Todos os artigos de gibel

Coisas giras que se lêem na blogosfera…

João Miranda, o inultrapassável paladino da liberdade em todas as actividades humanas, parece achar bem que um estado possa declarar que um dado cidadão estrangeiro é “combatente irregular” e o trancafie ad eternum sem lhe dar sequer um vislumbre do interior de um tribunal.
Miguel Sousa Tavares, o iracundo flagelador de maus hábitos e morais vacilantes, é bem capaz de ter plagiado extensas passagens do seu êxito, o “Equador”.
Já andam por aí alguns blogues a favor do “não” no referendo sobre o aborto. Um dos quais até inclui alguns conhecidos nossos. Outro, onde pontifica um tal “Camisa Negra”, lança estrídulos apelos a manifestações, com slogans de indiscutível inspiração maoísta: “Contra as manobras dos Pró-Abortistas e seus Lacaios.”
Isto vai andar animado…

O Insurgente rocks!

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Na nova residência do Insurgente (notícia bem atrasada) há quem tente animar as hostes com tiradas a leste das habituais prédicas a desmentir o aquecimento global, a extinção do bacalhau, o fiasco do Iraque, a Evolução, etc., etc.
O bom Helder (não confundir com os outros elders) presenteia-nos hoje com uma pequena celebração da chegada do último disco dos Motörhead. Não sei se ainda atordoado pela audição da coisa em altos berros, esquece-se de mencionar os Hawkwind ao falar de Lemmy Kilminster. Pecado mortal. E ainda se lembra de evocar Chet Baker a propósito de umas tais last rock’n roll stars.
No problemo. A simples leitura de coisas como “P**a que o p***u!” (“pariu” agora é palavrão?) no sorumbático Insurgente inspira a indulgência. Continua assim, Helder: dá-lhes com força. Mas tem atenção com as companhias. É que as más ideologias são como as más drogas: mais cedo ou mais tarde, dão-nos cabo da cabeça…

Orgulho e preconceito

João Pereira Coutinho gosta de se imaginar um aristocrata do pensamento. Vai daí, como todos os parvenus, decreta que os demais não passam de ignaros — a custo organizados em “hordas”, ou “tropas fandangas”— sempre animados da “ignorância larvar” que agora diagnostica, na sua coluna no “Expresso”, a toda a nossa classe política. Para ele, o povo gasta os seus dias a ulular aleivosias, a quilómetros das verdades supremas que esvoaçam nos amplos espaços daquele crânio abençoado. É que o rapaz sonha-se o único a saber ler (ou a consultar resumos na Amazon…) e acha que conseguir soletrar “Oakeshott” é prova de sapiência e elegância. Hoje, prova é que que não foi grandemente dotado nem de uma nem de outra.
O tema é o aborto. Para variar, o menino declara-se incomodado com o ruído que os inferiores andam a fazer em seu redor, começando pelo primeiro-ministro. É que ele, JPC, até já decidiu que não estamos a falar de “mulheres presas (quantas foram?)” nem de “tragédias de vão de escada (quantas existem ao certo?)”. E eis como a ignorância confessa se vê promovida a opinião: ele não sabe quantas pessoas afecta o drama do aborto, logo parece-lhe lógico, como bom solipsista, menorizar a questão.
As perguntas que realmente interessam ao jovem iluminado são: “será que um embrião constitui vida? E, em caso afirmativo, será que o Estado tem uma palavra a dizer quando a cessação de vida pode ocorrer?”
O português empregue nestas “primevas” questões é deplorável e o seu significado nebuloso (que é isso do “constituir vida”? E quem é que alguma vez duvidou que um feto estivesse vivo?). Mas, mesmo assim, ele não tem dúvidas em responder “sim” a ambas. Lá saberá porquê.
O que eu nunca entendi muito bem nestas discussões é a razão de quase todos aceitarem a inexistência de actividade cerebral como definição aceitável de fim da vida humana mas parecerem incapazes de usar padrão simétrico para marcar o seu início. Se um embrião ainda não possui sistema nervoso central activo, estando o seu córtex desligado do tálamo, não é ainda um ser humano. Poderá sê-lo “em potência” ou “aos olhos de Deus”; mas é tão senciente quanto um feto anencefálico. E que médico levaria até ao fim uma gravidez dessas?
Acho óptimo que cada um preze a sua própria bússola moral e acalente a superstição de sua preferência; mas não tentem obrigar os outros a segui-las, por favor.

