Digital mundo novo (1)

Leio que a Nikon se vai dedicar quase em exclusivo à produção de câmaras digitais. Depois de ter visto uma Leica sem filme, já pouco me pode espantar. E adivinho há muito a derrota inevitável do mundo analógico.
O digital insinuou-se no nosso campo de visão de forma sorrateira: primeiro os grandes scanners (que agora, poucos anos depois, são reverenciados como peças de uma tecnologia arcaica mas insuperada, manejadas com mil cautelas, não vá a falta de peças e de manutenção dar cabo de tão magníficas quanto obsoletas obras de engenharia), mamutes com nomes arcanos como “Heidelberg” e “Scitex”. De seguida, os digitalizadores de imagens saíram dos gabinetes de pre-press e disseminaram-se como uma praga imparável.
Por fim, o olho digital moveu-se para mais perto do mundo: já são os próprios fotógrafos quem trata de cortar a realidade em fatias de bits comprimíveis e transportáveis. E já são as nossas próprias memórias, corriqueiras ou cruciais, que ficam guardadas em formato jpeg, quase idênticas aos momentos originais.
Que virá amanhã? Será o nosso córtex visual capaz de receber upgrades que prescindam de mediações analógicas, ligando-nos em directo ao esplendor limpo, instantâneo e sempre tão dúctil das imagens digitais? E o que estaremos entretanto a perder?

15 thoughts on “Digital mundo novo (1)”

  1. Este post é um monumento de preguiça, Luís. Faz-me o favor de responder tu mesmo a essa tua última pergunta. ;)

    No campo das imagens, pelo menos. Que, no da música, as perdas são para mim mais do que óbvias: não é preciso ser nenhum audiófilo para se notar a perder de qualidade, diria que orgânica, de um vinil para um CD e de um CD para um MP3.

  2. Olha que a pergunta já estava um pouco respondida: ver, como eu vi há uns tempos, o desvelo com que é tratado um Heidelberg gigante, só ligado para os trabalhos mesmo importante, só sujeito às mãos de um iniciado, é meio caminho andado para se perceber que não estamos a ganhar grande coisa. E depois há a questão da “ductilidade”, que ficará para um dia mais vigoroso…

  3. E, francamente, já me tiraste a pica para a continuação, que era precisamente sobre essas manias audiófilas.

  4. Não me fales nessas cenas, que tenho ali o meu pobre Xerxes, todo empenado, a olhar para mim com ar de moribundo.

  5. Caro LR: Você não se importa de um aproveitamento utilitarista deste Aspirina? Na presunção de que não, deixe-me fazer-lhe uma perguntinha q até está de acordo com a lógica de srviço público do blog: se já há Leicas sem filme, em sua opinião qual é o modelo Leica digital + interessante, em termos da relação performance x custo? Obrigado,

  6. Para quem tem uma R8 ou, R9, já existe um “acrescento” digital que as transforma em câmaras capazes de alternar entre um e outro modo.
    Atenção, que eu sempre me limitei a admirá-las à distância; mas já ouvi dizer bem da D Lux 2, embora sendo, julgo, uma adaptação de uma Panasonic. Mas é taaaaão bonita…
    Agora de preços, pouco sei.

  7. Venham os upgrades, o meu cérebro agradecia um bocado de capacidade de processamento!

    Resposta tão simples. Estaremos a perder a realidade tal como a conhecíamos / ainda conhecemos.

    Eu para ser franco terei pena durante, talvez, cinco segundos.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *