«Enfim, só!»

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Os largos ombros do Público que me desculpem, mas este texto, de António Barreto, é histórico. Um dia será ‘nosso’. Seja nosso já hoje.

ENFIM, SÓ!

Público, 27.05.2007
António Barreto
Retrato da Semana

A saída de António Costa para a Câmara de Lisboa pode ser interpretada de muitas maneiras. Mas, se as intenções podem ser interessantes, os resultados é que contam. Entre estes, está o facto de o candidato à autarquia se ter afastado do governo e do partido, o que deixa Sócrates praticamente sozinho à frente de um e de outro. Único senhor a bordo tem um mestre e uma inspiração. Com Guterres, o primeiro-ministro aprendeu a ambição pessoal, mas, contra ele, percebeu que a indecisão pode ser fatal. A ponto de, com zelo, se exceder: prefere decidir mal, mas rapidamente, do que adiar para estudar. Em Cavaco, colheu o desdém pelo seu partido. Com os dois e com a sua própria intuição autoritária, compreendeu que se pode governar sem políticos.

Onde estão os políticos socialistas? Aqueles que conhecemos, cujas ideias pesaram alguma coisa e que são responsáveis pelo seu passado? Uns saneados, outros afastados. Uns reformaram-se da política, outros foram encostados. Uns foram promovidos ao céu, outros mudaram de profissão. Uns foram viajar, outros ganhar dinheiro. Uns desapareceram sem deixar vestígios, outros estão empregados nas empresas que dependem do Governo. Manuel Alegre resiste, mas já não conta. Medeiros Ferreira ensina e escreve. Jaime Gama preside sem poderes. João Cravinho emigrou. Jorge Coelho está a milhas de distância e vai dizendo, sem convicção, que o socialismo ainda existe. António Vitorino, eterno desejado, exerce a sua profissão. Almeida Santos justifica tudo. Freitas do Amaral reformou-se. Alberto Martins apagou-se. Mário Soares ocupa-se da globalização. Carlos César limitou-se definitivamente aos Açores. João Soares espera. Helena Roseta foi à sua vida independente. Os grandes autarcas do partido estão reduzidos à insignificância. O Grupo Parlamentar parece um jardim-escola sedado. Os sindicalistas quase não existem. O actual pensamento dos socialistas resume-se a uma lengalenga pragmática, justificativa e repetitiva sobre a inevitabilidade do governo e da luta contra o défice. O ideário contemporâneo dos socialistas portugueses é mais silencioso do que a meditação budista. Ainda por cima, Sócrates percebeu depressa que nunca o sentimento público esteve, como hoje, tão adverso e tão farto da política e dos políticos. Sem hesitar, apanhou a onda.

Desengane-se quem pensa que as gafes dos ministros incomodam Sócrates. Não mais do que picadas de mosquito. As gafes entretêm a opinião, mobilizam a imprensa, distraem a oposição e ocupam o Parlamento. Mas nada de essencial está em causa. Os disparates de Manuel Pinho fazem rir toda a gente. As tontarias e a prestidigitação estatística de Mário Lino são pura diversão. E não se pense que a irrelevância da maior parte dos ministros, que nada têm a dizer para além dos seus assuntos técnicos, perturba o primeiro-ministro. É assim que ele os quer, como se fossem directores-gerais. Só o problema da Universidade Independente e dos seus diplomas o incomodou realmente. Mas tratava-se, politicamente, de questão menor. Percebeu que as suas fragilidades podiam ser expostas e que nem tudo estava sob controlo. Mas nada de semelhante se repetirá.

Oestilo de Sócrates consolida-se. Autoritário. Crispado. Despótico. Irritado. Enervado. Detesta ser contrariado. Não admite perguntas que não estavam previstas. Pretende saber, sobre as pessoas, o que há para saber. Deseja ter tudo quanto vive sob controlo. Tem os seus sermões preparados todos os dias. Só ele faz política, ajudado por uma máquina poderosa de recolha de informações, de manipulação da imprensa, de propaganda e de encenação. O verdadeiro Sócrates está presente nos novos bilhetes de identidade, nas tentativas de Augusto Santos Silva de tutelar a imprensa livre, na teimosia descabelada de Mário Lino, na concentração das polícias sob seu mando e no processo que o Ministério da Educação abriu contra um funcionário que se exprimiu em privado. O estilo de Sócrates está vivo, por inteiro, no ambiente que se vive, feito já de medo e apreensão. A austeridade administrativa e orçamental ameaça a tranquilidade de cidadãos que sentem que a sua liberdade de expressão pode ser onerosa. A imprensa sabe o que tem de pagar para aceder à informação. As empresas conhecem as iras do Governo e fazem as contas ao que têm de fazer para ter acesso aos fundos e às autorizações.

