O líder da Juventude Popular (JP), numa entrevista ao “i“, afirmou isto: “a criança não cresce num ambiente saudável com dois pais ou duas mães”. Eis uma afirmação que nenhum Deputado avançou, mesmo sendo contra o projeto de lei sobre co-adoção, aprovado na generalidade no dia 17 de Maio.
Temos portanto o líder de uma juventude partidária – estruturas que, pela sua própria composição, tentam refrescar as propostas dos respetivos Partidos, atentas ao evoluir dos tempos, inovadoras – que discursa com a atualidade desaparecida há décadas e que não se apercebe – será? – do insulto que encerra a sua frase.
O líder da JP pode argumentar contra a co-adoção; argumentar, insisto, mas não pode, numa penada, dizer que milhões de pessoas no mundo inteiro, algumas com idade para serem seus pais, e centenas em Portugal, não são saudáveis.
De onde vem esta afirmação ofensiva? Do que viu? Das crianças e jovens de famílias homoparentais que frequentam a sua casa? Do estudo atento dos pareceres mais conceituados das Academias de todas as áreas que envolvem esta matéria? Da leitura de estudos universitários portugueses? Da fundamentação do Instituto de Apoio à Criança? Não terá sido, porque todos estes elementos podiam, apesar da sua força, não convencer o jovem líder, mas podiam apelar à humildade e conter um discurso generalista e definitivo que ninguém, repito, ninguém, a começar pelo CDS, teve. Em bom rigor, até o mais acérrimo opositor da co-adoção, o Senhor Bastonário da OA, afirmou que nada tem contra à educação de crianças por duas mulheres ou por dois homens.
Eis que um representante do futuro sabe (ele sabe) que as pessoas em causa – crianças, adolescentes e adultos que cresceram com duas mães e dois pais – não são saudáveis, que é como quem diz que são, digamos, adoentadas.
Gostava de confrontar o líder com algumas dessas pessoas, adolescentes, por exemplo, e de o ver dizer-lhes na cara isto: “vocês cresceram num ambiente não saudável, vocês não são saudáveis”. Nunca a JP se aproximou de um olhar sobre o papel do Direito baseado no “é a minha opinião: aquilo (eles) são maus para as crianças e pronto”.
O líder da JP tem o consolo de muito do que foi dito aquando da aprovação recente – e já condenada pelo PE – de uma lei, na Rússia, que proíbe o que apelidam de “propaganda homossexual”. Putin mantém-se forte na defesa da lei e apoia os deputados que explicam a lei, por exemplo assim: ” os defensores dessa propaganda propõem-se a equiparar as relações sexuais tradicionais com as não tradicionais aos olhos dos menores”.
O líder da JP está bem acompanhado.
O primeiro-ministro da Turquia, Erdogan defende que a homosexualidade está em contradição com «a cultura do Islão». O partido conservador islâmico que governa a Turquia opõe-se à adopção de crianças abandonadas por casais homoparentais.
http://www.jpost.com/International/Erdogan-Gays-contrary-to-Islam-307797
Curiosamente, os conservadores turcos usam exactamente o mesmo argumento — o de que o cristianismo está em contradição com «a cultura do Islão» — para argumentarem contra a adopção por casais cristãos (casais com todas a virtudes que o líder da JP considerará importantes para a educação das crianças)! Creio que se deveria perguntar aos deputados do CDS o que é que têm a dizer sobre isto; em particular, qual será a moralidade com que o CDS exige tolerância religiosa aos seus aliados turcos, quando em solo português não a praticam.
Isabel, já não te posso ler: fazes -me caspa com essa espada que carregas e que queres, a todo o custo, meter no pescoço que quem discorda de ti. a certeza de que não há qualquer equilíbrio na natureza a dobrar de homens e mulheres tem nada que ver com preconceito. mais: preconceituosa és tu que tanta importância dás à homossexualidade como se fosse algo de muito diferente.
escreve, por favor, sobre outras coisas que faças na AR. obrigada.
Olinda se já não a podes ler, porque insistes? serás masoquista?
não sei como é contigo, jpferra, mas só sei o que leio quando acabo de ler. não lhe chames masoquismo – chama-lhe vontade de ler mais e sobre mais. é muito positiva a minha relação de leitura com a Isabel, gosto assim. e tenho a certeza que ela também.
a olinda, não deixa de ter razaõ.gosto da isabel, (há provas) mas os portugueses não pagam o salario aos deputados,para quase em exclusivo se preocuparem com os temas fracturantes.
Em “Tratado Sobre a Tolerância”, Voltaire reflecte sobre as atrocidades cometidas entre católicos e protestantes, e conclui que se ambos os lados adoptassem os valores da tolerância a querela seria resolvida sem o cortejo de atrocidades a que se assistia. Foi política do rei absolutista Luís XIV — o tal que afirmou «L’État c’est moi» — a beligerância permanente contra os protestantes e a hostilização do papado e das outras nações católicas, com o objectivo de concentrar o poder na sua figura. Para dar corpo a esta política, não se coibiu de dar início a guerras e atrocidades que desencadearam ódios contra a França pela parte do resto do continente europeu, e cujo resultado final foi a circunscrição e isolamento da França, às mãos de uma aliança contra-natura entre nações protestantes e católicas. É evidente que a tolerância nunca serve aqueles cujo desígnio é o poder total e absoluto.
Sob o manto protector da tolerância, cada uma das partes de um conflito pode perfeitamente continuar a defender a sua visão do Universo; o beleza do conceito de tolerância é que ninguém necessita de ser convertido. Deixa-se ao tribunal da evidência empírica e do conhecimento o julgamento do valor cada uma das posições. Os partidários da família tradicional, judaico-cristã, poderão continuar a pugnar por ela, utilizando para tal as ferramentas ideológicas que têm ao seu dispor; só não devem poder continuar a usar a Lei da República para obrigar todos os que não concordam consigo a adoptar o comportamento social que consideram mais correcto.
A tolerância é importante na ciência. Sem tolerância seria impossível que alguns investigadores pudessem explorar vias fora do consenso científico do momento. E isso significaria que as revoluções científicas seriam muito mais difíceis (ou mesmo impossíveis). A tolerância é um valor indispensável na chamada sociedade do conhecimento; a sua ausência leva ao dogmatismo.
Terei que discordar da Olinda num ponto: a lei proposta pela Isabel Moreira e aprovada na AR é inteiramente coerente com os valores da tolerância. Havendo actualmente situações de facto, a Lei da República tem a obrigação que dar uma resposta que não seja nem a ditadura da maioria, nem o “don’t ask, don’t tell”.
“… é muito positiva a minha relação de leitura com a Isabel, gosto assim. e tenho a certeza que ela também.”
cá me queria parecer que isto acabava bem.