(a Carlos Marques Querido)
Nasci em 1779 em Santa Catarina
Terra de gente muito dada a alcunhas
Minha mãe foi chamada a Abadessa
Gostava de andar de capas pretas
E tinha um porte altivo ao caminhar
Vinha gente de longe para me ouvir
Preguei sermões desde o ano de 1804
Na festa da padroeira Santa Catarina
Na Real Casa Pia de Lisboa em 1828
Na igreja dos Jerónimos ao Domingo
Durante sete anos andei sempre a fugir
Das tropas do general Jorge de Avillez
Que entraram em Bragança em 1834
Expulsaram a guarnição miguelista
E aclamaram de seguida D. Maria II
Avó Isabel Maria e avô Manuel Fialho
Procuraram esconder-me na Cumeira
Um amigo leal pôs quatro almofadas
Nas ferraduras dos cavalos dessa noite
Sem chamar a atenção de quem dormia
Pena eu ter vivido um tempo demarcado
Pedro no Mindelo, Miguel no Alentejo
O ódio enchia os caminhos e as valetas
Eu mesmo me escondi nuns matagais
Onde uma criança me viu desfalecido
Em Almagreira onde morri anos depois
Meu nome ficou em pedra na capela-mór
Destino singular de quem nasceu no dia
Da primeira pedra da Basílica da Estrela
E na vida escreveu palavras como pedras
Por debaixo do meu retrato na sacristia
Um bisneto do sacristão do Padre Agnelo
Lava galhetas na água da torneira prateada
Anos depois assinará um poema obscuro
A ligar de novo o que a morte separou.
mais um sindicalista de santa catarina que foi dar música pra lisboa
Ò pá não é música é livros. O bispo Rebelo escreveu em 1828 um livro com o título de «Lembranças sobre a felicidade de Portugal» dedicado a D. Miguel. Vê lá se percebes…
ai, Zézinho, que de repente – ao ler este sermão – parece que é domingo de manhã na tvi. :-)
Pois Sinhã, um poema é um objecto poliédrico mas daí a ter um toque de TVI de manhã vai um longo caminho. Não me parece que o padre-jornalista António Rego tenha a ver com isto.
pronto, devia ter sido mais curta e grossa: é chato p’ra caralho, este hoje. :-)
já sei: mete aquele, outra vez, do quadro que eu gostei muito.:-)
(não zanga) :-)
Claro que não zanga nada contigo! Mas olha que a mim (e como leitor) não me parece assim tão chato. Repara que há dupla inscrição – biográfica do sujeito e pessoal do autor. Andei com ele na cabeça desde a segunda feira passada, vim pela A8 a imaginar os blocos de 5 versos. É uma figura fascinante embora nem sempre se concorde com as suas ideias. E é (já agora) o único bispo nascido na minha terra.
O único bispo da tua terra? E eu a pensar que tu também eras bispo de qualquer coisa.
só cheira a bispo
«A pensar»??? Olha que a pensar morreu um burro. Safa!
:-) mas a mim faz-me comichão como quando tenho soninho, Zézinho.:-)