Sem partido que o incomode, sem ministros politicamente competentes e sem oposição à altura, Sócrates trata de si. Rodeado de adjuntos dispostos a tudo e com a benevolência de alguns interesses económicos, Sócrates governa. Com uma maioria dócil, uma oposição desorientada e um rol de secretários de Estado zelosos, ocupa eficientemente, como nunca nas últimas décadas, a Administração Pública e os cargos dirigentes do Estado. Nomeia e saneia a bel-prazer. Há quem diga que o vamos ter durante mais uns anos. É possível. Mas não é boa notícia. É sinal da impotência da oposição. De incompetência da sociedade. De fraqueza das organizações. E da falta de carinho dos portugueses pela liberdade.

23 thoughts on “«Enfim, só!»”

  1. Pois é, caro Fernando, poderemos ter aqui um texto histórico. Para já, no entanto, temos aqui um texto falacioso, hipócrita, mentiroso. Este texto, como tantos outros que cantam em uníssono, é até vergonhoso. Porque destas pessoas espera-se honestidade intelectual, e o que se vê é a mais impúdica má-fé: em Portugal, as liberdades estão garantidas, a economia vai sarando feridas, o Governo é reformista em tempo recorde e com eficácia sem rival, a atenção do Presidente fiscaliza e orienta. Mas para os publicistas, cuja única tarefa é alimentar a indústria da imprensa, aparece como legítimo ofender a memória da Nação, atirando a Sócrates vitupérios que nascem da arrogância de quem lava as mãos perante a Verdade, e se sabe seguro e garantido na sua tença.

    Os cães ladram, sempre assim foi.

  2. Folgo, caro Valupi, por ver JS tão bem defendido, sobretudo por alguém que, com fama (e suponho que sem proveito) de arrogante, sabe afinal admirar.

    Nada disto que digo – espero se veja – tem a ver com JS. Vem de puro prazer intelectual. Prazer, sublinho.

  3. Entre o prazer intelectual de fv e os cães ladram de valupi, antónio barreto traça um retrato preciso de como se sente uma grande parte dos portugueses: acoçados como se se encontrassem todos sob suspeita. Não sei onde trabalha valupi, mas o clima nas empresas, apesar da garantia de liberdade de que fala, é repressivo e de medo. As pessoas têm medo do desemprego, têm medo dos chefes. E a maioria dos chefes é tão medíocre… Umas já foram dispensadas, a outras é sugerido que se vão, as outras limitam-se a dizer amen para não perderem o salário ao final do mês. Haverá honrosas excepções, mas este é o ambiente. Até os emigrantes do Leste, à procura de um lugar ao Sol, nos abandonam, apesar do clima ameno. Os jovens não têm perspectivas de emprego e importaram-se uns quantos lugares comuns que se julgam inspirados no american way of life, esquecendo a tradição radical de liberdade na américa e o tamanho da américa. quem for despedido no porto, migra para onde? para o alasca? não, para lisboa, para onde não migra. não há mobilidade, não há cultura de excelência, não há dinheiro. estamos tesos e cheios de medo. encalhados e deprimidos. quantos aos jovens que enchem os concertos (Portugal é o país europeu que mais os enche), vivem no mesmo sufoco: aos 17 anos, já acham que não há nada a fazer. A famigerada cultura de sucesso que Sócrates apregoa, viu-se reflectida na história do seu diploma: uma vigarice à pequena escala videirinha que domina o país. Somos uma terra de efeitos, esquizofrénica, que vive de imagens vazias. Um bom exemplo será o metro de Lisboa: caro, pequenino, mal sinalizado e ainda assim com ecrãs gigantes de televisões em estilo orwell. O metro de nova iorque está velho mas vai a todo o lado, e não pretende ser mais do qu aquilo que é: um meio de transporte rápido. A modernidade chegou tarde e chegou distorcida. Por isso tem razão António Barreto. O culto e o medo do chefe são de ontem e voltaram em força. A crise é da maioria. Depois há os outros que, como no Brasil, enchem os condomínios de luxo e circulam em carros topo de gama. Mas isso não faz um país, pois não?