PS: um pouco ao lado, na mesma página do “Expresso”, Daniel Oliveira trata de nos explicar que “quem ganha seiscentos ou setecentos euros não é rico. Nem sequer é de classe média”. Abaixo desse patamar, viriam os “miseráveis”. Pois. Mas em 2004, o ordenado mensal médio em Portugal não chegou a 922 euros. 769 para as mulheres. Ilíquidos. Agora, basta imaginar uma daquelas bonitas e úteis curvas em forma de sino para se ver o quão longe anda o Daniel de saber o que é na realidade a “classe média” deste triste país.

Desastres gastronómicos

Seguia eu já bem atrasado para o jantar de ontem, serra de Sintra acima, quando quase fui abalroado por um autocarro repleto de turistas de olhos claros e arregalados. Alguns golpes de volante e de travões depois, percebi que sobrevivera; eu e o grande recipiente plástico que viajava a meu lado, cheio do melhor cozido à alentejana de Lisboa (obra do excelso “Barrote Atiçado”).
Depois, pus-me a imaginar desenlace mais dramático e cénico. O meu rotundo cadáver disposto numa travessa de alcatrão, guarnecido por couves, batatas, nabos, grão, na fumegante companhia de carnes variegadas e enchidos das melhores proveniências. Quem desse comigo em tais preparos não duvidaria que se estava ali a aprestar um banquete para algum deus canibal.
Já me antevi em mortes mais dignas.

Bacalhaus e liberalismo

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Os alarmistas do costume não se cansam de anunciar desastres e cataclismos iminentes. Estes profetas da desgraça vivem em perpétua e feliz inimputabilidade. Não sabem nem querem saber quem irá pagar as extravagantes medidas profiláticas para desgraças que, afinal, só existem mesmo nas suas imaginações inflamadas.
Depois do aquecimento global, chega a vez do bacalhau. Baseados em estudos “científicos”, os arautos do fim do mundo proclamam agora que o Mar do Norte está quase a ficar devoluto das sápidas criaturas. A pesca em massa estaria a levar o bacalhau à extinção, imagine-se! Como não podia deixar de ser, a factura a pagar para fugir ao pesadelo cairia sobre as costas largas das empresas: até já houve quem propusesse o fim da pesca ao bacalhau. Aleivosia! Que seria da indústria de restauração nacional se alguém ligasse a esta malta?
Com estes disparates, a tropa fandanga de “cientistas”, esquerdistas e pseudo-ecologistas só revela, mais uma vez, a sua total iliteracia económica. Então não é óbvio que a pressão da procura levará inevitavelmente a um acréscimo da oferta? Que os simpáticos e generosos bacalhaus, confrontados com um número crescente de barcos pesqueiros, não tardarão a aumentar a sua fertilidade e a densidade dos seus cardumes? Como sempre, as leis do Mercado sobrepõem-se aos caprichos humanos e até à débil vontade das bestas marinhas. Amén.
Quanto aos estudos “científicos”, apoiam-se mais uma vez em metodologias estatísticas desacreditadas (mas não me perguntem agora porquê) e em modelos que, como todos imaginamos saber, “não substituem totalmente a realidade”. Digam-me: já andaram a vasculhar todos os fundos oceânicos do Mar do Norte? Contaram mesmo os casalinhos de bacalhaus que por lá andam, um a um? Claro que não! E se uma tal falácia lógica não basta para vos provar a alienação destes supostos defensores da Natureza, lembrem-se: a Estatística é aquilo que nos diz que um homem com os pés congelados e os cabelos em chamas está normal. Querem confiar o futuro da nossa Gastronomia Típica a uma “ciência” assim?

655.000? Pode lá ser!

