Tenho um sotaque horrível por isso não me venham cá com merdas ou O nível dos meus posts em 2007 promete ou Olha-me este gajo armado em intelectual a publicar fotografias antigas ou ainda, se quiserem, Este título longo não augura nada de bom

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Um grande amigo meu, que já não vejo há muitos anos, mas que ainda amo intensamente (isto vai dar merda), casou aos 21 anos com uma miúda de 15 que engravidou durante o namoro (don’t ask). As coisas seguiram o seu curso naturalmente católico: eles casaram, a filha nasceu (bem gira quando tinha 3 anitos, que foi a última vez que a vi) e, como não podia deixar de ser, esse meu amigo deixou de ouvir música, de ir ao cinema, de fumar o seu charrito – no fundo, de estar com os amigos. Sinto ainda hoje falta dele (eu gostava muito desse meu amigo), mas tudo isto é nada comparado com as saudades que tenho da sua (chamemo-lhe assim) esposa prematura.

Dizer que a rapariga era fanhosa é não fazer justiça à amplitude sonora das suas narinas (ou, se quiserem, às capacidades nasais do seu aparelho fónico). Cada vez que ela falava, parecia que estávamos a ouvir um tema do Sidney Bechet. Palavras tão simples como

– Bom dia.

transformam-se na boca nela em

– Fom Fia.

Se ela lesse em voz alta a primeira frase deste post, daria uma coisa do género:

– Fum frande afigo feu, que fá fão fejo fá fuitos afos, fas que ainfa afo infenfafente (isto fai far ferda), fafou aos finfifium afos fom ufa fiúfa fe finfe fe enfrafifou dufante o faforo (fonfaf).

O riso, por exemplo, que é uma das coisas mais sublimes que se pode ouvir da boca de um ser humano, transformava-se nela numa sequência insuportável de free jazz:

– Afãfãfãfãfãããã.

Lembro-me de uma vez lhe pedir para fazer «Afãfa» e ela

– Foge, não figo nada. Fenho ferfonha…

e depois deu uma risada

– Afãfa.

Imagino a sua vida sexual

– Ah fôfo, fá-me com forfa, afãfa…!

ou ela a dizer qual é o seu instrumento musical favorito

– O faxofófe.

Lembro-me de uma vez a ouvir espirrar

– Afiiinfa!

e outra a dar um arrôto

– Afrôôô!

e ainda de a ouvir a ensinar as vogais à sua miúda

– Fá, fé, fi fó, fu.

mas talvez o seu magnum opus seja uma vez em que a ouvi dizer:

– Eu afo que fá fão fei rezar o fai fosso. Ora deifa fer: Pai fosso que esfais nos féus, fanfififado fefa fôfo fôme, fêfa feita fossa fontade afim na ferra como no féu…

O verdadeiro problema surgia quanto tentássemos prestar realmente atenção ao que ela estava a dizer. Ao fim de alguns minutos, parecia que a moça estava constantemente a repetir a frase: «Fôfo, afinfa-lhe em Fafe».

Fofa-fe.

17 thoughts on “Tenho um sotaque horrível por isso não me venham cá com merdas ou O nível dos meus posts em 2007 promete ou Olha-me este gajo armado em intelectual a publicar fotografias antigas ou ainda, se quiserem, Este título longo não augura nada de bom”

  1. o que não falta por aí saõ católicos (a maioria padres e bispos) a engravidar miudas de 15, 13 e até de 10 anos. sorte a deles que os rapazinhos não engravidam.

  2. Infelizmente não será apenas o título a não augurar nada de bom. Pessoalmente, visitador regular aqui do blogue, já cá li muito melhor. Quanto a pior… ainda estou em modo ‘search history’.
    A não ser que este post tivesse como ambição ter piada, o que nada indica. No entanto, sendo esse o caso, permito-me atribuir o inenarrável falhanço à tradicional ressaca das festas.
    Não descarto no entanto a possibilidade de a publicação do mesmo em blogues (digamos) bastante menos exigentes poder atingir o desejado efeito.

    Que raio, será que eu não consigo ser mais sucinto?… Vamos lá…: OK, não teve piada. Nem vejo como é que podia ter tido, pelo que provavelmente o problema não está na execução da tarefa. Será o tema?

  3. Que 2007 te veja sempre com essa verve, camarada!
    Mas tenho de te desanimar. O melhor parágrafo de 2007 já viu a luz. E vai ficar por ai, a assombrar-nos a todos com a sua límpida e altiva perfeição. Aqui fica ele:
    “Quando pegava nas minhas canas de pesca…
    …e ia pescar para uma qualquer praia era para passar o tempo e se acaso só me lembro que uma ou duas vezes não trouxe peixe, de maneira alguma apanhei mais de 10 kilos de peixe , não é por aí que esta lei está mal feita, está mal feita porque num País em que se exige o pagamento de uma licença para pescar nos tempos livres exista um Estado que deixa morrer Pescadores profissionais ao abandono sem os respectivos meios de salvamento, num País que tão maltrata os Homens da faina da pesca esta lei acaba por ser até uma provocação a quem tem morrido no mar a trabalhar e em desespero num acidente ninguém lhes acuda.”

  4. O melhor parágrafo de 2007, dizes tu, Luis?

    Muitos mais dali virão, te garanto, e a um ritmo avassalador.

    A verdade é só esta: o tipo está cada vez melhor.

  5. A rapariga sofria de uma deficiência da dicção, era pois, uma deficiente do aparelho fonador. Se fosse deficiênte do aparelho visual, isto é, se fosse cega, também seria gozada desta forma? Se fosse coxa, isto é se fosse deficiente do aparelho locomotor, alguém teria coragem de gozar com ela por isso? Então, por quê gozá-la por ser fanhosa? Há quem se sinta ao ler coisas destas!

  6. Eu sou uma senhora e não gosto de me meter nestas coisas de gentinha, mas enfim, cada um é para o que nasce e uma mulher como eu tem obrigações. Tenho muita pena dos miúdos que fazem este Blog. Têm uma linguagem do Seixal, ainda parece que vão com a mãe vender fruta. Ó ricos, façam uma plástica, comprem roupinhas de marca, mas deixem essa linguagem de esquerda carroceira que é tão pobrezinha. E o pior queridos, não é ser pobre, é ser pobre e parecê-lo…

  7. Marreco: toda a minha vida fui e sou gozado pelo meu sotaque nortenho e alsaciano (combinação explosiva) e nunca me importei com isso. Acho que anda por aí uma epidemia de politicamente correcto.

    Lili: parecer pobre é o novo chique.

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