ensina nas famílias, não ocupa os líderes de opinião, não suscita parangonas, não se ouve nas conversas de café, não consta dos programas partidários, não entusiasma, não aquece, só arrefece – para se ser responsável por um ser humano durante os seus anos de formação basta ser-se doador do material genético?

A sociedade não reclama do Estado uma regulamentação da qualidade da paternidade, nem se consegue conceber essa eventual logística. A complexidade e melindre da questão esmagam os raciocínios e ninguém se atreve a dizer que os pais vão nus para a paternidade e que são obscenos na crença de bastar amar os filhos para que os filhos sejam amados. O quadro penal apenas contempla os casos de óbvia – e excessiva… – violência física, sendo o resto varrido para debaixo do tapete da privacidade. Entre homem e mulher não metas a colher e entre pais e filhos não ligues aos sarilhos (acabei de inventar, muito obrigado).

Consequentemente, o mercado para psicólogos, advogados, astrólogos, trafulhas da religião e um sem-número de vendedores de banha da cobra cresce saudavelmente. Ou seja, nem tudo é mau na situação. Sempre se vão criando uns empregos.

15 thoughts on “Para uma nova licenciatura”

  1. Caro Valupi, são precisamente este tipo de conclusões (precisamos de mais treino para os pais, precisamos de os preparar para a paternidade) que conduzem à expansão do mercado para psicologos, conselheiros e vendedores de banha. São aliás estes os principais promotores da ideia que os pais sao ineptos e incapazes de tomar conta das criancinhas.
    Sim, existe uma minoria que precisava de aprender ou que nunca deveriam ser pais. Daí até concluir que todos ou a maioria dos pais sao incapazes de educar seres humanos sem a ajuda de profissionais conduz apenas à deterioração da confiança dos pais nas suas capacidades e a sua crecente dependencia dos pseudo-especialistas…

    Deixo-lhe uma sugestao de leitura, li o livro em Fevereiro e soube-me muito bem:

    Guardian >> F. Furedi: Paranoid Parenting, extractos I (há mais 2 páginas listadas ao fundo)

  2. Paradoxalmente, concordo quando no artigo se fala em educar os pais dos “jovens delinquentes”. Todavia este tipo de estudos tendem a acentuar a importancia dos pais – quase que de uma forma deterministica e ignoram que os putos sao produto do meio onde crescem e que nao raras vezes o ambiente exterior pesa mais do que a educação caseira.

  3. Valupi, a questão para mim é só uma: quem é que define o que são bons pais? (Desculpa estar-te a responder com uma Valupiana)

  4. Valupi,

    E depois queixe-se quando lhe começarem a coçar o pêlo. Para um homem que teima em desvincular-se da direita a todo o custo, não vá alguem usar esse sarampo antigo e distraidor para denegrirem o Homem que faz piruetas nos pincaros da sociologia, vir com um tema que ultrapassa o âmbito do link para onde nos relegou, revela, no mínimo, um descaro que espero não passe despercebido a esta tertúlia.

    Provocação ou não – a desculpa para as más traduções ou interpretações deste seu texto são inevitáveis e chegarão mais tarde para arrefecer os ânimos e salvar a pele – tudo parece estar inserido na filosofia do controlo do indivíduo pelo Estado a todos os níveis e a partir do berço – um fenómeno intrinseco à manutenão do poder por elites que tem cortado mato a poder de foice e bulldozer tanto na política de esquerda como na de direita.

    Já uma história mais preocupante, porque começa antes da concepção e do berço, é a que alude aos “tabus” da supervisão do Estado em matéria da “qualidade da paternidade”. Não quero contrariá-lo, mas vou pedir aos rapazes para vasculharem no cesto das bugigangas societárias onde se guardam as “paternidades” e “paternalidades”. Talvez encontrem chuchas antigas usadas pelas amas dos filhos de Mengele.

    Também eu andei com ilusões a esse respeito, há anos, quando pensei em cruzar uma abelha-mestra com um porco. Mas desisti, depois duma sondagem ao mercado me revelar que ninguém estava interessado em chouriços de mel.