Até agora, imperam duas atitudes críticas face ao discutido estudo da Lancet. Há quem se limite a emitir uns grunhidos do tipo “the methodology is pretty well discredited”, sem se julgar obrigado a explicar porquê. E há quem assuma a posição fetal, esmagado pela imensidão do número. 655.000. Seiscentos e cinquenta e cinco mil mortos. Não pode ser; o meu jornal não me falou dessa gente toda; é uma percentagem enorme da população iraquiana; é impossível; deve haver algo errado com a metodologia.
Mas se quiserem ver como se pode pensar sobre um estudo destes, sem engolir acriticamente cada parágrafo e tentando encontrar explicações plausíveis, têm muito por onde escolher. Começando por quem entende de estatística, consultando depois um epidemiologista e um especialista em saúde pública, acabando por descobrir como é que os cadáveres conseguem fugir às manchetes indiscretas. Informe-se. Depois, se ficar indisposto, pode sempre voltar à santa inocência do “não pode ser!”

Uma pequena parábola sobre o aquecimento global

Eu cá recuso-me a usar cinto de segurança. Tenho aliás por certo que a torrente de palavreado — sempre oriunda dos sítios do costume — com que me desejam persuadir a prender-me à maldita engenhoca é apenas uma operação de propaganda esquerdista e estatista. Querem invadir a esfera sagrada das minhas opções íntimas e obrigar-me a afivelar o cinto. Mas eu continuo a duvidar que exista mesmo, no meu caso pessoal, uma correlação entre o uso da estalinista correia e uma possível degradação do meu estado de saúde. Parece-me mesmo que todo o investimento necessário à montagem desse sistema de segurança de duvidosa eficácia em milhões de veículos é um desperdício e um atentado à liberdade da indústria, que poderia, livre dessa canga, ter aumentado os seus lucros, melhorando assim a qualidade de vida de todos. Armado do meu saudável cepticismo, continuarei livre de cintos. Até ao improvável dia em que tiver mesmo um acidente grave e veja que a minha anatomia sofreu danos que até poderiam ter sido evitados com o funesto apresto. Então, e só então, pode ser que considere mudar de ideias. Se ainda andar por aí, claro.

A Rivolta do bom esquerdista

O amigo Nuno angustia-se pela integridade da minha esquerdista pessoa, não vá eu ter sido substituído por um clone às ordens do João Miranda. Nada disso. Por estranho que pareça, não gosto de ocupações, não entendo a alegria festiva do sitiante e aborrecem-me de morte as tiradas grandiloquentes dos Defensores da Cultura que sempre sobem ao palco nestas alturas.
Até te dou, Nuno, uma dezena de motivos para achar esta ocupação “disparatada”:
1- Permite ao Rui Rio apresentar-se como vítima dos vândalos;
2- Tem a péssima consequência, em termos de imagem, de dificultar um concerto benemérito;
3- É iniciada por um grupo teatral com mau historial recente de público, abrindo o flanco à velha lengalenga da subsídio-dependência;
4- Não vejo razão para que um teatro não seja gerido por privados. Os melhores em Lisboa são-no;
5- Não estamos a contemplar a ideia de transformar aquilo num templo da IURD. Apenas de entregar a sua gestão ao vencedor de um concurso;
6- Este processo, se bem percebi, nem sequer tem ainda resultado anunciado;
7- O Rio foi eleito, logo tem legitimidade para investir em desfiles de carros velhos e não no Teatro, se tal não contrariar o seu programa eleitoral. Não gostam? Votem noutro;
8- Se tudo correr mal, o contrato será anulável ou acabará por caducar;
9- Aqueles okupas têm um ar deplorável;
10- E acima de tudo o mais, escreveram o poema “de intervenção” mais atroz que alguma vez li.

Need I say more?

