Um livro por semana 279

«Poesia reunida 1956-2011» de Liberto Cruz

São dez livros reeditados mais três poemas inéditos de Liberto Cruz (n. 1935) num volume compacto de 556 páginas com novo prefácio de Eugénio Lisboa e anteriores prefácios de Haroldo de Campos, João Fernandes, Fernando J.B. Martinho e do mesmo Eugénio Lisboa.

Numa nota breve focamos apenas dois aspectos. Primeiro: o autor esteve na guerra de Angola entre 1962 e 1964. Os poemas são contra a retórica do Poder. Seja na fala de um primeiro- cabo enfermeiro: «Em Portugal andam a pedir dinheiro para ambulâncias em Angola./ Então eles não sabem que aqui não há estradas?» Seja uma fala do poeta/militar: «Uma coisa é fazer a guerra como quem vive / E outra é fazer a guerra como quem morre». Segundo: ao assinar o livro «Gramática Histórica» em 1971 como Álvaro Neto, Liberto Cruz integrou-se na Poesia Experimental Portuguesa pois os poemas deste livro são inseparáveis da sua visualidade. E também da irreverência como em «Plebeísmos vulgares»: «Um gajo sem cunhas pediu uma Bolsa. Nicles, claro! Dizem que ficou com uma grande cachola. Que artolas

Como nota final registemos um soneto do livro «Caderno de encargos» de 1994:«Passamos todos depressa / Pela vida galopante / E é mesmo por um triz / Que de repente a deixamos. / Alguns fazem maratona: / São corredores de fundo. / Outros na velocidade / Encontram a sua via. / Outros há andando lentos / Em silêncio sem alarde / Como se a vida ganhasse / Quem só é para morrer. / E sem sermos campeões / Chegamos todos à meta.» Mais conhecido como especialista nas obras de Blaise Cendrars, Sade, Júlio Dinis, António José da Silva, Ruben A. e Cardoso Pires, neste livro se revela a total dimensão do Poeta.

(Editora: Palimage, Capa: António Viana/Rita Neves, Foto: Raul Cruz, Prefácio Eugénio Lisboa)

2 thoughts on “Um livro por semana 279”

  1. fiquei a pensar na guerra como quem vive e na guerra como quem morre e na ligação com plebeísmos vulgares e na actualidade do que é ser colonial. :-)

  2. oh bécula! tou nessa minha, bora lá discutir “plebeísmos vulgares”, a coisa que mais gosto a ser aos cornettos de morango com cheiro a retrete da a8.

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