  5. PODE-SE GOSTAR DO HOMEM COM PAIXÃO OU COMBATER CEGAMENTE AS SUAS MÚLTIPLAS POSIÇÕES IDEOLÓGICAS (AO CONTRÁRIO DO QUE SE ACONSELHA E ELE REACONSELHA, ENTRE DOIS ENTES ELE METE SEMPRE A COLHER E CONSEQUENTEMENTE EXPÕE-SE A SARILHOS COM OU SEM RIMA) DEMAGÓGICAS OU UTÓPICAS, PROVOCADORAS OU SARCASTICAMENTE INOCENTES NOS SEUS PRESSUPOSTOS, MAS ELE JÁ CRIOU UM ESTILO. CHAMEM-LHE VALUPIANAS (COMO RILKEANAS?), VALUPICES (COMO GULODICES OU TARADICES??), VALUPÉRIOS (COMO IMPROPÉRIOS???) OU NUM ACESSO DE FRANCOFONIA ERUDITA “À LA VALUP”I (MAIS OUI, EXACTEMENT COMME “À LA CARTE”) E TEMOS UM PEQUENO MENU DE COMO DESIGNAR O ESTILO, AS PALAVRAS, AS PONTUAÇÕES, OS SILÊNCIOS E UM RISO QUE IMAGINO DESENCANTADAMENTE TROCISTA QUANDO RESPONDE AOS MAPS, MARGARIDAS, ANONYMOUS, DONAS ERMELINDAS E OUTROS NOMES FALSOS QUE ESCONDEM VERDADEIROS ROSTOS NESTA ESFERA DE SIMULACROS E SIMULAÇÕES. ECCE HOMMO. ECCE VALUPI. O MOURINHO TEM UM SOBRETUDO ARMANI QUE VESTE PARA DEFORMAR, SACUDINDO-O PARA BARAFUSTAR COM O ÁRBITRO, METENDO AS MÃOS E OS ANTEBRAÇOS NOS BOLSOS EM SINAL DE REPROVAÇÃO PELA ÚLTIMA JOGADA DOS SEUS BOYS E, LAST BUT NOT LEAST, COMO SINAL DE DESPREZO PELO ESTILISTA ITALIANO. O VALUPI TEM INFORMAÇÃO NA SUA MENTE QUE DOBRA, TORCE, AMARROTA E RASGA PARA CRIAR NOVAS PERSPECTIVASIDEOLÓGICAS. DEFORMA PARA TENTAR FORMAR, DE FORMA A CRIAR O SEU ESTILO. ATÉ ONDE ESTARÁ ELE DISPOSTO A IR?

    ASSINADO: VALUPI FÃ Nº 2

    (O PRIMEIRO É ELE PRÓPRIO, FOR SURE E NÃO TERIA A PRETENSÃO DE LHE TIRAR ESSE TÍTULO, POR MAIS QUE APRECIE O SEU SOBRETUDO IDEOLÓGICO))

  6. DESCULPEM A DUPLICAÇÃO DO COMENTÁRIO, MAS COMO FÃ Nº 2 RECLAMO ESSE DIREITO (OK, CONFESSO, ENGANEI-ME, MAS APRENDI COM O VALUPI A FAZER DOS DEFEITOS VIRTUDES… E A NUNCA, POR NUNCA, ME DAR POR VENCIDO OU ERRADO. ;)

  7. E o Valupi lá continua a despejar a agenda (pauta chamam-lhe os brasileiros) dos neo-cons para distrair.

    Agora do desaire na Bielorrússia onde, pouco mais de um ano depois se constata que o partido do então tão “popular” candidato presidencial afinal vale apenas metade do do outro?

  8. Margarida:

    Nós já todos percebemos que estás muito preocupada com a Bielorrússia (leia-se queres que o teu amigo Valupi te escreva um post sobre a Bielorrússia, para tu lhe caíres em cima politicamente falando, que é mesmo o que te convém à tua agenda). Quem não conhecer estes dois que os compre.

    Mas margarida, isto que o nosso amigo Valupi nos propõe não é o que o nosso camarada Fidel faz lá em Cuba? As criancinhas vão à escola e levam com aquela sabatina das virtudes do sistema Soviético, não se vá dar o caso de o pai da criancinha ser um dissidente comunista.

    Aliás eu não critico o nosso camarada Fidel por tão pouco, afinal não é o que nós aqui nas nossas escolas fazemos com o D. Afonso Henriques?

  9. Sim, claro: ensinar os pais a serem pais, os filhos a serem filhos, os amantes a serem amantes, os cidadãos a serem cidadãos…

    Sempre, obviamente, segundo o tal “critério […] objectivamente científico e sociológico, indiferente a orientações ideológicas” de que Valupi falava num comentário a um post anterior.

    Primeira falha: como já era notório e o post seguinte torna evidente, não lhe será fácil ensinar Luíses Rainhas a serem Valupis, nem os leitores do Aspirina a serem parvos.

  10. Só faltava esta. O estádio regulamentar a qualidade da paternidade. Então a coisa seria mais ou menos assim:
    O estado (leia-se um pequeno grupo de pessoas) decidiria regulamentar a qualidade da paternidade e então seria constituído um grupo de reflexão, constituído por sociólogos, psicólogos, educadores, representantes de associações de pais e porventura um ou outro sindicato. Este grupo lavraria um regulamento onde diriam como ser bom pai e boa mãe, pois em 10.000.000 de pessoas só eles sabem como o fazer (provavelmente alguns deles com filhos problemáticos, mas isso não interessa para o caso). Depois seria criada uma direcção geral da boa paternidade (DGBP), com as respectivas subdelegações regionais, municipais e locais, com as suas equipas de sociólogos e psicólogos que procurariam indicar aos presentes e futuros pais como se é um bom pai. Claro que toda esta gente precisaria de locais e equipamento para implementar as medidas de boa paternalidade. Tudo isto seria pago pelo orçamento de estado, que como já é curto exigiria novos impostos e taxas, no tabaco e combustíveis (politicamente correcto) e possivelmente no IVA (que não se sente). E nós ficaríamos mais bem protegidos, porque alguém estabeleceria quais os comportamentos socialmente certos.
    Mas esta cambada de Valupis não se enxerga. Ainda não conseguiram perceber que os planos quinquenais não funcionam. Não conseguem ver que nós não precisamos de mais estado, mas sim de menos impostos.