Por mais amor aos números e doutorandos que por ali andem…

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…o rigor passa sempre para segundo plano quando a cegueira ideológica ataca. Inacreditável: o Insurgente, pela pena de André Azevedo Alves, dedica-se a tentar desfazer o estudo da Lancet que concluiu pela ocorrência de mais de 600.000 mortes no Iraque atribuíveis às sequelas da invasão de 2003. Começando, logo no título do post, pelas aspas marotas com que adorna a palavra “científicos”. Depois, vem a prosa crítica de um suposto leitor que se anuncia médico. E que nos diz este? Necedades de toda a forma e feitio (mas nada que assuste o bom AAA). Começando por algumas questões que imagina difíceis: “Foram feitos inquéritos a famílias escolhidas aleatoriamente, mas onde? também nas zonas menos tocadas pela guerra? ou só nas mais violentadas?” Bastava ao incrédulo sr. dr. ter-se registado no site da conhecida revista médica para ver a sua angústia resolvida (1). Eis uma primeira abordagem que nos dá logo a certeza de que o comentador nem sequer pousou os olhos no estudo que quer demolir. Revelador.
Há também a velha ladainha de “os americanos têm sempre a culpa de tudo”, insinuando que os pobres ocupantes nada têm a ver com as lutas intestinas do Iraque. Uma linda ideia que contradiz, para começar, todos os tratados que regulam ocupações. (2)
Mas há mais: “Uma das mais óbvias desonestidades do ‘estudo’ tem aliás a ver com a amostra: comparar 14 meses antes da invasão (em ‘paz’) com 14 meses a seguir (e portanto na fase em que houve guerra mais intensa e generalizada no terreno), e extrapolar os ditos casos desses 14 meses para os 28 meses seguintes, inflaciona, e de que maneira, os números.” Só que nada disto é verdade: não houve no estudo qualquer “extrapolação” e quatro períodos são analisados: pré-invasão, Março de 03 a Abril de 04, Maio de 04 a Maio de 05 e Junho de 05 a Junho de 06. Aliás, na tabela abaixo (3) fica clara esta análise.

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Etiqueta Dadá

Leitura
Hábito mais característico de algumas comunidades do que de outras. Quando se viaja, tem-se uma boa oportunidade para tomar contacto com este acto, em transportes colectivos, em viagens mesmo curtas, pois certas pessoas vão a ler, enquanto outras olham para o ar. O mesmo se nota em salas de espera. Os tempos mortos podem ser aproveitados para a leitura, já que nem todos têm vida que permita cultivar-se. A leitura de bons livros é enriquecedora e desenvolve a nossa inteligência. As classes altas preferem memórias e biografias. Os livros de arte ficam bem nas mesas das salas. É importante cultivar este hábito junto das crianças desde tenra idade.

Entrada do Dicionário de Etiqueta da venerável Paula Bobone.

Vamos dar um ataque de nervos aos nossos amigos liberais?

Pelas bandas do “Blasfémias”, anda tudo em alerta vermelho com mais uma malfeitoria da França. O motivo (como se fosse mesmo preciso) é a aprovação de uma lei que criminaliza a negação do genocídio arménio.
Imaginem agora como é que os Blasfemos vão ficar quando descobrirem que também em Portugal a “negação de crimes de guerra ou contra a paz e a humanidade” é acto “punido com pena de prisão de 6 meses a 5 anos.” Trata-se, imagine-se, de um dos “Crimes Racistas” descritos pelo Código Penal, através do seu artigo 240º.
Esta legalização da conformidade de pensamento já fizera correr muita tinta, a propósito de julgamentos de negadores do Holocausto. Mas, no entanto, não desculpa que o Gabriel Silva equipare uma lei francesa que proíbe o negacionismo com o preceito legal turco que o torna obrigatório. Há que manter, mesmo quando se casca na nossa bête noire preferida, alguns neurónios a funcionar.

Papa de sarrabulho

Quase nada foi dito sobre o discurso do Papa Bento XVI na Universidade de Regensburg. A totalidade das minhas leituras revela articulistas a tocar as problemáticas pela rama ou a saltar para fora do texto com velocidades superiores à da luz. E ninguém os poderá censurar, posto que a alocução é intempestiva, dirige-se a intelectos que não sejam só deste tempo; isto é, convoca inteligências de compreensão lenta.

Nos planos da dinâmica paranóica dos meios de comunicação e das ocultas estratégias políticas, o assunto está esgotado, regressando no próximo round. Esticou-se a “reacção islâmica” até parecer o que não foi, saboreou-se o embaraço do Vaticano, cresceu a impaciência das elites culturais perante o fanatismo religioso e ensaiaram-se umas chicuelinas onde se toureou a Razão e nela se espetaram uns ferros com fé. Não foi pouco, mas pouco se aproveita.