  4. é verdade que há uma pressão subterrânea nos locais de trabalho, uma espionagem, uma tentativa de coarctar a liberdade. mas a minha experiência, ana, é a seguinte: quem faz por ser irrepreensível, vai vingando. no primeiro ano em que trabalhei na instituição onde trabalho fui discretamente pressionada, por uma chefia, para fazer uma ilegalidade, com ameaças veladas de um processo disciplinar caso não o fizesse, poderia até perder o emprego. não o fiz, claro, e ainda lá estou. nunca houve processo disciplinar. são os indivíduos que cedem ao medo, que não conhecem o significado de «liberdade», que não reivindicam, que não recorrem á justiça se preciso for. um exemplo, que eu conto sempre: uma amiga foi insultada pelo médico, num centro de saúde. veio de lá indignadíssima, chorosa, ofendida. perguntei-lhe se tinha pedido o livro de reclamações. e ela respondeu que já lhe tinha chegado aquilo, ainda ia ter que se dar ao trabalho?! pois é.

  5. A questão, susana, é que a democracia e a liberdade deveriam ser a normalidade e não ter de implicar actos ou atitudes de resistência, os quais, se para uns são como o oxigénio que respiram para outros são, de facto, gestos heróicos ou, pelo menos, arriscados. Aliás, a história ensina-nos, que os climas de medo tendem a gerar medo como que por geração espontânea. É por isso que as ditaduras sobrevivem, não só pelas suas práticas repressivas reais como também pelo pavor que instalam no imaginário. É evidente que em Portugal não vivemos uma ditadura. Mas também me parece evidente que o caso do professor a quem foi movido um processo disciplinar por ter sido chibado por um colega, porventura nunca teria visto a luz do dia se se tivesse passado numa empresa privada obscura ou se o visado não fosse um ex-deputado do PSD. É esta falta de normalidade democrática que me parece preocupante. E sabendo que há muita gente que se irrita com Pulido Valente, já agora junto uma crónica dele, também publicada no Público (e afinal talvez tenha sido bom o Belmiro ter perdido a OPA…)

    O regime de Sócrates

    Uma quinta-feira, à hora do almoço, o dr. Fernando Charrua entrou no gabinete de um colega, onde estava um grupo a conversar, e disse uma graçola sobre a licenciatura de Sócrates, que, em certas versões, é hoje promovida a “insulto”. Um dos presentes resolveu diligentemente denunciar a graçola (ou o “insulto”) à directora da DREN. Na segunda-feira seguinte, quando chegou ao trabalho, Fernando Charrua descobriu que tinha o computador “bloqueado”, que lhe tinham lido o e-mail e que a directora, Margarida Moreira, lhe queria falar. Para quê? Para o suspender sine die, sem forma de inquérito, e para o prevenir (se “prevenir” é a palavra) de que seria sujeito a um processo disciplinar com a participação do Ministério Público. Fora o vexame e o dinheiro que já gastou com advogados, Fernando Charrua cumpre agora a “pena” num liceu do Porto. O “caso Charrua” não é um acidente. O que se passou não se passaria sem um conjunto de condições prévias. Primeiro, que a denúncia fosse considerada na DREN um acto meritório ou, pelo menos, recomendável. Segundo, que o denunciante contasse com a benevolência e a colaboração da dr.ª Margarida Moreira. E, terceiro, que a dr.ª Margarida Moreira julgasse agradar aos seus próprios superiores, perseguindo a dissidência política ou a sombra dela. Numa repartição normal os funcionários não se andam mutuamente a denunciar, nem os directores toleram a denúncia como método de “vigilância”. Até porque a moral comum considera abjecta a figura do denunciante e a do polícia que age por denúncia. O que sucedeu na DREN é um sinal da profunda perversão do regime. Perante isto, Sócrates, com imensa bondade, assegurou à Pátria a liberdade de expressão e o prof. Cavaco, do lugar etéreo onde subiu, espera que o “mal-entendido” (repito: o “mal-entendido”) se esclareça. Não chega. Ninguém se lembraria, como ninguém de facto se lembrou, de acusar (ou de punir) alguém por uma graçola ou um “insulto” a outro primeiro-ministro. O crescente autoritarismo do poder e o extravagante culto da pessoa de Sócrates, que o Governo promove e alimenta, é que pouco a pouco criaram o clima em que se vive e que inspirou o “caso Charrua”. Escrevi aqui há meses que bastava ouvir o dr. Augusto Santos Silva (com quem, aliás, Margarida Moreira colaborou) para temer o pior. A história da prepotência e do arbítrio não começou na DREN, não vai acabar na DREN e com certeza que não se limita à DREN.