  11. HomemdasNeves

    Agradeço o artigo, que li com gosto e proveito. Porém, o seu tema é outro. A paranóia da segurança remete para um contexto mais vasto, onde a criminalidade e o terrorismo invadem o quotidiano com crescente intensidade mediática, acabando lateralmente por influenciar a relação paternal. Quanto ao post, questiona-se a legitimidade da relação paternal no seu fundamento genético. É um desporto mais radical aquele que proponho…

    Interessantes são as contradições no teu comentário. Começa por não se poder misturar psicólogos com charlatães no que aos propósitos diz respeito. Os psicólogos investigam as condições em que o potencial educativo de qualquer ser humano pode ser desenvolvido e aprimorado; logo, promovem capacidades realizadoras. Os charlatães manipulam e exploram fragilidades, anulam a autonomia. Depois, o meu texto não conclui que “todos ou uma maioria dos pais são incapazes de educar”, essa é uma mera reacção emocional a interferir na interpretação. Seria absurdo defender essa ideia quando todos os dias e a todas as horas há seres humanos a cuidar de outros seres humanos com sucesso. O sucesso, aqui, mede-se pelas evidências: todos fomos educados por alguém e cá estamos para dar testemunho disso mesmo. Finalmente, a tua referência à influência do meio é que me parece ir direitinha para o cerne da questão – pois é isso que está em causa: o facto do primeiro, e mais importante, meio ser a família (tradicional ou outra). Do que se vai investigando – por psicólogos, sociólogos e antropólogos – resulta a consciência de ser o ambiente familiar o que pesa mais na formação do indivíduo, tendo mais força do que o meio social durante os anos de menoridade. Eis o tema do post.

    Luís Oliveira

    Quem define o que são bons pais és tu, eu, e mais aqueles que se quiserem juntar a nós. Não é diferente de saber quem define o que é justo, legal, correcto. Estamos no domínio da política. Acontece é que já não estamos circunscritos pelas matrizes culturais ancestrais que formatavam esses critérios. O tempo é de individualismo e vazio. Há que construir pelas nossas mãos.

    Anónimo

    Tens sempre graça (não me canso de te elogiar, vês?…), mas estás a pôr legumes na minha sopa que não ficam lá bem. A noção de Estado implica o controlo de indivíduos; senão, seria impossível a constituição de um qualquer Estado. Suponho que tu não queiras viver num território sem Estado, pois intuirás poder ser demasiado perigoso. Não tens é que abdicar de pensar nas funções do Estado só porque ele impõe limites e interfere na acção.

    Quanto ao que escrevi, entenderás melhor a ideia se a relacionares com o sistema de ensino. Ou também achas que as nossas escolas são laboratórios de lavagens cerebrais e nos hospitais se colocam chips no cérebro da populaça?

    CAIXA

    Estou em ALTA contigo, ‘tá visto.

    Margarida

    A pedido do Luís Oliveira, tenho de dormir sobre o que tu escreves. Assim, não leves a mal se te disser ter largado um bocejo com o teu comentário.

    SM

    Folgo muito em saber que não poderá ser assacada à minha escrita a responsabilidade de ter ensinado alguém a ser parvo. Obrigado.

    MigPT

    Obviamente, tens problemas de iliteracia.

  12. Valupi,

    Ainda estou à espera do dia em que uma resposta sua a uma critica que lhe seja feita comece assim: “Sim, tem razão, não tinha encarado essa hipótese como possivel”.

    Meu Deus, vê-se logo que nunca foi membro do Partido Comunista ou, tanto faz, não há dúvida que já foi! Que carência de humildade!

  13. E a mim apetece-me dizer outra coisa completamente descontextualizada,quiçá bairroaltina ou badaleira.

    Como não vejo o nome do Fernando Venâncio por aqui, assumo que um dos anónimos ou pseudónimos acima lhe pertence. Que ele não julgue que anda a fazer o ninho atrás da orelha de ninguém!

    Dona Ermelinda

  14. Anonymous

    Eu também espero por esse dia. Há poucas coisas que preze mais do que descobrir novas hipóteses.

    Quanto à humildade, uma correcção: sou humilde, mas não modesto. (com a devida vénia para Washington Olivetto, publicitário brasileiro, a quem fui roubar a fórmula)

    Dona Ermelinda

    You can run, but you can’t hide.

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