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SOMOS UM ATERRO LITERÁRIO!

É uma sorte podermos ter o Fernando Venâncio no Aspirina. A sua generosidade intelectual é de uma cepa rara, aquela que quer criar comunidade. E talvez por isso (ou por acaso, que tanto faz) tenha aparecido aqui este desopilante exercício do Renato C., a merecer itálico e acenos de cabeça:

O problema da parvalheira literária deste País não tem origem na estrutura crítica, que melhor ou pior acaba, as mais das vezes, por resultar inócua para o compto das vendas da grande maioria das edições.

O disparate reside, antes, no mesmo velho factor social que de tão devassado e moribundo perverte e arruína todos os demais: a Educação.

À força de uma sólida educação, composta por toda a sorte — ou azar — de lixo mediático com que entopem os neurónios às criancinhas inocentes, na verdade elas nunca passam disso mesmo: criancinhas; a inocência esvai-se, ainda assim.

Basta observar os comportamentos nas estradas, nos restaurantes, nas empresas, nos hipermercados, nas repartições, nos jardins, nas praias, em toda a parte. Aliás, até mesmo neste blogue… O português, essa coisa abjecta, polui com as suas atitudes infantis, inescrupulosas, pouco cívicas e nada inteligentes cada nanograma de ar que o rodeia. Cospe para o ar. Dá tiros no próprio pé.

E isto nem sequer está inter-relacionado com o nível socioeconómico das pessoas… Era bom se assim fosse, que sempre tínhamos a recorrente desculpa de sermos um País pobre e-tal-e-coiso. Mas, na verdade, a única diferença é que os economicamente ricos, embora tão pobres como outros quaisquer, detêm mais recursos para branquear os seus comportamentos.

Os piores canais e programas de televisão alcançam as maiores audiências; os piores jornais são os mais lidos — salvo honrosas excepções —, e a generalidade dos jornalistas são maus ou sofríveis ou acabam por evoluir para esse estádio à medida que acumulam experiência; as editoras recorrem ao tradicional “é o que vende” para ficarem de consciência tranquila; qualquer brutitates que saiba contar anedotas em público, ou qualquer crica com um par de cara ou um palmo de mamas, salta em menos de um fósforo para a ribalta das figuras públicas e lá se mantém, se estrategicamente fizer umas plásticas de quando em vez… E quando se dá por eles, zás! — derramaram as suas fartas pústulas num livro com a história da “minha vida”. Minha nossa! — quer dizer.

Se não, reparem que não é um problema confinado aos autores literários portugueses… Se quiserem algumas obras de referência de autores estrangeiros (das quais muitas são livros de vulto e, a seu tempo, best-sellers lá fora), tê-las-ão de ler em Inglês, Francês ou mesmo Espanhol. Contudo, se se dedicarem a esgravatar nos escaparates constatarão que não falta cá nada do lixo internacional. A bosta que se escreve em todo o mundo é traduzida e publicada à velocidade de uma corrida de burros. Porque muitas vezes os direitos para publicar a obra são alvo disso mesmo: de uma corrida de burros.

Há uma maré negra nas edições livreiras portuguesas. É um facto. Mas isso pouco ou nada se deve à acção dos críticos — muitos apenas na forma tentada — literários. Eles são normalmente gente boa que vasculha no lixo e por vezes se deixa contaminar. Apenas isso.

Falta, na listagem do insigne suprapostador, a Margarida Rebelo Pinto, o José Rodrigues dos Santos, o Miguel Sousa Tavares, o Gastão não-sei-quantos e outros que me neurastenizam a molécula (e que decerto me perdoarão pelo facto de me não serem mnemónicos)… Enfim. Mas nem todos são maus. Alguns escrevem bem e eu até os aprecio — o que, se eles soubessem — os encheria de contentamento e orgulho.

Afinal, o que faz falta é uma secção de reciclagem literária nos ecocentros do País. Quando assim for, pode ser que o aterro se dissipe…

Soube-me bem desabafar. Mas já criticava qualquer coisinha tenra…

Até já.

PS — Também acredito no Pai Natal.

Renato C.