  6. E há depois a questão da nossa falta de perspectiva e de memória.
    Nos dez anos fulcrais de decisão no Portugal que havia de ser novo (86/95), tivemos como 1º o actual PR. Ninguém teve dinheiro e votos como ele, que não passou dum aprendiz de feiticeiro. Enfiou-nos na cabeça o conto do oásis, deu-nos de mão beijada um país rico e de xuxexo, à boleia do euro abriu-nos a porta do endividamento, deixou que os argentários naufragassem a pesca, desprezassem a agricultura, matassem a pouca indústria, fizessem negociatas, avacalhassem isto. Mandou os construtores fazer umas estradas e pagou-lhes, isso até o faria um merceeiro. Educação, saúde, justiça, corporações, fraude fiscal, corrupção, nada! Passou o último ano de reinado fechado no seu tabu, farto do seu partido de incompetentes corruptos, o qual ainda não recuperou do trauma.
    Hoje diz lapalissadas ocas quando não prefere calar-se para se preservar, e pretende que a discussão da OTA vá ao parlamento, entra na chicana porque sente o governo em dificuldades. Só se for para legislar sobre localização de aeroportos e direcção de ventos dominantes no país.
    O sr Barreto constata algumas realidades, diz umas quantas meias-verdades, e cala qualquer palavra séria, que o país deveria merecer-lhe. O sr Barreto não nos diz uma palavra sobre o que foi a irresponsabilidade canalha do governo de Barroso e o intermezzo allegro do Lopes. Nem sequer nos recorda que é outra dose da mesma infecção que nos espera, se o Sócrates ceder. Nem sequer nos lembra que o Sócrates começou o seu reinado com o espectro do Guterres à frente: o 1º mais culto e civilizado e sério que Portugal teve; e o mais humanista, que o digam os cavalos de Foz-côa; e o mais preocupado, que o diga a malta do rendimento mínimo; e o mais constrangido, que o diga o mercador do queijo limiano; e que o diga também a besta do AJJardim, a quem ele perdoou cem milhões e tal de dívida em troca de votos na AR; e o mais idealista e triste, porque chegou a certa altura e retirou-se, por ter descoberto finalmente que não basta ter intenções pias para ser bom governante.
    O sr Barreto vem alertar-nos para o autoritarismo de Sócrates, e para a nossa falta de liberdade. E tinha obrigação de nos dar melhores conselhos. Porque devia conhecer melhor as nossas tristes realidades, as de hoje e as de ontem. A única liberdade de centenas de milhares de portugueses é outra vez, apenas, a de emigrar para a Europa, a fazer trabalho de cão. Enquanto em Portugal uma lamentável classe política (nacional e local) leva alegremente o país a um buraco negro.
    E eu, que tenho em Valupi uma figura simpática, se bem que fugidia, às vezes gelatinosa, em questões essenciais, acabo aqui a tirar-lhe o meu chapéu. Pela coerência lúcida, quando Sócrates parece já ter perdido o estado de graça.

  7. Os portugueses estão fartos dos políticos que só os embalam com conversa a que chamam democrática.
    E dos autarcas-faraós que delapidam o que não têm.
    O medo que sentem é do Sócrates papão, ou é dos patrões que os tratam como gado, ou é da falta de trabalho que a economia não gera?
    A manipulação da imprensa? Sócrates ocupa eficientemente, como nunca nas últimas décadas?
    Esta oposição alguma vez teve tomates?
    A sociedade portuguesa algum dia foi competente?
    Fora da ordem dos médicos, e do sindicato dos magistrados, houve alguma vez organizações fortes?
    Com excepções milimétricas e retóricas fora, algum dia os portugueses souberam distinguir a liberdade da desbunda?
    O discurso não é sério, e o Barreto escreveu-o quando vivia na Suiça.

  8. ana

    Deliras com portugueses acossados com suspeitas. Os portugueses sentem-se é acossados pelo trabalho, o qual não compreendem para que sirva. Não nos ensinam a trabalhar, nem a criar riqueza. Daí, os medos e as mazelas.

    Portugal é pequeno e vai continuar assim. Consta que a Holanda, a Irlanda, a Bélgica, a Suíça, a Dinamarca, a Noruega, a Finlândia e o Luxemburgo também não têm previstos para breve acrescentos de população ou território. É a puta da mentalidade que terá de mudar, até porque já nem guardas se passeiam nas fronteiras.

    O exemplo do metro não te saiu feliz, mas sempre posso revelar que trabalho numa das áreas mais competitivas da economia portuguesa: a comunicação. Nela aprende-se que os vigaristas conseguem sobreviver, como em muito outro lado, mas também se aprende que o talento, o esforço e o risco compensam.

    Os tais jovens que dizes desesperados parecem antes estar muito relaxados. Afinal, reina a abundância. Acima de tudo, estes jovens já não são portugueses. Dá-se é a coincidência de terem nascido em Portugal e por cá estarem. No resto, são criaturas globais.

  9. “os portugueses sentem-se é acossados pelo trabalho…”, não percebi. os portugueses não gostam ou não sabem trabalhar, é isso?
    “o exemplo do metro não te saiu feliz”, também não percebi porquê.
    “Os tais jovens que dizes desesperados parecem antes estar muito relaxados”, nunca falem em desesperados, falei de aos 16 anos já acharem que não vale a pena, o que são coisas bem diferentes.
    “Consta que a Holanda, a Irlanda, a Bélgica, a Suíça, a Dinamarca, a Noruega, a Finlândia e o Luxemburgo também não têm previstos para breve acrescentos de população ou território”, e então, o défice democrático é comparável? E, a ser o caso, devemos por isso dormir mais descansados? Porque a merda é universal?
    “Dá-se é a coincidência de (os jovens) terem nascido em Portugal e por cá estarem. No resto, são criaturas globais”. De que jovens estamos a falar? Dos que levam com programas escolares tão estupidificantes que daqui a duas gerações já nem conseguirão pensar? E o facto deste ser um problema universal deve deixar-nos mais tranquilos? E não me venhas falar da NET, porque, para que não haja dúvidas, digo já que considero a Net um instrumento de democratização do saber extraordinário.
    “sempre posso revelar que trabalho numa das áreas mais competitivas da economia portuguesa: a comunicação. Nela aprende-se que os vigaristas conseguem sobreviver, como em muito outro lado, mas também se aprende que o talento, o esforço e o risco compensam.”
    Eu, pessoalmente, mas não estamos a falar de casos pessoais, acho que o talento, o esforço e o risco compensam sempre, apesar dos que são cilindrados pelo caminho. Mas é neste apesar que me situo. Porque a compaixão é própria das espécies mais evoluídas, dos elefantes, mas não dos tubarões…
    Para resumir: o optimismo histórico causa-me comichão. Porque ainda há 60 anos tivemos um Hitler eleito por sufrágio universal apesar do inegável avanço que foram os antibióticos. E lá por não queremos ser velhos do restelo, não quer dizer que sejamos míopes à realidade. Mas, no fundo, que importância tem isto? Nenhuma evidententemente. Apesar da Yourcenar ter razão qd dizia que a nossa única obrigação é morrer menos estúpidos do que nascemos. Mas a Yourcenar era inegavelmente uma senhora conservadora dada a delírios…

  10. E que escrevia muito bem, mesmo a baixa temperatura, essa Yourcenar de fascinante rosto.

    Ser optimista é o melhor remédio. Aliás, ser optimista é mais inteligente do que ser pessimista. Porque o pessimista desiste; logo, adensa e concretiza a promessa pessimista. O optimista nunca desiste; e, por causa da matemática, consegue atingir o impossível. O impossível gosta dos optimistas, fique pois a informação.

    Falas em défice democrático. Como ainda não chegámos à Madeira, de que falas? Gostava muito de saber.

    Falas no Hitler. É mais um exemplo infeliz, sendo que este nem o irei explicar. O do metro é infeliz pelo disparate da comparação: EUA e Portugal?! Nova Iorque e Lisboa? Faz algum sentido essa relação?! Para mais, o metro é um dos melhores serviços que temos, não apresentando problemas de maior ou frequentes. Todos os dias úteis ando nele, gosto dos televisores e gosto do continuado investimento na rede, tanto em condições como na sua extensão. Não entendi patavina do teu exemplo.

    Os programas escolares dos actuais jovens não são piores do que os programas escolares dos menos jovens e dos pais e avós deles todos. Se os que vieram antes de nós lá se orientaram com o que lhes serviram no quadro, porque raio haveria agora de ser pior?! Não, não é pior. Em várias dimensões do fenómeno, é tudo muito melhor. Repito: vivemos na abundância. Só que tal constatação não obriga a que se seja conivente com tudo o que diminui, atrasa e destrói. Porém, escolher o discurso que só reconhece negatividades não é bom para ninguém, sem sequer para quem o profere. Porque não é nem justo nem inteligente.

    Os portugueses em Portugal não gostam de trabalhar, e, por isso mesmo, não sabem trabalhar. O meio não estimula o português para o trabalho, porque o meio não o ensina a confiar na iniciativa privada. Com esta incompetência, e na origem desta incompetência, eis o défice de cidadania a ser demónio. Esse, sim, real, endémico e trágico.

    Finalmente, não serás compassiva por coxeares ao lado do coxo, quando poderias ir a correr buscar água para lhe dar.

  11. A Obra ao Negro.

    meu amigo Zenão,

    mas Valupi nós cá os tugas trabalhamos muito a escrever e a pensar para pôr o mundo a andar, não?

  12. no fim da História teremos o céu; outros havia que, também lá para o fim, vislumbravam um sociedade sem classes. é sempre a melhorar. vivemos no melhor dos mundos possíveis. é o princípio da realidade a instalar-se como critério de aferição. da telenovela ao serviço de saúde (por acaso, das coisas mais extraordinárias construídas no pós-25 de abril). entre o Hegel e o Schopenhauer, prefiro o segundo. antes soliários e pessimistas que prosélitos e optimistas. Quanto a ser optimista e ir à fonte é fácil, ser pessimista e ainda assim ensinar o coxo a ir buscar água, isso sim, é obra.

  13. py

    Sim, temos, até, boa e bela obra nesse campo onde se tenta fazer um mundo melhor.
    __

    ana

    Vivemos, de facto, no melhor dos mundos possíveis – porque só este é possível.

    Schopenhauer é uma péssima companhia, em especial para uma mulher.

  14. Pronto, já levámos a coisa para o ping-pong errado!
    Acaso quem aqui ataca Sócrates é pessimista, ou o contrário?
    E quem o defende é optimista, ou o inverso?
    E o discurso do Barreto é o quê? O vice-versa?!

    A questão era outra: o discurso do Barreto, sobre Sócrates e a situação, não é justo nem sério. Haverá quem diga o contrário, mas não tergiversemos.

  15. “acredito sempre em duas ou três coisas impossíveis antes do pequeno-almoço”, disse a rainha da Alice, que também não era boa companhia mas tinha muita, muita graça. Ao contrário do sócrates, que não tem absolutamente nenhuma.
    E quanto ao “porque só este é possível”, não sei se me causa mais comichão o imobilismo ou o pragmatismo.
    Ah! e as mulheres e o Schopenhauer. Pois bem, gostava de ter falado com ele, embora saiba que dificilmente ele falaria comigo. Desejos impossíveis, naturalmente.

  16. Calma. O assunto relativo ao Sócrates já deu o que tinha a dar, e não era nada. Agora é tempo do ping-pong, entrámos no recreio.
    __

    Imobilismo e pragmatismo? Bizarras associações. Este ser o melhor por ser o único mundo possível, é constatação que responsabiliza. Não há outros mundos; ou seja, não há desculpas.

  17. tempo de recreio:
    no melhor dos mundos possíveis, a televisão holandesa programa um concurso para doar órgãos. Já ouço comentários: sempre é melhor do que morrer por falta de um rim. pois, é como diziam os outros: Always Look on the Bright Side of Life (e continua, com música é melhor)

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